segunda-feira, 25 de novembro de 2019

PIEDADE (2019) de "Cláudio Assis"



Novo longa do diretor pernambucano Claudio Assis é um drama familiar e social com grande elenco e apelo ao ativismo ecológico.

O diretor Claudio Assis possui uma linguagem cinematográfica própria, focada quase sempre no comportamento humano e suas nuances. Sua filmografia chama a atenção pelo choque cultural com a marginalização das pessoas em sub-mundos que são partes vivas e presentes da sociedade, como na trilogia: Amarelo Manga (2002), premiado nos Festivais de Brasília e Toulouse, seguido de Baixio das Bestas (2006), laureado em Brasília, Roterdã, Miami e Paris e Febre do Rato (2011), vencedor do Festival de Paulínia em várias categorias. Os títulos dialogam entre si e retratam, com amor e dureza, os mais pobres e os marginalizados. Seu novo filme, Piedade, renova sua filmografia ao mostrar uma geração já cansada da luta mas que resiste na base do simplismo contra um sistema capitalista agressivo e ao mesmo tempo financeiramente atrativo e corroído por interesses. São pessoas que lutaram durante muito tempo para conquistar algo na vida, possuindo o vínculo do amor por sua história, seu esforço e passado de luta. Quando uma grande empresa de petróleo possui planos audaciosos para a cidade de Piedade, mais precisamente para o Bar Paraíso, uma família se perde no descontrole sentimental de se restruturar e tomar uma decisão sobre o futuro. O roteiro do longa lança sem muito primor um assunto importante e atual, sendo o grande destaque seu elenco estelar, parte essencial para que tudo flua na história, que foi rodado em Pernambuco, precisamente no Porto Suape e Reserva do Paiva, com bonita fotografia e mais uma vez explorando o interno comportamento humano com um discurso voraz sobre a modernização que destrói o passado e a melancolia que transborda no presente. No longa, Fernanda Montenegro é Dona Carminha, a matriarca que está à frente do Bar Paraíso, estabelecimento praiano construído por seu falecido marido, Humberto Bezerra, na Praia Saudade, em Piedade. Moram com ela seu filho Omar (Irandhir Santos) e seu neto Ramsés (Francisco Assis), filho da caçula Fátima (Mariana Ruggiero), que trabalha e reside do outro lado da cidade. A chegada de Aurélio (Mateus Nachtergaele), executivo de uma empresa petrolífera, afeta a harmonia da família e traz revelações que a relacionam a Sandro (Cauã Reymond) e seu filho Marlon (Gabriel Leone). O fio condutor da história é a construção do Porto de Suape, na década de 1980 em Recife, e os impactos gerados no meio-ambiente – incluindo a mudança de comportamento dos tubarões, que nadavam até as praias em busca de alimento. O filme ganha na reflexão com uma linguagem acessível e discurso político discreto, na triste coincidência do filme ser lançado durante a crise no litoral brasileiro provocada pelo derramamento de óleo. Cláudio Assis representa um novo cinema nacional vibrante mesmo sendo pontual e polido, menos energético que o habitual. Destaque para Cauã Reymond em personagem envolvente e com cenas fortes e quentes ao lado de Mateus Nachtergaele. Fernanda Montenegro brilha a cada presença em tela. Os famosos tubarões que povoam o litoral do Recife são utilizados, na narrativa, como metáfora dos políticos brasileiros. Vorazes e famintos. Piedade surge falando de coisas que incomodam todo mundo e só isso já vale bastante. AFIADO!



O filme tem previsão de lançamento nos cinemas para o primeiro semestre de 2020 pela ArtHouse.

O Meu Hype assistiu ao filme no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: BOM - Nota do Crítico: 7,5

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