quarta-feira, 30 de setembro de 2020

FIRST COW (2020) - "Kelly Reichardt


 "Um conto de amizade e sonho americano que consolida o efeito hipnótico do cinema como narrativa simples sobre a busca por um lugar no mundo."

    A diretora Kelly Reichardt mais uma vez treina seu olhar perspicaz e paciente no noroeste do Pacífico, desta vez evocando um modo de vida autenticamente difícil de descrever no início do século XIX. Com uma premissa simples a diretora constrói um interrogatório sobre a fundação norte-americana que lembra seu triunfo anterior, Antiga Alegria (2006). Reichardt tem uma carreira consolidada, pouco conhecida no mainstream mas com estilo próprio de filmar, ela mostra seu talento distinto para descrever os ritmos peculiares da vida cotidiana e a capacidade de capturar a imensa e perturbadora quietude da América rural. O apelo hipnótico e imprevisível vem de como os personagens se encontram através de fracassos mútuos, a natureza desse resultado no contexto de uma sociedade primitiva e indomada tem implicações ricas que gradualmente se infiltram em um filme lento mas nunca chato, quase como uma literatura que não tem pressa em colher o máximo de detalhes da atmosfera e da beleza natural dessa convivência complexa e atemporal. 


     Na trama, um solitário e calado rapaz e um cozinheiro habilidoso viajam para o oeste e se juntam a um grupo de caçadores de peles no Território do Oregon. Embora o rapaz só encontre uma conexão verdadeira com um imigrante chinês que também busca sua fortuna, logo os dois colaboram em um negócio de sucesso, embora sua longevidade dependa da participação clandestina de uma vaca leiteira premiada de um proprietário de terras próximo. Embora a maior parte de First Cow ou na tradução literal "Primeira Vaca" se desenvolva em 1820, ela começa com um prólogo dos dias modernos no mesmo local arborizado, onde uma jovem descobre dois esqueletos deitados lado a lado na floresta. Essa imagem tentadora segue uma citação de William Blake - “o pássaro um ninho, a aranha uma teia, a amizade o homem” - estabelecendo o vínculo instintivo que se segue. A partir daí, o filme volta ao passado distante, contando a história de origem desses esqueletos como um filme de lealdade.


      Reichardt é uma diretora bastante autoral em suas obras, mesmo se baseando no livro "The Half Life" escrito por Jonathan Raymond, ela trabalha o minimalismo e subverte gêneros, não é um filme que tem pressa ou possui reviravoltas, é focado no homem comum, no cotidiano e na descontrução do western americano. Quem acompanha sua obra percebe que a diretora gosta de trabalhar a história da civilização e instigar como a sociedade foi evoluindo com o passar do tempo. A relação de First Cow com o capitalismo é uma sacada genial e agrega uma relevância em sua proposta de como tudo foi acontecendo no mundo pelas relações sociais, aqui representado na bonita relação de amizade entre um americano e um chinês, ambos buscam crescimento. O poder de ter uma vaca naquela época é o exemplo claro de como o capitalismo foi surgindo na sociedade em uma história para se contemplar, uma experiência imersiva e sem grandes acontecimentos em uma sociedade em construção. O cinema é também a arte de contar uma boa história sem necessidade de uma grande reviravolta ou um clímax, seu papel aqui é sentimental e puro. AMIZADE, CONFIANÇA E DINHEIRO.



Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0



terça-feira, 29 de setembro de 2020

ESCOLHIDA (2020) - "Antebellum" de "Gerard Bush" & "Christopher Renz"

 

 "Um filme que deveria ser um entretenimento provocativo e inteligente se perde em uma condução pífia e cansativa" 

   Os filmes com uma temática social embutida em entretenimento tem sido um respiro interessante nessa nova safra de filmes americanos, porém, para cada obra prima de Jordan Peele ou Spike Lee, reflexo dessa nova onda, existe algo que pode sair errado, como esse "Escolhida", um filme que carrega consigo uma idéia de interessante potencial desperdiçado em uma exposição gratuita de um terror tão real e dolorido como a escravidão. A forma como esse filme fala de racismo soa desnecessária e ainda reforça o preconceito e os horrores sofridos pelo povo negro sem o equilíbrio de dosagem que observamos em filmes recentes como Corra, Nós e Destacamento Blood. Sem dar muitos detalhes para não atrapalhar a experiência do espectador, ao alternar diferentes linhas narrativas pra criar uma estrutura interligada, a premissa desse "thriller" se torna desconcertada e atrapalhada por uma visão estranha e clichê, Janelle Monáe que vive a personagem principal, por exemplo, foi criada em um esteriótipo cafona. A recompensa dos diretores em explicar o passado e o futuro na linha do tempo apresentada será apenas mais uma decepção pelo tempo perdido com a sufocante obra.


     Na trama, ambientada no que parecem ser os tempos anteriores à Guerra Civil, uma escrava chamada Eden (Monáe) discretamente considera suas opções em uma vida de abusos. Ela desenvolveu um sistema para evitar que as tábuas do piso que rangem e as dobradiças das portas barulhentas de seus aposentos a impeçam de se encontrar com outros escravos, Eli (Tongayi Chirisa) e a recém-chegada Julia (Kiersey Clemons), embora falar seja proibido entre eles. Logo o principal objetivo deles é fugir do lugar. Assim que os planos de fuga de Eden parecem estar ganhando impulso, um celular toca fora da tela - uma interrupção anacrônica que leva o filme a outro enredo muito distante. Este também apresenta Monáe, agora interpretando uma respeitada acadêmica do século 21 chamada Veronica Henley, autora de “Shedding the Coping Persona”. O aviso do capitão Jasper aos escravos de que eles devem permanecer em silêncio ressoa de forma diferente nesta linha do tempo, onde Veronica ofusca um erudito conservador durante uma entrevista de um noticiário de TV. As consequências desses acontecimentos no passado e no presente possuem uma conexão assustadora.


     Como essas duas realidades se conectam é o propósito e a ruína deste thriller psicológico, poderia se encaixar como um episódio de "Black Mirror", mas como um longa-metragem, falha no roteiro e na direção de Gerard Bush e Christopher Renz que se concentram em um "Plot Twist" (uma grande reviravolta) digna de Shyamalan e mas parece uma "pegadinha",  arrasta o filme para intenções superficiais, como mostra e usa a escravidão como uma tática de choque e suas tentativas de manter um espelho nos dias de hoje para justificar o horror vivido pela personagem. Uma mulher negra de sucesso é punida por desafiar uma autoridade branca sendo forçada a voltar à escravidão? Seria uma fagulha para um filme muito mais urgente e necessário para os tempos atuais. Ainda que se bem analisado o filme não seja ruim, o caminho escolhido foi o mais tortuoso e sem o peso do tema proposto. DECEPCIONANTE.


O filme tem previsão de estréia no Brasil em Outubro pela Paris Filmes.

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

POSSESSOR (2020) - "Brandon Cronenberg"


"Filme é uma guerra psíquica ultra-sangrenta que desponta como uma das produções mais interessantes do ano

     O diretor Brandon Cronenberg se mostra bastante interessado em seguir os passos de seu pai, o icônico diretor David Cronenberg, que ficou conhecido por filmes intrigantes que carregam elementos como sangue, mutilação e deformações. São dele produções bizarras e adoradas dos anos 80, como Scanners (1981), Videodrome (1983) e A Mosca (1986). Infelizmente o diretor não lança um filme desde  2014. Enquanto isso, Brandon se mostra inspirado no Splatter ou gore, o subgênero do cinema de terror que se concentra em representações gráficas de sangue e violência. Consegue impor seu próprio estilo de maneira eficaz, esse é apenas seu segundo longa-metragem e constrói uma história angustiante sobre identidade em tempos de tecnologia, erra em algumas questões abertas mas simplifica de maneira elegante, consegue pleno destaque em um ano bem fraco para o Terror e Suspense. Possessor está entre os vários filmes que tiveram sua distribuição mundial adiada pela pandemia do novo coronavírus, chegando nos EUA em circuito limitado em Outubro e sem previsão no Brasil. 


    Na trama, Andrea Risenborough é Tasya Vos, ela trabalha em uma empresa secreta que criou uma tecnologia de implante cerebral. Por meio desse controle, os alvos escolhidos são assassinados.  As consequências desse trabalho causam drásticas mudanças na personalidade de Tasya, logo percebidas por sua chefe Girder (Jennifer Jason Leigh).  Mesmo estando mentalmente afetada, Tasya aceita uma nova missão que pode por em risco sua própria vida, ao tentar invadir o corpo de Collin Tate (Christopher Abbott), ela trava com ele uma batalha grotesca e alucinante pelo controle e para definir o que separa a indentidade dos personagens. O filme se inspira naquelas clássicas histórias de gênero Cyberpunk movida para um mundo semi-futurista mas também próximo da atualidade.


     Possessor é uma viagem surreal a um mundo de ficção científica e terror onde sua descrição oficial no Festival de Sundance o chamou de um “esplêndido foda-se a mente”. Brandon Cronenberg não se apega a fórmulas em um espetáculo cru e uma visão sufocante, exagera algumas vezes e acaba doentio a ponto de se tornar uma experiência agoniante para o público em geral. O filme se destaca principalmente em seu potencial assustador sem muito tempo para ajustar os delírios de seus personagens na sua trama, ainda sim, funciona bem. Os fãs de filmes sanguinários ganham um longa-metragem que se revela promissor como um ponto fora da curva, com frieza e originalidade que quase não se viu entre os novos realizadores esse ano. ATMOSFERA TENSA E PERTURBADORA.


Sem previsão de estréia no Brasil!

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Hype TBT - A GAROTA DA FÁBRICA DE CAIXAS DE FÓSFOROS (1990) - "The Match Factory Girl" de "Aki Kaurismack"


     Nosso TBT de hoje relembra um clássico brilhante e erudito do cineasta finlandês Aki Kaurismäki, a parte final de sua trilogia do proletariado, que completa 30 anos em 2020 e permanece bem lembrada entre os cinéfilos mais refinados. Depois de Sombras no Paraíso (1986) e Ariel (1988), Kaurismäki não poupa esforços em criar uma obra atemporal que sofre influências de diretores como Jean-Pierre Melville e com leve semelhança a obras de Fassbinder, contando com atuações moderadas e uma história cinematográfica porém simples e atraente, transmitindo uma mensagem brutal sobre o capitalismo, sem deixar de lado o peso sentimental.

      O retrato da vida dessas pessoas tem uma pitada banal e peculiar de humor, que conversa um pouco com o cinema realizado atualmente pelo diretor Jim Jarmusch, que já declarou admirar o diretor. A produção também conhecida internacionalmente como "The Match Factory Girl", se encaixa de forma bastante consistente naquele tema de mulheres culturalmente reprimidas enfrentando tempos difíceis, buscando algum tipo de alívio na indiferença casual  e crueldade de homens insensíveis e sem consideração. A mensagem "não-verbal" expressa por esses personagens em longos períodos de silêncio nos levam a um ambiente quase particular do reticente diretor Kaurismäki, com conclusões dolorosas e até meio embaraçosas. A cena inicial de uma família carrancuda assistindo ao noticiário em um silêncio implacável e indiferente enquanto a tv mostra a cobertura de um massacre e a explosão de um gasoduto que mata centenas de pessoas dá o tom melancólico das relações familiares modernas, muito presente na nossa sociedade atual e encarada como "normalidade", ele faz questão de ressaltar elegantemente, "a vida é uma merda, aguente essa tristeza", uma das várias mensagens silensiosas que nunca realmente deixam de transitar em sua obra.


     Este é um filme fundamentalmente frio e que fecha a saga do diretor em compartilhar um tema comum de luta financeira, com protagonistas da classe trabalhadora que se veem levados a medidas desesperadas após serem encurralados por circunstâncias adversas. Mantendo sua duração abreviada, a história do filme captura um trecho breve, mas crucial da vida de Iris (Kati Outinen), uma jovem condenada ao trabalho enfadonho em uma fábrica de fósforos, onde ela labuta horas a fio em uma variedade de tarefas servis, principalmente monitorando pequenos pacotes de fósforos enquanto passam por várias estações na linha de produção. A maior parte de seu tempo é passada em um isolamento silencioso, grande parte do filme é estritamente visual, com um mínimo de diálogo. (A cena inicial do processo de produção do fósforo tem uma incrível beleza). Alguns desses memoráveis momentos são dedicados a personagens olhando um para o outro, silenciosamente, sem engajamento verbal. Alguns dos sentimentos mais desamparados do filme nem são falados mas acompanhados pelas poucas expressões da situação enfrentada, não apenas por Iris, mas também pela multidão anônima da rotina industrial. Quando as falas são transmitidas, elas são curtas e devastadoramente contundentes. 

     O mundo de Iris, com sua família, seus colegas de trabalho ou com um grupo de estranhos em um bar, é um lugar frio, solitário e alienado. O diretor joga isso como uma provocação a essa vida urbana muitas vezes sem qualquer sentido ou propósito, a sensação é como se todos tivessem mais ou menos esgotados e a maioria das conversas são apenas um meio de reforçar as limitações sociais observadas principalmente por meio de um código rígido e implacável de silêncio inquestionável, mas que provoca angústia. São diversos os caminhos de reflexão nessa parábola da vida de Iris e do que pode acontecer quando alguém acorda de uma inércia produzida por uma sociedade cheia de manipulações vazias e cínicas sobre a felicidade. O reflexo brutal de nossa sociedade é apresentado em um filme amargo, frígido e irônico que precisa ser descoberto. OLHAR PRECIOSO.

O filme foi lançado no Brasil pela Lume Filmes.





quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O DIABO DE CADA DIA (2020) - "The Devil All The Time" de "Antônio Campos"


 "Filme original Netflix tem forte elenco e certo potencial como Thriller em abordar sociedade doentia escorada em Deus"

      O filme tem trama violenta e intensa adaptada de um livro com bastante nuances e moderamente difícil de compensar em pouco mais de 2 horas, esse tempo é mal utilizado abandonando detalhes importantes dos personagens. Abordar as consequências do exagero da fé em um período antigo se mostra um tema complexo em exaltar a urgência em repensar valores desgastados e o atraso causado pela loucura "cristã" que afeta as pessoas. O público padrão que consume Netflix tem a oportunidade de se aproximar de uma obra que mesmo com os diálogos massivos e didáticos, tem um propósito bem definido beirando o sombrio e pouco confortável. A narração da história é um detalhe negativo e pouco marcante, só ajuda ao filme a se conectar com o senso comum que precisa de um direcionamento e requer um certo esforço para o real impacto de um drama carregado de acidez. Embora sua estrutura nem sempre funcione em seu máximo, o cenário obscuro fica envolvente à medida que se desenvolve, muito também pelo seu bom elenco. O tema "crença religiosa" se torna uma meditação bastante violenta, angustiante e com uma concepção aterrorizante sobre o fanatismo que isso envolve. A principal reflexão que surge é a necessidade da evolução intelectual, que se faz necessária no implacável mundo de uma fé mal utilizada e datada, porém ainda muito presente na sociedade de hoje disfarçado de hipocrisia.

      A história acompanha a vida de um grupo de pessoas em duas pequenas comunidades nos estados de Ohio e Virginia, leste dos Estados Unidos no final dos anos 50. Ambas comunidades muito religiosas, com famílias que definem e norteiam sua vida e seus fatos pela “vontade de Deus”. Temos a apresentação de Willard Russell (Bill Skarsgård), um veterano da segunda guerra, que devido as atrocidades vistas e cometidas, não se considera mais um homem de fé. Essa situação muda após sua esposa Charlotte (Haley Bennett) contrair câncer. Para Willard, a única forma de salvá-la é pedindo ao criador para fazê-lo. O que o faz obrigar também seu filho Arvin Russell (Tom Holland) para que reze – mesmo sem vontade – pela vida de sua mãe, além de realizar outros sacrifícios. O filme nos mostra que – geralmente, a não ser que você seja ateu – as pessoas tendem a buscar refúgio ou a fazer pedidos a algo superior sempre que os recursos do mundo não lhes favoreçam. A época abrange o pós-guerra ao conflito no Vietnã, refletindo um momento de desesperança e angústia na vida das pessoas. A história segue outros personagens em uma jornada de impulsos hostis em relação ao mundo ao mesmo tempo que certas escolhas sejam baseadas em culpa e desesperança. 

      A trama ainda nos apresenta um pregador profano (Robert Pattinson), uma dupla de serial killers, Carl e Sandy Henderson (Jason Clarke e Riley Keoug), que utilizam da bondade em ajudar estranhos para cometerem seus crimes. Esses dois acabam sendo elo de ligação em várias partes do longa e definem o destino de muitos personagens. O elenco ainda possui duas peças importantes, Sebastian Stan (Eu, Tonya), como o corrupto xerife Lee Bodecker e Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres) que no filme é Lenora Laferty, meia irmã de Arvin, que fora criada pela avó, numa rotina religiosa severa da qual ela se orgulha. Seu destino também é uma ponte ao futuro da história. As surpresas que envolvem esses personagens são drásticas e desafiadoras na medida do possível. O Diabo de Cada Dia não é só um filme sobre religião e pessoas. É sobre a vida, criação e o enraizamento da violência. Tragédias acontecem de variadas formas e com diferentes aceitações. É um filme ideal para  questionamentos, ainda que a rejeição de certos caminhos e personagens, sejam condicionados pela própria abordagem escolhida, sem qualquer trabalho da evolução psíquica dos mesmos, se tornando uma bagunça de tragédias pessoais que se cruzam. O desperdício de potencial transforma a experiência em algo pouco marcante como deveria mas envolvente como produto Netflix para ser consumido sem altas expectativas ainda que efetivo. AUTO-DESTRUIÇÃO SUPERFICIAL.


O filme está disponível na NETFLIX.

Hype: BOM - Nota: 7,0

terça-feira, 1 de setembro de 2020

INVASÃO ZUMBI 2 - PENÍNSULA (2020) - "Train To Busan - Península" de "Sang Ho Yeon"


"Continuação de Invasão Zumbi investe na ação sem qualquer novidade para o gênero" 


     Os filmes de zumbis já atravessam décadas desde quando o mestre do terror George A. Romero construiu o clássico do terror "A Noite dos Mortos Vivos" (1968). As criaturas foram revitalizadas nesta última década sendo tema de diversos projetos, alguns com bastante êxito. Esse foi o caso do filme coreano "Train to Busan" de 2016 do diretor Yeon Sang-ho, no Brasil ganhou o título "Invasão Zumbi", sua premissa nervosa levava Zumbis a uma viagem de trem em um thriller cheio de estilo, pulsante, inteligente e sincero. Devido ao sucesso, quatro anos depois, Yeon retorna com a premissa de uma franquia, onde não há mais a tal "Viagem de Trem" até Busan e sim o apocalipse zumbi já consumado em uma Coréia já devastada. Peninsula é ambientado no mesmo mundo que o filme original, mas não é uma sequência tradicional, pode ser considerado um derivado. Infelizmente, isso significa que o herói Seok-woo de "Yoo Gong" não retorna e o filme segue com um elenco de novos personagens. O filme original apresentava um estudo da sociedade sul-coreana, desde o trabalhador assalariado "Seok-woo" ao arrogante e egoísta "Yon-suk" a um sem-teto, todos tendo suas vidas diárias jogadas no caos quando os zumbis aparecem. Nessa continuação o filme foca na ação pós-apocalíptica com zumbis, infelizmente, sem o diferencial intimista do original. 


     Na trama, quatro anos após a total dizimação da Coreia do Sul, Jung-seok, um soldado que escapou do ataque zumbi, revive o horror quando designado para uma operação secreta. Quando sua equipe se depara inesperadamente com sobreviventes, suas vidas dependerão de circunstâncias causadas pelo apocalipse zumbi. A produção não aborda a origem ou a explicação da catástrofe zumbi, a história humana que funcionou tão bem no original aparece pouco, o foco principal é a sobrevivência. Neste quesito o filme ganha mais ação, para isso, o diretor reforça os locais de combate, na Península há um tipo de arena de luta onde sobreviventes são jogados no octógono contra zumbis, explorando um mundo em ruínas, onde a sociedade entrou em colapso e existem novas e mais selvagens regras em jogo. Jung Seok e seus companheiros soldados terão sua missão comprometida e a missão principal será tentar sair vivo da península, que engloba toda região da Coréia do Sul devastada por zumbis.


     O filme não transcende o gênero como o original fez em 2016, infunde a mesma inventividade e energia em cenas de ação, correndo sério risco de perder o público conquistado e preparando terreno para uma franquia sem muito diferencial da tonelada de produções sobre zumbis. Sem muitas respostas sobre o que este universo tem a oferecer, o grande mérito de canalizar o apocalipse zumbi confinado dentro de um trem usado no primeiro filme é expandido em grande escala para toda a cidade, em um cenário de mundo invadido e que consequentemente se choca com outras produções do gênero. Nesse momento a imersão falha com efeitos especiais confusos e artificiais de paisagens urbanas, o aspecto se aproxima de um cenário de videogame. O gancho do real motivo desses personagens estarem se arriscando na tal Península não é tão forte quanto os vagões estreitos do filme anterior, ainda que alguns personagens consigam impulsionar a ação. O roteiro de Yeon explora tudo com bastante desinteresse em favor de disputas destrutivas e inevitavelmente fracas. O filme agrada quem busca adrenalina e não vai além da experiência de um filme Blockbuster de Zumbi, esse caminho escolhido não repete o brilho do original. MAIS DO MESMO.


O filme será lançado no Brasil pela PARIS FILMES com previsão de estréia nos cinemas para Novembro de 2020.

Hype: REGULAR (Nota: 5,0)