quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O DIABO DE CADA DIA (2020) - "The Devil All The Time" de "Antônio Campos"


 "Filme original Netflix tem forte elenco e certo potencial como Thriller em abordar sociedade doentia escorada em Deus"

      O filme tem trama violenta e intensa adaptada de um livro com bastante nuances e moderamente difícil de compensar em pouco mais de 2 horas, esse tempo é mal utilizado abandonando detalhes importantes dos personagens. Abordar as consequências do exagero da fé em um período antigo se mostra um tema complexo em exaltar a urgência em repensar valores desgastados e o atraso causado pela loucura "cristã" que afeta as pessoas. O público padrão que consume Netflix tem a oportunidade de se aproximar de uma obra que mesmo com os diálogos massivos e didáticos, tem um propósito bem definido beirando o sombrio e pouco confortável. A narração da história é um detalhe negativo e pouco marcante, só ajuda ao filme a se conectar com o senso comum que precisa de um direcionamento e requer um certo esforço para o real impacto de um drama carregado de acidez. Embora sua estrutura nem sempre funcione em seu máximo, o cenário obscuro fica envolvente à medida que se desenvolve, muito também pelo seu bom elenco. O tema "crença religiosa" se torna uma meditação bastante violenta, angustiante e com uma concepção aterrorizante sobre o fanatismo que isso envolve. A principal reflexão que surge é a necessidade da evolução intelectual, que se faz necessária no implacável mundo de uma fé mal utilizada e datada, porém ainda muito presente na sociedade de hoje disfarçado de hipocrisia.

      A história acompanha a vida de um grupo de pessoas em duas pequenas comunidades nos estados de Ohio e Virginia, leste dos Estados Unidos no final dos anos 50. Ambas comunidades muito religiosas, com famílias que definem e norteiam sua vida e seus fatos pela “vontade de Deus”. Temos a apresentação de Willard Russell (Bill Skarsgård), um veterano da segunda guerra, que devido as atrocidades vistas e cometidas, não se considera mais um homem de fé. Essa situação muda após sua esposa Charlotte (Haley Bennett) contrair câncer. Para Willard, a única forma de salvá-la é pedindo ao criador para fazê-lo. O que o faz obrigar também seu filho Arvin Russell (Tom Holland) para que reze – mesmo sem vontade – pela vida de sua mãe, além de realizar outros sacrifícios. O filme nos mostra que – geralmente, a não ser que você seja ateu – as pessoas tendem a buscar refúgio ou a fazer pedidos a algo superior sempre que os recursos do mundo não lhes favoreçam. A época abrange o pós-guerra ao conflito no Vietnã, refletindo um momento de desesperança e angústia na vida das pessoas. A história segue outros personagens em uma jornada de impulsos hostis em relação ao mundo ao mesmo tempo que certas escolhas sejam baseadas em culpa e desesperança. 

      A trama ainda nos apresenta um pregador profano (Robert Pattinson), uma dupla de serial killers, Carl e Sandy Henderson (Jason Clarke e Riley Keoug), que utilizam da bondade em ajudar estranhos para cometerem seus crimes. Esses dois acabam sendo elo de ligação em várias partes do longa e definem o destino de muitos personagens. O elenco ainda possui duas peças importantes, Sebastian Stan (Eu, Tonya), como o corrupto xerife Lee Bodecker e Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres) que no filme é Lenora Laferty, meia irmã de Arvin, que fora criada pela avó, numa rotina religiosa severa da qual ela se orgulha. Seu destino também é uma ponte ao futuro da história. As surpresas que envolvem esses personagens são drásticas e desafiadoras na medida do possível. O Diabo de Cada Dia não é só um filme sobre religião e pessoas. É sobre a vida, criação e o enraizamento da violência. Tragédias acontecem de variadas formas e com diferentes aceitações. É um filme ideal para  questionamentos, ainda que a rejeição de certos caminhos e personagens, sejam condicionados pela própria abordagem escolhida, sem qualquer trabalho da evolução psíquica dos mesmos, se tornando uma bagunça de tragédias pessoais que se cruzam. O desperdício de potencial transforma a experiência em algo pouco marcante como deveria mas envolvente como produto Netflix para ser consumido sem altas expectativas ainda que efetivo. AUTO-DESTRUIÇÃO SUPERFICIAL.


O filme está disponível na NETFLIX.

Hype: BOM - Nota: 7,0

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