quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

TBT - ORLANDO - A MULHER IMORTAL (1992) de "Sally Potter"



    Em 1992 a jovem e ainda meio desconhecida Tilda Swinton estrelava um obscuro e atraente filme baseado em um livro de Vírginia Wolf que até hoje possui elementos admiráveis. Virginia Woolf trata em Orlando a sexualidade de uma forma única: Orlando é imortal, portanto atravessa tempos, espaços e contextos variados durante a sua existência. Além da questão física, as fronteiras transcendentais avançam também no quesito gênero - Orlando é homem, é mulher, por isso suas vivências e percepções mudam de acordo com a sua experiência com determinado gênero. A adaptação cinematográfica é praticamente uma poesia sobre essa obra de Wolf. 


    Sem dúvidas um dos destaques da produção além do figurino que foi exaltado e bastante premiado na época de lançamento, é a marcante atuação de Tilda Swinton, atriz conhecida atualmente por estrelar tanto blockbusters quanto cultuadas obras independentes.  De sua estreia cinematográfica em Caravaggio (1986), passando por obras que lhe renderam prêmios internacionais (como Conduta de Risco, de 2007, quando conquistou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), a filmes como Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), Amantes Eternos (2013), Suspiria – A Dança do Medo (2018) e até personagens coadjuvantes em filmes populares como As Crônicas de Nárnia (2005) e  Doutor Estranho (2016) da Marvel Studios. Uma atriz completa e um dos destaques dessa geração atual. Em Orlando, Tilda Swinton entrega sua habitual competência em um filme que discute, no início da década de 90 questões de gênero, imortalidade e a própria condição humana. Diferentemente de outras produções de época é um filme curto (1h30) que não perde tempo e se entrega ao poder da história peculiar de Vírginia Wolf, com intenso poder visual e uma entrega sensível, corajosa e poética. 


    Orlando é um personagem complexo, tímido, reflexivo, romântico, rico, possuidor de uma beleza rara e de uma generosidade que beira a ingenuidade. Ele sonha em ser poeta e dedica boa parte de sua vida à construção de seu entendimento sobre seus sentimentos e vontades. É uma história simples, basicamente sobre um personagem em busca da felicidade, do amor e por fim da sua verdade. Essa jornada é acompanhada no filme para mostrar a verdadeira essência da história, que é o desenvolvimento do personagem e um convite a refletir sobre o que realmente difere um homem de uma mulher, se são as roupas, as restrições sociais, a orientação sexual, a capacidade intelectual, a mente ou o corpo. Um filme belo que precisa muito ser descoberto pelas reflexões que ele causa e a experiência cinematográfica de alto nível. IMPERDÍVEL.


O filme está disponível no streaming do TelecineCom esse link você tem 30 dias grátis, vem: http://teleci.ne/MeuHype


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

TOM & JERRY - O FILME (2021) - "Tim Story"


Novo filme dos famosos personagens de Hanna Barbera é uma produção divertida, com belos efeitos especiais e mensagem bonitinha.

     A animação combinada com live-action dos personagens Tom e Jerry da Hanna Barbera é mais uma tentativa da Warner Bros em atualizar personagens clássicos, como ocorrido em  Scooby (2020) e em breve será feito com o Looney Tunes no novo Space Jam. O resultado é bem satisfatório e além de matar a saudade dos personagens clássicos  tem um elenco divertido composto por Chloë Grace Moretz, Michael Peña, Rob Delaney, Colin Jost e Ken Jeong. Os traços dos personagens estão impecáveis e realistas combinando muito bem com o elenco humano sendo um atrativo para crianças e adultos, diferente de outros filmes dos personagens Tom e Jerry, aqui eles não falam e nem cantam, um resgate importante da essência dos mesmos além de conversar com a nostalgia dos desenhos clássicos.


     A história toda acontece dentro do Hotel Royal Gate, onde a personagem Kayla (Chloë Grace Moretz) consegue uma oportunidade de trabalho na área de eventos. Kayla por sua vez tem diversos problemas com a rivalidade de Tom e Jerry dentro do hotel, o que acaba sendo uma consequência para que Terrance (Michael Peña) e DuBros (Rob Delaney) desconfiem de  sua verdadeira identidade. Embora a famosa treta entre gato e rato sejam o maior atrativo do longa, a trama principal foca na perspectiva dos problemas dos ricaços Dwayne (Colin Jost, de Como Ser Solteira) e Preeta (Pallavi Sharda, de Lion: Uma Jornada para Casa), o casal mais badalado de Nova York que decidem se casar no Hotel com grandes chances de tudo dar errado graças as confusões armadas por Tom e Jerry.


       Um dos destaques do filme são os efeitos visuais bem produzidos, ainda que muitos elementos clássicos tenham se perdido e a trilha sonora não combina perfeitamente. Mesmo assim ainda é uma atualização digna e simples que realmente foca no básico dos personagens sem uma trama mais elaborada, faltou brincar ainda mais com a nostalgia de uma franquia cheia de elementos e personagens. No geral, a obra apresenta mensagem leve e otimista ressaltando o valor da amizade, do trabalho em equipe, sinceridade e empatia. Destaque para alguns "easter eggs" soltos no filme, não iremos citar para não estragar a experiência. Os personagens continuam sua perseguição de gato e rato que muito se popularizou e até inspiraram outras produções do gênero. O filme assim com Scooby, do mesmo estúdio, é uma opção certeira de entretenimento, seja pelos personagens, cuidado estético ou pela simplicidade. DIVERTIDO.


O filme está incluso no pacote de lançamentos da Warner Bros. aonde nos EUA tem estreia simultânea nos cinemas e no HBO MAX em 26 de Fevereiro, chegando antes no Brasil! O filme tem sessões antecipadas nos cinemas do Brasil nesta Quinta (11/02). A estreia em circuito nacional acontece em 18/02

O Meu Hype assistiu ao filme a convite da Warner Bros. Pictures na Cabine de Imprensa realizada em Brasília seguindo todos protocolos de segurança!

Hype: BOM - (Nota: 7,0)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

BEGINNING (2020) - "Dea Kulumbegashvili"

 


A estreia surpreendente da escritora russa Dea Kulumbegashvili na direção é um soco no estômago de uma sociedade cada dia menos empática

       A Geórgia não é um país que costuma apresentar obras cinematográficas que se expandem ao mundo com forte entusiasmo, Beginning surge para quebrar esse paradigma e também mostrar um pouco do país que faz uma interseção da Europa com a Ásia, é uma antiga república soviética com aldeias na cordilheira do Cáucaso e praias no Mar Negro. A nação é famosa por Vardzia, um grande mosteiro em cavernas do século XII, e pela antiga região produtora de vinho de Cachétia. A capital, Tbilisi, é conhecida pela arquitetura diversificada e pelas ruas labirínticas de paralelepípedos de sua cidade antiga. Esses elementos do país já fazem a obra interessante por si só, somados por um visual arrebatador, uma intensa história sobre abusos e intolerância em uma estreia estonteante de uma empolgante nova voz do cinema europeu.


      Contado com um diálogo esparso e um sentido contemplador, Beginning tem trabalho de câmera extremamente lento e observador, desvenda a vida interior de uma mulher que enfrenta um casamento provincial e uma encruzilhada existencial que passa por obrigações familiares, o temor da religião e as consequências de fortes abusos. Ambientado em uma cidade provinciana no sopé das montanhas do Cáucaso, o filme conta a história de Yana (IIa Sukhitashvili), esposa de um líder de Testemunha de Jeová cuja comunidade está sob ataque de um grupo extremista. Em meio a esse conflito e com seu marido longe, Yana vive um crescente descontentamento interno, enquanto luta para dar sentido ao mundo ao seu redor. Em resumo, retrata a resiliência de uma mulher perante a hostilidade e a violência com consequências dramáticas e devastadoras. A necessidade de entender o mundo de uma personagem que sofre violência psicológica o tempo inteiro é um exercício complexo que choca também com as questões do Isolamento Social que vivemos atualmente


      A obra foi filmada com bastante sensibilidade, principalmente nas cenas de meditação e silêncio, quase mostrando o quanto nossa mente pode ser tornar um retrato do forte "barulho" ou interferência que recebemos e que podem nos comprometer internamente, assombrando nossos pensamentos e nos torturando a cada momento. Há cenas que podem durar até 7 minutos sem realmente acontecer nada e retrata o poder do cinema de reflexão, suas consequências são discretamente ditas por metáforas até o terço final avassalador. A personagem Yana não explica seus motivos, não justifica suas ações, como se suas atitudes estivesse destinadas a acontecer. Esse chocante fluxo de acontecimentos exterioriza o retrato de uma mulher em crise como o centro de um filme de arte com o poder de suas imagens hipnóticas. Beginning é uma experiência transformadora que celebra o cinema sensorial bem realizado e ainda com certo frescor intelectual, não chega a ser complexo mas muito marcante com seu forte poder de deslumbramento. OBRA PRIMA.


Escolhido da Geórgia para integrar a curadoria de Filme Internacional no Oscar 2021, exibido em diversos festivais como Cannes, Toronto, Rotterdam e San Sebastián, onde recebeu quatro premiações, entre elas, as de melhor filme e melhor direção.

O filme está disponível no Brasil com exclusividade pelo Streaming MUBI.

Hype: ÓTIMO - (Nota: 9,0)