quarta-feira, 27 de março de 2024

O HOMEM DOS SONHOS (2023) - "Dream Scenario" de "Kristoffer Borgli"

 


O delírio tragicômico do cancelamento.

  O cineasta norueguês Kristoffer Borgli juntamente com a produção do visionário Ari Aster (Hereditário,  Midsommar) apresentam uma obra sobre o caos existencial com toques de crítica social recheado de camadas interessantes. O Homem dos Sonhos pode ser monótono em alguns momentos mas presenteia o expectador com mais uma atuação brilhante de Nicolas Cage, uma fantasia cinematográfica sobre a paranóia da exposição e do cancelamento.

    O infeliz homem de família Paul Matthews (Nicolas Cage) descobre um dia que várias pessoas não relacionadas - algumas das quais ele nem conhece - estão sonhando com ele. Ele aparece nesses sonhos despreocupado com o que quer que esteja acontecendo, ignorando todas as perguntas e apelos. Aos poucos Paul se torna uma pequena celebridade. Mas então, por razões que fogem ao controle, o Paul dos sonhos começa a se tornar um ator ativo nos sonhos: primeiro amoroso, depois malévolo; o que começou como um fenômeno social inofensivo transforma-se num problema que exige vergonha coletiva e reações violentas. 

  O Homem dos Sonhos é uma comédia obscura que segue com muitos elementos atrativos mas carece de coragem para seguir as suas implicações até sua conclusão. Enquanto o potencial de terror vai se esgotando, o delírio surge como um espetáculo crescente, a metáfora sobre uma geração de pessoas que nasceram conectadas e inevitavelmente vivem o sucesso e o fracasso em questão de segundos, vira um gatilho perigoso que por pouco não se esvazia na escolha poética do diretor.

   Por fim, se torna uma experiência cinematográfica com cenas memoráveis, que recupera a tração perdida à medida que tudo se consolida, é aquele tipo de filme que ganha força tempos depois e seu personagem principal poderia facilmente ter outras vivências exploradas.



⭐️⭐️⭐️ BOM

O Filme estreia nos cinemas nesta Quinta-feira 28/03 pela Califórnia Filmes.






terça-feira, 19 de março de 2024

KUNG FU PANDA 4 - (2024)


 Somente para os fãs.


  Kung Fu Panda 4 mesmo divertido e atraente, perde a força em trama automática e sem brilho. Repete fórmulas utilizadas nos filmes anteriores sem nada de novo a acrescentar, é aquele "arroz com feijão" para sustentar os jovens fãs da franquia. 

    Depois de três aventuras arriscando a vida para derrotar os mais poderosos vilões com sua coragem incomparável e incríveis habilidades em artes marciais, o urso panda Po, o Dragão Guerreiro (Lucio Mauro Filho) embarca em nova jornada. Ele foi escolhido para se tornar o Líder Espiritual do Vale da Paz e precisa encontrar e treinar o mais rápido possível um novo Dragão Guerreiro antes de assumir sua nova e imponente posição. 

  Essa missão tem um obstáculo com a chegada da vilã Camaleoa (Taís Araujo), um pequeno lagarto-fêmea que pode se transformar em qualquer criatura, grande ou pequena. Camaleoa ameaça todo equilíbrio conquistado anteriormente por Po. Em sua cruzada para proteger o Vale da Paz da inimiga, Po encontra a astuta ladra Zhen (Danni Suzuki), uma raposa-das-estepes e juntos os dois vão formar uma inusitada dupla e aprender a trabalhar em parceria. O resto é o enredo de sempre desse tipo de história.

      Existem alguns problemas que prejudicam o filme desde o início. Para começar, os conflitos básicos (Po lutando com suas mudanças de responsabilidades e um bandido fazendo coisas ruins) já foram melhor resolvidos antes nesta franquia. O enredo também sofre de uma suavidade geral que surge quando se joga pelo lugar seguro o tempo todo. 

     Algumas boas ideias em Kung Fu Panda 4 como Po experimentando uma cidade grande pela primeira vez e uma vilã que aprendeu feitiçaria para superar sua pequena estatura não são suficientes, a história nunca é desenvolvida para que os pontos da trama pareçam significativos. É tudo muito obrigatório de uma sequência. A trilogia inicial consegue sobreviver sem esse capítulo. Vale somente pela comédia.


⭐️⭐️ REGULAR

👀 Nos cinemas



quarta-feira, 13 de março de 2024

A FLORESTA DOS SUSSURROS (2023) de "Thiago Cazado"

🏳️‍🌈 A liberdade sexual e o universo dos desejos ocultos 🏳️‍🌈

  A Floresta dos Sussurros é pautado em vivências (ou desejos) comuns à cultura LGBTQIAPN+. O filme, assim como outros exemplares do gênero como "Vento Seco (2020)" e "Um Estranho no Lago (2013)" mostra questões sexuais latentes da comunidade, como o livre encontro de pessoas com anseios sexuais reprimidos, ambientação campestre em um universo habitado por homens e o sentimento de culpa de quem pode "cair de paraquedas" nesse universo. A verdade é que toda a cidade grande tem lugares como esse. 

  Na história, Paulo (Léo Carius) vive uma relação conturbada com a esposa Jessica (Maria Garcia). Após uma séria discussão ele sai para pedalar e acaba se perdendo em uma região conhecida como "A Floresta dos Sussurros", um local secreto onde homens se encontram para fins sexuais. Infeliz no casamento, Paulo nem imagina o quanto sua vida está prestes a mudar, principalmente quando conhece Luigi (Thiago Cazado), um jovem rapaz que exala sexo e liberdade. 

   É a partir desse universo povoado pelo desejo e pelo encontro com o desconhecido que se desenrola o romance "proibido" de “A Floresta dos Sussurros”, o realizador brasiliense Thiago Cazado, reconhecido pelo trabalho no cinema e no teatro com a temática LGBTQIAPN+, aborda com bastante naturalidade temas atuais e constantes na vida da comunidade, filmes do diretor como “Sobre Nós” (2017) e “Primos” (2019) são exemplos dessa abordagem moderna e sensível. Outro aspecto comum entre este e outros trabalhos de Thiago Cazado é o fato de ele assumir diferentes papéis no projeto, atuando na produção, roteiro e direção. 

  Ainda sem previsão de estreia em circuito nacional, A Floresta dos Sussurros está sendo exibido em sessões especiais em algumas cidades e apresenta uma história com tons de comédia, romance e muita coragem de apresentar uma leitura contemporânea que se comunica muito bem com seu público alvo. 

⭐️⭐️⭐️ BOM 🏳️‍🌈 



👀 Sem previsão de estreia nos cinemas, o Meu Hype conferiu o filme na Sessão Especial realizada no Cine Brasília no DF

quarta-feira, 6 de março de 2024

TODOS NÓS DESCONHECIDOS (2023) - "All of us Strangers" de "Andrew Haigh"

 


🤯 Uma reflexão contra os preconceitos impostos🤯

    A premissa enigmática da trama de "Todos Nós Desconhecidos" (All of us Strangers) e a atuação emocionante de Andrew Scott reforçam essa jóia como uma variante elegante das obras de David Lynch. Uma fantasia que mergulha na indefinição da fronteira entre o mundo dos vivos e dos mortos e a pendência de sentimentos consigo mesmo. 

     Andrew Scott interpreta um escritor chamado Adam, que acaba de alugar um apartamento em um prédio vazio e solitário em Londres. Um dia, ele faz uma viagem de trem para visitar a casa de sua infância supostamente vazia e fica surpreso ao encontrar seus pais (Jamie Bell e Claire Foy) apesar de terem morrido em um acidente de carro quando ele era criança. Adam faz algo que não foi capaz de fazer quando seus pais estavam vivos tendo consequências em seu presente. 

  Esta parte do filme é bastante comovente, seus pais começam a conhecer Adam profundamente e entender sua vivência. Adam finalmente percebe que, por mais que ame seus pais, suas repetidas visitas a eles ameaçam prendê-lo no passado. Isso é como se fosse um trauma que volta a sua lembrança repetidamente. Sua conversa final com eles é dilacerante, até porque se passa em uma visão da vida após a morte. 

     Há toda uma outra metade do filme com Adam se apaixonando por Harry (Paul Mescal), uma nuance importante de sua vivência oferecendo uma exploração comovente da solidão, do trauma, da dor, do amor e dos caprichos do tempo. Embora o filme possa não fornecer resoluções fáceis, o cinema contemporâneo agradece o frescor delirante dessa obra moderna e impactante. 


⭐️⭐️⭐️⭐️ Muito Bom 

Em cartaz nos cinemas!






sexta-feira, 1 de março de 2024

DUNA: PARTE DOIS (2024) de "Denis Villeneuve"

 


Um novo clássico do cinema!

     Duna: Parte Dois do diretor Denis Villeneuve, não apenas chega tão perto quanto se poderia esperar de um blockbuster, mas também supera a conquista já significativa do primeiro filme. Esta sequência, praticamente impecável, enche os olhos com uma mitologia provocante e atual, com uma fotografia arrebatadora e um elenco de primeira. Uma experiência refinada como em grandes obras-primas do cinema fantástico de Hollywood.

  A jornada mítica de Paul Atreides (Timothée Chalamet) é iniciada algumas horas depois dos acontecimentos do primeiro filme e mostra a integração de Paul e sua mãe, Jessica (Rebecca Ferguson), na cultura e nas tribos Fremen. Nesse tempo, Paul e Chani (Zendaya) se apaixonam, e juntos iniciam uma campanha contra os seus inimigos opressores. Paul se aproxima de um de seus piores pesadelos - o cumprimento de uma profecia que ele previu, uma guerra santa travada em seu nome.

  A adaptação cinematográfica de Duna consegue ser tão relevante quanto a importante obra da literatura de ficção científica. São poucos manuscritos do gênero que manipulam com tanta maestria uma vasta diversidade de temas que permeiam atualmente a sociedade.

Na obra literária original (1965), Frank Herbert se aprofunda nas questões acerca do planeta Arrakis, um deserto de grande importância: o único lugar capaz de extrair o mélange – a especiaria. Tendo a criação de mundo como o principal alicerce de sua obra, o autor aborda temas fundamentais como a religião e as guerras santas em nome do protagonista, Paul Atreides, além da ecologia do planeta e todas as tramas políticas que envolvem o Imperium, uma espécie de feudalismo intergaláctico. Denis Villeneuve se consagra e não se perde na riqueza de Duna, tudo está no seu devido lugar.

   Em linhas gerais, os elementos fantásticos de Duna provocam o espectador a uma das indagações filosóficas mais interessantes desde Star Wars, a tendência natural da humanidade de se render, de tempos em tempos, à uma figura messiânica e de abriram mão de seu próprio livre-arbítrio. Além da representação clara da figura messiânica em Paul Atreides, a história abrange também as consequências de uma filosofia de governo pautadas na religiosidade. Os exércitos fremen partem para um jihad – uma guerra santa e cometem genocídios em nome de seu profeta. 

  A jornada de Duna é bastante rica de questionamentos confrontando o futuro com o que se vive agora. O cinema entregue por Denis Villeneuve é vivido, lindo e atemporal, uma obra prima!


⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ Novo Clássico!

👀 Em cartaz nos cinemas!