terça-feira, 31 de março de 2020

O POÇO - (2019) "El Hoyo"/ The Platform" de "Galder Gaztelu-Urrutia"


Filme de terror independente se torna relevante em tempos de isolamento e falta de empatia entre as pessoas em uma alegoria ao capitalismo selvagem.

Seria surpreendente imaginar que um filme de suspense/terror espanhol independente, sensação em festivais do gênero como o Sitges e Fantastic Fest seria uma das aquisições da Netflix mais comentadas dos últimos tempos. Tudo aconteceu graças a uma estratégia da plataforma de streaming de lançar a produção durante um dos períodos mais assustadores que vivemos atualmente, a Pandemia causada pelo Covid-19 ou Coronavírus. Acompanhamos o mundo atual em desespero aonde pessoas se isolam e também estocam grande quantidade de mantimentos deixando outras sem ter o que consumir. A metáfora de uma sociedade vertical apresentada em o Poço é interessante, necessária e gera possíveis discussões sobre o senso de humanidade presente na sociedade questionando modelos que constantemente travam uma guerra social, o Capitalismo e o Socialismo. O filme não possui sutilezas no que apresenta deixando a trama bastante redonda ao que propõe, abraçando o mistério do confinamento e das reais intenções dos personagens e produtores. O filme lembra a frieza de produções corajosas como O Cubo (1997) e o primeiro Jogos Mortais de (2004) aonde uma pseudo filosofia se esbarra em uma produção violenta e aterrorizante que se choca com a realidade. Mesmo que em vários aspectos ela pode decepcionar, no agregado a produção desperta a necessidade que esse público que consome Netflix seja atento a produções pequenas e sem grandes investimentos. Na trama, em algum lugar no futuro não tão distante, centenas de pessoas estão presas em um estreito arranha-céu de cimento. A empresa proprietária do local o chama de "Centro Vertical de Autogerenciamento", mas seus ocupantes se referem a ele apenas como "O Poço". As regras do fosso são simples: há dois internos em cada andar, ambos são designados aleatoriamente para um novo andar juntos no início de cada mês e seu único sustento é servido em uma quantidade gigantesca de comida que desce através de uma lacuna no centro da torre a cada 24 horas. Enquanto as pessoas no andar de cima são tratadas com o valor de um banquete real os últimos ficam com as sobras, os prisioneiros têm apenas alguns minutos para engolir o máximo de comida que puderem antes que suas sobras sejam abaixadas para as pessoas no andar abaixo e assim por diante. A dinâmica vai ficando cada vez mais complicada quando os participantes do Poço começam a mostrar quem são de verdade. Se os prisioneiros dos níveis mais altos pegassem apenas o que precisavam, haveria comida suficiente para todos. Mas não é assim que as coisas acontecem e os que são enviados para as profundezas do poço ficam com pouca escolha a não ser comer seu parceiro de confinamento. Ainda que o filme consiga fluir bem e despertar a curiosidade de como tudo isso vai terminar, nenhum desses personagens tem muita profundidade, temos poucas informações e julgamos pelas atitudes ali dentro. O roteiro abusa da premissa da paranóia e se esquece de sustentar a sua história, o elenco é um bom atrativo e o filme infelizmente não cresce com um terceiro ato entediante e um final em aberto que vai desagradar que se empolgou com o início promissor. VALE VER E REFLETIR.



O filme está disponível na Netflix.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0

segunda-feira, 30 de março de 2020

BRAHMS - BONECO DO MAL 2 (2020) "The Boy 2" de "William Brent Bell"



Continuação do pequeno sucesso independente "The Boy" segue cartilha do terror moderno com pouca criatividade.

A sequência de Boneco do Mal se mostra frágil por não aproveitar os pontos positivos que foram destaque em seu primeiro filme, onde o mistério e o suspense são bem desenvolvidos para esconder as várias falhas no roteiro e o baixo orçamento. A produção de 2016 ainda que problemática conseguiu despertar um certo interesse em mais um filme sobre um boneco amaldiçoado, sub-gênero do terror já bem explorado em Hollywood, principalmente por grandes personagens como Chucky, estrela principal de Brinquedo Assassino e Annabelle do universo de Invocação do Mal. No Brasil o filme ainda ganhou o pouco criativo título Boneco do Mal e nem conseguiu ser exibido nos cinemas antes da crise do Covid 19 e o fechamento das salas, dificilmente ganhe nova oportunidade pois deve chegar em streaming em poucos dias nos EUA, permanecendo inédito no Brasil por tempo indeterminado. Na trama, sem conhecer as histórias aterrorizantes de uma propriedade, uma jovem família muda-se para uma casa vizinha da Mansão Heelshire após acontecimentos que resultaram em um trauma na família. Lá, seu filho logo faz uma amizade perturbadora ao encontrar um boneco assustadoramente real que esconde segredos de seu passado. Liza (Katie Holmes) aos poucos desconfia que seu filho, Jude (Christopher Convery) esteja sobre influência do boneco de porcelana dando inicio a uma série de eventos aterrorizantes para a família. O boneco Brahms ganha seu segundo filme em meio a falta de uma boa história de terror a ser contada, o roteiro é pouco eficiente em meio a soluções fáceis na história e os sustos previsíveis. O esforço e cuidado em revelar o mistério de Brahms no primeiro filme é desfeito de uma maneira decepcionante nessa sequência. Uma das melhores sacadas do personagem é o seu poder de manipulação. Tal situação é pouco explorada mas ainda são os melhores momentos, assim como as alucinações de Liza. Os momentos assustadores são ofuscados com a necessidade de explicar o que acontece em cena e justificar o sobrenatural, transformando o filme em conjunto de explicações bizarras aos acontecimentos, diferente do discreto porém eficiente primeiro filme. A direção do longa é feita de maneira monótona e demorado mesmo com curta duração e o final constrangedor e bizarro. Mais um terror decepcionante em 2020 e que pode enterrar de vez o personagem. BOLA FORA.


O Filme não tem previsão de estréia nos cinemas e nem em streaming no Brasil mas pode ser encontrado na internet facilmente.

Hype: RUIM - Nota: 4,0

sexta-feira, 20 de março de 2020

THE WEEKEND - AFTER HOURS (2020)



Novo álbum do cantor de R&B é uma obra conceitual realizada com rigor e autenticidade que se completam. Um deleite aos fãs e um espetáculo de produção.

The Weeknd (Abel Makkonen Tesfaye) se consolidou como um dos principais nomes do R&B nos últimos anos. Seu sucesso global aconteceu principalmente ao incorporar elementos que combinaram muito bem com o seu estilo musical, transitando nas influências do indie e da música eletrônica com personalidade e talento de produção. After Hours não apresenta algo complexo ou indecifrável, é até bastante perceptível desde sua concepção visual a sua estética com o uso de cores vivas e a predominância do vermelho, inclusive o personagem criado pelo artista para representar esse conjunto de músicas, vídeos e performances, é uma forma também de dar uma nova roupagem a si próprio como artista na apresentação do trabalho. Tudo feito com primor e com seu toque pessoal cada vez mais surpreendente dentro de um cenário pop cada vez mais previsível. As nuances emocionais do cantor se choca com sua versatilidade, seja pela sua voz marcante que chamou a atenção em seus dois primeiros compilados, Trilogy (2012) e Kiss Land (2013), ou por se entregar de vez ao pop em Beauty Behind the Madness (2015), e depois se revelar uma surpresa conceitual em Starboy (2016), por fim, se entregar a dor de cotovelo no EP Dear, My Melancholy (2018). O essencial é que The Weekend consegue se conectar ao proposto, inclusive lançando mão da melancolia extrema para um tom mais ameno e alucinógeno com toques de deboche e referência aos anos 80 em uma Las Vegas que te chama para a loucura. Vamos ao Faixa a Faixa. "Alone Again" é uma intro bastante estimulante que também se torna uma música despretensiosa."Too Late" já leva o ouvinte a uma viagem de leveza e melodia com uma pegada eletrônica vibrante. "Hardest To Love" é mais agitada e muito bem construída com linda melodia e refrão. Viciante. "Scared To Live" é uma balada bonita e apreciável. "Snowchild" tem uma batida leve e que surpreende pelos efeitos que se incorporam a melodia. "Escape From LA" é uma das surpresas do álbum, curiosamente com 5:55 de duração que apresenta um som sombrio e atmosférico cheio de detalhes bem executados em uma canção deliciosa. "Heartless" é aquele hit já pronto para as rádios e que combina com o seu som sem ser mais do mesmo. "Faith" se mostra uma canção muito conectada e atual, com toques de mistério e sonoridade cheia de ritmo mesmo sendo sombria."Blinding Lights" é uma montanha russa de sentimentos, a pegada eletrônica com a influência dos sintetizadores oitentistas se joga no beat dançante pronto para uma pista de dança."In Your Eyes" é uma canção que sai um pouco da pegada escura e transita no soul de maneira satisfatória e solar. "Save Your Tears" flerta tranquilamente com o pop mostrando que o artista não se apega a estilos, não surpreende mas também não decepciona pela sutileza."Repeat After Me" surge para equilibrar os dois lados do álbum, o lado emocional triste que transita com o sentimento de conformismo, não chega a empolgar mas agrada pela construção."After Hours" é uma composição assumidamente escura com relance energético, irradia personalidade e emoção. É um dos singles já divulgados antes do álbum e tem um trabalho de composição impecável. "Until I Bleed Out" é uma balada preciosa que fecha o álbum sem conformismo ou otimismo, com um instrumental chamativo, é um final digno de uma obra musical muito bem construída. É certo que essa desventura louca criada pelo artista se transformou em um trabalho conceitual atemporal e bastante maduro, a musicalidade composta de elementos delirantes não chega a ser uma novidade mas ganha uma roupagem interessante e atrativa. CONSISTENTE.


AFTER HOURS tem 14 músicas, lançado pela Republic Records.

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0


quinta-feira, 12 de março de 2020

BLOODSHOT (2020) de David S. F. Wilson.


Adaptação dos quadrinhos da Valiant Comics traz Vin Diesel em papel que parece feito especialmente para ele em filme de ação bem feito porém banal.

Bloodshot é um filme inspirado em uma HQ alternativa criada por Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton e publicada pela Valiant Comics em 1992. O personagem, pouco conhecido no Brasil é um ex-soldado que após ser declarado morto, foi trazido de volta à vida e teve sua memória apagada. Ele possui poderes de metamorfose e regeneração graças a bilhões de nanomáquinas que foram inseridas no seu sangue. O ator responsável em interpretar o personagem principal é o experiente em filmes de ação Vin Diesel, mundialmente conhecido pela franquia Velozes e Furiosos. Diesel encarna pela primeira vez um héroi dos quadrinhos em um personagem fora do eixo Marvel e DC, que tem uma pequena, mas importante fatia do mercado norte-americano de super-heróis. O filme mesmo pontual na ação e nos efeitos especiais se torna bastante previsível no agregado, fornecendo pouca novidade dentro desse universo de adaptações de heróis, além de não trazer qualquer esboço de orinalidade, seguindo um caminho protocolar do gênero com uma leve inspiração nos antigos filmes de ação dos anos 80 e 90. Na trama, Ray (Vin Diesel), codinome Bloodshot, é um ex-soldado dotado de poderes únicos por conta de uma modificação genética. Ele é capaz de se regenerar e também de se metamorfosear. Mesmo com a memória apagada diversas vezes, ele descobre parte de uma experiência científica à qual não concordou em ser cobaia viva. Com um exército de nanotecnologia em suas veias, ele é uma força imparável, o combatente mais forte de uma corporação sendo capaz de curar a si mesmo instantaneamente. Mas além do upgrade de seu corpo, a empresa que o criou também está manipulando a sua mente e suas memórias. À medida que começa a se lembrar do seupassado, Ray já não sabe o que é real e o que não é – mas está determinado a recuperaro controle. A origem do personagem tem uma clara influência de outros heróis como Capitão América, Wolverine e Justiceiro — com um toque de Frankenstein, de Mary Shelley. Quem dirige é o estreante Dave Wilson, que não busca qualquer tipo de identidade própria, a intenção do estúdio, a Sony era um filme para maiores, inspirado em produções como Deadpool e Logan. Não passa perto. O trabalho tem várias referências de clássicos da ficção científica como Robocop e O Vingador do Futuro. Além de Diesel, o elenco conta com Sam Heughan, Eiza González, Guy Pierce e Lamorne Morris. Como o próprio conceito dos quadrinhos já indica, a história não foge dos clichês e muito menos indica algo mais abrangente, a maior intenção é o tiroteio e pancadaria que pode acontecer na fúria do pesonagem. Os fãs de Diesel tem uma boa pedida com a produção mas quem espera algo diferente fica uma uma sensação de mais do mesmo. PARA FÃS DE VIN DIESEL.



O filme está em cartaz nos cinemas pela Sony Pictures.

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

Leia grátis os quadrinhos que inspiraram o filme: https://socialcomics.com.br/bloodshot/

quarta-feira, 11 de março de 2020

A MALDIÇÃO DO ESPELHO (2019) - "Queen Of Spades: Through The Looking Glass" de Aleksandr Domogarov Jr.


Produção Russa chega aos cinemas do Brasil esbarrando em fraco roteiro e na falta de um elemento surpresa.

A expansão dos blockbusters russos cada vez mais rompem suas fronteiras e são a pura representação de um modo de produção que se assimila com o americano, um padrão pouco inventivo e uma estrutura comum de execução com poucos atrativos. A produção tem certa qualidade na improvisação do baixo orçamento porém o roteiro deixa a desejar principalmente pelo simplismo. O filme é a sequência do terror A Dama do Espelho: O Ritual das Trevas, de 2015. O filme original teve roteiro e direção de Svyatoslav Podgaevskiy e mesmo com um orçamento modesto foi um dos destaques no ano de seu lançamento. Nesse meio tempo outras produções de terror russo chegaram aos cinemas do Brasil, como A Noiva (2017) e Sereia (2018), nenhum deles com primor em sua realização. Não será dessa vez que o cinema de terror russo irá engrenar, é uma produção muito simplória.  A trama conta a história de um grupo de adolescentes órfãos  que mora em um internato e acabam descobrindo em um porão um misterioso espelho que é o canal com um fantasma, a Rainha de espadas. A história foca em torno dessa lenda onde uma mulher chegou a matar 19 crianças em apenas dois anos. Essa criatura cruel mora dentro de um espelho e por meio de um ritual ela atende seus desejos com consequências horríveis. A adolescente Olga (Angelina Strechina) e seu meio-irmão mais novo Artyom (Daniil Izotov) são os protagonistas da história e vivem também o drama de terem sobrevivido a um acidente de carro que reivindicou a vida de sua mãe e causou a ida dos mesmos ao orfanato amaldiçoado. Para piorar o que já não é tão criativo, a versão do filme distribuida no Brasil é dublada em inglês, assim como em outros filmes russos que chegaram por aqui pela Paris Filmes, é uma escolha bastante equivocada e de qualidade duvidosa afetando bastante a interpretação dos atores e tornando o filme caricato. A produção não apresenta qualquer novidade para o gênero e ainda usa o famoso clichê de adolescentes em perigo por invocarem fantasmas sem qualquer tensão. Mesmo com uma fotografia até interessante, a história não assusta e se perde em enredo previsível. MAIS DO MESMO.


O filme estréia nesta Quinta-Feira 12/03 nos cinemas pela Paris Filmes.

Hype: RUIM - Nota: 4,0

segunda-feira, 9 de março de 2020

O OFICIAL E O ESPIÃO - (2019) "An Officer and a Spy" (J'accuse) de "Roman Polanski"



O 34º longa-metragem do controverso diretor apresenta o escândalo político do caso Dreyfus em filme bem realizado e com tema importante.

O cineasta franco-polonês de 86 anos, Roman Polanski ganhou repercussão recentemente não só por conta desta produção que vem agradando nos principais festivais por onde passa, ele tem sido massacrado pela mídia e também alvo de protestos por sua conduta pessoal. Mesmo com certo primor na produção e estrelado pelos ótimos Jean Dujardin (O Artista) e o astro Louis Garrel, o filme não apresenta qualquer novidade no gênero e não chega a empolgar como em outros momentos de sua filmografia, que incluem clássicos como Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002). Infelizmente o diretor tem conturbada vida pessoal marcada por escândalos, Polanski é considerado foragido da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado de violentar uma adolescente de 13 anos. Além de ter admitido o estupro, ele foi alvo de uma nova acusação em 2019. A fotógrafa Valentine Monnier afirma que Polanski a estuprou em 1975 na Suíça, quando ela tinha 18 anos. Outras mulheres afirmaram, nos últimos anos, que foram vítimas de agressões sexuais. Desta forma, sempre quando uma obra do diretor é lançada é marcada por boicote e protestos por mulheres. Recentemente o diretor participou indiretamente do último sucesso de Quentin Tarantino, Era uma vez em Hollywood, que aborda o assassinato de sua mulher, Sharon Tate, em 1969, pela seita satânica de Charles Manson. Deixando um pouco de lado essa parte pesada de tudo que está em volta de sua pessoa, seu filme O Oficial e o Espião é a retomada do diretor a uma grande produção, já que em virtude desses episódios citados, o diretor estava mais discreto e investindo em produções independentes e intimistas como Deus da Carnificina (2011), A Pele de Vênus (2013) e Baseado em Fatos Reais (2017). A busca por um fato importante da história francesa é um bom acerto do cineasta mesmo derrapando no nicho "filme para provar a inocência de uma pessoa". A trama conta a história do infame caso Dreyfus, um episódio real. Em Paris, no final do século 19 o capitão francês Alfred Dreyfus (Louis Garrel, irreconhecível no papel) é um dos poucos judeus que faz parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884 ele foi acusado de alta traição. Pelo crime ele é sentenciado à prisão perpétua em um exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart (Jean Dujardin) decide seguir as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus, descobrindo que o soldado judeu foi condenado injustamente por um crime que não cometeu. Ele enfrenta o esforço do exército francês para não admitir o engano. A produção ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. Roman Polanski ganhou pelo filme o maior prêmio do cinema francês, o César de Melhor Diretor. A produção recebeu outras 11 indicações vencendo também como Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino. Com relativo sucesso de público, visto por mais de 1,5 milhões de espectadores na França, é uma obra que já pode ser caracterizada como um sucesso mesmo com Polanski tentando se desviar das crises pessoais. A história de um homem injustamente acusado e que demorou mais de dez anos para ser resolvido, não possui elementos fascinantes como se espera de tanto hype, além de ser assustador o diretor não se posicionar quanto ao antissemitismo e preferir se acomodar indo pelo caminho mais fácil e limpo de condução em uma trama lenta e muitas vezes sonolenta. O fator histórico talvez seja o mais relevante da produção principalmente para o público em geral  não tem conhecimento prévio do caso Dreyfus, porém o diretor optou por estruturar a história como uma investigação policial cômoda perdendo todo potencial político dos fatos. Interessante Polanski vencer o César por uma direção pouco inspirada do que se espera dele, soa datado perto de tantos talentos "fora da caixinha" que surgem na França e fica a sensação que já vimos esse filme antes tamanha a previsibilidade de seu desenrolar. Serve como divulgação histórica e conscientização filmado por alguém que perdeu seu brilho quando suas péssimas atitudes pessoais são mais lembradas que sua arte. RIGOR ESTÉTICO, CONDUÇÃO NORMAL.


Hype: BOM - Nota: 7,0

O filme estréia nos cinemas nesta Quinta-Feira 12/03 pela Califórnia Filmes.

terça-feira, 3 de março de 2020

DOIS IRMÃOS - UMA JORNADA FANTÁSTICA (2020) - "Onward" de "Dan Scanlon"


Nova animação da Disney/Pixar encanta e diverte de maneira lúdica e emocionante.

A Pixar desde Toy Story (1995) se tornou um estúdio que vai além das histórias infantis, existe um cuidado e uma criatividade em apresentar um produto universal que se aprofunda em questões importantes funcionando também entre jovens e adultos. Recentemente o estúdio demonstrou cuidado até mesmo com a continuação de suas franquias de sucesso, mas o grande trunfo ainda são suas produções originais, em Dois Irmãos presenciamos um universo rico, que pipoca cultura pop na tela, com produção colorida e que explora muito bem elementos do RPG com maior foco na magia, sua pegada mais leve e ingênua tem um bom ritmo de fluência sem ser piegas nos dramas pessoais, o que pode parecer clichê inicialmente no agregado se faz bem estruturado, principalmente em mostrar o desencantamento do mundo atual pela magia e o deslumbre alcançado pela revolução tecnológica dos últimos tempos. A importância da história humana também se choca com a magia, culminando em uma sociedade mais auto-suficiente. A tal "Jornada Fantástica" do sub-título nacional é a representação da busca em recuperar o espírito da aventura de outrora, perdido pela facilidade de como tudo é alcançado principalmente pela internet. A trama é ambientada em uma cidade mágica suburbana chamada New Mushroomton, onde seus habitantes são seres fantásticos nos dias de hoje. Acompanhamos dois irmãos elfos adolescentes, Barley (Chris Pratt na versão original) e Ian Lightfoot (Tom Holland, na versão original) que embarcam em uma aventura em uma van para descobrir se o mundo atual possui magia para terem um encontro com seu pai, que faleceu quando eles eram muito novos e deixou alguns sinais de como encontrá-lo. Um grande ponto positivo da produção é a inclusão da diversidade social em um produto infantil, com personagens negros, latinos e LGBT com certa naturalidade. O fato do longa animado ter dois protagonistas de diferentes personalidades promove uma quebra do que seria o natural desse tipo de história, ambos possuem fraquezas e buscam na saudade do falecido pai respostas que eles precisam encontrar por conta própria. A figura de um pai presente apenas da cintura para baixo, graças a magia (um par de calças sociais ambulante e invisível da cintura pra cima) torna-se ao mesmo tempo graciosa e bizarra. Com este projeto, a Pixar ousa em dialogar com jovens mais contemporâneos, acostumados a um ritmo de videogame e ao estilo geek. Percebe-se alguns atalhos para conseguir tal feito, alguns bons personagens somem e aparecem quando é conveniente e a aposta em simbologia mágica se torna óbvio porém bem utilizado, a jornada medieval misturada com a magia contemporânea consegue boas soluções como nas cenas do restaurante da personagem Corey, dublada no original por Octavia Spencer e também na escola na cena do clímax final.  Tecnicamente a Pixar continua impecável e mesmo demorando um pouco pra engrenar, Dois Irmãos é comovente principalmente em sua conclusão, quando todos os caminhos narrativos se encontram e mostra o seu poder de sensibilidade. Mesmo abusando de fórmulas calculadas sem correr muitos riscos, a produção se destaca por ser uma aventura engraçada, emocionante e divertida. A MAGIA VIVE.


O filme chega aos cinemas nesta Quinta-Feira 05/03 pela Disney/Pixar.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5