segunda-feira, 9 de março de 2020

O OFICIAL E O ESPIÃO - (2019) "An Officer and a Spy" (J'accuse) de "Roman Polanski"



O 34º longa-metragem do controverso diretor apresenta o escândalo político do caso Dreyfus em filme bem realizado e com tema importante.

O cineasta franco-polonês de 86 anos, Roman Polanski ganhou repercussão recentemente não só por conta desta produção que vem agradando nos principais festivais por onde passa, ele tem sido massacrado pela mídia e também alvo de protestos por sua conduta pessoal. Mesmo com certo primor na produção e estrelado pelos ótimos Jean Dujardin (O Artista) e o astro Louis Garrel, o filme não apresenta qualquer novidade no gênero e não chega a empolgar como em outros momentos de sua filmografia, que incluem clássicos como Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002). Infelizmente o diretor tem conturbada vida pessoal marcada por escândalos, Polanski é considerado foragido da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado de violentar uma adolescente de 13 anos. Além de ter admitido o estupro, ele foi alvo de uma nova acusação em 2019. A fotógrafa Valentine Monnier afirma que Polanski a estuprou em 1975 na Suíça, quando ela tinha 18 anos. Outras mulheres afirmaram, nos últimos anos, que foram vítimas de agressões sexuais. Desta forma, sempre quando uma obra do diretor é lançada é marcada por boicote e protestos por mulheres. Recentemente o diretor participou indiretamente do último sucesso de Quentin Tarantino, Era uma vez em Hollywood, que aborda o assassinato de sua mulher, Sharon Tate, em 1969, pela seita satânica de Charles Manson. Deixando um pouco de lado essa parte pesada de tudo que está em volta de sua pessoa, seu filme O Oficial e o Espião é a retomada do diretor a uma grande produção, já que em virtude desses episódios citados, o diretor estava mais discreto e investindo em produções independentes e intimistas como Deus da Carnificina (2011), A Pele de Vênus (2013) e Baseado em Fatos Reais (2017). A busca por um fato importante da história francesa é um bom acerto do cineasta mesmo derrapando no nicho "filme para provar a inocência de uma pessoa". A trama conta a história do infame caso Dreyfus, um episódio real. Em Paris, no final do século 19 o capitão francês Alfred Dreyfus (Louis Garrel, irreconhecível no papel) é um dos poucos judeus que faz parte do exército. No dia 22 de dezembro de 1884 ele foi acusado de alta traição. Pelo crime ele é sentenciado à prisão perpétua em um exílio. Intrigado com a evolução do caso, o investigador Picquart (Jean Dujardin) decide seguir as pistas para desvendar o mistério por trás da condenação de Dreyfus, descobrindo que o soldado judeu foi condenado injustamente por um crime que não cometeu. Ele enfrenta o esforço do exército francês para não admitir o engano. A produção ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. Roman Polanski ganhou pelo filme o maior prêmio do cinema francês, o César de Melhor Diretor. A produção recebeu outras 11 indicações vencendo também como Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino. Com relativo sucesso de público, visto por mais de 1,5 milhões de espectadores na França, é uma obra que já pode ser caracterizada como um sucesso mesmo com Polanski tentando se desviar das crises pessoais. A história de um homem injustamente acusado e que demorou mais de dez anos para ser resolvido, não possui elementos fascinantes como se espera de tanto hype, além de ser assustador o diretor não se posicionar quanto ao antissemitismo e preferir se acomodar indo pelo caminho mais fácil e limpo de condução em uma trama lenta e muitas vezes sonolenta. O fator histórico talvez seja o mais relevante da produção principalmente para o público em geral  não tem conhecimento prévio do caso Dreyfus, porém o diretor optou por estruturar a história como uma investigação policial cômoda perdendo todo potencial político dos fatos. Interessante Polanski vencer o César por uma direção pouco inspirada do que se espera dele, soa datado perto de tantos talentos "fora da caixinha" que surgem na França e fica a sensação que já vimos esse filme antes tamanha a previsibilidade de seu desenrolar. Serve como divulgação histórica e conscientização filmado por alguém que perdeu seu brilho quando suas péssimas atitudes pessoais são mais lembradas que sua arte. RIGOR ESTÉTICO, CONDUÇÃO NORMAL.


Hype: BOM - Nota: 7,0

O filme estréia nos cinemas nesta Quinta-Feira 12/03 pela Califórnia Filmes.

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