terça-feira, 17 de novembro de 2020

A DAMA E O VAGABUNDO (2019) - "Lady and the Trump" de "Charlie Bean"



Live-action da Disney lançado exclusivamente para o streaming Disney+ cumpre seu papel sem empolgar, com destaque ao charme do clássico animado que o inspira.


O investimento da Disney em seu streaming próprio para bater de frente com Netflix e Amazon Prime Video nem faz muito sentido ainda aos brasileiros. A plataforma deve chegar à América Latina ainda esse ano e enquanto isso não acontece as produções do Disney+ ficam fadadas a sites que fornecem o conteúdo extra-oficialmente. A Dama e o Vagabundo foi uma das primeras produções originais do streaming e foi lançada nos EUA junto com a plataforma em Novembro de 2019 com a versão dublada em português disponível, por enquanto nada do filme ser lançado por aqui. Provavelmente os fãs brasileiros precisarão esperar a chegada do serviço ao país ou se aventurar na internet para conferir a adaptação do 15º longa-metragem de animação dos estúdios Disney, lançado em 1955 e baseado no conto "Happy Dan, The Cynical Dog", de Ward Greene. O desenho até hoje é muito lembrado e apreciado, principalmente pela inesquecível cena do jantar da Dama e do Vagabundo a luz de velas comendo spagetthi. Talvez uma das cenas mais memoráveis e bonitas das animações Disney. Em tempos onde tudo precisa ser atualizado para live-action, principalmente por questões financeiras, é um filme desnecessário e que em nada consegue chegar perto da animação original. Se a Disney ainda se preocupou em Mogli, Dumbo e Malévola (Bela Adormecida) em trazer alguma novidade ao live action, neste filme o estúdio bebe da fonte dos intragáveis remakes de Aladdin e Rei Leão em um repeteco do desenho para a geração que tem preguiça de pegar o original e se contemplar com um clássico. O filme é novo, mas familiar, seguro e de alguma forma apreciável mas também de aparência barata. O filme existe apenas porquê um conglomerado de entretenimento se sentiu obrigado a construir conteúdo para sua plataforma, nada mais do que isso. Seguindo de perto o tom do original como filme de Natal, a versão de Bean começa da mesma maneira que a anterior, Jim Dear (Thomas Mann) e sua querida esposa Darling (Kiersey Clemons) são um casal próspero, com nada além de esperança no horizonte. A história se passa em 1909 quando Jim presenteia a amada com um elegante cocker spaniel no Natal, Lady ou Dama (no original dublado por Tessa Thompson). Rapidamente se torna parte da família, abraçando Jim e Darling na cama todas as noites. Mas ela tem pouca visão sobre o mundo até que por um acidente do destino ela encontra um vira-lata, Tramp ou Vagabundo (no original dublado por Justin Theroux). O par incompatível vão viver juntos uma aventura de descobertas e também uma paixão. A história sonolenta para os dias atuais não recebe nenhum incentivo, os poucos cenários improvisados já revelam ser um filme para a TV, ou melhor, para o streaming. As músicas são discretas com direito a uma ponta de Janelle Monáe. Os animais são reais, digitalmente eles ganham espressões, inclusive para movimentos bruscos que a história necessita, são efeitos imperfeitos mas que em nada atrapalha em sua condução. A cena clássica do jantar romântico é digna. É um filme leve e recomendado para a família, como o Disney Plus quer que seja, sem sair da zona de conforto e para acolher os assinantes de se seu streaming. A próxima vítima do  Live Action do estúdio será Robin Hood (1973) também direto para o streaming. Walt Disney nem imagina o que seu legado tá virando. CLÁSSICO MORNO.


O filme faz parte do catálogo do Disney Plus. 

Hype: REGULAR - Nota: 6,0

BLACK IS KING (2020) de "Emmanuel Adjei", "Blitz Bazawule" e "Beyoncé"


"Álbum visual da cantora, inspirado em Rei Leão e produzido pela Disney expõe um material musical maduro e uma cultura negra vibrante e importante para a Cultura Pop"

    A cantora Beyoncé consegue simplesmente se renovar a cada trabalho conceitual de maneira bastante revigorante. Em 2016, Lemonade surgiu com uma proposta nova para sua carreira, um álbum visual aonde a cantora se entregava ao universo da sua raiz negra com diversas pitadas de críticas sociais. Em 2019 a cantora em parceria com a Netflix lançou o filme com sua histórica apresentação no festival Coachella em 2018, Homecoming, um espetáculo de encher os olhos e alçar seu patamar único de estrela do pop mundial. Ao participar da versão em live-action do longa animado "Rei Leão" da Disney em 2019, tal participação ressaltou a cantora como a emocionante história de Simba é também uma declaração de amor a África, inspirou a cantora a realizar "The Lion King - The Gift", um álbum especial produzido em homenagem ao filme. Black is King surge ainda inspirado pelo encantamento da cantora pela composição única e magnífica de Rei Leão, com elementos bem mais criativos que a sua criação de 2019. 


    O contrato de Beyoncé com a Disney só demonstra que a grande indústria de entretenimento americana tem potencial de apresentar vitalidade e diversidade em seu catálogo. O álbum musical é a prova que a cantora usa seu trabalho e sua influência no meio cultural com intuito de mudar a imagem dos negros e da áfrica que está sempre associado a pobreza e submissão aos brancos, formando uma nova imagem, mostrando aos negros que é preciso conhecer sua ancestralidade, já que a cultura branca (dominante) tentou destruir a cultura e a religião do povo africano. "Black is King" lembra que é necessário retomar suas origens com intuito de se autoconhecer e para se libertar da opressão e segregação resultante de séculos de escravidão. A ousadia do discurso da cantora no álbum conceitual provocou diversos palpites sobre o trabalho seja pelo movimento estético, cultural e social. Sem entrar em polêmicas, o que é importante ressaltar é que o afrofuturismo inseriu o negro na visão de futuro – um posicionamento que vai além do entretenimento mas também fala sobre sobrevivência e resistência. Beyoncé acerta ao incluir o movimento no trabalho familiarizando a cultura negra ao universo pop assim como recentemente utilizado em Pantera Negra (2018). 


    O empoderamento feminino também tem presença na obra com mulheres como protagonistas. Beyoncé canta sobre o poder da mulher representada no filme por guerreiras na canção "My Power" e exalta a beleza negra em "Brown Skin Girl", que tem a participação da filha da cantora, Blue Ivy, da amiga e ex-Destiny’s Child, Kelly Rowland, de sua mãe, Tina Knowles-Lawson, além da modelo Naomi Campbell e da atriz Lupita Nyong’o. Um dos pontos altos do projeto. A religião também é utilizada na produção, em "Otherside" uma referência clara a Moisés, personagem bíblico do Antigo Testamento e salvo pela mãe de um genocídio de meninos ao ser colocado no rio Nilo. Moisés é uma figura que representa a liberdade: ele foi o responsável por tirar hebreus da escravidão. As religiões africanas também estão presentes no filme. Para os brasileiros, a proximidade ainda é maior, já que, por aqui, as religiões de matrizes africanas são bastante populares quando comparadas à cultura americana. A deusa Oxum, considerada a senhora da beleza, da fertilidade, do dinheiro e da sensibilidade, é exaltada por Beyoncé em pequenos detalhes. 


   A concepção imposta por Beyoncé ainda rende bastante polêmica ao misturar a estética tecnológica aos elementos da cultura africana, no nosso entendimento é um movimento importante e criado para agregar e celebrar a amplitude e a beleza da ascendência negra e para apresentar elementos da história negra e da tradição africana com um toque moderno e uma mensagem universal, coisas que a cantora vem realizando com bastante primor em seus trabalhos. Independente da visão pessoal de cada um, Black is King é um frescor necessário para a cultura negra ressaltando sua beleza e seu poder cultural.  ARTE.


O filme está disponível no streaming Disney+.

Hype: ÓTIMO (Nota: 8,5)

TOGO (2019) de "Ericson Core"


Filme original do Disney+ emociona com a história real do cachorro de trenó Togo, um verdadeiro herói canino.

A chamada "Grande Raça da Misericórdia" conhecida por cães que fizeram história junto a humanidade na busca de enfrentar uma dificuldade ganha mais um lindo filme com Togo, um cão hiperativo e fofo em uma história de superação e heroísmo. O filme produzido exclusivamente para o streaming da Disney tem uma representação bastante nervosa das tempestades de gelo aonde vivem os personagens, além de uma infinidade de fofura canina como um bom filme de cachorro precisa ter. O roteiro de Tom Flynn mistura o drama real com boas soluções originais e atrativas de narrativa. O filme não chega a ter uma atmosfera atrativa ao público jovem, com uma abordagem madura e nenhum personagem infantil. Mesmo sendo um filme onde um cachorro é o protagonista principal, a história se mostra bastante humana em uma jornada épica no primeiro filme imperdível do Disney Plus. Na trama, Leonhard Sepalla (Willem Dafoe) e sua equipe de cães puxadores de trenó, liderada por Togo são a única saída de locomoção em uma região isolada do Alasca durante um horrível período de inverno, eles precisam transportar remédios para combater uma epidemia de difteria na região durante a década de 20. O episódio ficou muito famoso nos EUA. Dafoe se entrega ao papel em boa atuação e química com os cachorros, interpretando o lendário criador de cães que ajudou a normalizar o uso dos mesmos em puxar trenós. A história que combina aventura e emoção tem direção de Ericson Core (O Invencível), que possui uma forma muito carinhosa de abordar as nuances tanto dos personagens humanos quanto dos caninos. A delicadeza da abordagem transforma a produção em um daqueles filmes clássicos que se tornaram marca registrada e característico do estúdio Disney, ele resgata uma magia que nem os famosos "live-action" exibidos no cinema atualmente conseguem ter. Togo é um conto simples e bem amarrado com valiosas lições de empatia. Balto, que liderou a equipe que completou a etapa final da perigosa missão há muito tempo é anunciado como o herói principal, mas é o valor extraordinário de Togo que tornou a jornada possível e o filme consegue dar o protagonismo necessário a ele. Com custo de aproximado 40 milhões de dólares, investimento considerado alto para um filme exclusivo do Disney+, demostra o interesse do estúdio em bater de frente com as produções originais de Netflix e Amazon. Apresenta um trabalho impecável de efeitos especiais que reforçam toda a representação dos perigos vividos pelos personagens, incluindo uma cena angustiante em que o bando inteiro passa por uma montanha íngreme, perdendo apenas para uma sequência horripilante em uma geleira. Os longos trechos de trenó e a falta de uma edição mais ágil seriam os únicos problemas do filme, longe de ofuscar tudo que foi muito bem construído. Quando os flashbacks mostram a infância incrivelmente adorável de Togo carregadas pela emoção de como ele conquistou a confiança de Leonhard e sua esposa, interpretada pela doce Julianne Nicholson, são apaixonantes. Mesmo com poucas pitadas de alegria é um drama da vida real digno sobre um homem e seu melhor amigo. AFETUOSO



O filme faz parte do catálogo do streaming Disney+.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0