sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

HISTÓRIA DE UM CASAMENTO (2019) - "Marriage Story" de "Noah Baumbach"


O talentoso e experiente diretor Noah Baumbach consegue reabrir o tema  relacionamentos com um certo frescor em um filme que atualiza a problemática do casamento, das vontades pessoais e das angústias contemporâneas de maneira eficaz e emocionante.

O cinema já trouxe diversos filmes que ficaram marcados pela abordagem forte de relacionamentos e separações, um exemplo bem próximo porém distante é o esquecido vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1980, Kramer Vs. Kramer, mesmo em épocas bem distantes é interessante como a evolução do ser humano ainda obedece formalidades que mais atrapalham do que ajudam nesse processo. O filme trata de um divórcio entre um diretor de teatro e uma atriz que possuem um filho. Durante o processo de divórcio mostra-se o processo de brigas e mudanças de cidades de Nova York para Los Angeles. Mesmo com uma concepção sensata que a melhor maneira de terminar um casamento seria de maneira amigável, nem sempre isso é possível pelos obstáculos que podem surgir dessa decisão, incluindo questões judiciais. Isso inclusive rende a atriz Laura Dern mais uma atuação acima da média em sua filmografia, interpretando Nora Fanshaw, uma espécie de craque na advocacia, que utiliza todas as artimanhas para que a esposa ganhe o máximo na separação. Na verdade o trabalho dos três advogados que passam pelo filme é um suporte interessante na mensagem do filme, além de Nora tem Alan Alda interpretando Bert Spitz, advogado humanista e pouco interesseiro, que acredita nos clientes como humanos e Ray Liotta é o cínico e sujo Jay Marotta, único capaz de vencer a advogada de Nicole porque joga mais sujo que ela. Os embates angustiantes do casal interpretado por Adam Driver e Scarlett Johansson, que se gostam mas precisam se separar, é frigído como um relacionamento perto do fim, ficando a cargo dos advogados movimentar a trama. O filme ainda prepara cada cena para ser um ato triunfal, quase um ensaio teatral. A bipolaridade dos momentos é perturbador, se misturam sensações que vão da alegria a tristeza, da realidade compartilhada a solidão interna, do engraçado ao triste e da beleza dos sentimentos a frieza da razão, tudo muito alinhado na história. O cinema de Noah Baumbach é quase uma colagem de grandes mestres como Igmar Bergman, Robert Altman, Woody Allen e outros, mesmo que seu filme tenha uma identidade própria e saiba fugir dos clichês. O roteiro evita demonizações dos personagens e o toque de humanidade pode emocionar quem já viveu ou vive algo parecido, porém falta tempero, soa plástico e anti-natural, tudo organizado para ser um clássico contemporâneo como provavelmente foi Kramer vs. Kramer em sua época. Não que isso seja um problema, longe disso, quando um filme consegue ir além do seu papel de arte sendo intrínseco ao expectador é a prova que ele atingiu seu principal objetivo como drama. GENEROSO E DRAMÁTICO.


O filme está disponível no streaming da Netflix.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

DOIS PAPAS (2019) - "Two Popes" de "Fernando Meirelles"


Produção realiza interessante paradoxo sobre formalidades do principal líder de uma das principais religiões do mundo com humanidade, respeito e facetas boas e ruins de uma das posições mais relevantes do meio religioso.
O filme original Netflix com base na obra de McCarten, "O Papa" trata de um tema bastante delicado, observamos visões sobre o mundo pelo olhar da religião católica focado também na transição do papado. O diretor brasileiro Fernando Meirelles famoso por produções como Cidade de Deus (2002), O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio Sobre a Cegueira (2008) realiza uma obra interessante sobre os formalismos da igreja católica e como isso é tratado por quem lidera uma legião de pessoas que segue seus dogmas. Os personagens possuem um humor sútil e também bastante humanidade pela posição que ocupam frente a religião, Anthony Hopkins e Jonathan Pryce conseguem realizar um trabalho inspirado de atuação com carisma e complexidade. O roteiro transita com perspicácia por momentos sutis e também não sobrecarrega o drama. Não é um filme sobre religião e sim sobre duas pessoas. A produção também se destaca pela fotografia e a representação quase real do Vaticano. Na trama o cardeal argentino Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce) está decidido a pedir sua aposentadoria, devido a divergências sobre a forma como o papa Bento XVI (Anthony Hopkins) tem conduzido a Igreja. Com a passagem já comprada para Roma, ele é surpreendido com um convite da própria autoridade suprema do catolicismo para visitá-lo. Ao chegar, iniciam uma longa conversa, na qual debatem não só os rumos da religião católica, mas também afeições e peculiaridades da personalidade de cada um. A história não chega a ser uma grande novidade porém sua construção e condução que se destaca. Realidade e ficção se misturam e o grande poder da trama é mostrar que todos estão sujeitos a erros e que a necessidade da mudança não é uma escolha e sim uma característica da sociedade. SENSATO.

O fillme teve exibição em circuito limitado nos cinemas e está disponível na Netflix.
Hype: ÓTIMO – Nota: 8,5

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

"SEX EDUCATION” - Temporada 2 (2020)


Segunda Temporada consolida seriado adolescente britânico da Netflix como uma das opções mais interessantes do streaming, com dramas de complexidade relevantes e bem abordados, o tema central da série não se limita ao previsível permanecendo divertida e atual.

O seriado foi uma das maiores surpresas quando lançado em 2019 na Netflix. Esta comédia peculiar misturou piadas embaraçosas sobre educação sexual em um grupo de personagens cheios de camadas, cada um com histórias significativas que progrediram no seriado de uma maneira convincente e bem humorada. Sexo e romance são explorados de forma madura e muitas vezes emocionante, o final da temporada de estréia deixou muito espaço para novos acontecimentos. Nessa segunda temporada a narrativa segue adiante com uma melhor abordagem dos personagens coadjuvantes, eles possuem maior tempo de tela e acrescentam bastante a trama. Dra. Jean (Gillian Anderson) ganha destaque trabalhando no colégio dos jovens, Eric (Ncuti Gatwa) se vê dividido entre uma antiga paixão e o novo garoto da escola Rahim. Aimee (Aimee Lou Wood) lida com uma situação bastante pesada e séria no ônibus, enquanto Jackson (Kedar Williams-Stirling) luta para lidar com a pressão exercida sobre ele, todas essas histórias se entrelaçam com a trama principal, com a preparação para uma performance de Romeu e Julieta no ato final da leva de episódios. Como nem tudo é perfeito, o final da temporada não é muito confortador a Otis (Asa Butterfield) e Maeve (Emma Mackey), há pouca resolução na história deles deixando muito em aberto para a terceira temporada, já confirmada pela Netflix, isso pode frustar os fãs. De certa forma, esses dois personagens principais são deixados de lado por boa parte da temporada, já que as sub-tramas recebem muito mais tempo no ar. Sex Education tem muita coisa acontecendo e, depois das devidas apresentações, o drama adolescente toma um surpreendente mergulho em suas problemáticas. Existe uma camada extra de maturidade e consciência no programa, nada é exposto sem sua devida abordagem mesmo que em alguns momentos a história empurre os elementos cômicos para o lado de fora da trama. Ainda há piadas, porém, muitas delas aparecem na primeira metade desta temporada. Essa segunda temporada é mais polarizadora, com muitas perguntas sobre o futuro potencial do programa. De fato, uma das melhores coisas sobre Sex Education é a precisão com que retrata a frustração e o desejo sexual entre jovens adultos. À primeira vista, pode parecer um pouco ofensiva e grosseira, mas no fundo, é extremamente sincera e genuína sendo uma opção satisfatória para ver. LEGAL.


A temporada possui 8 episódios disponíveis no Netflix.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

BAD BOYS PARA SEMPRE (2020) de "Bilall Fallah" e "Adil El Arbi"


Continuação surpreende revisitando franquia esquecida do mega astro Will Smith e acerta em praticamente tudo.

Os grandes estúdios continuam reciclando franquias antigas. A Sony Pictures após 17  anos de Bad Boys 2 retorna com este novo filme da dupla divertida de policiais interpretada por Will Smith e Martin Lawrence, mesmo tanto tempo depois os dois continuam conectados em tela e envolvidos em eletrizantes cenas de ação e momentos de humor. Os Bad Boys surgiu a 25 anos atrás e foi o primeiro grande sucesso do diretor Michael Bay, hoje um grande especialista em filmes de ação, ele não participa dessa sequência. Outro veterano em filmes de ação, Jerry Bruckheimer participa da produção. Os personagens estão em novas fases da vida, a idade pesou para a dupla e eles não são mais jovens possuindo novas preocupações da meia idade, Marcus Barnett (Lawrence) está casado e com um bebê, seu maior desejo é se aposentar. Mike Lowery (Smith) insiste em demostrar que não envelheceu mesmo com o cavanhaque acinzentado e está quase deslocado com os novos e modernos metódos de caçar bandidos da polícia de Miami. Depois de um tempo de piadas e re-introduções o enredo central começa com uma trama de vingança sendo o ponto do focal do filme, a dupla de Bad Boys se juntam com a recém-criada equipe de elite do departamento de polícia para derrubar o líder de um cartel de drogas em Miami. O elenco ainda conta com Vanessa Hudgens, Joe Pantoliano e participações especiais de DJ Khaled e do cantor Nicky Jam.  Entre os novatos, Rita (Paola Nuñez) é o destaque introduzida como um possível interesse amoroso de Mike, ela representa a mulher forte que lidera a nova equipe de policiais. Essa nova geração é responsável em criar o contraste com os Bad Boys originais, mesmo tratados como coadjuvantes não decepcionam. Entre os vilões o destaque é o charmoso Armando Aretas (Jacob Scipio) que dá bastante trabalho no filme.  A trama mesmo simplista consegue atrair o espectador e subverter clichês básicos de filmes policiais ainda que grande parte dos confiltos sejam preguiçosos e previsíveis, a inclusão de uma sub-trama no México é o principal ponto baixo da história com momentos que saem do tom, mesmo assim tudo flui bem para quem busca um entretenimento de ação sem muita enrolação e bem executado, a produção soube se atualizar sem perder a essência. Importante ressaltar que a dupla protagonista demonstra gás para viver novas histórias e o gancho final é a prova disso, o quarto filme já esta confirmado pelo estúdio devida a boa recepção nas bilheterias. AÇÃO, COMÉDIA E NOSTALGIA.


 O filme estréia nos cinemas nesta Quinta-feira (30/01) pela SONY PICTURES.

O Meu Hype assistiu ao filme em sua Sessão de Imprensa!
 
Hype: BOM - Nota: 7,0

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

JUDY : MUITO ALÉM DO ARCO-ÍRIS (2019) de "Rupert Goold"


Com atuação acima da média de Renée Zellweger, filme revisita história familiar de Judy Garland em biografia sobre seus últimos momentos de vida em trajetória pouco confortadora.

A adaptação do musical "End of the Rainbow" do quase novato no cinema Rupert Goold (A História Verdadeira, 2015), acompanha Garland em sua fase trágica e bucólica no showbizz, enfrentando turbulências internas. A decisão de contar o drama pessoal da famosa estrela do clássico filme "O Mágico de Oz" intercalado com números musicais não apresenta primor gerando uma desconexão na totalidade da obra. O destaque e todo brilho fica por conta do requinte da produção e do trabalho de atuação de Renée Zellweger, de volta a um musical após anos do sucesso Chicago (2002) e ocupa o papel do ícone musical em uma saga de luta contra seu passado. O registro pode ser pontuado por uma memória pouco "saudável" mesmo que coerente com os fatos e com o lado humano atormentado de uma das maiores celebridades do cinema. A produção foca em suas inseguranças que ao longo da sua vida foram agravadas por executivos de cinema que atormentavam a estrela com comentários sobre sua aparência. Judy Garland suportou décadas de uma longa luta contra o vício em medicamentos usados  para controlar seu peso e aumentar a sua produtividade, falecendo de uma overdose acidental aos 47 anos, deixando duas filhas, Liza Minnelli, Lorna Luft e o filho Joey Luft. Mesmo problemático em alguns aspectos, a biografia apresenta passagens interessantes, como quando o magnata do estúdio Louis B. Mayer diz a Judy. "Eu faço filmes, mas é seu trabalho dar sonhos a essas pessoas", olhando-a enquanto andam pelo cenário do sucesso O Mágico de OZ. Durante o filme essas memórias fragmentadas aparecem com uma frequência nem sempre alinhadas com a trama, que em resumo é a atriz e cantora chegando em Londres para se apresentar na boate Talk of the Town em 1968. Lá, ela relembra velhas histórias com amigos e fãs e começa um romance com o músico Mickey Deans, seu futuro quinto marido. Sem muito foco na construção de um interesse do espectador por essa importante musa do cinema e da música, o filme acelera relações importantes e acrescenta sub-tramas que no geral fazem do seu conteúdo um relato intensamente triste, quando Garland sobe ao palco o filme ganha vida com raízes  teatrais que alimentam a energia de uma história que investe no tumulto psicológico indo ao encontro com o melodrama. O legado da artista dificilmente caberia em um filme de 2 horas mas sua arte precisa ser conhecida por essa geração mesmo que seja de uma forma tão melancólica e descompensada. DRAMA NO PILOTO AUTOMÁTICO.


O filme estreia nos cinemas nesta Quinta-feira (30/01) pela PARIS FILMES.

Hype: BOM - Nota: 7,5

sábado, 25 de janeiro de 2020

OS MISERÁVEIS (2019) - "Les Misérables" de Ladj Ly



Filme francês premiado em Cannes e indicado ao Oscar de filme internacional é um drama policial com intensa analogia ao conflito de Montfermeil em uma Paris atual que agoniza em uma guerra urbana. 

O cinema tem um grande papel de muitas vezes gritar ao mundo urgências, o primeiro longa-metragem narrativo de Ly é uma reflexão que o ser humano não evoluiu independente da tecnologia e da mudança de gerações, fato. O longa retrata as tensões entre a polícia anti-crime de Paris e a pobre população muçulmana que eles atormentam e reprimem, revisitando o subúrbio francês de Montfermeil nos dias atuais, mostrando que pouco mudou desde o conflito que gerou uma das obras mais aclamadas da França, Os Miseráveis. Por esse motivo o filme aproveita o título do romance clássico de Victor Hugo sobre as leis da natureza e da graça. O filme ganhou em decisão dividida com o brasileiro Bacurau o Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2019, duas produções que possuem uma relevância social interessante. O retrato das injustiças é um tema global muito necessário de ser discutido independente da produção não conseguir extrair grandes momentos e tem sua força principalmente na tensão dos atos e elenco, uma mistura de atores profissionais com moradores da região. O cinema francês nos últimos anos mostrou interesse em sair de sua bolha de glamour com temas que rompem a fronteira do país e chama a atenção do mundo pela realidade nua e crua, filmes como Entre os muros da Escola (2008) e Polissia (2012) são bons exemplos que seguem bastante essa linha de pensamento. Os Miseráveis encara seu tema de frente principalmente em expor a complexidade étnica do país: negros, mestiços, árabes e brancos se combinam num mesmo espaço de tela explodindo pontos de vista conflitantes. Ainda que seja uma tratativa ampla de situações delicadas, permanece longe da realidade de muitos países, como o próprio Brasil. O corroteirista e diretor Ladj Ly, parisiense de família imigrante do Mali, mora em Montfermeil até hoje e o elenco inclui seu filho, Al-Hassan Ly, que faz o garoto que controla o drone, ponto central da história. Ele transita em lugar seguro e muitas vezes condiciona os personagens a clichês de gênero e a superficialidades sem ir a fundo em suas camadas indivíduais. A produção entrega uma história nervosa com um clímax eletrizante que no geral, se conforma em impressionar o espectador com ações violentas sem ir a fundo em seu viés filosófico. REALIDADE MODERNA.


O filme ainda está em cartaz em alguns cinemas pela Diamond Filmes!

Hype: BOM - Nota: 7,5

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

UM LINDO DIA NA VIZINHANÇA (2019) - “A Beautiful Day in the Neighborhood” de "Marielle Heller”



“Carisma de Tom Hanks e história sobre a empatia de Fred Rogers são os pontos positivos de uma produção cansativa mas com certa beleza estética e boas intenções.”

Baseado em um artigo da revista Esquire de 1998 de Tom Junod, sobre uma famosa entrevista que se transformou em uma intervenção positivista. Junod, no filme Lloyd Vogel (interpretado por Matthew Rhys), durante a matéria mudou não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também o que pensava sobre o mundo, iniciando uma inspiradora amizade com o famoso apresentador de programa infantil. Com a aproximação, os papéis se invertem. Fred faz com que o jornalista se revele e traga à tona traumas pessoais potencializados pelo retorno do pai, Jerry (Chris Cooper), que se ausentou em momento particularmente triste da sua jornada familiar. Há um interessante contraste entre a ambientação do programa  infantil de Fred (ingênuo, lúdico, com fantoches e cenário em miniatura) e o seu passado dramático. Essa interseção é de fácil assimilação dependendo do conhecimento do expectador sobre a figura de Rodgers. Famoso nos EUA e pouco conhecido no Brasil, Fred Rodgers era um pedagogo e artista norte-americano, ministro da Igreja Presbiteriana, que se notabilizou como apresentador televisivo, autor de letras para canções educativas e apresentador de programas de tv para crianças e jovens. Dessa forma, a incrível metáfora de Heller com roteiro simplista tem um certo brilho também graças a representação do experiente ator Tom Hanks, em um trabalho excepcional, com textura e nuances, saindo um pouco da linha de atuação dos seus últimos papéis de destaque em Sully - O Herói do Rio Hudson (2016) e Capitão Phillips (2013), o Rodgers de Hanks é construido como base de apoio na história, é nesse ponto onde ele vira coadjuvante e a produção perde um pouco de força. Hanks faz uma imitação física perfeita e mesmo com as distrações visuais interessantes proporcionadas pela diretora Marielle Heller (Poderia Me Perdoar, 2018), em sua totalidade não consegue que o filme seja pulsante. Os momentos de silêncio e vazio juntamente com a falta de uma agilidade na edição não fazem bem ao ritmo do filme, Fred Rogers tem um potencial enorme como figura ilustre e conseguiu ser referência em sua determinação positiva em busca da empatia. O filme mostra isso de maneira burguesa, se afastando de uma realidade global e em muitos momentos entregando algo plástico, fantasioso e bastante íntimo e pessoal do personagem. A vida é bem mais complexa do que apresentado no filme porém sua lição sobre respeito e empatia é primordial principalmente nos tempos atuais onde as pessoas buscam a guerra e o desconforto. Qualquer mensagem de paz é necessária. No geral, faltou um gás ou um senso de urgência para que ele engrenar por completo. AMERICAN WAY OF LIFE.



O filme está em cartaz nos cinemas pela Sony Pictures.

Hype: BOM - Nota: 7,0

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O MELHOR VERÃO DAS NOSSAS VIDAS (2020)  de "Adolpho Knauth"



"Aventura de verão para o público jovem é quase um especial de TV do grupo BFF Girls, formado por ex-participantes do reality musical The Voice Kids, soa quase como um videoclipe musical para o cinema"

A produção filmada na cidade do Guarujá lembra bastante uma época do cinema nacional que sempre tinha um filme de férias, seja com Xuxa, Angélica ou Renato Aragão, onde uma trama simples era uma desculpa descarada para a participação de sub-celebridades e números musicais. Essas produções movimentaram por muito anos os cinemas brasileiros e não fazem falta pela qualidade duvidosa. O Melhor Verão de Nossas Vidas segue um pouco essa linha de filme, se esforçando bastante em ser atrativo a essa nova geração mesmo limitado em muitos aspectos. A produção traz as integrantes da banda BFF Girls (Bia Torres, Giulia Nassa e Laura Castro), grupo formado pelas ex participantes do reality musical The Voice kids interpretando três amigas de escola que têm em comum o amor pela música. As meninas são talentosas e não decepcionam pelo carisma e esforço em se conectar com seu público, com interações ágeis que disfarçam a inexperiência na atuação. Em uma história sobre sonhos e vontades adolescentes fica a sensação que já vimos esse filme antes tamanho a falta de elementos surpresa e personagens sem originalidade baseado em clichês. Na trama, Bia, Giulia e Laura conseguem uma grande chance de participar de um Festival de Música muito famoso no litoral. Só que todos os planos dessas três amigas vão por água abaixo quando elas descobrem que ficaram de recuperação na escola. Assim elas terão uma missão arriscadíssima pela frente: ir ao Festival sem que seus pais fiquem sabendo. Dirigido por Adolpho Knauth, o longa optou por levar o conceito de uma direção natural, quase no improviso, tentando dar ao mundo dessas garotas algo espontâneo partindo de um princípio de inocência, sem sobrecarregar as personagens, que se comunicam com linguagem jovem e bastante envolvimento com a música. O elenco ainda traz Giovanna Chaves, Bela Fernandes, Murilo Bispo, Enrico Lima, Rafael Zulu e participação dos experientes comediantes Márvio Lucio “Carioca” e Maurício Meirelles em personagens caricatos e sub-aproveitados. O filme e feito para agradar um adolescente "padrão" mesmo que ainda tente trazer diversidade de forma positiva, uma das personagens mais interessante da trama possui uma deficiência auditiva. A produção cumpre bem seu papel sendo uma opção leve e despretensiosa para esse público jovem menos exigente. Os dilemas desses personagens serão esquecidos logo que a produção terminar com o simples objetivo do entretenimento imediatista. BOBINHO.


O filme estréia hoje 23/01 nos cinemas com produção da Moove House e com parceria da Sony Music e distribuição da Galeria Distribuidora.

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

UM ESPIÃO ANIMAL (2019) - "Spies in Disguise" de "Nick Bruno e Troy Quane"


"Aventura surpreende mesmo com tema já constantemente abordado sobre espionagem, o longa animado apresenta critividade, piadas bobas e bonita mensagem anti-guerra"

O longa Um Espião Animal é o último filme de animação da Fox pela Blue Sky, empresa de animação criadora de sucessos como A Era do Gelo e Rio, a ser lançado com o nome da 20th Century Fox antes da fusão com a The Walt Disney Company. Com leve inspiração no curta de 2009 “Pigeon: Impossible” de Lucas Martell, a estreia de Nick Bruno e Troy Quane na direção ocorre com fluência e talento. Ambos atuaram no departamento de animação de longas como Rio (2011), Hotel Transilvânia (2012) e O Touro Ferdinando (2017), ganhando experiência e uma oportunidade de direção em um filme próprio. A história é extremamente ágil no que propõe mesmo abusando de clichês facéis com destaque principalmente ao tom pacifista e também de um alerta em como os humanos tratam os pombos, uma ave presente nas principais cidades do mundo e de certa forma mal vista e mal tratada pelos humanos. O recurso visual da Blue Sky voa alto abusando de cores e engenhocas que certamente agradará as crianças, quanto ao humor, quando o filme se inclina para as piadas idiotas e ações tolas realiza de forma moderada e bem feita. Na trama, quando um evento inesperado acontece, Lance Sterling (voz original de Will Smith), o melhor espião do mundo, sofisticado, elegante e atraente  que precisa unir forças com o inventor Walter (voz original de Tom Holland) que é seu oposto para salvar o mundo de uma grande ameaça. Mas a habilidade social que falta em Walter é compensada por sua esperteza e uma fantástica capacidade de inventar, o que o permite criar apetrechos incríveis para usar em suas missões. Quando algo inusitado acontece, Walter e Lance terão que confiar um no outro de um jeito completamente diferente aonde Lance precisará se disfarçar de um pombo para salvar o mundo. O que poderia ser mais um filme de espião ganha forma como  história bonita aonde o personagem de Walter não gosta de violência porque deseja transformar o mundo em um lugar mais seguro. Ele cria diversas ferramentas onde não é necessário o uso de violência gerando situações cômicas bastante interessantes. Lance também precisa dessa convivência para amadurecer gerando uma divertida amizade. Mesmo com uma certa demora para engrenar e mostrar sua originalidade o desenho acerta em cheio e ainda deixa a possibilidade de uma possível sequência. DIVERTIDO.


O filme estréia nos cinemas nesta Quinta 23/01 pela FOX/DISNEY.


Dentre os dubladores da versão nacional estão Lázaro Ramos e Taís Araújo.

Hype: BOM - Nota: 7,5

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A POSSESSÃO DE MARY - (2019) "Mary" de "Michael Goi"


"Thriller de terror é uma história de casa mal assombrada só que ambientada a bordo de um barco fantasma e sem primor em suas resoluções"

O terror independente tem invadindo as telas do Brasil com diversas produções ganhando a chance de serem vistas nos cinemas. Geralmente são produções de estúdios que não possuem distribuição própria no Brasil, como é o caso desse A Possessão de Mary.  O filme é uma pequena produção que passou despercebida nos cinemas americanos mesmo contando no elenco com o experiente ator Gary Oldman, ganhador do Oscar por O Destino de uma Nação (2018). O filme tem premissa interessante e é dividido em duas linhas de tempo, uma com a matriarca da familia Sarah (Emily Mortimer) conversando com uma detetive da polícia sobre o misterioso desaparecimento de seu marido em alto mar. E outra com o que realmente aconteceu, alternando  entre o fato ocorrido e o pós acontecimento. Na trama David (Gary Oldman) é um capitão especialista em assuntos marítimos que está procurando melhorar a vida de sua família, sua esposa Sarah e suas duas filhas, a adolescente Lindsey e Mary de 8 anos. Ele estranhamente é atraído por um navio de leilão de origem misteriosa e consegue convencer sua esposa de que o barco pode ser a prosperidade para sua família. Eles embarcam em sua primeira jornada com o barco e eventos estranhos e assustadores começam a aterrorizar David e sua família. A narrativa naútica de terror tem direção de Michael Goi que nasceu e cresceu em Chicago, onde se estabeleceu nos campos de documentários e comerciais. Como diretor, ele dirigiu vários episódios de inúmeras séries como "American Horror Story", "Pretty Little Liars", "The Gifted", "Sleepy Hollow" e outros. A Possessão de Mary, ou apenas Mary no original é seu primeiro grande filme como diretor, realizando uma boa condução do suspense mesmo sem a ajuda de um bom roteiro, que falha principalmente nas resoluções fáceis, sem oferecer originalidade em uma história apressada e que termina sem elucidar os fatos de forma clara, deixando a sensação que em sua totalidade o filme não se torna efetivo ao que propõe. FRACO.


O filme estréia nos cinemas em 23/01 pela Paris Filmes.

Hype: REGULAR - Nota: 4,0

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

1917 - (2019) de "Sam Mendes"


O diretor Sam Mendes transforma o terror da guerra em uma obra-prima construída de uma experiência cinematográfica imersiva realçada na qualidade de sua produção e da técnica inovadora que dá ao espectador a sensação de participar de uma guerra junto com os personagens.

Hollywood há muito tempo se destaca na representação da guerra de variadas formas e estilos. Algumas das imagens mais marcantes do cinema vêm de dramatizações de batalhas e na obsessão do cinema de representar tal acontecimento. Tudo praticamente começou com Asas (1927) primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme e o primeiro grande blockbuster de guerra americano. Com o passar dos anos surgiram filmes inesquecíveis, cada um com suas qualidades e também um grande poder em apresentar sua mensagem sobre um dos maiores equívocos do ser humano, a guerra. Alguns desses filmes são inesquecíveis e lindos, como a exuberância poética de Além da Linha Vermelha (1998) de Terrence Malick, outros são explosivos e épicos como Apocalypse Now (1979) de Francis Ford Coppola ou Platoon (1986) de Oliver Stone. E ainda tem Steven Spielberg, o maior mestre de Hollywood que fez filmes sobre as duas guerras mundiais (Cavalo de Guerra (2011) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) apresentando sequências de batalhas emocionantes que não economizam na riqueza de detalhes e brutalidade. Algo em comum desses filmes é que são todos baseados em personagens centrais relevantes ou em temas. Nas últimas décadas se observa uma nova maneira de retratar a guerra no cinema com filmes cada vez mais intrínsecos e muitas vezes silenciosos em abordar o horror por si só de uma maneira imersiva, quase particular. Tudo ganhou forma com o premiado Guerra ao Terror (2008) de Kathryn Bigelow e outros longas interessantes que vieram a seguir como o chocante e premiado filme húngaro O Filho de Saul (2015), o interessante e tenso filme dinamarquês Terra de Minas (2015) e no visualmente deslumbrante Durkink (2017) de Chistopher Nolan. Sam Mendes espertamente cria dentro de todos esses parâmetros praticamente um clássico instântaneo com  muito desses elementos modernos vistos nesses filmes citados, em grande parte, a serviço de sua grande façanha de acompanhar o pesadelo fantasmagórico da primeira guerra mundial em uma narrativa ambiciosa porém simples, filmada em primeira pessoa onde se acompanha o horrível combate de trincheiras da Primeira Guerra Mundial, uma das realidades mais cruéis da humanidade. O filme de Sam Mendes tem uma proeza técnica que transforma essa missão sombria em um thriller de ação polido e projetado para parecer que foi todo filmado em uma cena individual de duas horas onde aproveita todas as inovações da tecnologia cinematográfica para criar essa incrível sensação. A câmera segue os cabos William Schofield (George MacKay) e Tom Blake (Dean-Charles Chapman) enquanto atravessam um campo de guerra para alertar as tropas sobre uma armadilha inimiga. A idéia de centrar o filme na experiência do espectador em ser um soldado de guerra não é perfeita, tem seus pesares, acaba por tirar a profundidade dos personagens. Atores mais conhecidos, como Colin Firth, Andrew Scott, Mark Strong e Benedict Cumberbatch fazem breves aparições, mas como a missão exige que os heróis continuem sua jornada essas estrelas partem com a mesma rapidez que aparecem em cena, incapazes de acompanhar a câmera, é uma escolha até cruel com os personagens mais necessária para a história tendo em vista a fluidez da missão.  O roteiro de Mendes e Krysty Wilson-Cairns sugere a futilidade do final da Primeira Guerra Mundial, durante a qual milhões de homens se levantaram das trincheiras em direção à morte certa. Filmado em uma tomada extraordinária do diretor de fotografia Roger Deakins, apenas com edições digitais ocultas em momentos que perdemos os soldados de vista ou em momentos de escuridão e explosão, tudo que é apresentado realça a qualidade da produção e a técnica inovadora que dá ao espectador a sensação de participar de uma experiência cinematográfica incrível. As tomadas ampliadas parecem existir para aumentar a tensão de sua missão, forçando a história a progredir em tempo real e transmitindo a sensação de uma bomba relógio prestes a explodir. A conquista visual de Mendes e sua equipe é inegável, o filme pulsa em tela com imagens incríveis e cenas de encher os olhos, várias delas podem ser citadas como as mais bonitas do cinema em 2019. OBRA PRIMA.


O filme estreia nos cinemas em 23/01 pela Universal Pictures.

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0

domingo, 19 de janeiro de 2020

JOIAS BRUTAS (2019) - "Uncut Gems" de "Benny Safdie e Josh Safdie"



Tenso e sufocante do início ao fim, os irmãos Safdie se consolidam produzindo um cinema envolvente e nervoso, seja pelos diálogos rápidos ou pela manipulação do interesse do expectador por um trambiqueiro de Nova York interpretado de maneira espetacular por Adam Sandler.

Difícil entender como como Adam Sandler não estará entre as cinco melhores atuações do ano que passou na cerimônia do Oscar de 2020, talvez seja reflexo de um ano competitivo mas independente disso e mesmo já incorporando muitas figuras desagradáveis no cinema ​​ao longo dos anos, em Joias Brutas ele consegue extrair o máximo de um personagem que praticamente sustenta todo filme, que por sinal tem todo talento exposto dos diretores Joshua e Benny Safdie, impulsionado por um cinema sensorial cheio movimentos e ruídos. Eles chamaram bastante atenção na condução criativa e original do longa Bom Comportamento (2017). Ainda com poucas produções em sua filmografia, os irmãos já estabeleceram um reconhecível toque pessoal em seus filmes, dentre elas a imprevisibilidade da cena seguinte, além da procura por uma narrativa de intensidades onde o interlocutor não deixa claro suas intenções. Acompanhamos no filme Howard Ratner (Adam Sandler) dono de uma loja de joias que está repleto de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos. Inicialmente Howard a oferece ao astro da NBA, Kevin Garnett, um de seus clientes assíduos, mas depois resolve que conseguirá faturar mais caso ela vá a leilão. Para tanto, precisa driblar seus cobradores e a própria confusão que cria a partir de suas constantes mudanças. É um cinema persuasivo e todo concentrado em seu personagem central. Sandler consegue acelerar praticamente todas as cenas do joalheiro que fala rápido, sempre buscando sua próxima grande pontuação mesmo que ainda se esquivando de sua presença desorganizada, seja no telefone com mafiosos e agenciadores de apostas ou em brigas domésticas com sua esposa enfurecida (Idina Menzel) ou sua amante (Julia Fox), que também trabalha para ele. Sua vida se resume a desviar de obstáculos, prosperando no caos. O filme ainda apresenta fotografia interessante de Darius Khondji que não deixa nada passar despercebido, seja o interior de uma pedra preciosa ou o intestino do personagem principal. Destaque também para a notável trilha sonora percussiva de Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) com constante zumbido de ação como um teste de resistência, há também uma participação do cantor The Weekend. Defitivamente não é um filme para quem gosta de entretenimento fácil e rasteiro. Entretanto, é um cinema novo e fresco que precisa ser desvendando, onde chama a atenção como tudo acontece e no fim das contas, é um filme tão simples que se torna tão precioso em toda sua concepção. EXPLOSÃO HIPNÓTICA.



O filme estréia na Netflix em 31/01.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

sábado, 18 de janeiro de 2020

OF MONTREAL - UR FUN (2020)


Com letras espertas e melodias viciantes, em grande parte evocando os anos 70 e 80, Kevin Barnes mostra vitalidade com um Of Montreal divertido e menos inovador.

Nos últimos anos, Kevin Barnes e seus parceiros de banda tem se revezado na produção de uma série de obras inéditas. São trabalhos como Paralytic Stalks (2012) e Innocence Reaches (2016) em que o músico norte-americano transita por entre gêneros sempre distintos com proposta que vai do glam rock ao pop futurístico, da psicodelia à música eletrônica. Nessa sequência de álbuns autobiográficos de Kevin Barnes, líder da banda, ganha vida em um novo capítulo, UR FUN, o novo e instável amor que ouvimos falar no último disco, "White is Relic / Irrealis Mood" (2018). O diário público que começou com o clássico álbum, "Hissing Fauna, Are You The Destroyer?" (2007) continuou em uma série crescente de trabalhos cada vez mais pessoais. Em UR FUN, Barnes é mais sincero do que nunca apresentando dez músicas electro-pop concisas que expõem as profundezas de sua vida atual, seus pensamentos particulares - otimistas e meditativos - e seu relacionamento apaixonado com a compositora Christina Schnieder. Essa vulnerabilidade aumentada inspirou Barnes a tirar sua personalidade extravagante de cena apenas aparecendo como ele mesmo em turnês recentes da banda pela primeira vez em muitos anos. Depois de vários álbuns gravados com colaboradores e vários membros da banda, Barnes optou por gravar este completamente sozinho em seu estúdio em casa, em Atenas, na Geórgia. Ele se isolou em hibernação criativa, trabalhando obsessivamente por mais de 12 horas por dia, organizando mapas de sintetizadores e baterias eletrônicas em uma tela de computador com linhas de baixo melódicas e saltitantes, guitarras glam e harmonias vocais em camadas. Sua inspiração vem de álbuns clássicos da música pop como "She's So Unusual", de Cyndi Lauper, e "Control", de Janet Jackson, decidindo fazer de UR FUN o tipo de álbum em que cada música poderia ser um single, com grandes refrões e grooves de dança nostálgicos. O resultado é um trabalho incontrolável e divertido que também pode passar por uma coleção de sucessos cuidadosamente sequenciados caso retirado do contexto. UR FUN contém uma contradição fundamental que será familiar para os fãs de Of Montreal com músicas de alma jovem e contemporânea de dance-pop, mas contêm letras densas, multidimensionais e adultas. As letras de Barnes direciom os ouvintes para diversas referências, como ao obsceno romance francês "The Story of the Eye", aos obscuros filmes do cineasta Italiano de terror Mario Bava, a estrela pop panamenha "El General", o filme de ficção científica dos anos 80 "Liquid Sky" dentre outros.

Faixa a Faixa do Álbum:


"Peace To All Freaks" abre o trabalho de maneira brilhante, o primeiro e único single do álbum é uma "canção de protesto contra o totalitarismo, o terrorismo familiar e o desperdício em todas as suas formas" (diz Barnes), que expressa amor aos marginalizados e às pessoas gentis deste mundo, deixando-nos com este lembrete: “Quieto, quieto / não sejamos cínicos / não sejamos amargos / Se você sente que não pode fazer por si mesmo, faça por nós”. A música é otimista e direta ao ponto, com teclados que brilham em batidas rápidas e toques de sintetizadores leves enquanto Barnes suspira e grita por apoio mútuo em uma canção que invoca os anos 80 em uma nova e criativa vertente. "Polyaneurism" é uma música pop brilhante e saltitante que se recusa se tornar coadjuvante, feita para grudar na cabeça do ouvinte, a canção de três minutos ganha forma em meio a nostálgicos sintetizadores e versos cantaroláveis, como um regresso ao pop ensolarado de obras como Skeletal Lamping (2008) e False Priest (2010). Barnes medita de brincadeira sobre os altos e baixos dos relacionamentos poliamboriais e não convencionais: “Tocar amantes de música está começando a parecer meio kitsch / se você quer monogamia, é como uma vadia básica?”."Get God"s Attencion by Being an Atheist" é uma canção que compila o melhor que o indie rock pode proporcionar, barulhenta porém doce e bem simples em sua construção, segundo Barnes, é sobre “os prazeres da destruição infantil e da busca imprudente por alegria” é a prova que as referências literárias e culturais sobre o UR FUN são espessas e muito bem construídas. "Gypsy That Remains" é uma música que possui uma vibe setentista misturada com um gostoso eletrônico que tira qualquer lugar comum da canção que tem incrivelmente uma citação a bela canção de amor brasileira “Cucurucucu Paloma” de Caetano Veloso. Uma música no melhor estilo da banda, uma salada musical muito atrativa. "You"ve Had me Everywhere" é o início da sequência romântica do trabalho conversando com versos de estrutura similar a clássicos dos anos 1980, principalmente de She’s So Unusual (1983), de Cyndi Lauper, referência declarada do artista em uma deliciosa e inocente canção. "Carmillas of Love" é uma leve canção que cresce a cada audição mesmo sendo uma das mais tranquilas do álbum possuindo um ar melancólico que quase zomba do lugar comum das canções de amor. "Don"t Let Me Die in América" traz de volta o humor sarcástico de Barnes sendo apresentado em um tom semi-sério e atemporal para a América conservadora de agora, confrontada por uma canção semi-psicodélica de tom setentista com refrão esperto. "St. Sebastian" é uma canção de natureza gentil sem muita complexidade mas não menos interessante. "Deliberate Self-Harm Ha Ha" tem mensagem poderosa e melodia que confronta seu estado de espírito. Outra música que cresce a cada audição provando o excelente trabalho de produção de Kevin, já se preparando para o fim do álbum."20th Century Schizofriendic Revengoid-man" é um ótimo e apoteótico final, talvez até otimista para o álbum que, ironicamente, traz mais clareza ao seu conceito, apesar de retratar a esquizofrenia, seria o amor uma doença?. Uma canção que fecha bem o que seria uma reflexão de que a vida e até mesmo o amor precisa de leveza.


No geral, o que seria uma coleção de músicas sobre um amor que está se estabelecendo, se transforma em uma terapia, sendo uma parte interessante e desafiadora dentro de um ser, longe do lugar comum e repleto de nuances que ultrapassam o sentindo do que é sentir. Um álbum aparentemente leve e sem os exageros que geralmente sufocam os trabalhos progressivos do Of Montreal e que muitas vezes os tornam incompreendidos. DELICIOSO.



O álbum possui 10 músicas lançadas pela Polyvinyl Record.

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0







sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

JUMANJI - PRÓXIMA FASE (2019) - "Jumanji: The Next Level" de “Jake Kasdan”


Após o sucesso global do reboot da clássica aventura de Robbin Willians, continuação traz de volta os divertidos personagens em uma aventura que mesmo sem o brilho do primeiro filme consegue ser pontual.

A nova visão de "Jumanji" que em 2017 surpreendeu transformando-se em um filme de videogame descolado é com um elenco divertido, ganha sua primeira sequência onde praticamente repete os acertos do primeiro filme e amplia o poder cômico do seu elenco adicionando novos elementos. O mais legal do novo filme também é a adição de dois novos personagens, Danny DeVito e Danny Glover em papéis-chave. Um dos destaques do primeiro filme, as gags de humor parecem não ter o mesmo cuidado ainda que a atualização dos mitos de Jumanji para algo mais contemporâneo funcione em meio a repetição. O filme reúne os quatro adolescentes que sobreviveram às duras experiências de Jumanji: Bem-vindo à Selva em suas férias de fim de ano. Agora universitários, eles estão tentando atingir o próximo nível em suas vidas. Depois de Spencer se sentir compelido a voltar ao jogo, Martha, Fridge e Bethany precisam se unir e entrar novamente no mundo de Jumanji numa ousada missão de resgate. Eles descobrem que nada é como eles esperavam. Como o jogo foi esmagado no final do filme anterior ele não está funcionando bem, significando que tudo pode acontecer. Também está de volta ao jogo a equipe de avatares de Dwayne Johnson como o dr. Smolder Bravestone, Jack Black como dr. Shelly Oberon, Kevin Hart como Mouse Finbar, Karen Gillan como Ruby Roundhousee Nick Jonas como Seaplane, além dos novos jogadores: Danny Glover como Milo, Danny DeVito como vovô Eddie e Awkwafina como um novo avatar, Ming. Os jogadores devem desbravar áreas desconhecidas e inexploradas, desde o árido deserto até as montanhas nevadas para conseguirem escapar do jogo mais perigoso do mundo. A dinâmica está mais complexa, desta vez os jogadores podem trocar de avatares e ainda jogar como um cavalo, essa mudança incrementa bastante a personalidade deles rendendo bons momentos. O excesso de personagens, porém, deixa a trama um pouco apressada ainda que haja algo realmente poderoso na expansão do mundo de Jumanji e na inclusão de personagens com diferentes estilos e faixas etárias. No geral, é um filme despojado ainda que seu charme possa se esgotar devido a falta de cuidado no excesso de piadas bobas para agradar adolescentes. A trama fora do jogo também ainda deixa a desejar. O filme possui uma empolgante cena pós créditos adiantando o que vem acontecer em um possível próximo filme da franquia, com a certeza que enquanto estiver divertido, vale muito a pena embarcar nesse jogo. HORA DA AVENTURA 



O filme está em cartaz nos cinemas pela SONY PICTURES.

Hype: BOM - Nota: 7,0

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

JOJO RABBIT (2019) de “Taika Waititi



Ambiciosa sátira da Alemanha nazista pelos olhos de um esperto garoto é um belo e ácido conto de fadas envolto a um dos piores acontecimentos vividos pela humanidade.


O diretor e roteirista Taika Waititi (Thor: Ragnarok) é conhecido pelo seu estilo de humor bastante peculiar, com uma carreira praticamente consolidada na tv e também com o sucesso de sua incursão na Marvel Studios ele decidiu dar vida a uma comédia no minímo bem curiosa, ambientada durante a Segunda Guerra Mundial na visão de Jojo, garoto alemão solitário, interpretado de maneira charmosa pelo ator mirim Roman Griffin Davis. Em mãos erradas o filme poderia ser bastante perigoso por tratar o nazismo de uma forma caricata mas também deixa explicíto o horror causado pela ideologia de Hitler e seus seguidores. O filme tem justamente esse papel provocador que confronta inclusive a realidade atual aonde cada vez mais ressurgem grupos de ódio e extremismo no mundo todo, sem perceber o quanto isso é perigoso para o senso comum. O toque leve do cineasta dá lugar a um misto de sensações entre, a tensão dos acontecimentos da guerra e a pureza agridoce de Jojo, contaminada pelo nazismo da caricatura insana de seu Hitler imaginário. O roteiro de Waititi transforma o romance de Christine Leunens, "Caging Skies" em uma mistura excêntrica de ingredientes cinematográficos com melancolia e fascínio transitando em um caminho extremamente arriscado mais muito atrativo de ver. Na trama a visão de mundo do jovem Jojo vira de cabeça para baixo quando ele descobre que sua mãe solteira (Scarlett Johansson) está escondendo uma jovem judia (Thomasin McKenzie) em seu sótão. Com ajuda apenas de seu amigo imaginário idiota, Adolf Hitler (Taika Waititi), Jojo deve confrontar seu nacionalismo cego para garantir a segurança de sua mãe. O conflito moral de Jojo se desdobra quando ele passa a ter convivência com sua inesperada garota judia, essa troca de pensamentos proporcionam ao filme momentos interessantes, forçando Jojo a olhar além do ódio cego de sua ideologia. O ator mirim que interpreta Jojo consegue com naturalidade transmitir segurança no papel, lutando contra as complexidades do mundo adulto. Johansson oferece uma atuação bastante sincera e emotiva, o papel leva a atriz a concorrer pela primeira vez ao Oscar na categoria melhor Atriz Coadjuvante. O Filme ainda concorre a outras quatro estatuetas da Academia, Melho filme, Roteiro Adaptado, Figurino, Direção de Arte e Montagem, totalizando 5 indicações. O restante do elenco não chega a brilhar, Sam Rockwell interpreta o detestável capitão Klenzendorf, um soberano nazista local. Rebel Wilson e Stephen Merchant não fogem do papel caricato comum sem novidade. Waititi  se mostra um bom contador de histórias cômicas e nesse filme mistura personagens tristes e melancólicos com momentos de uma alegria torta. Com uma linha de pensamento subversiva, o filme busca uma maneira diferenciada de demostrar humanidade mesmo que a crítica a intolerância surja diretamente de quem a pratica, surgindo assim um pequeno ruído na mensagem que busca passar, mesmo assim é um filme diferenciado, fora da curva e emocionante. COMÉDIA CORAJOSA.


O filme estréia nos cinemas em 08 de Fevereiro pela FOX.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O ESCÂNDALO (2019) - “Bombshell” de “Jay Roach”


Drama inspirado em fatos reais apresenta bom elenco e importante relato sobre a luta das mulheres contra o assédio em uma das maiores empresas de comunicação do mundo.

Baseado no verdadeiro escândalo aonde mulheres derrubaram o homem que ajudou a criar o império de mídia mais poderoso e controverso de todos os tempos, a Fox News, o filme é um retrato emocionante de como a coragem é importante no momento de tensão e como três diferentes mulheres decidem lutar contra o poder e os abusos incontroláveis de um magnata inescrupuloso. O diretor Jay Roach (Trumbo, 2015) tenta costurar fatos reais e ficcionais em um filme que mesmo sem o dinamismo necessário para prender o espectador, ajuda a entender como os EUA inciaram uma guerra a um comportamento tóxico que afetou milhares de mulheres com o passar dos anos. A produção se concentra no caso ocorrido no principal núcleo da Fox News, profundamente conservadora e lealista, também com claro desvio a direita americana (Tem um flashback sensacional mostrando a influência da Fox News em eleições passadas, já vale o filme!) que fomentou em um legado de erros cometidos por Roger Ailes (John Lithgow) com suas funcionárias. O fusível foi aceso com a ousadia de Gretchen Carlson, interpretada no filme por Nicole Kidman, uma vez que a co-anfitriã inconfundivelmente alegre e influente programa "Fox & Friends" tinha um arsenal de provas contra o magnata e deciciu denuciar e esperar o apoio das colegas de emissora como Megyn Kelly (Charlize Theron) e a quase novata Kayla Pospisil (Margot Robbie) . O filme acompanha esse embate de interesses e também de sofrimento dessas mulheres que precisam se desdobrar mediante a uma cultura rodeada de machismo e vícios misóginos. O filme mostra como Gretchen Carlson, Megyn Kelly e as mulheres da Fox tocaram os alarmes da mudança cultural como prenúncio de um momento decisivo da nossa era da luta contra o assédio cometido a mulheres. Pouco mais de um ano depois desses acontecimentos retratados, em outubro de 2017, o New York Times divulgaria várias acusações contra o titã do entretenimento Harvey Weinstein, uma história que então queimaria,transformando o pequeno movimento pré-existente #MeToo em um enorme fenômeno global. Até então, era claro que os códigos corporativos de silêncio estavam sendo detonados em todos os setores mostrando que nunca foi apenas sobre as mulheres da Fox. NECESSÁRIO.


O filme estreia Quinta- Feira (16/01) nos cinemas pela PARIS FILMES.

O Meu Hype assistiu ao filme em sua Sessão de Imprensa.

Hype: BOM – Nota: 7,0

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

A DIVISÃO (2020) de “Vicente Amorim”


Thriller policial energético e visceral demonstra boa produção e elenco afiado.

Após ganhar vida em uma série disponível no streaming Globoplay, A Divisão chega ao formato cinematográfico em uma produção do canal Multishow em parceria com o braço audiovisual da ONG Afroreggae, comandada por José Junior, famoso em mediar conflitos em favelas e que participa da produção como criador e produtor. O filme é inspirado em fatos reais e retrata uma onda de sequestros que atingiu o Rio de Janeiro no fim da década de 90. Um grupo de policiais assume a divisão de antissequestro (DAAS) e a missão é desmontar as quadrilhas que transformaram o crime de sequestro em uma indústria. O retrato da realidade da época foi construído por Júnior e Amorim com pessoas que viveram o acontecimento, como vítimas, policiais e até mesmo ex-sequestradores ajudando muito na representação dos acontecimentos e no realismo das cenas. A produção também buscou talentos de comunidades e periferias do Rio, realizando testes de elenco e ensaios, todo elenco escolhido cumpre bem seu papel sem muito tempo para se destacar no filme. Também estão no elenco Marcos Palmeira, Natalia Lage, Erom Cordeiro e Vanessa Gerbelli. A trama começa quando a filha de um deputado, interpretado por Dalton Vigh é sequestrada mobilizando a policia e a mídia para a resolução do caso. O policial linha dura Mendonça (Silvio Guindane) assume o comando da DAS, junto com uma equipe escalada para o suporte da operação. O filme tem uma edição acelerada, foi filmado junto com a primeira e segunda temporada do seriado, mesmo com alguns atropelos consegue comprimir o material em pouco mais de 2 horas de projeção sem prejuízo na trama. As cenas de ação são bastante violentas e bem articuladas com reviravoltas interessantes mesmo que em muitos momentos demonstre uma falta de cuidado na mensagem que busca passar ao expectador, nesse quesito Cidade de Deus e Tropa de Elite ainda são imbatíveis. O visual e a produção do filme mesmo sem muitos atrativos convence e talvez funcione melhor como série, ainda que não perde seu impacto como filme. ELETRIZANTE.

O filme estreia Quinta- Feira (23/01) nos cinemas pela PARIS FILMES e DOWNTOWN FILMES.

O Meu Hype assistiu ao filme em sua Sessão de Imprensa.

Hype: BOM – Nota: 7,0