segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

1917 - (2019) de "Sam Mendes"


O diretor Sam Mendes transforma o terror da guerra em uma obra-prima construída de uma experiência cinematográfica imersiva realçada na qualidade de sua produção e da técnica inovadora que dá ao espectador a sensação de participar de uma guerra junto com os personagens.

Hollywood há muito tempo se destaca na representação da guerra de variadas formas e estilos. Algumas das imagens mais marcantes do cinema vêm de dramatizações de batalhas e na obsessão do cinema de representar tal acontecimento. Tudo praticamente começou com Asas (1927) primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme e o primeiro grande blockbuster de guerra americano. Com o passar dos anos surgiram filmes inesquecíveis, cada um com suas qualidades e também um grande poder em apresentar sua mensagem sobre um dos maiores equívocos do ser humano, a guerra. Alguns desses filmes são inesquecíveis e lindos, como a exuberância poética de Além da Linha Vermelha (1998) de Terrence Malick, outros são explosivos e épicos como Apocalypse Now (1979) de Francis Ford Coppola ou Platoon (1986) de Oliver Stone. E ainda tem Steven Spielberg, o maior mestre de Hollywood que fez filmes sobre as duas guerras mundiais (Cavalo de Guerra (2011) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) apresentando sequências de batalhas emocionantes que não economizam na riqueza de detalhes e brutalidade. Algo em comum desses filmes é que são todos baseados em personagens centrais relevantes ou em temas. Nas últimas décadas se observa uma nova maneira de retratar a guerra no cinema com filmes cada vez mais intrínsecos e muitas vezes silenciosos em abordar o horror por si só de uma maneira imersiva, quase particular. Tudo ganhou forma com o premiado Guerra ao Terror (2008) de Kathryn Bigelow e outros longas interessantes que vieram a seguir como o chocante e premiado filme húngaro O Filho de Saul (2015), o interessante e tenso filme dinamarquês Terra de Minas (2015) e no visualmente deslumbrante Durkink (2017) de Chistopher Nolan. Sam Mendes espertamente cria dentro de todos esses parâmetros praticamente um clássico instântaneo com  muito desses elementos modernos vistos nesses filmes citados, em grande parte, a serviço de sua grande façanha de acompanhar o pesadelo fantasmagórico da primeira guerra mundial em uma narrativa ambiciosa porém simples, filmada em primeira pessoa onde se acompanha o horrível combate de trincheiras da Primeira Guerra Mundial, uma das realidades mais cruéis da humanidade. O filme de Sam Mendes tem uma proeza técnica que transforma essa missão sombria em um thriller de ação polido e projetado para parecer que foi todo filmado em uma cena individual de duas horas onde aproveita todas as inovações da tecnologia cinematográfica para criar essa incrível sensação. A câmera segue os cabos William Schofield (George MacKay) e Tom Blake (Dean-Charles Chapman) enquanto atravessam um campo de guerra para alertar as tropas sobre uma armadilha inimiga. A idéia de centrar o filme na experiência do espectador em ser um soldado de guerra não é perfeita, tem seus pesares, acaba por tirar a profundidade dos personagens. Atores mais conhecidos, como Colin Firth, Andrew Scott, Mark Strong e Benedict Cumberbatch fazem breves aparições, mas como a missão exige que os heróis continuem sua jornada essas estrelas partem com a mesma rapidez que aparecem em cena, incapazes de acompanhar a câmera, é uma escolha até cruel com os personagens mais necessária para a história tendo em vista a fluidez da missão.  O roteiro de Mendes e Krysty Wilson-Cairns sugere a futilidade do final da Primeira Guerra Mundial, durante a qual milhões de homens se levantaram das trincheiras em direção à morte certa. Filmado em uma tomada extraordinária do diretor de fotografia Roger Deakins, apenas com edições digitais ocultas em momentos que perdemos os soldados de vista ou em momentos de escuridão e explosão, tudo que é apresentado realça a qualidade da produção e a técnica inovadora que dá ao espectador a sensação de participar de uma experiência cinematográfica incrível. As tomadas ampliadas parecem existir para aumentar a tensão de sua missão, forçando a história a progredir em tempo real e transmitindo a sensação de uma bomba relógio prestes a explodir. A conquista visual de Mendes e sua equipe é inegável, o filme pulsa em tela com imagens incríveis e cenas de encher os olhos, várias delas podem ser citadas como as mais bonitas do cinema em 2019. OBRA PRIMA.


O filme estreia nos cinemas em 23/01 pela Universal Pictures.

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0

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