quinta-feira, 29 de julho de 2021

TEMPO (2021) "Old" "M. Night Shyamalan"

"Shyamalan não consegue domínio sobre trama misteriosa entregando soluções seguras sem o requinte dos seus melhores trabalhos"

      Há sempre uma expectativa estranha nos trabalhos de M. Night Shyamalan, o diretor que viveu grandes momentos no início da carreira com filmes como O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), A Vila (2004) viu sua filmografia se desmoronar com projetos duvidosos e que não caíram no gosto da crítica e do público. Entre os maiores fracassos estão a adaptação do desenho Avatar (O Último Mestre do Ar , 2010) e Depois da Terra (2013) com o astro Will Smith. Sua redenção aconteceu graças a sua volta ao minimalismo em A Visita (2015) e a ótima surpresa de Fragmentado (2016). Em seu novo filme Tempo ele chega perto de ver seu mistério "metafísico" engrenar mas se perde ao se contentar com algo mais parecido com um filme sobre um resort sobrenatural, com reviravoltas arquitetadas e sustos esporádicos e bobos. O diretor não consegue lidar muito bem com o desenvolvimento da história e muitas pontas soltas são resolvidas sem um pingo de originalidade transitando no que o diretor tem de melhor e pior.


        Na trama, uma mulher em crise conjugal, Prisca (Vicky Krieps) e seu marido, Guy (Gael García Bernal) vão a uma ilha tropical não especificada para relaxar com seus dois filhos pequenos em um resort de luxo em plano aberto e atividades em grupo. Todos parecem felizes com a ideia de passar um dia em uma praia exclusiva e remota sugerida pelo gerente do hotel (Gustaf Hammarsten) que promete ser tão isolada que apenas alguns poucos sortudos podem ir, tudo oferecido pelo Hotel, inclusive o translado de ida e volta. O local paradisíaco aos poucos começa a intrigar seus visitantes com acontecimentos bizarros e não demora muito até que as coisas comecem a dar errado de maneira inexplicável. Há uma forma que parece nitidamente sobrenatural no local, não há como sair da praia e enquanto os adultos correm tentando consertar coisas bem sinistras as crianças começam a envelhecer rapidamente. Isso tudo está bem entregue para quem viu o trailer (ou leu alguma sinopse da história que é baseada em um quadrinho). Esta praia não está certa e o cenário se torna um lugar isolado com seus visitantes vivenciando um grande horror.


      Shyamalan entrega uma premissa simples e começa a explorar o suspense aos poucos, falta agilidade em tornar tudo mais assustador, ele segura o quanto pode o mistério que por alguns momentos funciona bem, ainda que suas grandes revelações cheguem ao expectador de maneira constrangedora, com ângulos de câmera obscurecidos, volta no tempo e soltando pistas que aparecem desde o começo do filme, tudo soa muito calculado para o terceiro ato e realizado quase sem nenhuma delicadeza. O diretor parece ter perdido a capacidade de envolver o expectador com elegância, o excesso de explicação também incomoda bastante, a história que poderia muito bem se assimilar ao clima misterioso de algum episódio da série "Além da Imaginação" acaba por chegar mais próximo do suspense insosso do remake de "A Ilha da Fantasia" realizado ano passado. Esses são talvez os maiores riscos de um projeto de Shyamalan, quando ele é bom, ele é muito bom e quando ele é ruim, ele é cafona. Difícil colocar "Tempo" ao lado dos acertos do diretor, seu esforço em amarrar até o último fio do seu nó esquemático deixa de lado algo essencial, sua inclinação para o mistério. SEM BRILHO.



O filme estreia exclusivamente nos cinemas nesta Quinta-feira 29/07!

O Meu Hype conferiu o filme na Cabine de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: REGULAR  (🌟🌟) (Nota: 5,0




quarta-feira, 21 de julho de 2021

UM LUGAR SILENCIOSO - PARTE 2 (2021) "A Quiet Place 2" - "John Krasinski"


 "Uma continuação que expande seu universo com brilho e sensibilidade sem deixar de ser aterrorizante"

       Em 2018, Um Lugar Silencioso, de John Krasinski, se transformou em um fenômeno global em uma história onde o silêncio era um dos combustíveis de seu enervante suspense e moldou, dentro do gênero do horror, um fábula de amor em família, comunicação e sobrevivência. O mais impressionante disso tudo é sua fórmula simples, com uma mistura de tensão implacável e narrativa cheia de camadas sobre um núcleo familiar unido que confronta uma força alienígena altamente destrutiva e orientada pelo som. Nutrido de muito mistério em como o mundo se tornou apocalíptico com as assustadoras criaturas, era certeiro que a história ganharia uma continuação até mesmo pelo enorme sucesso de bilheteria. O segundo capítulo começa logo depois de onde deixamos a família Abbott e logo parte para novos lugares, à medida que os acontecimentos percorrem o frágil santuário dos “caminhos de areia” que os Abbotts criaram para sobreviver em uma realidade onde um mero passo em falso pode ser fatal, eles seguem por um mundo de perigos. Desde os primeiros momentos do filme, a família está em rota de fuga, fora de qualquer parâmetro de segurança, em busca de um refúgio numa cidade assombrada pelo medo. A família luta também para encontrar esperança, esse é o gás necessário para que a produção consiga evoluir mesmo com uma simplicidade absurda porém muito bem executada por John Krasinski.

       Na trama, após os trágicos eventos domésticos, a família Abbott (Emily BluntMillicent Simmonds, Noah Jupe) agora precisa enfrentar os terrores do mundo exterior enquanto continua sua batalha pela sobrevivência em silêncio. Forçados a embarcar rumo ao desconhecido, eles logo percebem que as criaturas que caçam guiadas pelo som não são a única ameaça à espreita no caminho arenoso. A abertura do filme já injeta adrenalina e nunca há uma brecha para a família Abbott lidar com o que aconteceu com eles nos dias anteriores. Isso é especialmente verdadeiro no que se refere à personagem de Emily Blunt, Evelyn, agora mãe solo disposta a superar desafios sufocantes para encontrar um novo lugar seguro para seus filhos enquanto as criaturas parecem mais assustadoras a cada esquina. Para Evelyn, um fardo ainda mais pesado que o do risco físico constante talvez seja ter que confiar que preparou seus filhos suficientemente bem para encarar o mundo por conta própria, não importa o que aconteça. Essa intensidade incessante fez brotar um elemento de compaixão e sinceridade em sua performance, novamente ela tem  destaque positivo do filme juntamente com a carismática Millicent Simmonds. A experiência intimista da família Abbott retratada no primeiro filme se abre a novas perspectivas. Retirar os personagens de suas rotinas e aproximá-los de um território dominado pelo caos implica em um perigo ainda maior com proporções que crescem em tela a cada momento. Por outro lado, esse movimento serve para evidenciar ainda mais a beleza intrínseca da família e sua resiliência mesmo diante de incertezas profundas.


     Enquanto os Abbotts buscam um refúgio viável para os sons que atraem as criaturas onipresentes, eles esbarram com outras pessoas nesse caminho, dentre elas um velho conhecido que virou um eremita convicto, cujo passado faz eles desconfiarem de suas reais intenções. Seu nome é Emmett, interpretado por Cillian Murphy, o ator irlandês conhecido por seus papéis em Batman: O Cavaleiro das TrevasA Origem e a série Peaky Blinders. Outro que estreia no elenco é Djimon Hounsou, indicado duas vezes ao Oscar. Assim como o universo de Um Lugar Silencioso - Parte II se mostra em expansão, o mesmo vale para a experiência do público com as criaturas. Como neste capítulo elas são vistas em outros ambientes, incluindo em plena luz do dia, Krasinski teve que imaginar sua lógica primitiva com mais detalhes. Isso envolve pensar sobre como elas poderiam estar aprendendo com os humanos, e, nesse processo, virando algo ainda mais poderoso e inevitável. Isso é peça fundamental para que história ganhe corpo e consiga ser uma sequência tão boa quanto o filme original. O filme entrega praticamente tudo que promete com bastante qualidade. UMA EXPERIÊNCIA VISCERAL E SENSORIAL.


O filme estreia exclusivamente nos cinemas nesta Quinta-feira 22/07

Hype: ÓTIMO  (🌟🌟🌟🌟) (Nota: 8,0

quarta-feira, 14 de julho de 2021

SPACE JAM - UM NOVO LEGADO (2021) "Malcolm D. Lee"

     

Novo Space Jam é divertido e tem um turbilhão de referências legais do conglomerado WarnerMedia, nada mais que isso!

         A continuação de "Space Jam: O Jogo do Século" de 1996 repete a mesma fórmula divertida do anterior em misturar os personagens animados do Looney Tunes – a turma do Pernalonga e Patolino – e um super astro de basquete, desta vez LeBron James assume o posto de Michael Jordan. Desta vez o astro do basquete se junta a Pernalonga para treinar uma equipe de basquete em um jogo contra um algoritmo mal intencionado que deseja muito ofuscar o astro e conseguir sua popularidade saindo da escuridão digital dos servidores da Warner. Bros Studios. A revitalização da história tem uma estrutura bastante clichê desse tipo de filme, pai e filho em busca de entendimento um do outro, um vilão cheio de interesses questionáveis misturado com um monte de referências de personagens do estúdio que mais parece uma propaganda da HBO Max. Não que isso seja ruim, mas esqueça as agradáveis aparições surpresas de Scooby, por exemplo, entra de tudo na história mesmo que não faça muito sentido. O filme só engrena quando Pernalonga e sua turma aparecem em cena.


      Na trama, LeBron e seu filho Dom são aprisionados em um espaço digital por uma Inteligência Artificial trapaceira, LeBron precisa trazê-los de volta para casa em segurança levando Pernalonga, Lola Bunny e uma equipe indisciplinada de Looney Tunes a uma vitória contra o time da I.A. na quadra: um elenco de peso formado por astros e estrelas da NBA e WNBA. O jogo é Tunes contra Goons em um desafio arriscado para LeBron, que redefinirá o laço entre ele e seu filho e reforçará a importância de ser você mesmo. Os Tunes desafiam as convenções, turbinam seus talentos únicos para surpreender o “Rei” James jogando à sua própria maneira. James estrela o filme ao lado do indicado ao Oscar Don Cheadle (filmes “Os Vingadores”). Space Jam: Um Novo Legado combina animação e live-action, ao lado do atemporal Pernalonga clássico. Dirigida por Malcolm D. Lee e contando com uma equipe inovadora de cineastas que inclui Ryan Coogler e Maverick Carter


         Se a história em si não possui muitos atrativos, a equipe do diretor nos bastidores que inclui o diretor de fotografia Salvatore Totino (“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”) realizam uma animação impecável e rica em detalhes. A transformação em 3D dos Looney Tunes é atrativa e até mesmo outros personagens coadjuvantes ganham traços modernos. A WAG Studios, o braço das animações da Warner.Bros tem acertado bastante ultimamente ainda que as histórias são pouco complexas aos adultos e nem sempre vão além de um bom entretenimento. Se para esse novo Space Jam falta o charme do filme original fica ainda mais confuso quem os realizadores querem agradar, se são as crianças de hoje em dia, que vão se encantar com o ritmo alucinado e visual atrativo, se buscam uma conexão nostálgica com fãs do original, hoje já adultos ou agradar fãs de basquete e de LeBron James. Essa falta de foco tira muito do brilho do filme, quer agradar a todos e se torna uma bagunça divertida e esquecível. FILME PIPOCA.

O filme estreia exclusivamente nos cinemas nesta Quinta-feira 15/07! Em breve na HBO Max!

O Meu Hype assistiu ao filme na Cabine de Imprensa realizada em Brasília pela Warner.Bros e Espaço Z

Hype: BOM  (🌟🌟🌟) (Nota: 7,0


quinta-feira, 8 de julho de 2021

TENGO MIEDO TORERO (2020) de "Rodrigo Sepúlveda"


 "Alfredo Castro entrega atuação sensível que emociona do início ao fim em uma viagem triste a um período tenebroso da ditadura chilena"

     O cinema chileno conseguiu um crescimento abundante nos últimos anos, graças ao amplo destaque do vencedor de Filme Internacional no Oscar de 2018 "Uma Mulher Fantástica". Com um celeiro de diretores emergentes que cresceram a partir do Novo Cinema Chileno (também conhecido como Cinema Chileno da Democracia) e artistas que cada vez mais ganham destaque como Alfredo Castro, o segundo longa do chileno Rodrigo Sepulveda mostra Castro desta vez como um travesti esfarrapado lutando para sobreviver aos últimos anos da violenta ditadura de Pinochet. Baseado no romance de estreia de Pedro Lemebel de 2001 (famoso escritor e ativista que morreu em 2015), a história se passa em 1986, o romance LGBTQ+ é uma recuperação subversiva da fase final de uma temporada de trevas e particularmente angustiante em uma representação muito bem concebida pelos seus realizadores com belas cenas e muito marcante pelo poder de sua história.


       A trama segue La Loca del Frente (Alfredo Castro) como uma travesti envelhecida na sombra opressora de Pinochet, ele é um sobrevivente resiliente, tendo acabado de sobreviver a mais uma incursão em uma boate gay que tirou a vida de outro amigo. Ajudando-o a escapar da operação policial está Carlos (Leonardo Ortizgris), um jovem rebelde mexicano que rapidamente surge como aliado. Carlos se aproveita da situação perguntando se La Loca pode armazenar caixas de livros em seu apartamento. Todas as caixas de livros contêm armas e munições, já que Carlos é um revolucionário. Embora La Loca esteja com medo, sua atração por Carlos aumenta a cada aproximação e se choca com os interesses do guerrilheiro.


       Alfredo Castro como “La Loca del Frente” ou “A Mulher Louca da Frente” é extravagante e sensível ao mesmo tempo. O filme abre com uma violenta batida policial no Club Slaughter, onde seu amigo é assassinado enquanto cantava "Fever" de Peggy Lee, a narrativa do filme rapidamente se transforma em um romance dolorosamente unilateral onde La Loca se vê sendo útil para o jovem revolucionário que a está manipulando e alimentando uma expectativa, sugerindo uma conexão mais profunda. A personalidade solitária de La Loca vivendo em uma periferia solitária, sombria e turbulenta reflete em seu posicionamento político e como ela resolve esses entraves com Carlos. O personagem é interpretado com uma seriedade e sutileza que foge do tipo de desprezo que muitas vezes define personagens da comunidade LGBTQ+, desafiando um pouco as normas de gênero. Em uma breve leitura, o personagem tem semelhança com o de Marco Nanini no filme brasileiro Greta de 2019. Uma rara oportunidade de revisitar os espaços e vidas de minorias esquecidas pelos opressores e pelos libertadores em meio as revoluções. COMOVENTE.


O filme está disponível no Amazon Prime Video

Hype: MUITO BOM  (🌟🌟🌟🌟) (Nota: 8,0