quarta-feira, 26 de maio de 2021

DIVINAS (2016) "Divines" de "Houda Benyamina"

             O drama franco-qatariano de 2016 dirigido por Houda Benyamina e produzido por Marc-Benoît Créancier teve sua primeira aparição no Festival de Cannes daquele ano onde teve bastante repercussão ao ganhar a categoria "Caméra"dOr", categoria que premia o melhor primeiro longa-metragem apresentado em uma das seleções do festival. Houda também foi bastante celebrada no festival de Munique, Londres e Hamptons naquele mesmo ano. Com todo esse hype o filme conseguiu um contrato de exibição através da distribuição da gigante em streaming Netflix, ganhando destaque nos EUA e no restante do mundo. No ano seguinte o filme ainda conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Filme Internacional e saiu vencedor de três prêmios "César", um dos mais importantes da França. Sua carreira celebrada em festivais deixa uma forte curiosidade sobre a produção que fala da periferia francesa e de uma geração de jovens que já não se conforma em ocupar lugar secundário (ou daí para baixo) na sociedade. Essa geração não quer revolução, nem pensa nisso. Quer Iphone, tênis de grife, glamour, roupas finas, enfim, todos os prazeres que se pode comprar e ter de maneira fácil e rápido.


        Na trama, Dounia (Oulaya Amamra), com sua insatisfação social profunda e sem rumo, atira para todos os lados para sobreviver. Sofre com a mãe alcoólatra e desconta sua indignação em sua professora, quase tão pobre como ela. Ela resolve trabalhar para a traficante local, Rebecca (Jiska Kalvanda), e assim conseguir toda a grana de que se sente merecedora. Dounia tem uma amiga fiel, Maimouna (Déborah Lukumuena), que a segue e lhe dá suporte emocional. O filme mergulha, pelo lado feminino, nessa França profunda das periferias, das comunidades árabes e de negros, esquecidas pela elite branca e que por certo se encontram no radar racista dos seguidores de Marine Le Pen. A França das "nos chères têtes blondes" (nossas queridas cabecinhas loiras) despreza essa mistura racial e a confina aos bairros periféricos. Acontece que, como todo reprimido, este também tende a explodir. A protagonista Dounia apenas expressa esse efeito retardado.

          O filme de Houda Benyamina é aquela típica produção que divide, você nunca vai gostar por completo e nunca vai odiar totalmente porquê tem elementos importantes. Sua vitalidade, explosão, sinceridade, pulso e humanismo se confrontam com uma direção bem discreta e singela, é o primeiro trabalho de Houda e a cobrança ou pressão por uma direção primorosa nem deve ocorrer ainda que seja um ponto negativo do filme, exposto em sua imaturidade, os exageros em alguns pontos da história também deixam a desejar assim como os personagens que aos poucos vão se mostrando vazios e a trama que se perde em senso comum de forma até grotesca. A diretora usa o cinema popular para enganar, usar a confusão política de sua protagonista para mostrar o quanto é perigoso, artificial e oportunista se render a qualquer coisa sem uma mera reflexão, se podemos julgar os personagens do filme porquê não podemos rever nossas atitudes e o nosso papel na atual sociedade de "combate" e ativismo. Esse exercício de assistir e se incomodar com esses jovens só nos mostra o quão acomodados estamos com diversas lutas importantes aí fora e como não usamos nossa experiência de vida para mostrar que talvez esses rebeldes de "boutique" mostrados no filme não tem a bagagem suficiente para causar a revolução que precisamos para evoluir frente as correntes conservadoras. O cinema francês até quando erra, como aqui em Divinas e em Os Miseráveis (2019) gera uma boa puxada de orelha no expectador. (SAM)

          Houda Benyamina (Diretora e roteirista) tenta expressar motivos pra não seguir escolhas que julga errado, mas peca ao não saber lidar com a arte, religião e mulheres no poder. A fragilidade e violência contra as mulheres falam mais alto num filme que tenta mostrar o que você não precisa fazer pra se dar bem na vida, o excesso de culpa religiosa, o encontro com o amor e a cena onde Dounia (Oulaya Amamra irmã da diretora), olha para o céu buscando uma nova chance com algum herói salvador é o motivo principal de jogar toda a trama e sofrimento causado às mulheres num abismo que não justifica o porque elas entraram ali, mas justifica o sofrimento de quem escolhe o caminho que não foi  referente a religião para se arrepender e voltar. É uma pena essa percepção, porque o capitalismo é apenas mais um sistema que deu errado pra humanidade, suga todo mundo pra esse buraco negro, justificar a visão das garotas com arrependimentos não só as encaixa num modelo de sociedade, porém as deixa vulneráveis a essa escolha pra sobreviver aos demônios do sistema. A arte expressada na dança passa quase despercebida pelo excesso platônico e utópico do amor que jamais curam essas feridas. Maimouna (Déborah Lukumuena) a melhor amiga de Dounia é apenas uma cúmplice que pode pagar o preço pelas escolhas dos outros. As duas atrizes se concentram  em atuar e mostram excelentes interpretações no filme, mesmo assim não o salva pelo recado que a diretora deu ao subúrbio. Melhor cena é Dounia desafiando um sistema com as falas carregadas de revolta para a professora que a expulsa da aula. (Paulo Lana)


             O filme conta história de duas amigas imigrantes uma de família muito religiosa e a outra de família toda desestruturada, sem muitas condições financeiras e com muito sonhos, vivem em um mundo de fantasias para tentar amenizar a realidade difícil, não querem viver o resto da vida daquela forma, acabam cometendo alguns furtos para comer e ter um pouco de conforto até que a Dounia tem uma idéia de entrar para o tráfico, um atalho para melhorar de vida, mas na vida tudo tem um preço e o que parece mais fácil pode custar caro. Na medida que a confiança, os riscos crescem até cogitar em dar um golpe na traficante Rebecca que acaba descobrindo o seu plano colocando em risco a vida sua amiga Maimoura. O que se vê é a retratação da vida real, muitas pessoas acabam procurando o jeito mais fácil de conseguir ser algum na vida, conquistar os seus sonhos, geralmente o final é o mesmo porque nesse atalho sempre existe uma curva onde o preço é alto a se pagar e o preço é incalculável. (Dionatan Medeiros)

O filme está disponível na Netflix!