O drama franco-qatariano de 2016 dirigido por Houda Benyamina e produzido por Marc-Benoît Créancier teve sua primeira aparição no Festival de Cannes daquele ano onde teve bastante repercussão ao ganhar a categoria "Caméra"dOr", categoria que premia o melhor primeiro longa-metragem apresentado em uma das seleções do festival. Houda também foi bastante celebrada no festival de Munique, Londres e Hamptons naquele mesmo ano. Com todo esse hype o filme conseguiu um contrato de exibição através da distribuição da gigante em streaming Netflix, ganhando destaque nos EUA e no restante do mundo. No ano seguinte o filme ainda conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Filme Internacional e saiu vencedor de três prêmios "César", um dos mais importantes da França. Sua carreira celebrada em festivais deixa uma forte curiosidade sobre a produção que fala da periferia francesa e de uma geração de jovens que já não se conforma em ocupar lugar secundário (ou daí para baixo) na sociedade. Essa geração não quer revolução, nem pensa nisso. Quer Iphone, tênis de grife, glamour, roupas finas, enfim, todos os prazeres que se pode comprar e ter de maneira fácil e rápido.
O filme de Houda Benyamina é aquela típica produção que divide, você nunca vai gostar por completo e nunca vai odiar totalmente porquê tem elementos importantes. Sua vitalidade, explosão, sinceridade, pulso e humanismo se confrontam com uma direção bem discreta e singela, é o primeiro trabalho de Houda e a cobrança ou pressão por uma direção primorosa nem deve ocorrer ainda que seja um ponto negativo do filme, exposto em sua imaturidade, os exageros em alguns pontos da história também deixam a desejar assim como os personagens que aos poucos vão se mostrando vazios e a trama que se perde em senso comum de forma até grotesca. A diretora usa o cinema popular para enganar, usar a confusão política de sua protagonista para mostrar o quanto é perigoso, artificial e oportunista se render a qualquer coisa sem uma mera reflexão, se podemos julgar os personagens do filme porquê não podemos rever nossas atitudes e o nosso papel na atual sociedade de "combate" e ativismo. Esse exercício de assistir e se incomodar com esses jovens só nos mostra o quão acomodados estamos com diversas lutas importantes aí fora e como não usamos nossa experiência de vida para mostrar que talvez esses rebeldes de "boutique" mostrados no filme não tem a bagagem suficiente para causar a revolução que precisamos para evoluir frente as correntes conservadoras. O cinema francês até quando erra, como aqui em Divinas e em Os Miseráveis (2019) gera uma boa puxada de orelha no expectador. (SAM)
Houda Benyamina (Diretora e roteirista) tenta expressar motivos pra não seguir escolhas que julga errado, mas peca ao não saber lidar com a arte, religião e mulheres no poder. A fragilidade e violência contra as mulheres falam mais alto num filme que tenta mostrar o que você não precisa fazer pra se dar bem na vida, o excesso de culpa religiosa, o encontro com o amor e a cena onde Dounia (Oulaya Amamra irmã da diretora), olha para o céu buscando uma nova chance com algum herói salvador é o motivo principal de jogar toda a trama e sofrimento causado às mulheres num abismo que não justifica o porque elas entraram ali, mas justifica o sofrimento de quem escolhe o caminho que não foi referente a religião para se arrepender e voltar. É uma pena essa percepção, porque o capitalismo é apenas mais um sistema que deu errado pra humanidade, suga todo mundo pra esse buraco negro, justificar a visão das garotas com arrependimentos não só as encaixa num modelo de sociedade, porém as deixa vulneráveis a essa escolha pra sobreviver aos demônios do sistema. A arte expressada na dança passa quase despercebida pelo excesso platônico e utópico do amor que jamais curam essas feridas. Maimouna (Déborah Lukumuena) a melhor amiga de Dounia é apenas uma cúmplice que pode pagar o preço pelas escolhas dos outros. As duas atrizes se concentram em atuar e mostram excelentes interpretações no filme, mesmo assim não o salva pelo recado que a diretora deu ao subúrbio. Melhor cena é Dounia desafiando um sistema com as falas carregadas de revolta para a professora que a expulsa da aula. (Paulo Lana)
O filme está disponível na Netflix!
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