quarta-feira, 31 de março de 2021

VALENTINA (2020) - "Cássio Pereira dos Santos"


 "Valentina é feito com bastante simplicidade, talento e tema importante que atinge o espectador graças a uma construção de personagem excepcional realizada por Thiessa Woinbackk"

         O filme vem chamando bastante atenção por onde passa, no momento já foi exibido em festivais on-line no Brasil e no mundo e busca recursos para uma possível exibição nos cinemas assim que possível. Protagonizado pela influenciadora digital e ativista trans Thiessa Woinbackk no papel-título, o longa também é a estreia do roteirista e diretor mineiro Cássio Pereira dos Santos e surpreende positivamente, é um filme diferenciado pela potência narrativa sobre a transformação humana e social. A personagem Valentina é acompanhada e apoiada apenas pela mãe (Guta Strasser, outro destaque), a garota busca em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais recomeçar, quase atropelando as primeiras dificuldades que deveriam ter ficado na cidade anterior. Esta dupla de mulheres fortes vão lutar bastante para sobreviver com dignidade em meio a uma sociedade que não respeita a liberdade do outro. O mais interessante da história é como seu diretor e roteirista consegue fugir muito bem dos clichês e construir uma maturidade narrativa, a emoção e comoção vem ao natural e espontânea conforme se desenha sua problemática.


       Tudo começa com a adolescente Valentina (Thiessa Woinback) em sua despedida da cidade onde mora sendo incapaz de entrar em uma boate com suas amigas porque sua carteira de identificação oficial ainda a lista com seu nome de nascimento masculino. Ela mora com sua mãe solteira (Guta Stresser) e estão prestes a fazerem as malas e se mudarem para outra cidade. Ela e sua mãe são particularmente próximas e ela apoiou Valentina em todas as etapas da sua transição sendo sua defensora e protetora. Quando Valentina tenta se matricular no ensino médio da única escola da cidade, a diretora concorda que ela pode fazer a matricula com seu nome social de menina se também conseguir que seu pai afastado assine o formulário. Ele as abandonou porque Valentina é trans. Enquanto isso, Valentina toma uma decisão consciente de não contar a ninguém que é trans por causa de toda a hostilidade e ameaças de violência que sofreu no passado, ela acredita que cabe a ela decidir quando ela quer revelar seu gênero. As coisas pioram quando seu segredo é descoberto por alguém que começa a incitar a comunidade local contra ela.


         O filme acrescenta muito ao diálogo contínuo sobre a comunidade transgênero e toda sua angústia. A jovem Woinbackk oferece um desempenho cativante conseguindo engrandecer sua personagem, seja na emoção ou determinação. 
Ainda que seu final seja positivo e poderoso, o filme não deixa de frisar no final dos créditos a dura realidade da vida para as pessoas trans. (Estima-se que, no Brasil, cerca de 82% dos meninos e meninas trans abandonam a escola. A expectativa de vida dessa população é de 35 anos). A questão levantada no clímax do filme resume toda a obra, o incômodo nas outras pessoas em não respeitar a liberdade individual de cada um, o problema ainda é maior para uma pessoa trans, esse é o motim necessário e urgente desse filme que precisa ganhar uma trajetória ainda mais relevante e ser disponibilizado para um número ainda maior de pessoas. SEJA O QUE VOCÊ QUISER SER!



O Meu Hype conferiu o filme na 11° Mostra Audiovisual de Petrópolis realizado on-line.

O filme não foi lançado comercialmente devido a pandemia do Covid-19. Exibido em diversos festivais do Brasil e do Mundo on-line. Para lançar o longa nos cinemas brasileiros, a equipe do filme organiza uma campanha de financiamento coletivo na internet. 

Hype: ÓTIMO - (Nota: 9,0

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