Nosso TBT de hoje aproveita os quase 20
anos para relembrar um filme indie atemporal sobre jovens perdidos em sua
própria vida. Em uma era de overdose de comédias adolescentes como American
Pie, Ghost World (no Brasil ganhou o subtítulo: Aprendendo a Viver e Mundo Cão)
foi um alívio e um antídoto contra a mesmice desse tipo de produção. Baseado
em uma história em quadrinhos, o filme colegial se tornou um clássico cult e
tem um legado duradouro de influências de realizadores atuais. O filme envolvia uma obra muito
conceitual do criador de quadrinhos Daniel Clowes que mirou no deserto cultural
da América moderna. Ele criou um novo tipo de heroína: imparcial,
autodestrutiva e comprometida com a linha cáustica, independentemente do
custo. O criador nunca imaginou que o HQ pudesse ser transformado em um
filme. Era um minúsculo mundo dos quadrinhos de pequena imprensa e não uma
parte do mundo em que Hollywood conhecesse ou se interessava.
O projeto aconteceu devido ao interesse de
Terry Zwigoff, um documentarista que criou filmes bem recebidos sobre o músico
de country-blues Louie Bluie e o cartunista Robert Crumb. Não poderia estar em
melhores mãos ainda que era uma certa novidade esse tipo adaptação. Clowes e
Zwigoff expandiram os instantâneos existenciais dos quadrinhos na história
agridoce do afastamento de Enid (Thora Birch, recém-saída do sucesso Beleza
Americana) de sua melhor amiga mais convencional, Rebecca (Scarlett Johansson,
em início de carreira e que logo depois ganharia destaque em Encontros e
Desencontros de Sofia Coppola), sua crescente preocupação era com um idiota
misantrópico, de meia-idade e obcecado por blues chamado Seymour (Steve
Buscemi). A visão de mundo de Enid é tipificada por momentos icônicos, já
na cena inicial ela se balança zombeteiramente com uma dança
hipnotizante. Seus únicos momentos de libertação vêm através da música:
dançar ao som de Mohammed Rafi, tingir o cabelo ao som dos Buzzcocks e ouvir
country blues de Skip James repetidamente. Mas tudo que não a impressiona,
ela destrói com ironia e desprezo a um mundo que ela odeia, não faz parte e não sabe como lidar.
Muitas pessoas se viam em Enid. Sempre há
pessoas que estão fora da sociedade com um ponto de frustração agudo, comum naquela época de poucas distrações. O ano de 2001 ainda era uma época sem tecnologia,
internet ou movimentos jovens que poderiam aliviar a dor de quem não se enquadrava no
senso comum. Até hoje pode se dizer que é assim. Por baixo da enxurrada de piadas mordazes do filme surgia uma
ressaca melancólica de como se inspirar em um tom libertador. Todo o
arco da história mostra como, de uma forma triste, Enid não consegue nem mesmo
manter um melhor amigo. A influência do filme foi sísmica, estourou em diversos festivais, foi parar até no Oscar, concorrendo em Roteiro. Os críticos amaram mas a sua atmosfera sempre foi alternativo e fora dos padrões, não sendo até mesmo conhecido pelo grande público. Ghost World foi um dos
dois roteiros que Diablo Cody comprou cópias antes de escrever outro sucesso da
época, Juno, e seu DNA pode ser visto em vários produtos da cultura pop
atual também, como em Euphoria da HBO, Sex Education da Netflix entre outros. Visto hoje, Ghost World permanece totalmente novo, fresco e imperdível.
O
filme pode ser visto no You Tube no link abaixo!
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