segunda-feira, 29 de março de 2021

PARA ONDE VOAM AS FEITICEIRAS (2020) - "Eliane Caffé", "Carla Café" e "Beto Amaral"


 "Um grupo de artistas que explodem em diversidade e performance em uma metrópole que é um campo de guerra de uma sociedade perigosamente intolerante e reflexo de todo um país"

     O documentário apresenta um grupo de ativistas LGBTQIA+ que fazem intervenções artísticas e ações com foco no importante debate sobre desigualdades sociais, preconceitos e vidas marginalizadas, isso em pleno caldeirão do centro da maior metrópole do Brasil, São Paulo. O discurso sobre o coletivo, sobre o respeito a liberdade do outro, aprofunda-se na complexidade do ativismo e suas causas tão fundamentais a sociedade quanto conflitantes com valores retrógrados. O movimento composto por esses artistas crescem e com o passar da metragem do filme, eles mostram uma riqueza de personalidades, buscam em si a confirmação de convicções com a riqueza de seus manifestos, isso fica mais intenso quando eles compartilham traumas pessoais exemplificando o maior motivo de estarem ali, em uma vivência única, na clara concepção que não existe ativismo sem uma causa e sem pessoas que se identificam. A grande variedade de assuntos e recursos mostram uma produção com forte contribuição às lutas sociais além de um ótimo trabalho de produção da direção composta por Eliane CafféCarla Caffé e Beto Amaral


     O elenco apresenta 
Ave Terrena AlvesFernanda Ferreira AilishGabriel LodiMariano Mattos MartinsPreta FerreiraThata Lopes e Wan Gomez. Eles ocupam um quadrilátero do centro de São Paulo e transformam o espaço público em um território de humor e tragédia naquilo que testemunham do preconceito em várias nuances. A produção é um retrato que explode em performance, cor e discurso em um revigorante vislumbre da comunidade LGBTQIA+ brasileira em meio ao momento mais delicado por se tratar de um dos grupos mais perseguidos pela onda conservadora do atual governo e de seus militantes. O pano de fundo para a maior parte do filme é uma rua movimentada no centro de São Paulo, onde somos apresentados ao grupo que montam ali esse parlatório. O filme começa seguindo os artistas conforme eles pedem aos vendedores permissão para filmar em seu trecho da rua, colocando os espectadores simultaneamente nos bastidores e na plateia. Os microfones e a equipe de produção entram e saem do quadro como parte do filme fluindo naturalmente entre a rua, um estúdio monocromático estilizado onde ocorrem os monólogos, clipes da atualidade e a interação com as pessoas que passam pela rua. O grupo canta, discursa para as câmeras e fala sobre temas como transfobia, anti-negritude, colonização e povos indígenas do Brasil, em uma conversa pública aberta, ainda que sejam encarados por alguns com um afronte subliminar de não aceitação. 


     O que mais se destaca nessa exposição é a confiança e a tranquilidade que os artistas demonstram quando são confrontados por uma opinião divergente, esse assédio é tão forte que necessita de um embate lúcido sobre as partes, esse tom mesmo elevado em alguns instantes possuem um poder enorme sobre como isso tratado pelas ameaças e por quais motivos elas acontecem. 
Em sua totalidade o filme propõe essa  série de intervenções equilibrando momentos sérios com um ar lúdico. A câmera procura o olhar espontâneo do campo de guerra e capta as imagens da performance e consequentemente da reação dos envolvidos. No geral, é uma obra abrangente e impactante, seja pela espontaneidade de algumas respostas, pelo duro enfrentamento do discurso de ódio e preconceito ou simplesmente pela potência das suas manifestações. Esse vislumbre "educacional" sobre movimentos e discussões importantes que acontecem no Brasil oferecem um exemplo de um ativismo corajoso que lida diretamente com os opressores. Para onde voam as feiticeiras tem em seus protagonistas uma enorme demonstração de coragem em um documentário necessário, atual e evolvente. IMPERDÍVEL.

O Meu Hype conferiu o filme na 11° Mostra Audiovisual de Petrópolis realizado on-line

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