"Um grupo de artistas que explodem em
diversidade e performance em uma metrópole que é um campo de guerra de uma
sociedade perigosamente intolerante e reflexo de todo um país"
O documentário apresenta um grupo de ativistas
LGBTQIA+ que fazem intervenções artísticas e ações com foco no importante
debate sobre desigualdades sociais, preconceitos e vidas marginalizadas, isso
em pleno caldeirão do centro da maior metrópole do Brasil, São Paulo. O discurso
sobre o coletivo, sobre o respeito a liberdade do outro, aprofunda-se na
complexidade do ativismo e suas causas tão fundamentais a sociedade quanto
conflitantes com valores retrógrados. O movimento composto por esses artistas
crescem e com o passar da metragem do filme, eles mostram uma riqueza
de personalidades, buscam em si a confirmação de convicções com a riqueza de
seus manifestos, isso fica mais intenso quando eles compartilham traumas
pessoais exemplificando o maior motivo de estarem ali, em uma vivência única,
na clara concepção que não existe ativismo sem uma causa e sem pessoas que se
identificam. A grande variedade de assuntos e recursos mostram uma produção com
forte contribuição às lutas sociais além de um ótimo trabalho de produção da direção composta por Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto
Amaral.
O elenco apresenta Ave Terrena Alves, Fernanda
Ferreira Ailish, Gabriel Lodi, Mariano Mattos Martins, Preta
Ferreira, Thata Lopes e Wan Gomez. Eles ocupam
um quadrilátero do centro de São Paulo e transformam o espaço público em um território de humor e tragédia naquilo que testemunham do preconceito em várias
nuances. A produção é um retrato que explode em performance, cor e discurso em um
revigorante vislumbre da comunidade LGBTQIA+ brasileira em meio ao
momento mais delicado por se tratar de um dos grupos mais perseguidos pela onda
conservadora do atual governo e de seus militantes. O pano de fundo para a maior parte do filme é uma rua movimentada
no centro de São Paulo, onde somos apresentados ao grupo que montam ali esse
parlatório. O filme começa seguindo os artistas conforme eles pedem aos
vendedores permissão para filmar em seu trecho da rua, colocando os
espectadores simultaneamente nos bastidores e na plateia. Os microfones e
a equipe de produção entram e saem do quadro como parte do
filme fluindo naturalmente entre a rua, um estúdio monocromático estilizado
onde ocorrem os monólogos, clipes da atualidade e a interação com as pessoas
que passam pela rua. O grupo canta, discursa para as câmeras e fala sobre temas
como transfobia, anti-negritude, colonização e povos indígenas do Brasil, em
uma conversa pública aberta, ainda que sejam encarados por alguns com um afronte
subliminar de não aceitação.
O que mais se destaca nessa exposição é a confiança e a tranquilidade que os artistas demonstram quando são confrontados por uma opinião divergente, esse assédio é tão forte que necessita de um embate lúcido sobre as partes, esse tom mesmo elevado em alguns instantes possuem um poder enorme sobre como isso tratado pelas ameaças e por quais motivos elas acontecem. Em sua totalidade o filme propõe essa
série de intervenções equilibrando momentos sérios com um ar lúdico. A câmera procura o olhar espontâneo do campo de guerra e capta as imagens da
performance e consequentemente da reação dos envolvidos. No geral, é uma obra
abrangente e impactante, seja pela espontaneidade de algumas respostas, pelo
duro enfrentamento do discurso de ódio e preconceito ou simplesmente pela
potência das suas manifestações. Esse vislumbre "educacional" sobre movimentos e
discussões importantes que acontecem no Brasil oferecem um exemplo de um
ativismo corajoso que lida diretamente com os opressores. Para onde voam as
feiticeiras tem em seus protagonistas uma enorme demonstração de coragem em um
documentário necessário, atual e evolvente. IMPERDÍVEL.
O Meu Hype conferiu o filme na 11° Mostra
Audiovisual de Petrópolis realizado on-line
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