sábado, 30 de novembro de 2019

VOLUME MORTO (2019) de “Kauê Telloli”


Thriller tem atmosfera tensa em um exercício psicológico como um quebra-cabeça.

Filme foi exibido na Mostra Competitiva do Festival de Brasília após sua premier mundial na seleção oficial do Festival Internacional de Tallin na Estônia. Dirigido por Kauê Telloli, que chamou atenção em sua estréia com o longa "Eu Nunca" de 2016 (segunda melhor nota dos filmes paulistas em lista da Spcine em 2016) e também roteirista das séries Rio Heroes (Fox) e No escuro (Globo), ele demostra certa segurança em um filme praticamente em plano sequência que se passa num único cenário: uma sala de aula vazia. A tarefa árdua de manter o expectador interessado no filme mesmo com poucos elementos acontece em um jogo psicológico se tornando um filme nervoso, com boa condução, segurando cada reviravolta até seu clímax misterioso. O filme não entrega o que se espera de maneira fácil. O empenho da professora Thamara (Fernanda Vasconcellos) ao tentar solucionar o estranho caso de Gustavo, um menino que passa por um processo de bullying na escola, em muitos momentos deixa em dúvida o seu real objetivo e isso é o diferencial da produção. Gustavo é um protagonista de sete anos que não está presente nas cenas do filme mas é o foco da história. Os pais dele são Roberto (Daniel Infantini), o pai desestruturado por eventos que envolvem a vida do filho, expõe o quão tóxico pode ser às relações, principalmente a exibida no filme, conseguindo seu objetivo de criar repulsa a cada atitude do personagem. A mãe Luíza (Júlia Rabello) bastante submissa ao marido mas bastante misteriosa. No geral, é um longa sobre a dificuldade de saber a verdade dos fatos. Nada é absoluto e cada versão da história possui dúvidas que terminam como um reflexo de concepções. Ficamos o tempo inteiro tentando juntar as peças do quebra cabeça, o grau de confiança nos envolvidos da trama muda a cada atitude sem a chance protocolar de entregar o que se espera de um filme comum. O longa metragem é quase um teatro filmado onde se observa as intenções. Com uma duração de 75 minutos, bem compensados em ritmo acelerado, que mesmo em um roteiro limitado consegue êxito em incomodar o expectador, em deixar mais dúvidas do que respostas. O filme é como uma bomba relógio prestes a explodir, para o bem ou para o mal. TENSO!



O filme não tem previsão de lançamento nos Cinemas! Distribuição pela O2 Play!


O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.



Hype: BOM – Nota do Crítico: 7,0

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O TEMPO QUE RESTA (2019) de “Thaís Borges”



Documetário expõe a violência na amazônia brasileira em forma de humanidade em um relato comovente e bem filmado.

Thaís Borges diretora do longa é formada em Comunicação Social pela Universidade de Brasília e jornalista independente. Estudou Documentário, Roteiro e Montagem na Escola Internacional de Cinema e TV, em Cuba. Em seu primeiro longa, ela documenta o sofrimento de duas histórias de vida representadas por mulheres. A primeira rompeu com as relações de dependência impostas pelas milícias madeireiras. A outra levantou a voz contra o agronegócio e a mineração que se expandem floresta adentro. O tema forte e muito importante serve como alerta no momento atual aonde o governo vigente demonstra total descaso com a amazônia em quase todos os sentidos, o sofrimento dessa gente reflete a ganância e a exploração de recursos naturais de forma violenta. O filme não se atreve a mostrar acontecimentos ou mesmo a violência em si, tudo é reflexo do que vive as pessoas analisadas no documentário, se revelando uma história de simplicidade e amor ao natural. Na trama, Maria Ivete Bastos e Osvalinda Marcelino Pereira estão marcadas para morrer. Seus cotidianos são um retrato da resistência de outros tantos trabalhadores rurais e ribeirinhos amazônicos, gente que precisa da floresta em pé para sobreviver. Contra a fragilidade de seus corpos adoecidos e contra as ameaças que lhes roubam a liberdade, Ivete e Osvalinda reagem no tempo que resta e convivem com o medo. Conhecer a intimidade dessas familias é um exercício emocionante principalmente quando o real motivo do filme existir é exposto nos sentimentos dos personagens. A curta duração do longa demostra que o expectador precisava de mais dados e informações do que representa esse extrativismo de recursos retirados da floresta, o mal que ela causa a natureza e toda a guerra que acontece de um lado do país que precisa de muita atenção. Talvez isso seja a única ausência do filme ou talvez a escolha de sua realizadora. O drama dessas pessoas reais que convivem com o peso da violência o tempo todo se mostra necessário e urgente, inclusive as personagens do filme encontram-se exiladas, longe de casa em um acampamento provisório em Brasília devido as ameaças de morte. Em um país continental como o Brasil, grande parte da população desconhece essa vivência e o documetário trata tudo de forma simples sem ser panfletário, trazendo uma reflexão de empatia bem construída por sua diretora que em nenhum momento sobrecarrega o filme. EMOCIONANTE.


O filme não tem previsão de lançamento nos Cinemas!

O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: ÓTIMO – Nota do Crítico: 8,0

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

LOOP (2019) de “Bruno Bini”


Primeiro filme a representar o estado do Mato Grosso na Mostra Competitiva do Festival de Brasília é uma aventura de sci-fi dramática sobre viagem no tempo muito bem produzida.
O filme que tem supervisão artística de Fernando Meirelles é o primeiro longa- metragem de Bruno Bini, que realizou cinco curta-metragens e recebeu mais de 40 prêmios em festivais em todo o mundo. Para um primeiro longa, o diretor se atreve a brincar com clichês, com ousadia para criar uma história que mesmo absurda se torna crível pela sua abordagem realista e bem cuidada. Loop foi todo gravado em Cuiabá com locações em lugares simbólicos da cidade como a Praça da Mandioca, a UFMT, além de ruas características. A trama começa em 2012 e se desenvolve até os dias atuais, com voltas no tempo. A narrativa, no entanto, não se restringe ao mundo da ficção científica transitando no suspense, com espaço para drama e algo de humor. Na trama, após a morte de sua namorada, Daniel (Bruno Gagliasso) se torna obcecado com a ideia de voltar no tempo para evitar a tragédia. Ele se deixa consumir pela própria obsessão e mergulha em seu isolamento até encontrar a solução. Assim, Daniel abre mão de seu futuro e retorna ao passado. No entanto, ele não é mais o mesmo homem. Para compor a teoria de deslocamento temporal no filme, Bruno Gagliasso contou com a consultoria de doutores em Física que leram o roteiro e trouxeram suas sugestões. No entanto, o diretor não transforma o filme em uma aula de Física. As teorias estão lá, mas o foco do filme é a jornada pela qual o personagem passa. É um homem que busca evitar uma tragédia. Nesse processo, ele acaba revisitando sua própria história e isso causa um impacto forte nele. Loop tem uma trama cheia de reviravoltas com charme próprio mesmo com vários outros filmes com temática parecida, talvez ele seja o Efeito Borboleta (2004) brasileiro. Com trama que flutua bem em vários gêneros, com um elenco conectado na história, boa fotografia e boa trilha sonora, repleta de ótimos artistas nacionais da nova geração, o filme desponta como um bom entretenimento com uma pegada alternativa. Vale a pena conferir. VIAGEM NO TEMPO.


O filme estreia nos Cinemas em 2020 com distribuição pela Elo Company!



O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Hype: BOM – Nota do Crítico: 7,0

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O MÊS QUE NÃO TERMINOU (2019) de “Francisco Bosco” e “Raul Mourão”


Documentário polarizou o Festival de Brasília com vaias e aplausos ao fazer análise política do Brasil dos últimos anos com depoimentos, filosofia e vídeos de artistas plásticos para compor sua narrativa polêmica por si só.
O documentário é mais um exemplar que analisa o processo institucional e social do país desde junho de 2013 até a eleição de Bolsonaro, investigando a crise do Lulismo, a Lava-Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão das direitas liberal e conservadora. O assunto é tão complexo que cada produção que usou o tema possui suas particularidades. O premiado O Processo (2018) focou em Dilma Rousseff e no PT. Excelentíssimos (2018) focou nas articulações da redemocratização. Já Democracia em Vertigem (2019) traz uma reflexão mais pessoal de sua realizadora, a documentarista Petra Costa. O Mês que não Terminou é quase um filme experimental que tenta não tomar partido analisando os fatos com imagens e depoimentos intelectuais para entender como o brasileiro se tornou tão militante nos últimos anos, seja para o bem ou para o mal. Ao longo do filme, narrado de forma exemplar por Fernanda Torres, surgem os depoimentos de Laura Barbosa de Carvalho, Pablo Ortellado, Maria Rita Kehl, Marcos Nobre, Tales Ab’saber, Camila Rocha, Pablo Capillé, Pedro Guilherme Freire, Carla Rodrigues, Áurea Carolina, Reinaldo Azevedo, Joel Pinheiro da Fonseca, Samuel Pessoa e Marcos Lisboa, intelectuais de diversas áreas de atuação, que exprimem suas visões sobre o caldeirão que deu origem aos protestos e seus desdobramentos, culminando no cenário político atual. O filme tem a direção compartilhada de Francisco Bosco, doutor em Teoria da Literatura e ex-presidente da Funarte e de Raul Mourão, artista plástico. Essa perspectiva de tema em junção com a arte é o diferencial do documentário que consegue despertar o interesse do público com uma narração quase ininterrupta em tom de urgência dos fatos apresentados mesmo que no fim das contas termine como um resumo de 104 minutos dessa confusão que virou o país. Essa investigação proposta pelos idealizadores, mesmo corajosa, parece fria e distante de uma resposta aos próprios questionamentos apresentados. Os depoimentos parecem polidos e sem sentimentos, no fim das contas busca uma visão menos popular e mais elitizada dos acontecimentos e falha na falta emoção mesmo com um tema tão forte e que mexe com o emocional do expectador. No geral, é visualmente atrativo, com proposta interessante e confuso na mensagem que busca passar. POLÍTICA + ARTE.


O filme não tem previsão de lançamento nos Cinemas, distribuição pelo canal Curta! e Kromaki


O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: BOM – Nota do Crítico: 6,5

terça-feira, 26 de novembro de 2019

ALICE JÚNIOR (2019) de "Gil Baroni"


Comédia juvenil sobre uma adolescente trans e seus dilemas se revela uma das surpresas mais divertidas do ano, merecidamente, muito bem recebida no Festival de Brasília em sua trajetória de festivais pelo Brasil.

Alice Júnior é um filme que traz uma trama LGBTQI+ onde a personagem possui angústias como qualquer outro jovem da sua idade sem necessidade de sobrecarregar o expectador sobre o descobrimento ou processo de aceitação da personagem, algo que quase sempre acontece em filmes com essa temática.  O diretor Gil Baroni (O Amor de Catarina, 2016) e o escritor Luiz Bertazzo, criam um produto que pulsa em tela, com interações digitais nas cenas, trilha sonora descolada, elenco gracioso e história que mesmo seguindo alguns clichês básicos desse tipo de trama surpreende, afinal, Alice interpretada por Anne Celestino, trans na vida real, é uma garota como qualquer outra, com intensas vivências durante sua adolescência com a diferença que, por ser trans, esses problemas que já são graves por si só, se tornam ainda mais intensos. Tudo se conecta graças a uma interação muito despojada entre a protagonista e seu pai Jean, que aceita completamente a condição da filha. É uma forma bastante honesta de mostrar o quanto a criação pode ser o diferencial de acolhimento de uma pessoa LGBTQI+ . O fato dele enaltecer a diversidade da filha acontece com bastante naturalidade em uma relação pura, familiar e sobretudo, com bastante amor. Outro grande acerto do filme é buscar um elenco qualificado de caras novas, todos com características bem trabalhadas e envolventes. A riqueza da personalidade dos personagens também cria perspectivas para o filme desenvolver bem seus conflitos. Na trama Alice (Anne Celestino) é uma adolescente trans cheia de carisma que investe seu tempo fazendo vídeos para o Youtube. Um dia, seu pai Jean (Emmanuel Rosset) é transferido pela sua empresa no Recife para Araucárias do Sul, e eles precisam se mudar. Na nova escola, Alice enfrenta preconceitos ao se deparar com uma sociedade mais retrógrada do que estava acostumada. O desejo da menina é dar seu primeiro beijo mas, antes de tudo, quer o direito de ser quem ela é.  Alice Júnior representa um novo caminho para o empoderamento dos artistas transgêneros no cinema brasileiro de forma positiva e alto astral. É uma comédia romântica leve e otimista onde  tudo flui de uma forma bem humorada, com abordagem madura mesmo que jovial e de sensibilidade apurada.  POP, ATUAL E DO BABADO.


O Meu Hype assistiu ao filme no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: ÓTIMO - Nota do Crítico: 8,5

A FEBRE (2019) de Maya Da-Rin


Impulsionado pela carreira internacional bem sucedida, segundo trabalho da diretora Maya Da Rin chega ao Brasil aclamado no Festival de Brasília e ressaltando as questões indígenas.

Nascida no Rio de Janeiro em 1979, Maya Da-Rin é uma cineasta e artista visual brasileira que desponta como uma grande promessa do cinema nacional, filha dos cineastas Sandra Werneck e Sílvio Da-Rin, O seu documentário Terras, lançado em 2010, participou em mais de 40 festivais de cinema e o seu primeiro projeto de longa-metragem, A Febre, segue chamando bastante atenção por onde passa, com participação na competição internacional no Locarno Film Festival de 2019 na Suíça e sendo inclusive convidado para a residência da Ciné Fondation, La Fabrique des Cinémas du Monde e Torino Film Lab. O filme também é a primeira experiência do indígena Regis Myrupu como ator, sua participação no filme expõe toda melancolia e desconforto do índio ao tentar se integrar a uma sociedade, muitas vezes despreparada para tal acolhimento, sua atuação é emocionante e bastante carismática.  A trama se passa em Manaus, uma cidade industrial cercada pela floresta amazônica, onde Justino, um indígena Desana de 45 anos, trabalha como vigia no porto de cargas. Desde a morte de sua esposa, sua principal companhia é sua filha mais nova com quem vive em uma casa modesta na periferia. Enfermeira em um posto de saúde, Vanessa é aceita para estudar medicina em Brasília e terá que viajar em breve. Confrontado com a opressão da cidade e a distância de sua aldeia de onde partiu há mais de vinte anos, Justino se vê condenado a uma existência sem lugar. O filme é uma oportunidade de observar com empatia como nossa sociedade não possuem ferramentas para a integração dos povos, a opressão de quem é diferente e muitas vezes sem motivo algum, é a representação do desmonte de politicas públicas que apoiam as minorias e dão a oportunidade de igualdade ao povo indígena que é a raiz do nosso país. A simplicidade da vida de Justino é tocante mesmo que por alguns momentos o ritmo do filme seja mais contemplativo, é uma ficção que funciona quase de forma documental e transita em um tema bastante importante a ser discutido em nossa sociedade, seja da inclusão social dos indígenas como o respeito as suas escolhas de vida. Uma oportunidade de observar a complexidade de sua cultura em paralelo a nossa vivência. A VIDA DOS OUTROS.


O filme chegará nos cinemas do Brasil em 2020 pela VITRINE FILMES.

O Meu Hype assistiu ao filme no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: ÓTIMO - Nota do crítico: 8,0

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

PIEDADE (2019) de "Cláudio Assis"



Novo longa do diretor pernambucano Claudio Assis é um drama familiar e social com grande elenco e apelo ao ativismo ecológico.

O diretor Claudio Assis possui uma linguagem cinematográfica própria, focada quase sempre no comportamento humano e suas nuances. Sua filmografia chama a atenção pelo choque cultural com a marginalização das pessoas em sub-mundos que são partes vivas e presentes da sociedade, como na trilogia: Amarelo Manga (2002), premiado nos Festivais de Brasília e Toulouse, seguido de Baixio das Bestas (2006), laureado em Brasília, Roterdã, Miami e Paris e Febre do Rato (2011), vencedor do Festival de Paulínia em várias categorias. Os títulos dialogam entre si e retratam, com amor e dureza, os mais pobres e os marginalizados. Seu novo filme, Piedade, renova sua filmografia ao mostrar uma geração já cansada da luta mas que resiste na base do simplismo contra um sistema capitalista agressivo e ao mesmo tempo financeiramente atrativo e corroído por interesses. São pessoas que lutaram durante muito tempo para conquistar algo na vida, possuindo o vínculo do amor por sua história, seu esforço e passado de luta. Quando uma grande empresa de petróleo possui planos audaciosos para a cidade de Piedade, mais precisamente para o Bar Paraíso, uma família se perde no descontrole sentimental de se restruturar e tomar uma decisão sobre o futuro. O roteiro do longa lança sem muito primor um assunto importante e atual, sendo o grande destaque seu elenco estelar, parte essencial para que tudo flua na história, que foi rodado em Pernambuco, precisamente no Porto Suape e Reserva do Paiva, com bonita fotografia e mais uma vez explorando o interno comportamento humano com um discurso voraz sobre a modernização que destrói o passado e a melancolia que transborda no presente. No longa, Fernanda Montenegro é Dona Carminha, a matriarca que está à frente do Bar Paraíso, estabelecimento praiano construído por seu falecido marido, Humberto Bezerra, na Praia Saudade, em Piedade. Moram com ela seu filho Omar (Irandhir Santos) e seu neto Ramsés (Francisco Assis), filho da caçula Fátima (Mariana Ruggiero), que trabalha e reside do outro lado da cidade. A chegada de Aurélio (Mateus Nachtergaele), executivo de uma empresa petrolífera, afeta a harmonia da família e traz revelações que a relacionam a Sandro (Cauã Reymond) e seu filho Marlon (Gabriel Leone). O fio condutor da história é a construção do Porto de Suape, na década de 1980 em Recife, e os impactos gerados no meio-ambiente – incluindo a mudança de comportamento dos tubarões, que nadavam até as praias em busca de alimento. O filme ganha na reflexão com uma linguagem acessível e discurso político discreto, na triste coincidência do filme ser lançado durante a crise no litoral brasileiro provocada pelo derramamento de óleo. Cláudio Assis representa um novo cinema nacional vibrante mesmo sendo pontual e polido, menos energético que o habitual. Destaque para Cauã Reymond em personagem envolvente e com cenas fortes e quentes ao lado de Mateus Nachtergaele. Fernanda Montenegro brilha a cada presença em tela. Os famosos tubarões que povoam o litoral do Recife são utilizados, na narrativa, como metáfora dos políticos brasileiros. Vorazes e famintos. Piedade surge falando de coisas que incomodam todo mundo e só isso já vale bastante. AFIADO!



O filme tem previsão de lançamento nos cinemas para o primeiro semestre de 2020 pela ArtHouse.

O Meu Hype assistiu ao filme no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: BOM - Nota do Crítico: 7,5

sábado, 23 de novembro de 2019

O TRAIDOR (2019) "Il Traditore" / "The Traitor" de "Marco Bellocchio".



Representante Italiano no Oscar 2020 é um filme sobre a máfia com belas imagens, trilha sonora impecável e com boa representação de fatos reais de maneira realista e melancólica.

Em um ano em que a Máfia ganhou uma representação quase definitiva no cinema por Martin Scorcese, Marco Bellocchio, conhecido por seu trabalho em De Punhos Cerrados (1965) e Bom Dia, Noite (2003), também surpreende apresentando sua concepção de um dos mafiosos mais relevantes na história da Itália, Tommaso Buscetta, interpretado no filme de forma fria e calculista pelo ator Pierfrancesco Favino (Rush - No Limite da Emoção), ele foi também o principal informante da polícia em uma gigantesca operação que resultou em centenas de prisões que ajudaram a desmantelar a máfia italiana. Em meio a mortes, tráfico e ameaças, Tommaso viveu os dois extremos da lei e tornou-se conhecido por seus ex-companheiros como O Traidor. Com belas imagens e fotografia impecável, o filme teve sua estréia mundial no Festival de Cannes esse ano aonde arrancou mais de 10 minutos de aplausos e levou o longa metragem a ser a principal estréia italiana esse ano, tanto que facilmente foi o escolhido para representar o país na seleção da categoria Filme Internacional no Oscar 2020, além de ter sua comercialização e distribuição garantida em mais de 100 países. O filme é uma co-produção entre Itália, França, Alemanha e Brasil, que tem a Gullane Filmes como produtora parceira, o que provavelmente viabilizou a filmagem das cenas gravadas no Brasil e pela estonteante participação de Maria Fernanda Cândido, que interpreta a esposa do mafioso e chamou bastante atenção da mídia estrangeira por seu encantamento em tela. O ponto forte do filme é que mesmo carregado de embasamento histórico de tais fatos o diretor consegue encontrar elementos de tensão que são bem aproveitados graças a uma trilha sonora intensa, que inclusive, acompanha uma das melhores cenas do filme, um apoteótico acidente de carro que sem dúvidas é uma das cenas mais impactantes filmadas neste ano de 2019. Mesmo errando um pouco a mão em alguns momentos e tornando o filme cansativo em sua parte que envolve o tribunal e o julgamento dos mafiosos, algo justificável para uma metragem de 2h30 que precisa integrar o expectador com as resoluções do caso e comprimir um número enorme de informações, é uma produção de alto nível, bem filmada e interessante ao ser analisada em sua totalidade. MAFIA REAL.


O filme estréia em breve nos cinemas pela Pandora Filmes

O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Hype: BOM - Nota do Crítico: 7,0

terça-feira, 19 de novembro de 2019

BIXA TRAVESTY de "Kiko Goifman" e "Claudia Priscilla"


Filme documental conta a trajetória da cantora transexual Linn da Quebrada e de quebra traz a linda história de uma cena LGBTQ+.

Quase um ano depois de fazer bastante barulho vencendo o prêmio Teddy Awards, prêmio de cinema oferecido a filmes de temática LGBT em Berlim e receber o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular do Festival de Cinema de Brasília, o documentário finalmente chega em circuito no Brasil. Não haveria cenário melhor como agora, o cinema nacional trensborda títulos cada vez mais empolgantes e acompanhar a trajetória de Linn da Quebrada é uma forma de entender toda uma vivência de outras milhares de pessoas LGBT que lutam e sofrem para mostrar sua arte, sua intimidade, seus pensamentos na busca pelo respeito em meio aos obstáculos da vida e do preconceito. Sua história é a representação de um Brasil moralista, machista e que aos poucos e na base da resistência se abre a conhecer a cultura Queer. O filme mostra o nascimento da cena musical produzida pela cantora transsexual na periferia de São Paulo para atingir repercussão e público com um discurso exposto de letras ácidas contra o conservadorismo. Conhecemos também Jup do Bairro, rapper que tem grande representatividade dentro do filme, quase que como um braço direito da Linn em seu processo criativo. A direção de Cláudia Priscilla e Kiko Goifman não perdem tempo de tela e apresentam uma edição dinâmica de acontecimentos e opiniões. Linn se abre ao público com um discurso aonde diz: "Você precisa se gostar independente do que pode parecer certo para ser aceito". A luta pela liberdade de comportamento rege seu manifesto. A interessante abordagem do filme está em mostrar a afetividade de Linn e sua mãe com um registro bonito desse amor que ultrapassa qualquer barreira cultural, a cena do banho entre eles é sem dúvidas uma representação disso, humanidade acima de tudo e que a família precisa entender a dinâmica da diversidade de cada ser humano, sem amarras. O filme cresce ainda mais em ressaltar a urgência de debater as questões gênero em um momento onde cresce o desejo de retrocessos nas conquistas de direitos. Os pensamentos e as músicas da Linn dão energia ao filme assim como a representação artística do seu corpo e da materialização do sexo em um campo de guerra contra uma sociedade que prega o puritanismo e o falso moralismo. Com estética libertária, o protagonismo de Linn da Quebrada em dividir suas ideias e opiniões é um ponto forte de um documentário corajoso e necessário. ARTE QUEER.


O filme estréia nos cinemas em 21/11

O Meu Hype assistiu ao filme em sua exibição no 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2018.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

sábado, 16 de novembro de 2019

O IRLANDÊS (2019) "The Irishman" de "Martin Scorcese"



Martin Scorsese, um inegável mestre da sétima arte realiza um clássico instantâneo dando um passo adiante na concepção de filme sobre a máfia do século passado.

Scorsese tem uma filmografia espetacular que inclui clássicos como Táxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990), seu diferencial em meio aos outros realizadores é o seu poder de permanecer relevante em suas obras mesmo com o passar das décadas, inclusive também em histórias atuais e aclamadas como Os Infiltrados (2006) e O Lobo de Wall Street (2013). Não é qualquer um que tem esse poder de domínio em sua arte, atravessando gerações, não satisfeito ele apresenta novos e interessantes caminhos inclusive para a indústria cinematográfica. O Irlandês é um filme que faz parte de sua parceria com a gigante plataforma de streaming Netflix, que se viu obrigada a lançar, mesmo que discretamente, a produção nos cinemas e novamente abrir a mente dos mais conservadores de que cinema, desde que bem feito, pode ser realizado em qualquer lugar. A guerra entre Netflix e os exibidores tá longe de acabar e ganha força com a Disney e a Warner transitando nessa onda, lançando produção diretamente em seu streaming. O filme já foi exibido em festivais durante esse ano sendo aclamado por onde passa e certamente estará entre os escolhidos do próximo Oscar, encerrando ou inflamando o debate sobre como o streaming poderia influenciar a arte de fazer cinema. Deixa de ser uma utopia e vira uma realidade que o cinema já flerta com as novas tendências do mercado, afinal, Roma (2018) também da Netflix, era um filme digno da estatueta principal de Melhor Filme da premiação mais importante do cinema na cerimônia desse ano, inclusive favorito mesmo a contra gosto e foi alvo da falta de visibilidade dos votantes do Oscar, que escolheram o esquecível Green Book, se tornando mais um erro histórico do Oscar. Além de todo esse debate sobre "Cinema versus Streaming", Martin Scorcese recentemente entrou em uma polêmica global envolvendo filmes de heróis com foco nas produções da Marvel, onde ele disse em entrevista que essas produções não são cinema, uma clara crítica a linha de produção cultural praticada atualmente, seja pela Disney com os filmes da Marvel ou também da detentora de O Irlandês, a Netflix com suas produções sem uma curadoria. Outro debate necessário que prova o quanto o diretor ainda se propõe aos riscos da modernidade. Quanto ao filme, ele é baseado no livro de memórias do investigador e advogado Charles Brandt, "I Heard You Paint Houses" de 2004, no qual relata o caso de Frank “The Irishman” Sheeran, um sindicalista com ligações ao crime organizado que, pouco antes de falecer em 2003, confessou ter assassinado o líder sindical Jimmy Hoffa, desaparecido em 1975. Sheeran, Robert De Niro sob uma camada de maquiagem, está preso em um lar de idosos, alienado de sua família e contando suas histórias de glórias da máfia a um público invisível. Sua narração se volta ao elenco digitalmente envelhecido, Joe Pesci como o chefe do crime de Philly Russell Bufalino, Ray Romano como seu primo advogado da máfia Bill Bufalino, Harvey Keitel como Angelo Bruno e Al Pacino como o futuro amigo e alvo de Sheeran, Presidente da União, Jimmy Hoffa. A história entra em um segundo quadro, quando Russell e Sheeran vão para um casamento em Detroit. A data é 30 de julho de 1975, e esse é o último dia em que Hoffa foi visto vivo, em Bloomfield Township, em uma reunião com a multidão. Dentro desse quadro, Sheeran relata como ele passou de caminhoneiro para executor da máfia, para guarda-costas de Hoffa e, finalmente, o carrasco do chefe do sindicato. Com orçamento de quase 160 milhões, é um dos filmes mais caros da carreira de Scorcese, a produção é excepcional e pulsa aos olhos em todos os aspectos, em textura, maquiagem, figurino e ambientação, que faz jus a tal investimento. O ponto chave do filme está na experiência pessoal de Sheeran como intermediário nos complicados negócios de Hoffa com a máfia. Pacino aparentemente tenta criar um Hoffa que não cruza com outras vertentes de sua carreira ao interpretar mafiosos no cinema. De Niro expõe Sheeran como um trabalhador rígido, cujo o trabalho é matar pessoas. O irlandês é um resumo das obsessões de Scorsese sobre relações humanas e políticas, se encaixando na tradição cinematográfica da máfia americana de que essas são figuras que de alguma forma trágica são os "bons" homens de família, algo que no Brasil seria a "família tradicional brasileira", discurso vendido pela atual política do país que se esconde por trás de uma singela máfia de laranjas. O filme só peca na dificuldade do diretor em trabalhar personagens femininos ou ele simplesmente não vê a necessidade de mulheres na trama, faz falta, Anna Paquin nem tem chance de brilhar. Scorsese romantiza mafiosos como imperfeitos, mas ainda glamourosos, desfeitos por sua própria arrogância, na espera que o público sinta a angústia de Sheeran quando ele é levado para matar seu suposto amigo e também na solidão da sua sobrevivência. É a representação clara do dito popular, o crime não compensa. OBRA PRIMA.


O filme está em exibição especial em cinemas selecionados, não está em circuito. O filme estará disponível no streaming da Netflix em 27 de Novembro.


Hype: EXCELENTE - Nota: 10

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

AS PANTERAS (2019) "Charlie's Angels" de "Elizabeth Banks"


A nova geração das Panteras surgem em filme bem realizado, divertido e na medida certa para agradar antigos e novos fãs.

A multifacetada Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita) dirige nova adaptação das icônicas personagens, agora compostas por Kristen Stewart (Crepúsculo), Naomi Scott (Aladdin) e Ella Balinska em sua estréia no cinema. O serviço secreto de detetives comandado pela Agência Townsend já movimenta a cultura pop desde a década de 70 aonde o seriado, Charlie's Angels, no Brasil batizado de As Panteras, fez relativo sucesso na TV sendo finalizado em 1981, após cinco temporadas. A série mantém um status cult até os dias de hoje como o início do empoderamento feminino na TV, mesmo depois no futuro sendo alvo de críticas pela sexualização de suas protagonistas. Nos anos 2000, McG dirigiu sua versão para os cinemas, atualizando as detetives e se baseando levemente no seriado de televisão, essa repaginada foi muito celebrada mesmo não agradando totalmente os fãs da série e até ganhou uma continuação em 2003. Desta vez, pela primeira vez na história da franquia, sendo dirigido por uma mulher, as novas Panteras conseguem impor um ritmo atual e ao mesmo tempo natural, entregando um frescor ao ressaltar a importância das mulheres no legado construído pelo misterioso Charles Townsend, essa condução de imaginar a Agência Townsend 40 anos depois, em uma nova era global com uma rede internacional de Panteras e Bosleys é uma revigoração inteligente, ao mesmo tempo que se integra as antigas versões, como um "fan service" que funciona bem. O novo filme consegue construir um novo caminho e ter substância na medida certa para um bom entretenimento sem subestimar o expectador, algo que muitas vezes atrapalhava os filmes anteriores. As cenas de ação são bem filmadas sem necessidade massiva de efeitos especiais, compravando que a ótima produção, Kingsman, fez escola em incorporar um novo conceito de apresentar tais cenas ao público com elegância e envolvimento. Outro mérito da produção foi encontrar atrizes que não se ofuscam, cada uma consegue o seu protagonismo necessário e alinhado ao todo, subvertendo padrões da indústria que cada vez mais se abre as mulheres de forma sincera, sem precisar ser político. A mistura de reboot e sequência não atrapalha, as piadas são discretas e equilibradas, sempre pontuando e zombando do machismo, algo bastante presente no filme é sua trilha sonora pop, ao som de grandes artistas da atualidade como Ariana Grande, Miley Cyrus, Lana Del Rey e outros, incluindo a brasileira Anitta, um trecho do filme se passa no Brasil, inclusive. Tudo se encaixa de uma forma em que o filme se faz atual e nostálgico ao mesmo tempo. O risco de mexer em um produto tão adorado é apresentado de maneira aceitável mesmo que não saia do lugar comum entre filmes de origem, as reviravoltas é um atrativo e também um passo confortável, inofensivo e divertido na franquia. OBS: Há cenas pós créditos!  FILME PIPOCA.



O filme estréia nesta Quinta-Feira 14/11 nos cinemas pela Sony Pictures.

O Meu Hype assistiu ao filme em sua Cabine de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: BOM - Nota: 7,5

terça-feira, 12 de novembro de 2019

UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK (2019) "A Rainy Day in New York" de "Woody Allen"


Woody Allen apresenta comédia romântica com algumas de suas principais características, bom elenco, fotografia impecável e delírios urbanos.

Toda confusão a cerca de “Um Dia de Chuva em Nova York”, novo filme do famoso diretor americano, tornou-se um pesadelo a todos envolvidos e ofuscou a produção. Resumindo, nos últimos dois anos, as acusações de abuso sexual cometidas por Woody Allen contra a filha adotiva, Dylan Farrow, voltaram à tona em meio a escândalos envolvendo assédios cometidos por Harvey Weinstein e Kevin Spacey com o fortalecimento do movimento feminista em Hollywood. Anteriormente, Allen tinha um contrato com a Amazon Studios para a distribuição de cinco de seus filmes, este seria o terceiro deste acordo. O projeto começou a ser adiado e especulava-se que nem seria lançado, com a empresa evitando se comprometer após o auge dos movimentos #MeToo e #TimesUp e como resposta, a Amazon Studios decidiu romper o vínculo com o cineasta deixando à deriva o lançamento da produção repleta de estrelas. Em resposta, o elenco composto por Timothée Chalamet, Selena Gomez, Jude Law, Elle Fanning, Liev Schreiber e Diego Luna doou seus salários para instituições que ajudam sobreviventes de assédio e violência sexual. Agora, a comédia romântica do diretor, após ações jurídicas, começa a ser lançada ao redor do planeta muito abafada em meio a toda essa confusão. Já nos EUA, ainda não há nenhum tipo de previsão sobre quando o filme será exibido. Toda essa espera para conferir a produção não se revela recompensadora ou especial, o filme segue a cartilha básica do diretor transitando entre a seriedade e a brincadeira em uma crônica longe da genialidade alcançada ao longo da sua carreira mas também distante de filmes esquecíveis de sua filmografia. Parece faltar o frescor de produções mais recentes e ousadas como Match Point (2005) e Vicky Cristina Barcelona (2008). A beleza visual de Nova York apenas repete algo já realizado outras vezes com personagens e trama aquém de qualquer surpresa, tudo no seu devido lugar. É a mesma história contada mais uma vez. Desde “Tudo Pode dar Certo”, de 2009, Woody Allen não fazia um filme novaiorquino, esse sentimento nostálgico do referencial de uma cidade inspira os fãs do diretor a resgatar obras como “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Meia-Noite em Paris”. Como esperado, Chalamet e Fanning até se esforçam em um roteiro pobre e com pouca conexão com a idade que eles possuem, não são jovens contemporâneos, seus conflitos são banais. Os demais personagens não possuem tempo de tela suficiente para ir além. No geral, uma comédia romântica bobinha que se prende ao charme de seu diretor. POUCA INSPIRAÇÃO.


O filme estréia nos cinemas dia 21/11 pela IMAGEM FILMES.
O Meu Hype assistiu ao filme em sua Cabine de Imprensa realizada em Brasília.
Hype: BOM - Nota: 7,0

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

GRETA (2019) de "Armando Praça"


Marco Nanini é o grande atrativo de drama simples e cheio de sentimentos complexos.

Nanini, que ganhou expressão popular com o personagem Lineu, comportado e pai de familia do seriado "A Grande Família" da Rede Globo, surpreende em atuação expressiva e bastante comovente. Sem fazer concessões, ele aparece nu e em tórridas cenas de amor com outro homem, esbanjando desenvoltura no auge de seus 71 anos, ele interpreta um enfermeiro, velho, solitário, homossexual e apaixonado pela atriz sueca Greta Garbo (1905-1990). Ela ficou famosa por obras como "Ninotchka" (1939) e "A Dama das Camélias" (1936), transformando-se na atriz mais bem paga de Hollywood. Depois de protagonizar filmes como “Grande Hotel”e “Anna Karenina” se tornou um ícone e abandonou os sets. Tinha apenas 36 anos. Preferiu o anonimato. Não foi buscar nem o Oscar honorário com o qual a Academia de Hollywood a distingiu, em 1954 e preferiu viver reclusa até sua morte. Essa reclusão e solidão de Greta é quase o reflexo da vida do personagem de Marco Nanini no filme, até seu direcionamento mudar completamente ao ajudar um paciente no hospital que trabalha, interpretado pelo ator Demick Lopes. “Greta” é uma adaptação muito livre de um dos maiores êxitos comerciais do teatro brasileiro da década de 1970: “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”, de Fernando Melo. Além de Nanini e Démick, o filme conta com poderosa participação da atriz Denise Weinberg, durante anos a primeira dama do Tapa, importante companhia teatral brasileira. Ela interpreta Daniela, uma cantora e amiga muito querida de Pedro, com graves problemas de saúde, ela também é importante para a história pois devido ao seu problema que Pedro decide abrir um leito no hospital que trabalha colocando o marginal Jean em sua casa. O ponto alto do filme é composto justamente pelo trio Nanini-Weinberg-Démick com boas atuações. A atriz trans Gretta Sttar faz participação especial na trama, uma curiosidade é que a cisgênero Denise Weinberg faz uma cantora trans ( destaque na arrebatadora sequência em que interpreta “Bate Coração”, sucesso de Elba Ramalho) e Gretta, que é trans, faz personagem cisgênero (Meire, amante do personagem de Démick Lopes). Um filme que intensifica a temporada positiva do cinema nacional em 2019 mesmo sofrendo o corte da ajuda financeira da Ancine por ser um filme com temática LGBT, censura imposta pelo atual governo. Mesmo assim, a base de resistência, o filme conseguiu entrar em circuito no Brasil após passagem pela 69ª edição do Festival de Berlim, o diretor e roteirista cearense Armando Praça apresenta uma história urbana e minimalista sobre relacionamentos, cumplicidade e afeto, com uma carga dramática na medida certa. A FLOR DA PELE.


O filme ainda está em exibição em circuito restrito nos cinemas pela PANDORA FILMES.

Hype: BOM - Nota: 7,0

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

DOUTOR SONO (2019) "Doctor Sleep" de "Mike Flanagan"



Continuação do clássico terror O Iluminado tem bons momentos ainda que bem distantes do impacto cultural do filme original de Stanley Kubrik.


Doutor Sono é um romance de horror escrito por Stephen King e lançado em 2013, logo se tornou um best-seller. O sucesso não se deu apenas pela maestria do experiente autor, mas por se tratar da continuação da obra-prima O Iluminado. Era uma questão de tempo para o livro ganhar sua adaptação nos cinemas, ainda mais em um cenário onde King é a onda do momento, muito graças ao ótimo trabalho de adaptação realizado em IT - A Coisa, o maior sucesso do autor nas telonas. Acontece que apresentar uma continuação de um clássico tão admirado, tanto pela crítica quanto pelo público não é uma tarefa muito fácil e talvez fadada a uma certa desconfiança. A obra consegue contornar muito bem sua atualização mesmo com alguns pontos de desvio, como a longa duração do filme, não muito bem compensado no ritmo adotado, o uso da obra literária não aproveita, por exemplo, o fato de Danny ser o Doutor Sono do título, isso quase passa batido e alguns outros detalhes menores. Mesmo que não funcione como filme de terror sendo quase uma aventura sobrenatural, é um filme apetitoso aos fãs da obra original mesmo passando meio longe da condução exemplar de Kubrick, o fan service não incomoda ao mesmo tempo que torna tudo bem familiarizado, um caminho até aceitável para um blockbuster e pouco inspirador para quem deseja um entretenimento memorável como sua fonte de origem. O filme continua a história de Danny Torrance, 40 anos após sua assustadora estadia no Hotel Overlook, em O Iluminado. Ele, ainda extremamente marcado pelo trauma que sofreu quando criança, luta para encontrar o mínimo de paz. Essa paz é destruída quando ele encontra Abra, uma adolescente corajosa com um dom extrassensorial, conhecido como Brilho (A explicação do título original, The Shinning, que no Brasil se tornou O Iluminado ). Ao reconhecer instintivamente que Dan compartilha seu poder, Abra o procura, desesperada para que ele a ajude contra a impiedosa Rose Cartola e seus seguidores do grupo Verdadeiro Nó, que se alimentam do Brilho de inocentes visando a imortalidade. Ao formarem uma improvável aliança, Dan e Abra se envolvem em uma brutal batalha de vida ou morte com Rose. A inocência de Abra e a maneira destemida que ela abraça seu Brilho fazem com que Dan use seus próprios poderes como nunca, enquanto enfrenta seus medos e desperta os fantasmas do passado. Doutor Sono é dirigido pelo esperto diretor Mike Flanagan de filmes menores e interessantes como Hush, O Espelho e O Sono da Morte, além do elogiado trabalho na série da Netflix, A Maldição da Residência Hill. No filme sua condução da obra literária tenta fugir dos sustos fáceis, porém a ambientação se torna quase uma aventura, não que isso seja um problema mas pode decepcionar quem espera um terror. Estrelado por Ewan McGregor (Trainspotting), Rebecca Ferguson (O Rei do Show) e Kyliegh Curran, em sua estreia no cinema, como Abra, é uma continuação bem digna do original, não tão memorável como poderia ser mas eficiente na proposta de trazer esse universo de volta aos cinemas com a nostalgia de ir a fundo na história. EXPLICANDO O ILUMINADO.


O filme tem lançamento nacional nos cinemas na Quinta-Feira 07/11 pela Warner Bros. Pictures.

O Meu Hype assistiu ao filme em sua Cabine de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: BOM - Nota: 7,0

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

PEQUENOS MONSTROS - "Little Monsters" (2019) de "Abe Forsythe"


Pequena comédia da Hulu é simples, eficiente e uma surpresa inocentemente bizarra.

O gênero de comédia zumbi possui obras um tanto quanto peculiares e cult, como os filmes Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) e Zumbilândia (Zombieland, 2009) que inclusive ganhou uma continuação recentemente. Pode-se afirmar que "Little Monsters" se encaixa perfeitamente neste perfil de entretenimento, uma comédia com zumbis sem grandes pretensões mas que conquista pela sua inocência. O filme fez sucesso no Festival de Sundance e iniciou uma guerra para a aquisição dos seus direitos de exibição, a vitória foi do streaming Hulu (Não disponível no Brasil) e do estúdio Neon que lançou a produção em circuito limitado de cinemas nos EUA. É um filme que diverte e comove na medida certa. Na trama, Dave (Alexander England), um músico falido decide  voluntariar-se para acompanhar a viagem do jardim de infância de seu sobrinho após se interessar pela professora do garoto, Caroline (Lupita Nyong'o). O passeio ainda tem a presença da personalidade de um programa infantil Teddy McGiggles, interpretado por Josh Gad, no entanto, todos, inclusive as crianças são encurralados em um inesperado ataque zumbi. Além de tentar se manter vivos, Dave e a professora Caroline também possuem a tarefa de manter as crianças fora de perigo e tentar fazer de tudo para garantir que elas não fiquem traumatizadas. O diretor Abe Forsythe tinha dois longas-metragens em seu currículo antes de Little Monsters, embora ele tenha conseguido criar um nome em seu país natal, a Austrália, ele ainda não ganhou nenhuma notoriedade fora da cena indie local. Isso, no entanto, não o impediu de conseguir a presença mais que especial da carismática atriz Lupita Nyong'o (Vencedora do Oscar) e também incluir na produção variadas referências da Cultura Pop, como uma música da Taylor Swift e uma cena muito legal em referência a Star Wars, provando que o diretor consegue conduzir perfeitamente uma produção de baixo orçamento e torna-lá atrativa. No começo, é uma comédia de relacionamento bastante comum, com clichês e esteriótipos, porém com o passar da trama isso acaba virando um mero detalhe e o foco fica em como proteger a inocência das crianças mesmo durante um apocalipse zumbi. Seu mérito maior é não cair nas princípais armadilhas deste tipo de filme, tudo flui sem necessidade de uma trama mirabolante ou grandes efeitos especiais, traz um certo frescor mesmo sem apresentar grandes novidades. O final possui uma das cenas mais bonitas e especiais desse ano! SIMPLES PORÉM AFETUOSO.



O filme está disponível no Telecine!

Hype: BOM - Nota: 7,5