sexta-feira, 28 de junho de 2019

SHAFT (2019) de "Tim Story"


Novo Shaft é uma comédia de ação boba e perdida no tempo. 

O personagem surgiu na década de 70 nas mãos de Richard Roundtree, já era um personagem controverso com uma vibração excessivamente sexual. Era outra época, onde se podia brincar com charme sem escorregar gravemente no machismo e na misoginia. Em 2000, o personagem surge na pele de Samuel L. Jackson. A releitura não muito inspirada do clássico não agradou muito e fez relativo sucesso. Este Shaft de 2019 é a junção das gerações e na insistência de piadas desgastadas sobre masculinidade sem qualquer frescor ao gênero. A produção marca o retorno de Jackson como John Shaft, após 19 anos, porém o foco é seu filho interpretado por Jessie Usher (Independence Day 2). O principal atrativo são algumas sacadas cômicas escritas por Kenya Barris (Black-ish) mostrando essa diferença entre as gerações e é o único acerto do longa que chega ao Brasil após um acordo entre o estúdio New Line/Warner com a Netflix, onde o filme chega diretamente ao Streaming sem passar pelos cinemas assim como ocorreu com com outro filme recente, Megarrromântico. Em contrapartida, a falta de uma ação interessante cria uma comédia de ação inadequada, do tipo que prosperou nos anos 80 e que hoje em dia se mostram perdidas no tempo. Jackson - transparecendo seus 70 anos - agora é apresentado como um gatinho para as mulheres e se reencontra com seu filho, anti-machista, graduado no MIT que ele não via há décadas. Esse choque de pensamentos era o ponto focal para transformar a história em algo diferente da enxurrada de filmes de ação cheia esteriótipos e clichês e quase sempre tratando as mulheres como acessório dos homens e gays como sinônimo de fraqueza. O filme não tem esse papel de levantar questões e perde uma boa oportunidade e argumento para organizar seu tom muitas vezes depreciativo. O longa segue JJ (Jessie Usher ), que pede ajuda a seu pai, Shaft (Samuel L. Jackson), para investigar a suspeita morte de um de seus melhores amigos. Juntos, a dupla se envolve em situações cada vez mais perigosas, até que o Shaft original se junta ao pai e filho. Com os problemas geracionais que atingem todas as famílias, os três precisam desvendar o mistério da morte do jovem, enquanto lidam com suas diferenças. Dirigido por Tim Story (Quarteto Fantástico) o elenco ainda conta com Regina Hall (Viagem das Garotas) e Method Man (The Deuce) no elenco. A produção termina não funcionando nem pela ação e nem pela comédia. Perderam uma boa chance de renovar o personagem e trazer algo inesperado. ESQUECÍVEL


O filme está disponível no catálogo da NETFLIX.

Hype: REGULAR


quinta-feira, 27 de junho de 2019

DIVINO AMOR (2019) de "Gabriel Mascaro"


Uma explosão neon semi-futurista muito bem filmado e produzindo que reflete um futuro distópico de um Brasil dominado por um movimento religioso que contamina a racionalização das pessoas. 

Essa seria uma definição direta do novo filme do diretor Gabriel Mascaro (Boi Neon), um dos diretores mais criativos e audaciosos dessa nova geração ao tratar temas como casamento, sexo, religião e fanatismo de maneira inteligente. A atriz Dira Paes se entrega ao papel de Joana, uma mulher que usa a religião como muleta em um mundo de desejos não realizados, insegurança, incertezas e caos calmo. Ela é o grande atrativo do filme assim como essa dualidade constante e sedutora de sua personagem em uma trama sem vilões ou obstáculos exteriores que não sejam a complexidade do sistema de crenças de uma sociedade longe de ser laica. Na trama Joana (Dira Paes) é uma mulher que atinge a meia-idade e ainda anseia por um bebê. Mas apesar de uma vida sexual ativa com seu marido Danilo (Julio Machado) eles ainda não conseguiram tal feito. Danilo inclusive usa um aparelho de fertilidade onde o pendura de cabeça para baixo na frente de uma lâmpada infravermelha, nu usando a engenhoca. Joana, uma mulher de fé aguçada se apega a espiritualidade para atingir tal sorte. Ela trabalha para o estado como escriturária em um cartório e, como tal, entra em contato com muitas pessoas que querem se divorciar. Ela toma para si, como uma boa mulher cristã, tentar consertar os casais em vez de registrar o fim de sua união sagrada. Ela faz isso sugerindo que eles visitem o Divino Amor, um grupo de auto-ajuda que Joana e Danilo estão envolvidos e que os ajudou em crise vivida pelo casal. Embora com tonalidade séria, é difícil não se divertir com as soluções futuristas encontradas pelo diretor para representar o Brasil do futuro, os personagens parecem possuídos pelo fanatismo religioso ao ponto de quase engolir qualquer tipo de consciência. Os trechos que se passam no grupo Divino Amor são polêmicos e causam furor no expectador assim como a igreja em drive-thru, um dos locais de culto onde Joana, com a janela abaixada do carro, reclama com o pastor (Emílio de Melo) sobre o fato de não conseguir engravidar, apesar de ter ajudado a cumprir o plano de Deus ajudando outros casais cristãos a se encontrarem novamente. Em 2027, ano que se passa a história, detectores na entrada de edifícios também são capazes de ler o DNA das pessoas para identificá-los e mostrar se estão grávidas e se o feto já foi registrado (o que indiretamente sugere que o aborto é proibido). Esses detectores e o banco de dados de DNA do governo terão um papel essencial no clímax do filme. Essas sacadas futuristas dão a entender o direcionamento das decisões conservadoras que essa parte da população apoia e seu reflexo no contexto do filme. Inicialmente o filme sugere que os rituais e crenças que vêm com a religião organizada podem ser calmantes e ajudar a estruturar a vida das pessoas, o que explica inclusive seu forte apelo nas periferias e a sua constante exaltação sobre uma vida melhor. Mas quando um tipo de evidência finalmente chega, ela provoca estragos de maneiras inesperadas, expondo fragilidades e algumas das contradições inerentes à religião. O que sugere que a teoria e a prática não estão alinhadas. Em geral, é uma obra que nunca precisa explicar como funciona sua logística, seja na seita do Divino Amor, na política adotada pelas ferramentas do futuro ou a governança, tudo está interligado, elas simplesmente são mostradas como normalidade. Todas concepções inteligentes e trabalhadas na trama demonstram um visão assustadora onde os direitos sexuais de todos que não são heterossexuais casados ​​tentando procriar estão em perigo e onde a maioria parece bastante relaxada em relação ao que suas crenças estão fazendo. O que fica evidente é que qualquer tipo de compaixão que tenha outras intenções além da empatia, não é compaixão mas uma forma de tirania. A utopia utilizada de maneira sucinta no filme é um dos maiores acertos de uma produção que tem grandes chances de ser uma fonte de frescor para o cinema nacional atual. DE CAIR O QUEIXO

O filme está em cartaz nos cinemas pela VITRINE FILMES.
Filme visto na Pré-estréia realizada em Brasília.

Hype: ÓTIMO

quarta-feira, 26 de junho de 2019

ANNABELLE 3 - DE VOLTA PARA CASA (2019) "Annabelle Comes Home" de "Gary Dauberman"


Novo exemplar do principal Spin-off de Invocação do Mal equilibra uma construção de trama e clima de terror com sustos moderados porém minimalistas e inocentes em uma produção que de tão modesta e charmosa agrada em sua concepção e execução. 

A cada filme inspirado no universo “Conjuring”, o nível de dificuldade em surpreender o expectador aumenta, os principais truques da franquia em causar sustos estão cada vez mais elaborados e em constante crescente, aliados também a tradicional técnica de som e imagem para aterrorizar o expectador. Annabelle 3 traz um atrativo a mais, o novato diretor Gary Dauberman que participou ativamente como escritor dos dois primeiros filmes da boneca, consegue  usar menos efeitos especiais e apostar em um silêncio perturbador, em uma atmosfera macabra e muito próxima de charmosas produções antigas de terror. Na trama, quando Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) deixam sua casa durante um fim de semana, a filha do casal, a pequena Judy Warren (McKenna Grace) é deixada aos cuidados de sua babá (Madison Iseman). Mas as duas entram em perigo quando a maligna boneca Annabelle, aproveitando que os investigadores paranormais estão fora de jogo, anima os letais e aterrorizantes objetos contidos na Sala dos Artefatos dos Warren. O filme é um deleite aos fãs dos demonologistas da vida real Ed e Lorraine Warren com foco maior em sua filha fornecendo uma série de eventos baseados nos principais casos investigados pela dupla, com pano de fundo no curioso e misterioso local onde eles guardam os objetos amaldiçoados sendo o ponto central da trama. No fim das contas, a boneca Annabelle não se torna efetiva sendo somente um meio de exposição a essas outras ameaças, isso seria talvez o principal ponto de desvio do filme, que poderia muito bem ser um exemplar menos empolgante de Invocação do Mal, por exemplo. A boneca assustadora Annabelle chamou tanta atenção no primeiro filme da franquia que mostrou o potencial para levar seu próprio filme. O primeiro filme decepcionou em vários aspectos porém conseguiu um sucesso de bilheteria estrondoso. No segundo filme, Annabelle 2 - A Criação do Mal, mostra uma outra vertente da personagem onde ela se mostra um portal para forças demoníacas, algo que fica bem claro já no início deste filme. Nada mais conveniente como Spin-off se juntar aos personagens do filme original em uma solução bastante interessante, ela acordar às forças do mal pressas com ela na sala aterrorizante aonde é mantida pelos investigadores. Esse direcionamento traz um gás não só ao filme quanto a personagem, Annabelle não é assombrada; em vez disso, a boneca serve como um ímã para outros espíritos. Com essa abordagem, o filme abraça a oportunidade de aparições de arrepiar em todas as direções, desde o uso de um inocente jogo de tabuleiro que se transforma em figuras fantasmagóricas como moedas sobre os olhos vagando pelos corredores além de uma noiva empunhando facas que aparece nos momentos mais inconvenientes. Outro ponto positivo é o equilíbrio em suas subtramas atraentes, focado nos jovens personagens em trama com pegada oitentista. A habitual seriedade quase sempre presente na franquia dá lugar a quase um terror adolescente e com tom mais despojado. Com baixo custo de produção e uma aclamação do público, arrecadando mais de 1,6 bilhão de dólares nos cinemas, esse assustador universo é uma das franquias de terror mais lucrativas do cinema. Talvez, nem o talentoso diretor James Wan imaginaria que uma simples produção de terror lançada em 2013 seria a nova sensação do terror moderno alimentando os cofres da Warner com mérito próprio, em buscar no sobrenatural uma boa forma de entretenimento. O filme termina com uma dedicatória a Lorraine Warren, a investigadora paranormal americana que inspira a personagem do filme morreu aos 92 anos em abril deste ano. Segundo o neto de Lorraine, Chris McKinnell, ela morreu sem sofrer durante o sono. TENSO NA MEDIDA CERTA


O Filme estréia nos Cinemas nesta Quinta- Feira (27/06) pela Warner.Bros

Filme visto na Cabine de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: BOM


terça-feira, 25 de junho de 2019

HOT CHIP - A BATHFULL OF ECSTASY (2019)


Grupo já veterano com quase 20 anos de carreira apresenta em novo álbum uma coleção de melodias agradáveis e dançantes que demonstram um fôlego extra em uma carreira consolidada e fora do mainstream. 

"Um banho cheio de êxtase" em sua tradução literal é a explicação mais certeira de "A Bathfull of Ecstasy", precisamente o encontro dos dois estilos distintos já evidenciados pela banda em trabalhos anteriores, seja estilosamente quente e dançante ou friamente calculista e hedonista. O domínio de seu estilo peculiar impressiona pela maturidade neste trabalho, tanto em baladas profundas e sentimentais para dias melancólicos como também em um moderno encontro musical do eletrônico com um pop positivista com o vocal contido e marcante de Alexis Taylor. A banda revigora o essencial de sua carreira nesse curtinho sétimo álbum com apenas 9 músicas, sem os tradicionais hits grudentos como "Over and Over", "Ready for the Floor" ou "Boy From School" que fizeram da banda presença obrigatória em pistas de dança descoladas com remixes contagiantes ou de festivais com pegada "Indie rock" com atitude pop. Formada por Alexis Taylor (vocal), Joe Goddard (backing vocal), Owen Clarke (Sintetizadores), Felix Martin (multi-instrumentalista) e Al Doyle (guitarra), o grupo explora os sons de uma maneira uniforme e bastante profissional com um cuidado extremo em cada composição explodindo qualidade musical. Confira nossas impressões Faixa a Faixa deste novo trabalho da banda! "Melody of love" abre o álbum com uma balada que ao mesmo tempo exala a cafonice do amor e celebra o sentimento contagiante de amar. Pode crescer um pouco  mais com versões em remixes, a versão original não chega a empolgar. "Spell" tem toda pegada moderna, noturna e contagiante, marca registrada da banda. É uma canção que bebe de uma fonte oitentista ao mesmo tempo que exala uma agradável melodia pop. Nossa favorita do álbum. "A Bathfull Of Ecstasy" que dá nome ao álbum consegue na medida que se desenvolve demonstrar sentimento na transposição da voz do vocalista Alexis Taylor distorcida com samples eletrônicos e uma batida com cara de fim de festa ao mesmo tempo que pode ser a música certa para viajar. Um som diferente que agrega a banda. Um acerto do álbum. "Echo" é aquela música que a cada audição apresenta leveza e brilho próprio. Tem estrutura de música pop com um charme que impulsiona sua audição principalmente pelo crescimento na batida dançante e meio sombria. Na medida para agradar. "Hungry Child" é quase aquele som que combina com qualquer estado de espírito, seja em um lounge como em um pista de dança movimentada. Já se iguala aos principais hits da banda, escolha certeira como primeiro single do álbum. "Positive" lembra talvez as influências da banda em uma som que bebe da mesma fonte de Depeche Mode e New Order provando o talento do grupo em compilar sons eletrônicos em formato de uma bela e contagiante canção lançando ao ouvinte sua positividade em forma de som. Viciante! "Why does my Mind" é uma canção tão doce e afetiva que faz esquecer toda melancolia que a banda já produziu nos trabalhos anteriores, encontra o tom musical certo da mensagem que busca passar. Agradável. "Clear Blue Sky" evoca uma enganosa linha melancólica e surpreende pelo som quase como uma bossa-nova eletrônica ou como se Beatles fizesse uma canção eletrônica, cresce no minuto final esbanjando qualidade."No God" fecha o trabalho com aquela sensação de dever cumprido em uma canção que olha pra cima e esbanja energia positiva, quase como um abraço. A Bathfull Of Ecstasy chega como um dos trabalhos mais sólidos da banda e superando com sobra o último álbum lançado, o apagado porém agradável Why Make Sense? de 2015. A banda prova seu frescor como um bom vinho que melhora cada vez mais seu sabor com o passar dos anos. ECSTASY VIBES!

                                                             MÚSICA FAVORITA: Spell



O álbum possui 9 músicas inéditas disponíveis nas principais plataformas digitais de streaming.

O Hot Chip já se apresentou várias vezes no Brasil e está confirmado no line-up do Popload Festival, que acontece no mês de Novembro em São Paulo.

Hype: ÓTIMO

segunda-feira, 24 de junho de 2019

DEMOCRACIA EM VERTIGEM (2019) "The Edge of Democracy" de "Petra Costa"


A Netflix apresenta e distribui o documentário que movimentou o festival de Sundance com um retrato íntimo e simbólico de Petra Costa sobre a política tóxica e caótica feita no Brasil e também como esse momento nefasto do país representa a tendência mundial de retrocesso político. 

Os desdobramentos mostram o surgimento de uma "direita" no Brasil que busca o poder a todo custo sem obedecer qualquer tipo de democracia, com argumentos estapafúrdios para fomentar o ódio ao seu inimigo mais feroz, a "esquerda" brasileira e ainda pior, com forte aclamação popular pressionada pela a alienação em massa. Esse é o retrato do Brasil mas poderia ser de qualquer lugar do mundo. A política primitiva realizada no país é mostrada ao mundo e traz a seguinte reflexão: Existe uma democracia? Se sim, como nós brasileiros assistimos a todos os acontecimentos dos últimos anos e deixamos o mais bizarro golpe de estado manchar nossa história. O documentário trabalha os vícios de pensamentos que tomou conta de toda população principalmente em reflexo da última eleição, onde se mostra como a relação promíscua da luta pelo poder com a política deu voz a mediadores de um espetáculo, seja em prol de dinheiro, religião ou apenas para chegar ao poder. O que assistimos em grande parte são políticos em um círculo fechado distraindo a mídia e o povo em uma falsa luta contra o próprio sistema que eles corrompem, o argumento principal usado constantemente é uma luta contra a corrupção com total foco em derrubar o Partido dos Trabalhadores em ações questionáveis, seja por um impeachment forçado pelo partido do candidato derrotado na eleição de 2014, uma operação Lava Jato pouco autêntica sobre seus princípios e objetivos ou de uma explicação em Power Point pouco convincente para justificar a prisão do ex-presidente Lula. Essa colagem de fatos é um retrato furioso, íntimo e assombroso do recente recuo do Brasil, mostrando um país sendo lançando diretamente para as mandíbulas abertas dos mesmos pensamentos que causaram males como a ditadura. Os fatos são narrados suavemente por sua diretora acompanhados de sua visão pessoal e poética juntamente com uma trilha sonora que contagia e assusta na mesma medida. Essa interessante visão dos acontecimentos e escândalos políticos do Brasil é lançada ao expectador quase como uma lição de história, que certamente será censurada nas escolas pelo atual governo e seu disfarce da "escola sem partido". As pessoas precisam ver Democracia em Vertigem e discutir suas próprias ações e reações, debater idéias sem militância e com os fatos expostos, algo que o documentário resume com várias imagens de como o Brasil se comportou vendo seus líderes caírem. Esse exercício constantemente é mostrado no filme com entrevistas a pessoas comuns, de fora dos holofotes, com reações tímidas, contidas mas que possuem seu valor. Os fantasmas que assolam as duas vertentes de pensamento mostram o que já sabemos, um país rachado ao meio embasado com símbolos e imagens documentais. Todo trabalho histórico possuí um ótimo registro que enriquece ainda mais o material e foge da abordagem didática de outro  documentário, O Processo (2018) ou mesmo das  articulações político-partidárias como abordado em Excelentíssimos (2018), que infelizmente nem conseguiu chegar aos cinemas por motivo óbvio, o filme de Petra fecha muito bem esse ciclo de boas obras que tentam explicar um pouco dessa confusa situação política, agora com a oportunidade de alcançar um número maior de expectadores. Essa geração que consume Netflix sem qualquer filtro vai conhecer o nascimento da era do "fake" patriotismo disfarçado de autoritarismo e fundamentalismo religioso misturado com a adoração ao fascismo e o uso do militarismo como ferramenta de ordem, causando um retrocesso histórico no país. Esse cenário parece uma prévia do que está vindo para toda a América em um fluxo da política corrosiva do presidente americano Donald Trump somado a um país tentando se reconstruir da pior maneira possível, preso a esse passado nebuloso. Lula, Dilma e o PT foram os vilões eleitos por uma corrupção sistêmica e estrutural realizada por quase todos políticos e partidos, mas são eles que pagam o preço de todos, desgastam sua imagem em um caminho sem volta e de um futuro sem qualquer chance de retratação do peso da culpa. A obsessão dessa militância verde e amarela que se formou por derrubar o PT usando pensamentos retrógrados, fake news e políticos laranjas não se mostra nada consistente para mudar o país. Há um trecho no documentário que talvez represente isso muito bem, no momento antes da prisão de Lula, onde o mesmo diz que se entrega a polícia para provar que ele não é o mal que assola o país e talvez essas pessoas que compartilham dessa opinião um dia enxerguem a duras penas a verdade dos fatos. Independente da posição política do expectador, fica claro que Lula é um dos lados na qual o país se dividiu, o outro é do atual governo do Brasil que tem como líder a representação de tudo de ruim que um político pode ter, inclusive, de lutar por um tipo de sistema que já caiu a muitos anos atrás junto com uma Ditadura Militar. São duas frentes irreconciliáveis e sem previsão para um fim. O trecho final do documentário reforça seu papel de causar reflexão mesmo que pessimista sobre o futuro. O documentário tem produção caprichada e chega no momento certo para tentar resgatar um pouco de serenidade desse cenário tenso que vivemos atualmente. REGISTRO OBRIGATÓRIO!

"Um escritor grego disse uma vez que a democracia só funciona quando os ricos se sentem ameaçados, caso contrário o poder vai de pai para filho, de filho para neto, de neto para bisneto e assim sucessivamente, somos uma república de famílias, umas controlam a mídia outros os bancos... de vez em quando acontece dela se cansar da democracia do estado de direito. Então, como lidar com a vertigem de ser lançado em um futuro que parece tão sombrio quanto nosso passado mais obscuro? O que fazer quando a máscara da civilidade cai e o que se revela é uma imagem das mais assustadoras de nós mesmos, de onde tirar forças para caminhar entre as ruínas e começar de novo." Trecho do filme narrado por Petra Costa.


Filme disponível no catálogo da NETFLIX

Hype: ÓTIMO

domingo, 23 de junho de 2019

PETS 2 - A VIDA SECRETA DOS BICHOS (2019) de "Chris Renaud"



Continuação perde o caráter de novidade e ganha em simplicidade, elemento que faltou no tumultuado e divertido primeiro filme. 

A crônica urbana dos bichos de estimação da produtora Illumination, conhecida principalmente por conta dos Minions, consegue se organizar mesmo com trama descompromissada e fonte de boas e fúteis risadas para as crianças. Quem espera inovação no enredo ganha uma história episódica investindo na doçura dos personagens e lições importantes para os pequenos. A história separa os bichos em três frentes. O carismático cachorro Max (um cachorrinho "Jack Russell Terrier", agora com a voz de Patton Oswalt, substituindo o astro original o comediante Louis C.K, envolvido em confusão!) ele lida com a ansiedade das constantes mudanças em sua vida e é o ponto central do filme. Acostumado com uma vida urbana e nada pacata, o cachorrinho vai precisar da ajuda de seu interesse amoroso, a animada "Lulu-da-Pomerânia" Gigi (Jenny Slate), encarregada de cuidar do seu querido brinquedo "Abelhinha" enquanto ele embarca numa repentina viagem a uma fazenda, o brinquedo se perde em um apartamento aterrorizante de uma senhora cheio de gatos, necessitando uma missão de resgate. Na terceira vertente, o coelhinho Bola de Neve (Kevin Hart), acredita ser um super-herói e une forças com a novata cachorrinha Shi-Tzu, Daisy (Tiffany Haddish) para salvar um filhote de tigre de um circo que o maltrata. Para uma franquia que é, literalmente  sobre a domesticação animal, o filme busca esse caráter ativista em prol aos maus tratos e acerta na abordagem. Cada trama paralela tem seu peso mesmo nas reviravoltas narrativas e nas histórias que nem sempre se conectam. Isso ao mesmo tempo dá protagonismo aos personagens mas gera uma sensação quase de "Spin-off". Não chega a ser uma problemática e essas vertentes dão sobrevida a trama. Na história que se passa na cidade de Nova York, a vida de Max e Duke mudam bastante quando sua dona se casa e tem um filho. De início eles não gostam nem um pouco deste pequeno ser que divide a atenção, mas aos poucos ele os conquista. Não demora muito para que Max se torne superprotetor em relação à criança, o que lhe causa uma coceira constante. Quando toda a família decide passar uns dias em uma fazenda para relaxar, os cachorros enfrentam uma realidade completamente diferente com a qual estão acostumados onde também a turma é separada e a história acontece simultânea em três lugares. O primeiro "Pets" ressaltava o ambiente urbano e domesticado, desta vez Max precisa desbravar um outro ambiente cheio de novidades e margem para seus ataques de neuroze, ele continua como "carro chefe" agradando os espectadores adultos e as crianças. O tranquilo e relaxado casa-nova, o cachorro Duke, chega como braço direito de Max, que no primeiro filme lutava com intromissão dele em sua vida. A relação dos dois está bem mais desprendida mostrando que as desavenças do primeiro filme foi resolvida. Em Pets 2, as histórias são leves em suas nuances, Max sofre com seu problema de coceira (gerando uma divertida cena no Veterinário), sua neurose ainda o abala enfrentando a adaptação ao marido de Katie, sua dona, o bebê e ainda devido a viagem para a fazenda, um novo cão: o grosso Galo (Harrison Ford). A continuação evolui as "gags" de cada personagem e preenche os espaços vagos com menos necessidade de aventura, mesmo que ela esteja na história de forma mais consistente. Encantadora, com belos traços e muitas vezes engraçada, há uma sensação de que o escritor Brian Lynch percebeu que a história merecia um preenchimento mais sútil. Chris Renaud, conhecido por seu trabalho em Meu Malvado Favorito 1 e 2 segura um pouco a onda no excesso de informação controlando a hiperatividade tradicional. Há inclusive personagens que mereciam mais na trama como a gata Chloe, o felino mais hilariante e realista da franquia. (Chupando bolas de pêlo, dormindo muito, odiando a todos - Chloe tem tudo isso e deveria ter mais tempo de tela!) O filme oscila entre as histórias, embora cause desconexão e crie uma sensibilidade episódica, o afasta do original e tenta trazer algo diferente. Com um elenco estelar de vozes, tanto no som original quanto na versão dublada temos um bom trabalho feito por uma dublagem também ágil na versão nacional. Destaque para Luiz Miranda dublando Bola de Neve, Danton Mello (Max), Thiago Abravanel (Duke) e Dani Calabresa (Gigi). Pets 2 tem cara de férias escolares e diversão em família e não foge muito desse objetivo mesmo em uma temporada com uma concorrência de peso com filmes muito mais elaborados que uma inocente e divertida história sobre bichos de estimação. BOM PASSATEMPO


O filme chega aos cinemas nesta próxima Quinta-Feira (27/06) pela Universal Pictures.

Filme visto na Sessão de Imprensa realizada em Brasília!

Hype: BOM 

sábado, 22 de junho de 2019

TOY STORY 4 (2019) de "Josh Cooley"


Novo filme da Pixar é uma empolgante e divertida aventura que agrada aos fãs e termina como uma boa distração para as crianças. 

A necessidade de reabrir o arco de Toy Story surge logo após um dos desenhos mais difícies a ser batido, Toy Story 3 que teve a ousadia de forçar seus brinquedos a literalmente encarar a morte e, por extensão, incentivar os espectadores a contemplar sua própria razão de viver, era o ponto final de uma trilogia muito bem amarrada e talvez historicamente emocionante do cinema. Em Toy Story (1995) o enredo mostrava a relação do antiquado caubói Woody com o moderno boneco Buzz Lightyear (Tim Allen). Em Toy Story 2 (1999) a saga revelou o passado do caubói como uma celebridade da TV e, depois, colocou em xeque o destino dos brinquedos após o fim da infância de seu dono, Andy. Tudo parecia resolvido com a transferência da turma para a garotinha Bonnie em Toy Story 3 (2010). Com a decisão da Pixar/Disney de arriscar e reabrir o universo dos brinquedos, certos laços realizados com o expectador nesses três filmes são desconstruídos para abrir brechas e se contar uma nova história não oferecendo nada que transcende todas as mensagens já ditas anteriormente. É quase um novo começo. São novos personagens mas a mesma velha história envolvendo os brinquedos, sendo uma divertida repetição de idéias e enredos anteriores, o quarto filme é um exercício alegre e doce que não tem o mesmo impacto dos anteriores e certamente cria um caminho para continuar indo ao alto e além, mesmo sem precisar, costurando uma nova trama com pequeno fundo no drama (sem melancolia desta vez!) e novamente uma lição será aprendida nessa aventura mesmo que esse filme seja bem mais solar que o terceiro filme. Nessa jornada temos um novo brinquedo  quando Bonnie (nova guardiã dos brinquedos eleita por Andy) precisa sair para seu primeiro dia na escola, Woody entra em sua mochila para ficar de olho nela, e testemunha a pequena Bonnie fazendo um brinquedo de um garfo de plástico que ela chama de Garfinho ou "Forky" no original e o leva para casa. Ele é o elo que Bonnie possui nesse novo desafio de enfrentar o medo de um ambiente inicialmente assustador fora de casa e com outras crianças. (Isso não é aprofundado no desenho, uma pena!). As camadas interessantes desse novo personagem, Garfinho (dublado originalmente por Tony Hale) dá um gás no que pode ser um direcionamento para a franquia, o personagem não pertence a uma grande corporação de brinquedos, ele não se acha importante na vida de Bonnie ou de qualquer outra coisa, se acha apenas lixo. Woody precisa convencer Garfinho do seu importante papel não só na vida de Bonnie como justificar sua própria existência. (o arco do Garfinho é divertido e ganha um final digno!). Surge algumas questões que ficam no ar, qual a real importância de um brinquedo feito pela própria criança e se existe um elo primitivo nessa construção ou se automaticamente ele joga com as mesmas regras que todos os outros brinquedos, o personagem do Garfinho se perde em uma loja de antiguidades quando a família faz uma viagem, e Woody e sua turma têm que resgatá-lo. Eles encontram novos personagens: uma boneca assustadora chamada Gabby Gabby (Christina Hendricks) com assistentes ventríloquos sinistros (Ótima adição!). Há uma nova e divertida dupla, Bunny e Duckie (Jordan Peele e Keegan Michael Key) e um muito divertido piloto de motos canadense, Duke Caboom (Keanu Reeves). Todos acrescentam bastante a trama que praticamente foca em Bonnie, no Xerife Woody (dublado originalmente por Tom Hanks) e em Garfinho, o novo brinquedo construído por Bonnie com objetos do lixo e feito em seu primeiro dia de aula baseado em um garfo de verdade. O novo posto de brinquedo favorito não o agrada nem um pouco, o que faz com que Garfinho tente fugir de casa. (Essa quebra com um brinquedo rebelde faz bem a história). Decidido a trazer de volta o atual brinquedo favorito de Bonnie, Woody parte em seu encalço e, no caminho, reencontra seu "crush" Bo Peep, (Betty, na versão dublada em português), a bonequinha de porcelana cujo rumo era, até então, um mistério, agora é independente e vive em um parque de diversões. Nesse meio tempo eles vivem uma assustadora aventura dentro de um antiquário. O enredo bate um caminho familiar, com os brinquedos mais uma vez separados. A insistência de Woody em querer manter a ordem soa um pouco hesitante tendo em vista que esse fluxo é o natural dos brinquedos, infelizmente! Mas tudo é realizado de forma admirável. A inclusão de novos brinquedos na mesma medida que inspira a trama retira o foco dos brinquedos antigos, alguns são quase coadjuvantes de luxo nesse filme. O arco da loja de antiguidades é o lugar perfeito para o andamento da aventura. O clima de terror que se forma certamente vai fazer as crianças pular das cadeiras além dos manequins de ventríloquos, naturalmente assustadores. A qualidade técnica do desenho está em um nível espetacular de traços e profundidade de campo, nuance e expressão, a tecnologia traz aos personagens uma característica completamente realista e particular a cada um. É um deleite aos olhos. Os novos brinquedos ou recrutas trazem frescor ao desenho e ainda um trabalho de voz excelente, a versão brasileira também continua impecável. Talvez a principal decepção do desenho seja a pífia participação do astronauta Buzz Lightyear (Tim Allen, no original) não tendo quase importância na trama. A franquia que praticamente inaugurou a produtora Pixar em 1995 sendo o primeiro desenho todo realizado por computador antes mesmo do estúdio ser um dos principais braços da Disney junto com a Marvel e a LucasFilm, Toy Story chega a sua quarta aventura perdendo fôlego e tudo que construiu em sua trilogia bastante estável. Nada grave, o desapego com tudo vindo de grandes estúdios é necessário até mesmo por não saberem nunca a hora de parar em prol do lucro. Esta aventura tem cara daquelas continuações que a Disney realizava direto para Home Vídeo de seus clássicos desenhos, era uma forma de matar a saudade dos personagens favoritos mas também não há nada de especial além do fator afetivo. O final fecha esse arco dos personagens de forma corajosa e necessária mesmo que existam pesos e medidas, se eles desejam levar adiante a franquia vão precisar voltar ao lado mais filosófico da existência dos brinquedos. Obs: Há cena pós créditos! O FIM NÃO TEM FIM!


O filme está em cartaz nos Cinemas pela Disney!

Hype: BOM

sexta-feira, 21 de junho de 2019

ESPÍRITO JOVEM (2019) "Teen Spirit" de "Max Minguela"


Filme é uma boa surpresa, com trama até de certa forma previsível mas focada em uma experiência musical e sensorial de espírito independente.

A produção se torna um carrossel de sentimentos frios na trajetória que move sua personagem principal em um conto de fadas moderno que se desdobra como um espetáculo pop em sua vertente musical e efêmera. A personagem do filme, a garota Violet, assim como qualquer músico, deseja o sucesso e acredita no seu talento buscando a sorte em uma competição musical como meio para mostrar suas habilidades e mudar de vida. Tudo ganha corpo quando uma seletiva para o Reality Musical "Teen Spirit", que busca jovens talentos chega em sua cidade. Esse fio condutor da história entra em contraste com a realidade da explosão desses reality shows aonde jovens cantores lutam por mostrar para um número maior de pessoas sua credencial para a fama e o sucesso. A visibilidade é o canal para se chegar a uma gravadora, a um contrato rentável ou talvez apenas a um sucesso passageiro antes de sumir dos holofotes. Esse tipo de programa estourou na década passada com vários exemplares pelo mundo todo como o American Idol, o Eurovision e o The Voice, esse último, o único que fez sucesso no Brasil em versão nacional realizada pela Globo. Porém, a exigência e a pressão de ter uma apresentação perfeita nesses programas assim como o corpo de jurados que geralmente querem chamar a atenção para si já quebram toda relevância dos mesmos que geram uma enxurradas de cover's que muitas vezes fazem até mais sucesso que a própria música original mas não vão além disso. É uma mecânica de indústria movida pela audiência e pelo apelo popular. No filme toda essa construção está focada em Violet e em seu sonho de mudar de vida com seu talento musical e como tudo em sua vida é reflexo desse desejo e de toda sua angústia e inexperiência dessa trajetória. A interpretação de Elle Fanning (Demônio de Neon e Mulheres do Século 20) consegue transparecer todo esse sentimento, raramente se vê a personagem sorrindo ou se divertindo como se estivesse satisfeita com seu desempenho, a pegada é diferente de filmes como a A Escolha Perfeita ou do seriado Glee, por exemplo, ela é focada em seu objetivo. O filme exalta Violet e o seu sonho de cantar, Fanning carrega o filme nas costas inclusive vocalmente cantando as principais canções com muito talento em uma boa trilha sonora. Destaque também para a bela fotografia de Autumn Durald-Arkpaw que mistura luz natural e neon aos cenários urbanos e bucólicos que combinam perfeitamente com o imprevisível sucesso meteórico dessa delicada garota do interior no meio de uma indústria que constrói e destrói na mesma medida. O filme  tem o mesmo produtor de “La La Land” e a direção do estreante Max Minghella (ator), que encarou o desafio de encontrar uma protagonista que fosse capaz de cantar, dançar e atuar em sua proposta de criar uma experiência sensorial e audiovisual convincente. A busca chegou ao fim quando Elle Fanning enviou ao diretor um vídeo de si mesma tocando com o músico francês "Woodkid" no Montreux Jazz Festival, em 2016. A atriz ainda marcada por sua atuação no live-action Malévola, ganhou então o papel. Na trama Violet é uma adolescente que sonha em ser uma estrela e deixar para trás a cidade onde vive e a mãe religiosa que, sem compreendê-la, prefere que fique “presa” ao coral da igreja. Sua história muda quando em uma de suas performances passionais para uma plateia apática, ela conhece Vlad (Zlatko Buric), um cantor de ópera aposentado que é tão simpático quanto alcoólatra. Quando o concurso "Teen Spirit" passa pela Ilha de Wight, Violet precisa de um tutor e Vlad de um motivo para viver, formando uma dupla improvável. No concurso, que dá nome ao filme, uma espécie de "The Voice",  o sucesso acontece, o que a leva a descobrir o bônus, mas também o ônus da fama, como relações por interesse e perda de identidade. Conduzido com muitas músicas, a trilha trás hits de referências POP como Ariana Grande, Robyn, Grimes, Katy Perry, entre outros, além de uma música original interpretada por Fanning, composta por Carly Rae Jepsen e Jack Antonoff. O drama musical cumpre muito bem seu papel de entretenimento e se entrega na construção de imagens e ângulos de sua musa Violet e seu conto de fadas moderno e sútil, mesmo sem ir a fundo nas diversas problemáticas do roteiro simplista e coadjuvantes apagados, é um bom passatempo. Destaque para o clímax e a apresentação de Violet ao som de Don’t Kill My Vibe da cantora Sigrid que traz a ruptura da personagem em um dos poucos momentos que ela sai de si. CLICHÊ POP BEM REALIZADO


O Filme está em carta nos Cinemas distribuído pela Diamond Films!

Filme visto na Sessão de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: BOM

terça-feira, 18 de junho de 2019

TURMA DA MÔNICA - LAÇOS (2019) de "Daniel Rezende"


Adaptação em "live action" da HQ Laços da Turma da Mônica publicado em 2013  apresenta um gosto refinado de infância com os personagens do universo mágico criado por Mauricio de Souza em uma aventura fiel as expectativas de quem algum dia já embarcou nessa viagem lendo os gibis dos personagens. 


Assim como os mais antigos já apreciaram produções como Conta Comigo, Os Goonies e Os Batutinhas, essa geração ganha um presente memorável em um filme gracioso sobre como superar questões pessoais em prol de um bem maior, o coletivo, em uma mensagem linda e emocionante sobre lealdade e amizade. Em seu segundo longa metragem como diretor, Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) consegue envolver o espectador na medida certa, principalmente quanto aos aspectos comuns da personalidade de cada personagem muito ressaltadas nos quadrinhos criando algo consistente e realista. Cascão tem pavor de água e banho, Magali ama comida e adora a cor amarela, Cebolinha tem os cabelos arrepiados para cima, troca o R pelo L, adora verde e tem planos infalíveis, Mônica é a líder do grupo, dentuça, adora vermelho e só anda com seu coelho de pelúcia Sansão. O trabalho com as crianças ficou impecável, obviamente, seria impossível ser idêntico ao quadrinho mas é fiel o suficiente, as crianças atuam de forma espontânea mesmo transparecendo um pouco de inexperiência em tela. O humor leve e descontraído do filme feito especialmente para crianças sem subestimá-las, não apela para piadas rasteiras sendo acessível aos adultos, é um dos acertos do filme. A aventura segue quase fielmente os traços dos quadrinhos até mesmo nos detalhes além de possuir "easter eggs" que aparecem pelo filme que certamente deixarão o fã mais atento viajar nas referências. Os cenários são lindos juntamente com a fotografia, tudo bastante inspirador e cuidadosamente realizado, o bairro do Limoeiro é bem bonito com uma cenografia colorida e cheia de elementos da época retratada. O filme se passa nos anos 80 e tem alguns aspectos lúdicos. Outro destaque vai para a participação de Rodrigo Santoro, que mesmo com pouco tempo em tela é suficiente para ser marcante. O personagem do ator, o Louco, não aparece na HQ que inspiraram o longa mas sua cena no filme funciona muito bem e ajuda a passar a mensagem do filme: a amizade acima de tudo. Também fazem parte do elenco adulto os atores Paulinho Vilhena, como pai do Cebolinha e Mônica Iozzi, como mãe da Mônica. Fafá Rennó interpreta muito bem a Dona Cebola. Os adultos são coadjuvantes de luxo e o foco é todo nas crianças. O filme tem uma trama bem simples. Depois de falhar em mais um plano para raptar Sansão, o bicho de pelúcia de Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto) descobre que Floquinho, seu cachorro de estimação, desapareceu. É então que Mônica, Cascão (Gabriel Moreira) e Magali (Laura Rauseo) se unem a ele para tentar reencontrar o peludo. A aventura fica perigosa quando as crianças acabam entrando em uma floresta em busca do cachorrinho, sendo o principal desafio de quem acompanha a trama torcer e se preocupar com a segurança das crianças nessa aventura repleta de riscos e também de valiosas lições. O filme encontra o tom certo para abordar sua problemática e consegue usar tudo que ele tem a seu favor. Destaque para a linda canção "Laços" interpretada por Tiago Iorc que emociona sem ser melancólica assim como toda trilha sonora que acompanha a parte dramática do filme. O vilão é leve na medida certa para uma produção infantil. Maurício de Souza é nosso Stan Lee, criou um universo fantástico com personagens em grande parte inspirados em seus filhos e também em sua imaginação, um mundo mágico que a bastante tempo já mora em nossos corações, o próprio se emocionou bastante a ver o filme, afinal, essa transposição para o cinema era um desafio enorme e foi superado com bastante louvor. Os fãs, o público e o cinema nacional agradece! O filme chega ao patamar de produções infantis memoráveis do cinema nacional como Menino Maluquinho, Castelo Rá Tim Bum e Tainá, que não devem em nada para produções estrangeiras esbanjando qualidade e carisma. A próxima adaptação aos cinemas já está confirmada e será "Lições" que ganha forma antes mesmo da estréia desta incrível adaptação "Laços". A Turma da Mônica chega aos cinemas com um filme digno de sua trajetória dos quadrinhos e também ressaltando seu forte papel como entretenimento na vida de todos. UMA DECLARAÇÃO DE AMOR A INFÂNCIA




O filme estréia dia 27 de Junho nos cinemas! 

Filme visto na Cabine de Imprensa realizada em Brasília!



Distribuído pela Paris Filmes e Downtown Filmes 



Produção da Globo Filmes, Biônica Filmes, Quintal Digital, Paramount Pictures, Mauricio de Souza Produções, Latina Estúdio e Paris Entretenimento.

Hype: OBRA PRIMA



segunda-feira, 17 de junho de 2019

DOR E GLÓRIA (2019) "Dolor y Gloria" de "Pedro Almodóvar"


Pedro Almodovar realiza resumo de sua carreira em uma "pseudo" biografia, Antonio Banderas e Penelope Cruz dois simbólicos artistas para o diretor fazem parte dessa viagem em sua sua vida e obra. 

Assistir ao filme, que é mais sobre dor do que sobre glória, é quase que uma conversa com um idoso doente, aonde você escuta todo seu relato de dor, mas não se sente confortável de falar sobre isso. Qualquer cinéfilo que admira o diretor vai encontrar os principais caminhos e referências de sua obra sem ter que assistir todos os filmes de sua filmografia, já para a nova geração o filme não chega ter o frescor necessário para estimular o expectador a conhecer suas histórias por ser um resumo autobiográfico "disfarçado" feito por ele mesmo, soa erroneamente quase como uma história para enaltecer seu ego ou talvez se fosse realizado por outro diretor não teria a força que tem como uma homenagem rica em detalhes e com cuidadoso requinte. Próximo de seus 70 anos Almodovar celebra seu amor por seus filmes que ele mesmo duvidou no passado e este "Dor e Glória" tem todas as coisas que apreciamos sobre ele: a importância das mulheres (especialmente sua mãe), a nostalgia desavergonhada, a acidez nas questões religiosas, o consumo excessivo de drogas e a celebração da sexualidade, tudo exposto a sua maneira sem cortes ou qualquer tipo de pudor, nesse aspecto ele acerta em cheio para tirar a sensação de exaltação de si mesmo. Evidente que quem possui laços mais amarrados com ele observe com carinho sua intenção ao expor relatos bastante pessoais sobre sua vivência humilde e cheia de obstáculos principalmente com sua saúde, isso é explicado de maneira extremamente didática logo no início do filme. No fim das contas ele busca em seu alter-ego encontrar algo novo a dizer. Antonio Banderas vive o ator de 60 anos Salvador Mallo, um autor que enfrenta problemas de criatividade causados ​​por problemas de saúde. O filme começa com uma sequência arrebatadora  elegante e abstrata já nos créditos exibindo cores marmorizadas que sugerem como passado e presente, fato e ficção fluirão um para o outro, vemos Salvador simbolicamente suspenso debaixo d'água, isolado do mundo, uma imagem inicial apropriada para uma figura admirada porém problemática. Um dos filmes de Salvador, um item do final dos anos 1980 chamado "Sabor" está prestes a receber uma homenagem da Cinemateca Espanhola. Para registro, Sabor remonta à época  em que o diretor idealiza uma trilogia pessoal que começou com A Lei do Desejo (1987) e continuou com Má Educação (2004) e termina nesse longa. Para celebrar a homenagem ele aciona sua assistente de sofrimento Mercedes (Nora Navas) e contata o ator rebelde Alberto Crespo (Asier Etxeandia), com quem não fala há 30 anos. Pensativo, Alberto não perde tempo em introduzir Salvador aos prazeres de fumar heroína. Isso vem como um alívio para Salvador, um escravo de remédios cujo o corpo é atormentado por uma assustadora gama de problemas físicos e após uma operação atrasada, se comporta como alguém 10 anos mais velho que ele é. Ao descobrir um texto que Salvador escreveu sobre seu passado, Alberto insiste em realizá-lo como monólogo em um pequeno teatro de Madri. Assim, os dois homens são capazes de reviver um ao outro seus impulsos criativos falhos. Sentado de olhos lacrimejantes no público está o argentino Federico (Leonardo Sbaraglia), que teve um caso com Salvador muitos anos antes e que agora aparece na porta de Salvador para ajudar a entregar a cena mais sublime do longa e lindamente escrita. A cena é um beijo entre dois homens de meia idade que só agora, anos depois, se sentem capazes de confessar o desejo que permaneceu enterrado dentro deles. Na intensidade de sua humanidade, isso é completamente diferente de qualquer outra coisa no filme, é um ponto chave. A cena termina com Salvador sorrindo pela primeira e última vez. Essa cena talvez seja o ápice do filme que praticamente realiza uma colagem da vida de Almodóvar. O diretor usa os pensamentos de Salvador e todas as suas memórias como guia para o direcionamento de seus filmes com dois exemplos claros. Quando mais jovem interpretado por Asier Flores, de 9 anos, era jovem, o dinheiro era apertado, e sua mãe, Jacinta (Penélope Cruz, reprisando um papel similar ao que desempenhou em Volver) é obrigada a criá-lo em uma casa chamada de caverna e quando Salvador se destaca em um coral, (o tema, tratado extensivamente em Má Educação, se desenrola nos problemas da garganta), dentre outros momentos integrados que talvez só um cinéfilo ou fã do diretor realiza o link com sua intenção. Nesse flashback ele aproveita para mostrar seus primeiros lampejos de seu despertar sexual quando, de olhos arregalados e culpados, vê o pintor Eduardo (César Vicente, estreante) se secar, nesse quesito usando ferramentas muito mais eficientes que em Má Educação. Detalhe para a fotografia do filme, excepcional e o elenco com performances excelentes, com a sempre enérgica Penélope Cruz, com Antônio Bandeiras se entregando ao papel ( ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes) e os estreantes e carismáticos Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia que também se destacam. A visão de Almodovar nesse filme é quase um almanaque para seu trabalho deixando pouco espaço para ir além do que temos curiosidade de saber em uma construção perigosamente confortável e apresentada como um exercício estranhamente imparcial e impessoal mesmo que de certa forma brilhante e atrapalhada por uma narração meio desnecessária e de um excesso de complexo de gênio torturado. OLHANDO PARA DENTRO.



O filme está em cartaz nos Cinemas pela Universal Pictures!

Hype: BOM




sexta-feira, 14 de junho de 2019

MADONNA - "Madame X" (2019)


O 14º lançamento de estúdio da cantora Madonna é uma explosão musical de uma pluralidade impressionante que funciona nas mais variadas sub-camadas de ritmos que melhoram a cada audição e o fazem ser uma aventura musical bastante atual e bem composta dentro de cada canção. 

Imagine viajar vários países e culturas em um breve espaço de tempo com toda qualidade de sua produção assim como todo trabalho estético-musical que Madonna tem em cada canção. As aparições de Anitta, Maluma, Quavo e Swae Lee encaixam em suas devidas composições que buscam essa integração universal realizada de forma experimental pela cantora seja no Fado Português, no Batuque Cabo-Verdiano, no Reggaeton ou até mesmo no Funk com Samba de "Faz Gostoso". As faixas funcionam cada uma em seu devido lugar demonstrando espontaneidade principalmente com o pop latino aonde Madonna leva quase como carro chefe do trabalho. A música da cantora sempre teve um poder íntimo e oculto que transcende seus anseios e envolve a cultura pop com sua mensagem, seu caráter vanguardista volta levemente nesse disco e atinge sua maturidade em sua visão de raiva sobre líderes mundiais como Donald Trump e a inclusão de outros ritmos. Seu papel sempre foi confrontar em seus trabalhos e seu atrevimento foi sumindo com o passar do tempo. Madonna foi ícone na decáda de 80 com uma série de discos bem-sucedidos que trouxeram a popularidade, quebrando as barreiras do conteúdo lírico de sua música e sua identidade visual de cada trabalho. Ao longo de sua carreira, várias de suas canções se tornaram bastante lembradas e executadas, dentre elas "Holiday", "Like a Virgin", "Material Girl", "Into The Groove", "Crazy For You", "Papa Don't Preach", "Open Your Heart", "La Isla Bonita", "Like a Prayer", "Express Yourself", "Vogue" e outras. Quatro anos atrás, em seu álbum “Rebel Heart”, ela apostava em produtores cobiçados do pop, colaborando com nomes como Diplo e Avicii e se aproximando do Hip-Hop com a ajuda de Mike Dean (produtor de Kanye West, que também atua no novo disco). O trabalho não decolou e ela estacionou. Ficou claro e necessário uma renovação. Suas principais influências desse trabalho são os pintores surrealistas, em especial Frida Kahlo, de quem coleciona quadros em sua casa. A mexicana é referência para toda a estética de “Madame X”, mas sua influência também pode ser vista na arte da capa do álbum. Confira nossa opinião faixa a faixa. "Medellin" abre o álbum em parceria com o cantor colombiano Maluma, a faixa já havia sido divulgada e inclusive ganhou apresentação milionária na premiação Billboard Music Awards, a cantora gastou 5 milhões com os dois artistas e contou com efeitos especiais de computação gráfica que incluíram vários hologramas de Madonna no palco. A música injeta algo diferente na música latina praticada atualmente e cresce a cada audição. "Dark Ballet" tem proposta interessante e já havia chamado atenção belo belo clipe lançado a semanas atrás e sua letra que afronta o sistema: “Porque o seu mundo é uma vergonha”, solta ela, em livre tradução. Como ela mostra no clipe, tem muito a ver com o tema religioso. “Deus está do meu lado e eu vou ficar bem / Eu não tenho medo porque eu tenho fé em mim / Você pode cortar meu cabelo e me dizer que sou uma bastarda / Diga que sou uma bruxa e queime-me na fogueira”, continua ela, encarnando as diversas personagens que representam a Madame X. "God Control" começa com um coro e depois contagia em uma música dançante que se enquadra perfeitamente em sua fase "Disco". Uma canção deliciosa. Em seguida temos "Future" parceria com Quavo, integrante do Migos que pratica um rap com uma pegada trap com voz doce da cantora. Por sinal a voz de Madonna nesse álbum está encantadora e nessa música mais ainda. "Batuka" tem uma musicalidade rica inspirada nas experiências que a cantora teve em Lisboa, aonde morou por um tempo e teve contato com variados sons incrementados nessa canção que ainda possui um coral. Exótica. A cantora volta a experimentar em "Killers Who Are Partying" que é uma mistura de fado português com batida africana e Trap. Ficou digno. "Crave" tem participação do rapper "Swae Lee" integrante do 'Rae Sremmurd" e traz batidas de rap e melodia melancólica. "Crazy" Começa com acordeon e tem versos em português ("você me põe tão louca..."), mas ainda está no momento anglo-saxônico de "Madame X" e tem uma pegada de soul. "Come Alive" mistura batuque africano com eletrônica e soa estranhamente agradável. "Extreme occident" é a música que aproveita para expor sua posição política e se inspira no Oriente Médio e tem versos em português! Uma mistura que pode soar destoante dependendo do ouvinte. "Faz Gostoso" tem participação da brasileira Anitta. A canção só demonstra o carinho que a cantora tem com o Brasil, inclusive ela sempre demonstrou está atenta ao ritmo brasileiro e aqui ela reproduz um sucesso de Portugal da cantora luso-brasileira Blaya, co-autora da música com a cantora brasileira mais conhecida atualmente no mundo. "Faz gostoso" tem sido elogiada nas críticas do disco em veículos estrangeiros, tem uma ótima frase com mistura de línguas mas erra no batuque de samba. Cara de HIT. "Bitch I'm Loca" tem participação de Maluma e é um Reggaeton sem qualquer novidade. "I Don't Search I Find" é uma faixa dançante e elegante com pegada eletrônica. "Looking for Mercy" é uma balada mais íntima da cantora aonde na letra ela confessa que ainda antes de fechar os olhos toda noite, perde perdão. Sincera. "I rise" traz seu pop tradicional e político. Tem um sample de um discurso marcante da ativista pelo controle de armas Emma Gonzáles, sobrevivente do massacre da Stoneman Douglas High School. Madonna parte deste discurso para fazer um final apoteótico exaltando o poder dos jovens seja de idade ou de alma. É um trabalho ousado e fora da curva. Além de deter o título de "Rainha do Pop", Madonna também é conhecida por estar constantemente reinventando sua música e imagem, esse trabalho é a prova que ela está vivíssima. CORAJOSO.

MÚSICA FAVORITA DO ÁLBUM: "God Control"

                       


São 15 faixas (na versão DELUXE) disponíveis nas principais plataformas de streaming pela Interscope Records.

Hype: ÓTIMO

quinta-feira, 13 de junho de 2019

FORA DE SÉRIE (2019) "Booksmart" de "Olivia Wilde"


Estréia de Olivia Wilde (Atriz) na direção de um longa é uma das surpresas do ano. 

Em uma época onde comédias adolescentes horrorosas produzidas pela Netflix permeiam a paz dos jovens, há também boas surpresas com o suspiro de filmes independentes como Quase 18, Lady Bird, Oitava Série e esse Fora de Série. O filme chamou bastante atenção no festival de Sundance, acostumado a ser um celeiro de produções inovadoras e ousadas. Diante aos burburinhos da produção, o pequeno estúdio Annapurna Pictures conseguiu distribuir o longa em variados países e conseguiu também uma força da Netflix que se interessou no filme e deve distribui-lo em alguns países. Nos EUA o longa já arrecadou mais de 17 milhões nos cinemas e já é considerado um sucesso pelo seu baixo custo de produção. O sucesso do filme é justamente em se desapegar dos tradicionais rótulos, não é um filme sobre duas garotas nerds que querem se vestir como as populares e fazer de tudo para conquistar o carinha descolado, é uma história sobre a amizade entre duas garotas que querem além de estudar aproveitarem a adolescência pois só acontece uma vez na vida. Esta é uma comédia original, moderna e sem filtros, uma história sobre amadurecimento, descobertas e as dificuldades do ensino médio. Afinal, a adolescência é uma fase de altos e baixos. O filme entende uma dinâmica bastante importante na atualidade entre os jovens, eles são multidimensionais e podem ser muitas coisas ao mesmo tempo. Aquele padrão jovem da década de 80 e 90 já não se enquadram mais a essa geração Y também chamada geração do milênio, geração da internet ou Millennials. Olivia Wilde analisa a conclusão da experiência colegial através dos olhos de duas garotas “inteligentes”, todas de uma só vez mostrando um lado diferente de um gênero frequentemente explorado mas quase nunca com a naturalidade dos próprios jovens. Na trama, melhores amigas e alunas fora de série, Amy (Kaitlyn Dever) e Molly (Beanie Feldstein) sempre focaram em tirar as melhores notas e se destacar dos demais alunos. O que nenhuma delas esperava era que seus colegas que só queriam curtir, fossem aprovados nas mesmas universidades que elas. Ao perceber que poderiam ter se divertido entre uma prova e outra, elas decidem correr atrás do prejuízo e recuperar os anos perdidos de diversão em uma única noite. A tarefa dessa vez é um pouco diferente: aproveitar ao máximo os últimos momentos do ensino médio e provar que podem ser as melhores em tudo, até mesmo quando o assunto é diversão. Os roteiristas apresentam um dos filmes adolescentes mais contagiantes e otimistas que podem ser vistos atualmente, tanto para o público alvo como para quem já viveu essa fase e consegue se enxergar dentro da história. Na medida que tudo desenrola percebemos as várias camadas de personagens e estilos que fogem dos estereótipos tradicionais dessas produções, quando passa perto de apresentar um padrão transparece sensação de humanidade no roteiro, permitindo que o filme transborde de otimismo mesmo quando a situação não colabora. Talvez esse filme seja o Curtindo a Vida Adoidado (1986) dessa geração. Em sua concepção, a dinâmica entre Molly e Amy, traz uma visão diferente das garotas, de certa forma até atrevidas e empoderadas. Por muito tempo as jovens americanas ficavam reféns de serem ou líderes de torcida, integrantes de irmandades, interesses amorosos pouco desenvolvidos e muito raramente se fugia dessa equação. Até hoje muitos filmes ainda agem assim com garotas, sem perceber  que elas podem também apenas possuir desejo sexual, sem necessidade de ser a pessoa carismática da escola, que seja ela mesma e como quiser. O filme cresce ainda mais quando percebemos a enorme distância de protagonismo das mulheres de filmes populares entre os jovens há 20 anos atrás como Ela é demais (1999), 10 coisas que eu odeio em você (1999) e American Pie (1999), sempre com garotas em função de rapazes. Fora de Série dá um passo adiante e injeta energia a um gênero que não sai da zona de conforto. De repente, o público está vendo uma representação de personagens profundos com histórias que  vão além da "norma" e demonstrando a pluralidade das pessoas. Destaque também para a maravilhosa trilha sonora! IMPERDÍVEL.


O filme estréia hoje (13/06) nos Cinemas pela IMAGEM FILMES.

Hype: ÓTIMO

OBSESSÃO (2019) "Greta" de "Neil Jordan"


Novo filme do interessante porém datado, Neil Jordan ("Traídos pelo Desejo" e "Entrevista com o Vampiro") acredita que por ter Isabelle Huppert no elenco, maior atriz francesa da atualidade, seja suficiente para sustentar sua colagem de filmes de suspense clichê da década de 90.

Em resumo, Isabelle Huppert é sensacional no papel mais é pouco para sustentar o filme. O resultado é uma atuação curiosa da atriz que mata, dança, toca piano e enlouquece em um suspense que se torna um enorme "blefe" sem ir a lugar nenhum. O que chama mais atenção é justamente a presença de Isabelle Huppert que já fez mais de 120 filmes, ganhou Cannes, Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar em 2017 no papel de uma executiva estuprada que busca vingança em “Elle”, sua presença em Obsessão muda a perspectiva da atriz ao viver o oposto de seu consagrado papel, desta vez sendo o abusador, isso só confirma suas entrevistas, aonde diz não escolher papéis pensando em premiações. Talvez a atriz só quisesse se divertir torturado a personagem de Chloe Grace Moretz e faz isso muito bem. Ela se entrega ao papel de uma viúva graciosa que se converte em uma psicopata cínica em uma produção até charmosa com cara de filme B possuindo um leve desvio em sua concepção, segue o fluxo de qualquer filme do gênero sem surpresas, nada fora da curva. Greta, a personagem de "Huppert" que dá nome à versão original do filme, tem bons momentos, seja na tensão de segurar graciosamente uma arma desafiando uma autoridade ou enquanto orquestra maldades após ser rejeitada ou quando costura um dedo decepado com a graça de uma senhora fazendo tricô. É um papel que navega entre o terror e a comédia, é quase um "Giallo" americano. O que ressaltar de uma produção onde todas as qualidades estão concentradas em Isabelle e nada mais! Talvez esse seja o "pecado" do diretor que raramente erra a mão. O filme passa longe de ser ruim mas faltou coragem em ir além. A trama retrata uma situação que pode ser comum em grandes cidade, a jovem Frances (Chloe Moretz) acha uma bolsa num assento do metrô na volta do trabalho e por questões pessoais de caráter, ela quer devolver o objeto ao dono, o que ela não imaginava é que isso era só o começo de algo que se tornaria uma tormenta. A tal mulher que "perdeu" a bolsa é Greta (Huppert) uma mulher sozinha. Perdeu marido, perdeu filha. E por diversas vezes evoca a tristeza da solidão para pedir piedade a garota, pedindo uma conversa e uma xícara de chá. A garçonete Frances, ainda sofrendo a perda da mãe se sensibiliza com a senhora sem saber aonde estava se metendo. O filme tenta construir sua história focando nas fraquezas de Frances, a graciosa atriz Chloe Grace Moretz segue seu bom padrão de atuação, esses elementos são usados para embasar a relação de obsessão de Greta, já que as duas lidam com situações de perdas e problemas familiares. Esse motim não é tão crível, não se sustenta por muito tempo e muito do que acontece no desvio de personalidade de Greta é a principal problemática da história. A perseguição e o assédio entre as duas mulheres em Nova York poderia render uma obra prima psicológica mas infelizmente o roteiro simplista de Ray Wright desperdiça uma boa oportunidade com duas atrizes de peso em uma trama razoavelmente envolvente e bastante comum de qualquer outro thriller de suspense. FLOPOU


O filme estréia hoje (13/06) nos Cinemas pela GALERIA DISTRIBUIDORA.

Hype: REGULAR