segunda-feira, 17 de junho de 2019

DOR E GLÓRIA (2019) "Dolor y Gloria" de "Pedro Almodóvar"


Pedro Almodovar realiza resumo de sua carreira em uma "pseudo" biografia, Antonio Banderas e Penelope Cruz dois simbólicos artistas para o diretor fazem parte dessa viagem em sua sua vida e obra. 

Assistir ao filme, que é mais sobre dor do que sobre glória, é quase que uma conversa com um idoso doente, aonde você escuta todo seu relato de dor, mas não se sente confortável de falar sobre isso. Qualquer cinéfilo que admira o diretor vai encontrar os principais caminhos e referências de sua obra sem ter que assistir todos os filmes de sua filmografia, já para a nova geração o filme não chega ter o frescor necessário para estimular o expectador a conhecer suas histórias por ser um resumo autobiográfico "disfarçado" feito por ele mesmo, soa erroneamente quase como uma história para enaltecer seu ego ou talvez se fosse realizado por outro diretor não teria a força que tem como uma homenagem rica em detalhes e com cuidadoso requinte. Próximo de seus 70 anos Almodovar celebra seu amor por seus filmes que ele mesmo duvidou no passado e este "Dor e Glória" tem todas as coisas que apreciamos sobre ele: a importância das mulheres (especialmente sua mãe), a nostalgia desavergonhada, a acidez nas questões religiosas, o consumo excessivo de drogas e a celebração da sexualidade, tudo exposto a sua maneira sem cortes ou qualquer tipo de pudor, nesse aspecto ele acerta em cheio para tirar a sensação de exaltação de si mesmo. Evidente que quem possui laços mais amarrados com ele observe com carinho sua intenção ao expor relatos bastante pessoais sobre sua vivência humilde e cheia de obstáculos principalmente com sua saúde, isso é explicado de maneira extremamente didática logo no início do filme. No fim das contas ele busca em seu alter-ego encontrar algo novo a dizer. Antonio Banderas vive o ator de 60 anos Salvador Mallo, um autor que enfrenta problemas de criatividade causados ​​por problemas de saúde. O filme começa com uma sequência arrebatadora  elegante e abstrata já nos créditos exibindo cores marmorizadas que sugerem como passado e presente, fato e ficção fluirão um para o outro, vemos Salvador simbolicamente suspenso debaixo d'água, isolado do mundo, uma imagem inicial apropriada para uma figura admirada porém problemática. Um dos filmes de Salvador, um item do final dos anos 1980 chamado "Sabor" está prestes a receber uma homenagem da Cinemateca Espanhola. Para registro, Sabor remonta à época  em que o diretor idealiza uma trilogia pessoal que começou com A Lei do Desejo (1987) e continuou com Má Educação (2004) e termina nesse longa. Para celebrar a homenagem ele aciona sua assistente de sofrimento Mercedes (Nora Navas) e contata o ator rebelde Alberto Crespo (Asier Etxeandia), com quem não fala há 30 anos. Pensativo, Alberto não perde tempo em introduzir Salvador aos prazeres de fumar heroína. Isso vem como um alívio para Salvador, um escravo de remédios cujo o corpo é atormentado por uma assustadora gama de problemas físicos e após uma operação atrasada, se comporta como alguém 10 anos mais velho que ele é. Ao descobrir um texto que Salvador escreveu sobre seu passado, Alberto insiste em realizá-lo como monólogo em um pequeno teatro de Madri. Assim, os dois homens são capazes de reviver um ao outro seus impulsos criativos falhos. Sentado de olhos lacrimejantes no público está o argentino Federico (Leonardo Sbaraglia), que teve um caso com Salvador muitos anos antes e que agora aparece na porta de Salvador para ajudar a entregar a cena mais sublime do longa e lindamente escrita. A cena é um beijo entre dois homens de meia idade que só agora, anos depois, se sentem capazes de confessar o desejo que permaneceu enterrado dentro deles. Na intensidade de sua humanidade, isso é completamente diferente de qualquer outra coisa no filme, é um ponto chave. A cena termina com Salvador sorrindo pela primeira e última vez. Essa cena talvez seja o ápice do filme que praticamente realiza uma colagem da vida de Almodóvar. O diretor usa os pensamentos de Salvador e todas as suas memórias como guia para o direcionamento de seus filmes com dois exemplos claros. Quando mais jovem interpretado por Asier Flores, de 9 anos, era jovem, o dinheiro era apertado, e sua mãe, Jacinta (Penélope Cruz, reprisando um papel similar ao que desempenhou em Volver) é obrigada a criá-lo em uma casa chamada de caverna e quando Salvador se destaca em um coral, (o tema, tratado extensivamente em Má Educação, se desenrola nos problemas da garganta), dentre outros momentos integrados que talvez só um cinéfilo ou fã do diretor realiza o link com sua intenção. Nesse flashback ele aproveita para mostrar seus primeiros lampejos de seu despertar sexual quando, de olhos arregalados e culpados, vê o pintor Eduardo (César Vicente, estreante) se secar, nesse quesito usando ferramentas muito mais eficientes que em Má Educação. Detalhe para a fotografia do filme, excepcional e o elenco com performances excelentes, com a sempre enérgica Penélope Cruz, com Antônio Bandeiras se entregando ao papel ( ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes) e os estreantes e carismáticos Asier Etxeandia e Leonardo Sbaraglia que também se destacam. A visão de Almodovar nesse filme é quase um almanaque para seu trabalho deixando pouco espaço para ir além do que temos curiosidade de saber em uma construção perigosamente confortável e apresentada como um exercício estranhamente imparcial e impessoal mesmo que de certa forma brilhante e atrapalhada por uma narração meio desnecessária e de um excesso de complexo de gênio torturado. OLHANDO PARA DENTRO.



O filme está em cartaz nos Cinemas pela Universal Pictures!

Hype: BOM




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