quinta-feira, 13 de outubro de 2022

FÉ E FÚRIA (2019) de "Marcos Pimentel"

 

            Infelizmente a intolerância sobre a religião de matriz africana ainda é absurdamente grande, muito pela falta de conhecimento e ainda maior pela aversão a outro tipo de fé. Isso muito se deve por não ter um livro histórico dividido em vários capítulos que conte como ela surgiu e se desenvolveu com o passar do tempo além de não haver o hábito de reproduzir os costumes e sua história de geração para geração rompendo barreiras mais tradicionais. Quando o assunto é Candomblé ou Umbanda a falta de informação geralmente causa espanto e situações preconceituosas, outras religiões que pregam o cristianismo tratam seus adeptos como satanistas sem ao menos saberem como são as práticas e suas vivências, a dura realidade é que não existe respeito e empatia, apenas perseguição.
 
  Conhecido por seus documentários contemplativos e marcados pelo silêncio, em FÉ E FÚRIA, o mineiro Marcos Pimentel faz um longa pautado pela urgência do tema em favelas e subúrbios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Ciente de que não poderia aplicar uma linguagem que não cabia aos seus entrevistados e entrevistas – pessoas que sofrem com a intolerância –, Pimentel procurou aquilo a que chama de a linguagem mais sincera para que seus personagens se abrissem diante de sua câmera. Houve uma pesquisa com as vítimas desse tipo de intolerância divulgados pela mídia, casos que se tornaram notícia como o a da menina Kayllane, que levou uma pedrada no meio da rua por estar vestida com trajes de candomblé, tem evidência no documentário.
 
     No geral, os vários depoimentos se desencontram e nenhum leva a um senso comum. Os "cristãos" com a velha mania de satanizar a fé alheia, já os de matriz africana acusam os cristãos por limitarem seus cultos (com razão). Mas não há um denominador comum no assunto religiosidade. É revoltante, é uma guerra santa, sempre com perseguições, militarismo, é uma questão longe de haver uma paz. O filme/documentário é fraco para quem faz parte desse meio, o início já traz revolta quando começa com uma passagem bíblica e isso já faz todo o restante não valer a pena. O filme mostra que os cristãos de hoje são os inquisidores do passado e não busca aprofundar isso. Para quem não faz parte desse universo serve como laboratório para o entendimento e empatia dessa vivência e ainda assim será uma experiência um tanto confusa por buscar sempre a "razão" de um dos lados. 

( Texto com colaboração de Silas Hohenstauffen  )