quinta-feira, 29 de outubro de 2020

TENET (2020) de "Christopher Nolan"



 "Um quebra-cabeça pretensioso que cumpre as expectativas de um blockbuster com inteligência em uma atmosfera escura, barulhenta, confusa e com personagens frios."

     A cada novo trabalho do britânico Christopher Nolan (Trilogia do Batman - Cavaleiro das Trevas) se percebe a obsessão do mesmo ao espetáculo e a megalomania com ares de acontecimento global. Infelizmente a pandemia do Coronavírus mudou toda essa concepção, o tal novo normal é real e nossas prioridades são outras e ainda sim tanto o estúdio Warner Bros. como Nolan empurraram o filme como a salvação do cinema. De fato é uma produção para a tela grande com uma alta tecnologia de filmagem e o máximo de som, porém não há como obrigar as pessoas a irem aos cinemas como se nada estivesse acontecendo, a volta deve ser gradual conforme não haja risco. Essa estratégia de fazer tudo acontecer as pressas para o filme entrar em cartaz mostra o pior lado da indústria cinematográfica, a que visa o lucro e a que vende o espetáculo por interesses ocultos, mas basicamente não será o "fim do mundo" ficar de fora das conversas sobre Tenet. Discussões e polêmicas que podem versar sobre sua condição de artista genial e pretensioso, sobre a fronteira entre alta e baixa cultura e sobre a complexidade de sua construção narrativa que quase obriga o expectador a ver seu filme mais de uma vez para entendê-los. Essas articulações para os cinemas abrirem para exibirem o filme e ser a produção que vai fazer as pessoas a voltarem as salas de cinema é parte chata de Tenet, a vida real ainda é mais importante que a magia do cinema e não se pode julgar o conteúdo de uma obra pelas atitudes de seus realizadores. Nolan segue sólido como o "maestro do espetáculo" dessa geração e se perde em um viés de auto afirmação desnecessária de seu trabalho, confia tanto no que faz que exige demais e as vezes se esquece da diversão e isso pode se tornar um pouco maçante.  


     Na trama, um agente da CIA conhecido como O Protagonista (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo com meios de se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, o Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Tenet viaja por um mundo crepuscular de espionagem internacional em uma missão que se desdobra em algo além do tempo real. Não é viagem no tempo, mas inversão. Também fazem parte do elenco principal Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Dimple Kapadia e Michael Caine


     Polêmicas a parte, seria injusto não ressaltar o talento cinematográfico de Nolan que instiga o expectador a pensar e se firmar nos detalhes de sua obra, uma exigência egocêntrica porém muito bem sustentada e ressaltada em suas qualidades. O filme só se perde nessa linha "blasé" intelectual e se esquece de ser Pop e de construir personagens memoráveis. A narrativa inteligente esconde um roteiro não tão inspirador para contornar conceitos intelectuais em excesso e as tomadas de ação milimetricamente planejadas que ofuscam a necessidade de uma trama desenhada nos moldes de um 007 ou de um Missão Impossível, o expectador é quase uma cobaia de Nolan que se mostra um especialista em cinema de ação. Ainda que seja fácil exaltar as qualidades de Tenet é uma obra gélida e sem sentimento como se mostrou Dunkirk anos atrás, parece não haver vida na história, somente algoritmos e equações quânticas que se chocam com a falta de interesse do diretor em trabalhar os personagens e se concentrar na megalomania do espetáculo, é um problema meio grave mas que não estraga a experiência. Se puder, se entregue a concepção do reverso e viva essa construção fascinante do diretor com segurança e ciente que é uma obra prima que não haverá consenso. DESAFIADOR!


O filme está em cartaz nos cinemas que voltaram a funcionar. (Lembrando que estamos em Isolamento Social, siga todas orientações de segurança!)

O Meu Hype assistiu ao filme na Cabine de Imprensa realizada em Brasília.

Hype: MUITO BOM (Nota: 8,0)

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

BORAT - FITA DE CINEMA SEGUINTE (2020) - "Borat - Subsequent Moviefilm" de "Jason Woliner"


 "Personagem cômico de Sacha Baron Cohen volta 14 anos depois e continua afiado para expor os aspectos mais equivocados da "nova" política que lidera os EUA."

    O longa foi filmado secretamente antes e durante a quarentena e conta a sequência da história do icônico jornalista do Cazaquistão Borat, que foi um grande sucesso em 2006 e agora surge sem passar pelos cinemas, direto no Amazon Prime VideoSacha Baron Cohen volta afiado como nunca, agora com um desafio enorme, superar uma realidade ainda mais bizarra que o universo apresentado no filme anterior, a continuação em grande parte faz jus ao original, enquanto na verdade surpreende os telespectadores com sua ternura além de uma recém-chegada personagem que rouba a cena ao interpretar a filha de Borat, a novata atriz Maria Bakalova, uma descoberta fantástica que substitui a ausência do icônico personagem Azamat (Ken Davitian). O filme é aplicado de forma mais intencional e seletiva com uma tendência política partidária ausente da ofensiva generalizada do filme original, ainda assim com momentos importantes, cativantes, hilários e com um extremo choque de realidade.


     Na trama, devido aos acontecimentos do filme anterior, 
o Cazaquistão se sente humilhado fazendo com que o jornalista Borat Sagdiyev seja preso em um gulag (espécie de prisão) pelo resto da vida. Quatorze anos depois, o primeiro-ministro Nursultan Nazarbayev o liberta, com a missão de entregar o Ministro da Cultura do Cazaquistão, Johnny, o Macaco, ao presidente Donald Trump, em uma tentativa de redimir a nação. Incapaz de chegar perto de Trump após defecar no paisagismo do "Trump International Hotel and Tower" no filme anterior, Borat opta por dar o macaco ao vice-presidente Mike Pence . Antes de partir, ele descobre que seu vizinho roubou sua família e sua casa, e que ele tem uma filha de quinze anos, Tutar, que mora em seu celeiro. Borat e sua filha Tutar vão a América para honrar seu país em uma complicada missão para agradar o novo governo americano e melhorar as relações entre os países. O filme é uma comédia em estilo "Mockumentary" um tipo de filme que retrata eventos fictícios mas apresentado como um documentário, porém no caso de Borat também misturado com cenas reais.


     Ofensivo, frequentemente chocante e em alguns momentos de tirar o fôlego, para os fãs do primeiro filme é uma experiência sensacional. Para qualquer outra pessoa é necessário um pouco mais de atenção. Existem alguns momentos de constrangimento e humor rude que são aliviados pela construção da história e devem ser questionados pela gravidade de como a sociedade os utiliza na vida real e também analisados como uma paródia. Questionar como chegamos até esse momento é o melhor que se deve fazer e o retorno de Borat se faz bastante necessário para elucidar como deixamos de evoluir. A verdade desanimadora dessa sequência é que as partes encenadas do filme não podem competir com nossa terrível realidade, o tema é tão universal que mesmo focando nos EUA pode se enquadrar em qualquer outro lugar no mundo, inclusive o Brasil. O final do filme é de cair o queixo em um terceiro ato que você precisa ver para acreditar. Quando uma ficção se mistura gravemente com a realidade, com uma repercussão absurda que tenta diminuir a obra sem argumentos,  Borat consegue arrancar momentos divertidos de assuntos delicados com bastante fôlego. SEQUÊNCIA DIGNA.


Onde ver: Amazon Prime Video (Exclusivo do Streaming)

Hype: ÓTIMO - (Nota: 8,0

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

COMO CÃES E GATOS 3 - PELUDOS UNIDOS (2020) - "Cats & Dogs 3 - Paws Unite!" de "Sean McNamara"

 

"De surpresa, continuação de "Como Cães e Gatos" é lançada com poqucos atrativos, é bobo até para as crianças"  


   Já se passaram quase 20 anos quando a produção original "Como Cães e Gatos" (2001) foi um sucesso inesperado e tinha na bagagem um elenco interessante de vozes composto por estrelas como Jeff Goldblum, Elizabeth Perkins, Tobey Maguire, Susan Sarandon e Charlton Heston. Uma sequência era claramente inevitável e chegou em 2010, por meio de "Como Cães e Gatos 2: A Vingança de Kitty Galore", com um elenco diferente de vozes que envolvia nomes como Neil Patrick Harris, Christina Applegate, Bette Midler, Nick Nolte e Roger Moore. O interesse do público na história já foi bem menor esfriando uma possível continuidade na franquia que sumiu do mapa. Esta sequência, lançada diretamente em On-Line nos EUA chega nos cinemas brasileiros quase dez anos depois do último filme e espera ser vagamente relevante sem muito esforço, sem nomes grandes na dublagem e sem efeitos especiais grandiosos. (As cenas dos animais dirigindo um veículo são de um mal gosto enorme!). Resumindo, sobra muito pouco para gerar interessante na produção, talvez o amor das crianças por animais de estimação que se traduzirá em uma distração sem muito apego, o filme tem cara daquelas continuações feitas diretamente para TV que são esquecíveis. 


    Na trama, vivendo em um prédio de apartamentos em Seattle estão Roger (Max Greenfield) o cachorro e Gwen (Melissa Rauch) o gato. Sem o conhecimento de seus respectivos donos humanos, o par improvável trabalha junto como agentes secretos, embora na qualidade de analista. Com uma trégua entre as espécies há algum tempo, há uma harmonia entre os animais de estimação favoritos dos humanos. Isso logo é interrompido, no entanto, quando seu QG é hackeado, e eles recebem uma mensagem de alguém que afirma ser um supervilão, Pablo (George Lopez), cujo objetivo é tornar as duas espécies inimigas novamente. O vilão em questão tem a tecnologia para apoiar suas afirmações, já que seu gênio da tecnologia de répteis criou uma frequência, que pode ser enviada por satélite, que mais uma vez fará cães e gatos lutarem um contra o outro. Sem acesso a ajuda externa, Roger e Gwen rapidamente têm que assumir as posições de agente de campo na tentativa de parar Pablo, uma ave com planos diabólicos.


     Apesar da franquia trazer uma boa parcela de fofura de animais de estimação, o estúdio claramente não tinha o mesmo tipo de fé nesta sequência e investiu muito pouco. O talento envolvido nas vozes dos animais perdeu um pouco do seu brilho, sem qualquer atrativo adicional, uma fórmula que há anos se consolidou em chamar nomes renomados para a dublagem do original. A versão brasileira tem um bom trabalho e consegue se sair melhor. O roteiro é pobre e não tem qualquer conexão com os títulos anteriores, a história se movimenta de forma banal e preguiçosa além da economia até nos cenários. Depois, há um enredo secundário clichê de um relacionamento entre os dois jovens proprietários dos animais, um desperdício de tempo. Com um orçamento claramente menor que os outros filmes da franquia, o elenco humano também é formado por desconhecidos e não se destaca. Só podemos esperar que os animais envolvidos tenham recebido mais do que o elenco humano, já que são eles que fizeram todo o trabalho o duro. O isolamento social necessita de filmes leves e comédias para aliviar o cenário atual e também distrair as famílias. Uma pena não terem se esforçando para entregar algo melhor. FRACO.


O filme está em cartaz nos cinemas que voltaram a funcionar. (Lembrando que estamos em Isolamento Social, siga todas orientações de segurança!)

O Meu Hype conferiu o filme na Cabine de Impresa realizada em Brasília!

Hype: RUIM  - Nota: 3,0



OS NOVOS MUTANTES (2020) - "The New Mutants" de "Josh Boone"


 "Um filme que se perde em sua essência mesmo com bastante coragem, não engrena pelas limitações e se esconde em uma pegada alternativa." 

     O último filme dos mutantes X-Men nos estúdios Fox, agora "20Th Century Studios", chega aos cinemas (no pior momento possível, em meio a uma pandemia) após longos anos de atraso. A produção adiada diversas vezes e tratada como batata quente na mão da Disney se mostra a bagunça que todos esperavam após o melancólico X-Men - Fênix Negra (2019)O que surge no produto final é o reflexo de todos os problemas de produção, orçamento e soluções fáceis, muitas vezes simplórias que passam longe dos momentos mais marcantes da franquia principal, seu aspecto original de "Filme B" também não se sustenta para manter a única boa sacada da produção, transformar "X-Men" em um filme de terror sem necessidade de um espetáculo grandioso fechado em um pequeno núcleo. O filme erra o tom em se desviar em distrações que pouco agregam a trama, sua personagem chave interpretada pela atriz Blu Hunt não tem carisma em um filme curto, com direção ruim e uma recompensa pífia, digna de Spin Off mesmo. 


    Na trama, cinco adolescentes mutantes - Danielle Moonstar (Blu Hunt), Rahne Sinclair (Maisie Williams), lllyana Rasputin (Anya-Taylor-Joy), Sam Guthrie (Charlie Heaton) e Roberto da Costa (Henry Zaga)   - passam por tratamentos em uma instituição secreta que os curará de seus poderes perigosos. Eles são convidados pela Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga) para compartilhar suas histórias, suas memórias que logo se transformam em realidades aterrorizantes quando eles começam a questionar por que estão sendo presos e quem está tentando destruí-los. Uma história que pode até se enquadrar com o momento atual da pandemia, pois nos mostra como o confinamento pode gerar a loucura, em como todos nós temos habilidades que sempre estiveram conosco e outras que ainda precisamos conhecer, essa essência do universo dos mutantes é o ponto alto da história. No projeto inicial esse seria o primeiro de um total de três filmes, o que explica uma possível sensação de que que nem tudo foi revelado ao extremo.


     Os Novos Mutantes é carregado com um elenco jovem e talentoso, incluindo dois brasileiros, o ator Henry Zaga e a atriz Alice Braga, ambos com vários trabalhos nos Estados Unidos. Infelizmente esse elenco não recebe nada muito empolgante para fazer, existem linhas de diálogo dignas de vergonha alheia além de frases de efeito cafonas, um desperdício. Algumas cenas recebem cortes bruscos e "takes" repetitivos, tente contar quantas vezes a estátua da entrada do hospital aparece em close aleatório, a ação acontece de forma rápida e parece mal filmada com efeitos especiais que funcionam na medida do possível, há momentos que parecem a novela Mutantes da Record. O filme tem praticamente um único cenário e seis personagens principais. Se menos é mais, o diretor ainda consegue transformar um núcleo pequeno em algo cansativo e repetitivo. Entre os pontos positivos estão o "fan service", temas sérios tratados com coragem, uma trama gay no universo X-Men e algumas referências do cinema de terror. Uma produção que sofreu tanto para se tornar real e que infelizmente não esconde seus problemas, um conselho é tentar aproveitar essa bagunça sem expectativas e quem sabe com o tempo o filme se torne "cult" para os fãs dos mutantes. GENÉRICO. 


O filme está em cartaz nos cinemas que voltaram a funcionar. (Lembrando que estamos em Isolamento Social, siga todas orientações de segurança!)

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

REBECCA - A MULHER INESQUECÍVEL (2020) de "Ben Wheatley"


 "Romance traz Lily James e Armie Hammer em tons coloridos mas nem por isso menos sombrios em uma versão modernizada e feita para o público dos tempos atuais.

      Releitura da Netflix representa um romance sobre o quão frustrante é sempre receber menos e a exploração dos ataques belos de vida. Fantasmas do passado, diferença de classes bem como a toxicidade das relações afetivas se estabelecem entre os protagonistas. O suspense "hitchcockiano" milimétrico do filme de 1940 se esvazia nas concepções óbvias do romance meio sem sal dessa nova versão. A necessidade de revitalizar a história é tentadora e perigosa, na medida que os variados clichês da trama se misturam de forma atrativa e novelesca, elementos para fisgar o grande público.  O romance é atrativo e se torna uma questão clara de preferências, o clássico de Alfred Hitchcock ainda consegue ser uma obra marcante e surpreendente, o mestre do terror permanece inabalável ainda que a produção original da Netflix seja uma forma de mais pessoas se conectarem a obra com uma distração eficiente.


     A obra conta a história de uma jovem (Lily James) dos anos 30 que trabalha como acompanhante de uma senhora e conhece um milionário viúvo, Max de Winter (Armie Hammer), com que se casa. Ao mudar para a mansão dele, ela, que se torna a "Senhora de Winter", tem que encarar os "fantasmas" deixados pela ex-mulher, a primeira "Senhora De Winter", morta de forma misteriosa. As camadas da simples história giram em torno de uma personagem central que não aparece no filme, Rebecca. O mistério sobre a personagem é o ponto forte da história sendo uma das partes centrais do filme o embate entre duas mulheres. A jovem interpretada por Lily e a governanta da casa (vivida por Kristin Scott Thomas), amiga da ex-patroa, que tenta sabotar o começo de vida a dois da jovem. Inclusive, é impossível citar a obra adaptada sem lembrar que o romance inglês foi inspirado em manuscritos do livro brasileiro 'A Sucessora' de Carolina Nabuco, que inclusive já teve adaptação para uma telenovela brasileira da Rede Globo, "A Sucessora" de 1978. Uma coincidência inocente ou plágio? Uma pergunta que permanece no ar até hoje e inclusive já rendeu processos na justiça.


     Rebecca, a Mulher Inesquecível" baseado no polêmico livro de Daphne du Maurier de 1938 é uma espécie de "releitura" da obra-prima lançada em 1940 por Hitchcockestrelado por Laurence Olivier e Joan Fontaine, rendeu dois Oscars, inclusive o de Melhor Filme. Só da coragem de utilizar esse material novamente já seria um risco. Surge então uma complicada questão, entender a linha de produção da Netflix, o filme surge para contar novamente uma boa história ou apenas para cumprir tabela em seu catálogo original? A decisão final é do espectador. A releitura de Rebecca se mostra atrativa, é o tipo de romance que será sempre revisitado por novas gerações pelo poder de sua história, ainda que a nova produção agrade em meio ao seu tom novelesco, recomendamos a versão de 1940 e a "finesse" de Hitchcock. SEM BRILHO.


O filme está disponível na Netflix.

Hype: REGULAR - Nota: 5,5


terça-feira, 6 de outubro de 2020

CAIXA PRETA (2020) - "Black Box" de "Emmanuel Osei-Kuffour Jr."

"Temática que mistura suspense e ficção científica é o primeiro acerto da produtora de terror Blumhouse Television com a Amazon Studios." 


O longa "Caixa Preta" chega no Especial "Welcome To The Blumhouse" no Prime Video, contrato de oito filmes a serem realizados pelo novo selo Blumhouse Television e apresenta uma história que lida com diversas questões morais e éticas com interessante atuação do ator Mamoudou Athie (Notas de Rebeldia) que praticamente leva o filme nas costasO mais interessante do filme é o bom trabalho de suspense para conectar o expectador ao seu personagem principal, Nolan, além de um bom trabalho também com a criança que interpreta sua filha. As cenas da sessão de hipnose onde Dra. Lilian leva o personagem de Nolan para acessar suas memórias com a ajuda da Caixa Preta são bem conduzidas ainda que teriam um potencial ainda maior. Tal aparelho é a única opção para Nolan tentar desvendar sua amnésia. O longa segura suas informações quase até o final, quando temos, enfim, uma resposta sobre o que de errado acontece com o rapaz e com sua médica, provando que memórias podem ser traiçoeiras e até mortais se usadas de maneira incorreta. As reviravoltas e soluções do roteiro elevam essa produção como uma boa história de terror com um toque de ficção científica sem necessidade de extravagâncias.


     A trama nos situa algum tempo depois do incidente que aflige Nolan (Mamoudou Athie), fotógrafo profissional, com amnésia. As cenas de abertura são apropriadamente estranhas, pois são feitas para nos contextualizar a um personagem para o qual seguimos por sua mente. Sua filha, Ava (Amanda Christine), se comporta como se fosse uma mulher adulta no corpo de uma criança de 10 anos, e leva algum tempo até descobrirmos que o acidente de carro que Nolan sobreviveu força Ava a assumir o papel de cuidadora de seu pai. Embora Nolan se esforce para recuperar suas memórias e, por extensão, seu eu passado, flashes de uma personalidade atormentada que Ava não consegue reconhecer indicam que ele mudou para sempre. Então, quando a neuropsiquiatra Dra. Lillian Brooks o convida para participar de um tratamento experimental usando um dispositivo indutor de hipnose chamado Caixa Preta, que pode devolver suas memórias, ele se envolve em algo sobrenatural e ao mesmo tempo recebe respostas sobre seu atual estado.


  A surrealidade floresce com um terceiro ato sinuoso que espanta a timidez inicial do longa e joga com os limites dessa ciência, mas também adiciona nuances emocionantes sobre memória e identidade. As lembranças de Nolan de ser pai e marido não são apenas as boas, e o roteiro ganha momentos dolorosos que você talvez nunca tivesse pensado que iria acontecer. A produção é aquele tipo de filme indie de ficção científica que cresce e estabelece suas próprias regras, em seu clímax atinge temas grandiosos em seus próprios termos e nas mãos confiantes de Osei-Kuffour Jr., eles são como pedaços bizarros que mostram como a Caixa Preta é única. O filme mantém o padrão dos bons momentos das produções da Blumhouse de James Blum, ou seja, espere um grande número de engates psicológicos dentro do longa, trabalhando intensamente dentro da mente humana com as lembranças e os pesadelos de Nolan, é aonde o filme consegue atrair o máximo da atenção dos espectadores mantendo uma abordagem segura até o final. BOA SURPRESA.


Disponível no Amazon Prime Video

Hype: BOM - Nota: 7,0

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

VIGIADOS (2020) - "The Rental" de "Dave Franco"


 "Sem grandes acontecimentos, estréia de Dave Franco na direção é mais um blefe do novo cinema de terror." 

      O novato na direção Dave Franco, irmão de James Franco, apresenta um filme que pega carona em uma tendência do novo cinema de Terror, liderado por produtoras independentes como a A24, que subverte o gênero com surpresas  e a Blumhouse que atira para todos os lados errando e acertando na medida que se arrisca, há também filmes menores como esse que se tornam um entretenimento que pode surpreender com uma boa produção e uma concepção que desperta a curiosidade até seu ato final. "Vigiados" se inspira em outros títulos que fazem uma linha psicológica, o novo frisson do gênero, usando várias fontes e passeando entre referências do suspense sem se apegar ao susto fácil. Mesmo que possa ser considerado um Slasher moderno, reverencia aqueles clássicos que não tem pressa em trabalhar seu universo sem sair de sua linha tênue realista. 


     Na trama, um grupo de amigos decidem passar um tempo numa casa afastada da sociedade, alugada pelo Airbnb. Ao chegar ao local paradisíaco e isolado nas montanhas eles começam a suspeitar de que o dono da casa alugada, aparentemente perfeita, pode estar espionando-os. Em pouco tempo, o que deveria ser uma viagem comemorativa de fim de semana se transforma em algo perigoso e fora de controle. A partir daí, começa todo o horror e a perseguição gato-e-rato que um filme desse tipo sempre proporciona. Dave Franco transforma a modernidade do vício em aplicativos que dependem da bondade de estranhos em um perigo real e imediato. Franco foi estrela em filmes para jovens como “Vizinhos” e “Nerve” e aqui está mais interessado em estabelecer o básico para um entretenimento de suspense menos pretensioso, com um elenco capaz de dar corpo aos personagens sem sobrecarregá-los em um filme muito simples e direto.


    O filme conversa com essa geração justamente no flerte com a vibração de conseguir um lugar tão incrível de maneira tão fácil e que termina nos créditos finais mostrando que tudo pode virar um misterioso  pesadelo, isso sem precisar criar algum tipo de vilão de gênero. Embora não haja nenhum novo terreno sendo desbravado aqui, Franco faz um trabalho competente em manter as reviravoltas e as emoções. Não é uma história cheia de suspense e medo e não há cenas de perseguição intensa, mas a atmosfera se mantém densa e assustadora graças a trilha sonora e a ambientação perturbadora. Não é um filme de terror excepcional, mas sem dúvidas traz um pequeno frescor bem-vindo ao gênero. Seus acertos são pontuais ee bloqueia qualquer tipo de espectativa em ser maior do que é, um mero passatempo de streaming. EFICAZ.


O filme está disponível no Amazon Prime Video!

Hype: BOM - Nota: 7,0


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

WIM WENDERS - DESPERADO (2020) - "Eric Fiedler, Andreas Frege"

 "Documentário possibilita ao espectador uma visão única da vida e do trabalho de um artista excepcional."

     Documentário sobre o diretor Wim Wenders fecha a 25ª Edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários em sua primeira exibição no Brasil. O lendário diretor é um dos pioneiros do Novo Cinema Alemão e uma das figuras mais importantes do cinema contemporâneo. Desperado possibilita ao espectador uma visão única da vida e do trabalho de um artista excepcional e bastante admirado. Dirigido pelo australiano Eric Fiedler (It Must Schwing: The Blue Note Story) e por Andreas Frege, mais conhecido como Campino, vocalista da banda punk alemã Die Toten Hosen, o documentário é uma meditação intimista sobre o trabalho de um visionário que soube refletir o espírito de sua geração. O documentário oferece um olhar muito próximo por dentro do processo artístico e das realizações de um cineasta incomparável – um improvisador, cujas cenas são sempre uma viagem ao desconhecido. O filme apresenta materiais inéditos e encontros exclusivos com Wenders com participações especiais de Francis Ford Coppola, Willem Dafoe, Patti Smith, Andie MacDowell, Ry Cooder, Rainer Werner Fassbinder e Werner  Herzog, entre outros. 


     "Desperado" é uma  palavra em espanhol que significa “desesperado”, “sem esperança”, mas também “ousado”, “temerário” e “impaciente”, e no sentido mais restrito denota o membro de um grupo fora de quaisquer leis, que via de regra tem intenções políticas e subversivas extremas. Um extremista anarquista ou anarquista, uma pessoa que não tem mais nada a perder e, portanto, é imprudente. Analisando a carreira de Wim Wenders é facil encontrar triunfos que o fizeram o cineasta ser marcante e atemporal, como nos clássicos Alice nas Cidades (1974), Paris, Texas (1984) vencedor do Festival de Cannes, Asas do Desejo (1987) e outros mais recentes como Buena Vista Social Club (1999) e Pina (2011). Desperado não tenta ser um retrato imparcial, equilibrado ou analítico do cineasta, pelo contrário, se assemelha a um trabalho acrítico de um fã, reforçada pelo fato de que o próprio Wenders, está presente em incontáveis ​​auto-comentários, ele está nos sets de filmagens e em contato com seus personagens sendo o ponto central. É um filme que torna o trabalho de Wenders significativo e importante, o que o faz parecer um retrato e espelho de uma geração muito específica, que ao mesmo tempo vai além do Novo Filme Alemão e suas problemáticas constelações cinematográficas, tudo isso se desenvolve em Wenders mas ao mesmo tempo limita o conhecimento dos fracassos posteriores. 


    A obra mostra locais de filmagens e os momentos-chave da obra de Wim Wenders,
Friedler e Frege também traçam uma jornada que mesmo aqueles que não são especialistas em cinema de arte vão se indentificar com a obra do diretor e sua personalidade. Destaque também para a trilha-sonora que minimiza o possível cansaço de acompanhar as 2 horas de documentário. Entre os depoimentos, Willem Dafoe resume algo importante sobre o realizador: "No Wim vejo não só o diretor, mas também o aventureiro brincalhão. A criança que pula alegremente em uma poça ao som da música. Seus filmes têm tanto poder, não há nada igual". São vários depoimentos interessantes, inclusive alguns com um certo "puxão de orelha" pelo seu jeito peculiar e único de Wenders em construir seus filmes. "Wim Wenders, Desperado” não é apenas sobre o amor ao cinema, mas também sobre um artista que corre o risco de fracassar a cada novo filme: artisticamente, pessoalmente e muitas vezes financeiramente, um retrato atmosférico, cinematográfico e único que oferece uma visão da obra de um fascinante e imprevisível realizador da sétima arte. IMPERDÍVEL.


A premiere no continente americano de Wim Wenders, Desperado
 encerra a 25ª edição do festival É TUDO VERDADE no Domingo dia 04 de outubro, às 20h, logo após a Cerimônia de Premiação no site oficial do Festival: www.etudoverdade.com.br

OBS: Exibição única, sem previsão de estréia no Brasil! Filme visto na Cabine de Impresa On line!

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0