terça-feira, 17 de novembro de 2020

BLACK IS KING (2020) de "Emmanuel Adjei", "Blitz Bazawule" e "Beyoncé"


"Álbum visual da cantora, inspirado em Rei Leão e produzido pela Disney expõe um material musical maduro e uma cultura negra vibrante e importante para a Cultura Pop"

    A cantora Beyoncé consegue simplesmente se renovar a cada trabalho conceitual de maneira bastante revigorante. Em 2016, Lemonade surgiu com uma proposta nova para sua carreira, um álbum visual aonde a cantora se entregava ao universo da sua raiz negra com diversas pitadas de críticas sociais. Em 2019 a cantora em parceria com a Netflix lançou o filme com sua histórica apresentação no festival Coachella em 2018, Homecoming, um espetáculo de encher os olhos e alçar seu patamar único de estrela do pop mundial. Ao participar da versão em live-action do longa animado "Rei Leão" da Disney em 2019, tal participação ressaltou a cantora como a emocionante história de Simba é também uma declaração de amor a África, inspirou a cantora a realizar "The Lion King - The Gift", um álbum especial produzido em homenagem ao filme. Black is King surge ainda inspirado pelo encantamento da cantora pela composição única e magnífica de Rei Leão, com elementos bem mais criativos que a sua criação de 2019. 


    O contrato de Beyoncé com a Disney só demonstra que a grande indústria de entretenimento americana tem potencial de apresentar vitalidade e diversidade em seu catálogo. O álbum musical é a prova que a cantora usa seu trabalho e sua influência no meio cultural com intuito de mudar a imagem dos negros e da áfrica que está sempre associado a pobreza e submissão aos brancos, formando uma nova imagem, mostrando aos negros que é preciso conhecer sua ancestralidade, já que a cultura branca (dominante) tentou destruir a cultura e a religião do povo africano. "Black is King" lembra que é necessário retomar suas origens com intuito de se autoconhecer e para se libertar da opressão e segregação resultante de séculos de escravidão. A ousadia do discurso da cantora no álbum conceitual provocou diversos palpites sobre o trabalho seja pelo movimento estético, cultural e social. Sem entrar em polêmicas, o que é importante ressaltar é que o afrofuturismo inseriu o negro na visão de futuro – um posicionamento que vai além do entretenimento mas também fala sobre sobrevivência e resistência. Beyoncé acerta ao incluir o movimento no trabalho familiarizando a cultura negra ao universo pop assim como recentemente utilizado em Pantera Negra (2018). 


    O empoderamento feminino também tem presença na obra com mulheres como protagonistas. Beyoncé canta sobre o poder da mulher representada no filme por guerreiras na canção "My Power" e exalta a beleza negra em "Brown Skin Girl", que tem a participação da filha da cantora, Blue Ivy, da amiga e ex-Destiny’s Child, Kelly Rowland, de sua mãe, Tina Knowles-Lawson, além da modelo Naomi Campbell e da atriz Lupita Nyong’o. Um dos pontos altos do projeto. A religião também é utilizada na produção, em "Otherside" uma referência clara a Moisés, personagem bíblico do Antigo Testamento e salvo pela mãe de um genocídio de meninos ao ser colocado no rio Nilo. Moisés é uma figura que representa a liberdade: ele foi o responsável por tirar hebreus da escravidão. As religiões africanas também estão presentes no filme. Para os brasileiros, a proximidade ainda é maior, já que, por aqui, as religiões de matrizes africanas são bastante populares quando comparadas à cultura americana. A deusa Oxum, considerada a senhora da beleza, da fertilidade, do dinheiro e da sensibilidade, é exaltada por Beyoncé em pequenos detalhes. 


   A concepção imposta por Beyoncé ainda rende bastante polêmica ao misturar a estética tecnológica aos elementos da cultura africana, no nosso entendimento é um movimento importante e criado para agregar e celebrar a amplitude e a beleza da ascendência negra e para apresentar elementos da história negra e da tradição africana com um toque moderno e uma mensagem universal, coisas que a cantora vem realizando com bastante primor em seus trabalhos. Independente da visão pessoal de cada um, Black is King é um frescor necessário para a cultura negra ressaltando sua beleza e seu poder cultural.  ARTE.


O filme está disponível no streaming Disney+.

Hype: ÓTIMO (Nota: 8,5)

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