terça-feira, 29 de setembro de 2020

ESCOLHIDA (2020) - "Antebellum" de "Gerard Bush" & "Christopher Renz"

 

 "Um filme que deveria ser um entretenimento provocativo e inteligente se perde em uma condução pífia e cansativa" 

   Os filmes com uma temática social embutida em entretenimento tem sido um respiro interessante nessa nova safra de filmes americanos, porém, para cada obra prima de Jordan Peele ou Spike Lee, reflexo dessa nova onda, existe algo que pode sair errado, como esse "Escolhida", um filme que carrega consigo uma idéia de interessante potencial desperdiçado em uma exposição gratuita de um terror tão real e dolorido como a escravidão. A forma como esse filme fala de racismo soa desnecessária e ainda reforça o preconceito e os horrores sofridos pelo povo negro sem o equilíbrio de dosagem que observamos em filmes recentes como Corra, Nós e Destacamento Blood. Sem dar muitos detalhes para não atrapalhar a experiência do espectador, ao alternar diferentes linhas narrativas pra criar uma estrutura interligada, a premissa desse "thriller" se torna desconcertada e atrapalhada por uma visão estranha e clichê, Janelle Monáe que vive a personagem principal, por exemplo, foi criada em um esteriótipo cafona. A recompensa dos diretores em explicar o passado e o futuro na linha do tempo apresentada será apenas mais uma decepção pelo tempo perdido com a sufocante obra.


     Na trama, ambientada no que parecem ser os tempos anteriores à Guerra Civil, uma escrava chamada Eden (Monáe) discretamente considera suas opções em uma vida de abusos. Ela desenvolveu um sistema para evitar que as tábuas do piso que rangem e as dobradiças das portas barulhentas de seus aposentos a impeçam de se encontrar com outros escravos, Eli (Tongayi Chirisa) e a recém-chegada Julia (Kiersey Clemons), embora falar seja proibido entre eles. Logo o principal objetivo deles é fugir do lugar. Assim que os planos de fuga de Eden parecem estar ganhando impulso, um celular toca fora da tela - uma interrupção anacrônica que leva o filme a outro enredo muito distante. Este também apresenta Monáe, agora interpretando uma respeitada acadêmica do século 21 chamada Veronica Henley, autora de “Shedding the Coping Persona”. O aviso do capitão Jasper aos escravos de que eles devem permanecer em silêncio ressoa de forma diferente nesta linha do tempo, onde Veronica ofusca um erudito conservador durante uma entrevista de um noticiário de TV. As consequências desses acontecimentos no passado e no presente possuem uma conexão assustadora.


     Como essas duas realidades se conectam é o propósito e a ruína deste thriller psicológico, poderia se encaixar como um episódio de "Black Mirror", mas como um longa-metragem, falha no roteiro e na direção de Gerard Bush e Christopher Renz que se concentram em um "Plot Twist" (uma grande reviravolta) digna de Shyamalan e mas parece uma "pegadinha",  arrasta o filme para intenções superficiais, como mostra e usa a escravidão como uma tática de choque e suas tentativas de manter um espelho nos dias de hoje para justificar o horror vivido pela personagem. Uma mulher negra de sucesso é punida por desafiar uma autoridade branca sendo forçada a voltar à escravidão? Seria uma fagulha para um filme muito mais urgente e necessário para os tempos atuais. Ainda que se bem analisado o filme não seja ruim, o caminho escolhido foi o mais tortuoso e sem o peso do tema proposto. DECEPCIONANTE.


O filme tem previsão de estréia no Brasil em Outubro pela Paris Filmes.

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

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