sábado, 25 de abril de 2020

LIBERTÉ (2019) de "Albert Serra"


O deleite dos libertinos em uma obra prima da perversão e do prazer sem limites. 

O Festival BIFF apresentou no Brasil o filme que dividiu o público e a crítica na Mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard) do Festival de Cannes de 2019. Ainda inédita no Brasil, a produção do interessante diretor Albert Serra (A Morte de Luís XIV) é uma obra peculiar e um exercício de paciência para expectadores tradicionais. O filme, com mais de duas horas, se passa por inteiro em uma floresta de eucaliptos, aonde acontece dirversos encontros noturnos e clandestinos para práticas sexuais libertinas e declarações de seus incessantes desejos. Sado-masoquismo, práticas bissexuais e outros feitiches numa busca incessante pelo prazer. O ano é 1774. Os aristocratas de Louche expulsos da corte francesa por seu comportamento debochado procuram o apoio de seu colega alemão, o duque de Walchen. O objetivo deles é alistá-lo em seu movimento filosófico: libertinagem. Eles se esquivam da guilhotina lutando contra o tédio, espreitando na vegetação rasteira e embarcando em um ataque competitivo de ascensão fetichista recusando qualquer moral e autoridade. O fascínio do diretor Albert Serra por esse período distorcido e decadente da história européia continua firme. Este filme em particular evoluiu de uma peça que Serra encenou em 2018 em Berlim, que tratava do lado sombrio e do desejo humano. É um filme escuro, tanto espiritual quanto visualmente, o cenário noturno da floresta é fracamente iluminado dando a sensação de voyeurismo dos personagens em querer entender o que se passa ali. Temos dicas das atividades ao ar livre nos choramingos e gritos abafados que cortam o som das cigarras. Serra acaba por mostrar os libertinos em ação, em várias cenas gráficas. A escolha do título, combinada com o tom do filme, é intrigante. Serra joga várias sugestões de reflexão sobre liberdade, instinto e impulso. Esse mergulho faz com que o estilo de filme seja único e consistente no que pretende, indo além da necessidade de um cinema cerebral, que exige esforço para ser entendido. O consentimento para embarcar na obra já é dado no início quando o duque de Wand (Baptiste Pinteaux), relembra lascivamente a execução esquartejante de algum criminoso infeliz antes de cair a noite e começar o livre encontro de pessoas sedentas por prazer. Em alguns momentos o filme cria um universo sensorial, contemplando a paisagem e a coragem de quem consegue se aproximar e se permitir ao êxtase. É um filme mais adequado a quem busca produções mais experimentais ou filmes como "Saló, ou os 120 dias de Sodoma" (1975) de Pasolini. E quanto mais o diretor atrasa o momento de gratificação, fazendo pleno uso de toda a duração do filme, dando a impressão de que está acontecendo em tempo real, mais ele força os espectadores a ficarem atentos e serem atraído pelas expectativas desses libertinos. A INSANIDADE DO PRAZER.


Filme exibido na Mostra Grandes Pré-estréias do  7° Festival Internacional de Cinema de Brasília - BIFF. Sem previsão de estréia no Brasil. 

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0





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