quinta-feira, 23 de abril de 2020

BLUE GIRL (2020) de "Keivan Majidi"



Documentário mostra a inocência de um grupo de crianças do Curdistão que exergam no futebol a esperança de dias melhores.

Metade dos títulos da seleção desse ano do Brasilia Internacional Festival é de documentários, entre eles “Blue Girl”, do novato Keivan Majidi, que conta a história de um grupo de crianças que procura por um lugar plano nas montanhas para jogar futebol. O esporte é a unica distração dessas crianças em um vilarejo onde todos os moradores são apaixonados por futebol. A princípio parece um filme simples sobre infância e a vida de pessoas humildades mas fala sobre uma questão interessante, a busca pela ocupação do seu lugar no mundo. A produção se infiltra no mundo dessas crianças e quem conta a história é uma das crianças, a garota é responsável pela descrição do local, apresenta adultos e crianças relacionando-os com a grande paixão do lugar pelo futebol. O termo Blue Girl curiosamente faz lembrar ao famoso caso onde uma garota iraniana que amava futebol, Sahar Khodayari, corria o risco de passar seis meses na prisão por desafiar a regra que proíbe a entrada de mulheres nos estádios de futebol do Irã. Diante de um tribunal religioso, ela decidiu atear fogo no próprio corpo e morreu. Esse caso chocou o mundo em 2019 e se tornou um símbolo do apoio contra a opressão das mulheres que gostam de futebol. Esse fato não é citado mas é a grande inspiração do filme, fica claro a intenção de mostrar o quanto esses países erram em privar as mulheres do gosto pelo esporte, nesses países islâmicos elas ainda vivem uma escravidão conservadora e misógina sem previsão de fim. É uma questão cultural da região, infelizmente. Falta essa pimenta no documentário, a Blue Girl retratada aqui, uma gorotinha que ama futebol, joga escondido dos adultos e acompanha os meninos jogarem, não desafia o expectador, é só um retrato que permanece frio mesmo com os horrores sofridos por Sahar Khodayari. O filme busca ser leve, um caminho entendiante em meio a um assunto tão voraz. O direcionamento de ser um filme família em meio a um importante fato deixa o filme avulso e sem pulso. Ainda sim é fácil se envolver com a história daquele lugar distante e com crianças em busca de um sonho. Visualizar a rotina de um lugar e o apego pelo futebol entre as pessoas da vila mostra a dimensão de um evento mundial como a Copa do Mundo. Cenas como a cerimônia de previsão antes da Copa do Mundo da Rússia começar, os muitos diálogos sobre os jogos, as seleções de outros países defendidas de forma sagrada por seus torcedores formam um cenário curioso para a realidade local. O futebol tem seu papel, em especial à união e ao trabalho de equipe. Os adultos são mostrados como pessoas passivas diante a energia e a vontade das crianças de brincar e buscar um sentido. A jornada dessa Blue Girl do filme é de coadjuvante, de manter o padrão estabelecido e voltado principalmente no objetivo dos garotos em encontrar o campo de futebol ideal nas montanhas. Qual sentido realizar um documentário com o desconforto que esse nome tem, onde o foco é mostrar os meninos conseguindo fazer o seu campo de futebol ideal e não questionar porquê as meninas estão ajudando se os meninos não as deixam jogar. Embora cheio de boas intenções, o documentário não muda em nada essa visão machista e atrasada, fazendo questão de se manter em um lugar seguro em não aprofundar temas importante e tenta mostrar beleza na opressão. Um filme cheio de potencial esvaziado na falta de coragem. RETRATO VAZIO.


Filme exibido na Mostra Competitiva do  7° Festival Internacional de Cinema de Brasília - BIFF. Sem previsão de estréia no Brasil. Distribuição pela Elite Filmes

Hype: REGULAR - Nota: 5,0

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