segunda-feira, 8 de julho de 2019

(Hype) HIGH LIFE (2018) de "Claire Daines"


Cultuada diretora francesa, Claire Daines, apresenta uma obra poderosa e marcada pelo vazio do espaço e da alma.


A produção do estúdio A24 que chamou bastante a atenção em festivais pelo mundo, incluindo o badalado Festival de Toronto do ano passado é uma obra interessante e recomendada para cinéfilos que não se prendem as estruturas básicas de entretenimento. Conhecida pelos trabalhos em filmes como 35 doses de Rum, Chocolat e Minha Terra, África, a diretora de 72 anos realiza seu primeiro longa na língua inglesa além de explorar um gênero novo em sua filmografia, uma história que se passa no espaço. Com um elenco que inclui nomes como Robert Pattinson, Juliette Binoche, Andre 3000 e Mia Goth, o filme consegue mesmo com pouco recurso aguçar a curiosidade do expectador e também explorar os elementos espaciais de forma contemplativa e muitas vezes aliados a uma certa questão espiritual e humana. O drama usa a metáfora espacial para refletir variados temas, dentre eles, convivência, individualidade, sexualidade e outros. O resultado final apresenta uma obra de variados sentimentos, quase como se o expectador estivesse participando do projeto espacial junto com os personagens. “High Life” conta a história de um grupo de criminosos que aceita participar de uma missão espacial experimental na qual eles viajarão a um buraco negro enquanto tem suas sexualidades testadas por cientistas. A missão sai em procura de energias alternativas em uma viagem que toma rumos inesperados quando uma tempestade de raios cósmicos atinge a nave e põe em risco a sobrevivência de sua tripulação. A simplicidade e profundidade de sua abordagem revela um filme de ritmo lento que pode causar um sentimento claustrofóbico ao mesmo tempo que sua contemplação vai de acordo com a experiência pessoal de cada espectador, seja pelo caráter hipnotizante ou elusivo. Nem todas as respostas estão claras. Pattinson, que em breve dará vida ao novo Batman, mostra mais uma vez seu crescimento como ator, ele já havia brilhado recentemente em Bom Comportamento e volta a entregar uma performance envolvente e admirável. Binoche traz uma atuação automática porém cheia de nuances, há um momento memorável no filme em que a personagem da atriz usa um dildo em uma câmara de metal em uma cena bem artística e interessante. Mesmo com uma certa palidez em alguns momentos o filme agrada justamente nos pequenos detalhes se revelando uma obra que lança mão de estruturas narrativas para apresentar um estudo sobre a vida humana assim como imagens que podem te levar da ternura de um adorável bebê a uma coleção de corpos humanos vagando no espaço. É uma obra repleta de símbolos em uma jornada de poucos momentos de hesitação além da trilha eletrônica low-fi do vocalista dos Tindersticks, Stuart A. Staples. A profundidade do filme está no vazio presente em nós, seja na alma já condenada de atos penosos ou na perspectiva de uma existência com algum sentido ou alguma esperança. PROFUNDO.



O filme não tem previsão de estréia nos cinemas do Brasil.


Hype: BOM  (Nota: 7,5)


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