sexta-feira, 19 de abril de 2019

O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS (1964) "Il Vangelo secondo Matteo" de Pier Paolo Pasolini




Aproveitando a Sexta-feira Santa e a Páscoa revisitamos um dos filmes religiosos mais aclamados e bonitos já realizados sobre a Paixão de Cristo. 

Filmado em 1964, em preto e branco e com mais de 2 horas de duração, o filme não traz nada de novo no que já conhecemos da história de Jesus Cristo mas permite usar do expressionismo, simplicidade e honestidade uma visão marcante da história bíblica. O realismo como tudo é retratado leva o famoso diretor italiano e ateu, Pier Paolo Pasolini a alternar da  revolta radical a edificação religiosa. Na época ele dedicou o filme ao Papa João XXIII e gravou a produção em Israel como o seu projeto mais incomum para o poeta da classe baixa dos subúrbios de Roma. O Evangelho Segundo São Mateus surgiu cerca de 10 anos antes de um dos seus filmes mais polêmicos de todos os tempos, Saló ou os 120 dias de Sodoma. Suas ideias contraditórias, marxistas e místicas fizeram do prolífico escritor e poeta ser um diretor mundialmente respeitado e idolatrado mostrando um cineasta único sem medo de deixar sua marca. O longa é um dos poucos filmes bíblicos que o Vaticano deu seu selo de aprovação, em grande parte porque é bastante bonito, poético e fica muito próximo do texto do livro em que se baseia, com a maior parte do diálogo tirado diretamente da Bíblia. No entanto, Pasolini concentra-se no lado político de Jesus, com Cristo se deparando com uma figura muito intensa, unilateral e sem humor, cujas idéias são surpreendentemente marxistas. Interpretado por Enrique Irazoqui, Jesus não é retratado como um cara simpático. Na verdade, você tem que se perguntar se Pasolini escolheu Irazoqui baseado no fato de que ele se parece um pouco com Che Guevera e pode realmente conseguir a intensa e ideológica mentalidade de um revolucionário. Foi este lado revolucionário de Jesus que Pasolini se interessou e ele certamente traz isso para fora, sem esquecer as partes místicas e estranhas do conto ou os momentos que são muito humanos ou na verdade fantasiosas. Intensamente poético e com uma variação interessante que vai da música clássica e também permite ao expectador sua própria assimilação de pensamentos ou vivência do ocorrido dando espaço para interpretar, pensar e cogitar. O observador religioso provavelmente o achará transcendente, enquanto os ateus terão espaço para considerar as questões levantadas pela história de Cristo, e certamente dará a alguém uma pausa para pensar sobre que figura política Jesus era, o que muitas vezes é negligenciado. Afinal, enquanto a igreja tende a dizer que ele morreu por nossos pecados, ele pode ter sido morto por causa de sua política. Independente da sua crença, é uma visão bastante intensa, poética e bela da história de Cristo. OBRA PRIMA!


O filme foi lançado em mídia física no Brasil em DVD e Blu-ray. Filme visto diretamente da nossa coleção particular em Blu-ray! A restauração realizada no filme e lançado no Brasil pela Versátil está excelente ressaltando ainda mais sua ótima fotografia e ainda possuí extras imperdíveis sobre o diretor italiano. 

"Vós ouvireis com os ouvidos, mas não entendereis. Verei com os olhos mas não compreendereis. Pois o coração deste povo se tornou insensível. Endureceram as orelhas e fecharam os olhos... para não ver com os olhos e para não ouvir com as orelhas." (Jesus).



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