quarta-feira, 8 de julho de 2020

INDIANARA (2019) de "Aude Chevalier-Beaumel" e "Marcelo Barbosa"


O poderoso documentário observacional INDIANARA, lançado oficialmente no Festival de Cannes em 2019, finalmente chega no Brasil em momento delicado para as minorias.

    A natureza das comunidades LGBT+ atuais é a essência deste documentário filmado no estilo de guerrilha no período que antecede a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, Indianara levanta questões urgentes sobre o futuro iminente dos que vivem nas margens e além disso, expõe a humanidade e a necessidade dessas pessoas na luta pela igualdade social no Brasil. Após a decisão do Senado de remover a primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff em 2016, a substituição pelo vice-presidente Michel Telmer se tornou uma época cheia de protestos caóticos. Durante esse período nebuloso surgiram diversos cineastas que por meio de histórias como essa se tornaram uma onda criativa e necessária de relatos desse Brasil, de processos políticos confusos, violência contra as minorias e retrocesso cultural. O gênero documental se consolida no Brasil com diversas produções de destaque mundial e Indianara é mais um relato poderoso da linha de frente da luta contra os conservadores. 



   produção chega ao país pela plataforma de curadoria e streaming de filmes MUBI, em parceria com a distribuidora brasileira O2 Play e integra uma das estratégias da MUBI para dar mais visibilidade a filmes nacionais e internacionais, assim como foi feito recentemente com o Museu da Imagem do Som – MIS-SP e o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. O filme narra a trajetória da ativista transexual Indianara Siqueira, uma das idealizadoras da "Casa Nem", abrigo para pessoas LGBTQIA+ no Rio de Janeiro e retrata os atos de resistência da militante contra as ameaças aos transexuais no Brasil. Com 84 minutos de duração, Indianara faz um interessante retrato da ativista considerada um ícone da causa transexual. Após a perda da companheira de luta Marielle Franco, ela busca forças para continuar na resistência. O filme começa justamente na cansativa rotina da ativista em um cortejo seguido por meia dúzia de pessoas onde uma travesti morta num ato de transfobia se torna parte das chocantes estatísticas de crimes de ódio contra a comunidade no Brasil. 



    O Documentário é a oportunidade de uma visibilidade rica para um tema de questões sociais e políticas rodeado de preconceitos e entraves. Dirigido pela francesa Aude Chevalier-Beaumel (Rio Ano Zero, 2013) e (Sexo, Pregações e Política, 2016) e pelo brasileiro Marcelo Barbosa, em seu primeiro longa metragem, a atração desta história é a sua atitude em explorar as atividades políticas e a vida pessoal dos personagens, o ambiente reflete a personagem bem como seus hábitos. É uma parte importante para ajudar a preencher a imagem da humanidade e tocar em assuntos delicados de pessoas que não possuem opções, pois seus corpos já são uma manifestação política constante da qual não podem e nem querem fugir. Mesmo com o título do projeto, não há realmente uma preocupação em transformá-lo numa biografia, em vez disso, o foco da obra é no cotidiano atual de Indianara, em sua luta e nos riscos que enfrenta, ela é o reflexo de milhares de pessoas da linha de frente, do enfrentamento e da resistência de um país cada vez mais perigoso para um LGBT. UMA ATIVISTA REVOLUCIONÁRIA.


O filme está disponível aos assinantes da MUBI, no Brasil e em mais 194 países.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0

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