segunda-feira, 20 de julho de 2020

BOCA A BOCA (2020) de "Esmir Filho" e "Juliana Rojas" (Primeira Temporada)


Série brasileira da Netflix traz história sobre surto epidêmico para discutir questões sociais em trama jovem e moderna.

     A criativa série do diretor Esmir Filho (Os Famosos e os Duendes da Morte) e Juliana Rojas (Trabalhar Cansa), chegou a Netflix com pompa de disputar espaço com grandes estreias do streaming, dialogando com a atualidade por conta de um aspecto específico da história: a trama retrata a epidemia de uma doença transmitida pelo beijo que se espalha numa cidade fictícia no interior do Brasil. A série leva o espectador a misteriosa cidade de Progresso, um lugar que parece ter se isolado do mundo em prol do "controle" de seus jovens. O município fictício teve a cidade de Goiás Velho - GO como inspiração visual, é considerada uma cidade modelo, em que pais e professores prezam pela tradição e pelos bons costumes. Em resumo, é quase como uma maneira de discutir a ascenção da direita conservadora e religiosa e sua mania de limpeza de desejos. Boca a Boca chega no meio da quarentena do Covid-19 e faz com que ela se torne ainda mais necessária que qualquer outra produção adolescente do streaming. A mensagem da história traz reflexão e trabalha as relações humanas com afeto e humanidade, com foco central nos personagens assim como suas convicções. Sem dúvidas uma produção que merece uma espiada de quem tá zapeando em busca de uma boa novidade.


   A história ganha desdobramentos pelo ponto de vista de um trio de protagonistas: Alex (Caio Horowicz), Fran (Iza Moreira) e Chico (Michel Joelsas). Alex é o filho do maior fazendeiro de Progresso e vive um conflito dentro de casa por ser vegano e não compactuar com os princípios da família. Fran é filha de Dalva (Grace Passô), funcionária da principal fazenda da região, as duas sofrem o risco de serem despejadas da Colônia devido a problemas de saúde de Dalva. Chico é o menino da cidade grande que vai morar com o pai e percebe todo esse tradicionalismo e conservadorismo tóxico dessa comunidade. É por meio dos protagonistas que a série discute questões de conflitos familiares, diferenças sociais, sexualidade, drogas e redes sociais. Os adolescentes estão simplesmente querendo experimentar seus desejos e surge uma epidemia que assusta todos da cidade, esse surto é uma simbolia à repressão dos próprios corpos, é algo que faz com que esses personagens tenham que lutar para serem mais fortes. O elenco tem ainda grandes nomes como Denise Fraga e Bruno Garcia.


   A epidemia misteriosa que acontece em progresso é o ponto de partida para discutir as nossas relações em tempos difíceis como agora e sobre nossas fraquezas, cada personagem tem em si suas inseguranças em meio a coragem de seguir suas vontades. Com um visual arrebatador e uma fotografia atraente, a série é cheia de bons momentos graças ao seu apelo visual bastante colorido em neon e com várias tomadas bonitas graças também a ótima trilha sonora recheada de música indie eletrônica, que vai de artistas conceituados como "The Knife" e "Chromatics" a boas revelações nacionais como "Bacu Exu do Blues" e "Trupe Chá de Boldo". A temporada é promissora e só escorrega em sua conexão com o sobrenatural, usando o misticismo como uma saída para resolver questões da doença, lançando mistério que pode também ser um gancho importante para uma continuidade e traça paralelos com a ficção científica. As dificuldades desses jovens expõe uma causa social, é também uma importante fonte de reflexão ao que vivemos neste momento na vida real. A série acerta bastante e consegue fisgar o expectador mesmo com alguns direcionamentos questionáveis, principalmente com o personagem principal Chico e algumas soluções fáceis na trama, ainda assim não decepciona. INTRIGANTE!


A série tem 06 (seis) episódios e está disponível na Netflix.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário