domingo, 2 de fevereiro de 2020

PERDI MEU CORPO (2019) - "J'ai perdu mon corps" de "Jérémy Clapin"



Animação francesa premiada no Festival de Cannes e indicada ao Oscar é uma produção independente com beleza, poesia e originalidade. 

O diretor Jérémy Clapin passou quase oito anos trabalhando no filme, sua estréia no cinema, em 2019 ao ser exibido no Festival de Cannes, foi aclamado e premiado, sendo a primeira vez que uma animação de longa metragem ganhou a prestigiada seleção paralela de Cannes, o Grande Prêmio da Semana da Crítica. Sua carreira de sucesso ainda ganhou destaque em outros diversos festivais chamando a atenção da Netflix, que comprou os direitos para sua distribuição mundial contribuindo para que mais pessoas tivessem o acesso a essa surpresa de 2019. Recentemente a produção foi lembrada pelo júri do Oscar 2020 com uma indicação na Categoria Melhor Animação, aumentando ainda mais seu prestígio. Na trama, uma mão decepada escapa de um laboratório e inicia uma jornada angustiante de volta ao seu corpo, pertencente ao jovem Naoufel. O menino que aspirava ser pianista e astronauta, perdeu os dois pais em um acidente de carro e foi forçado a viver com seu tio emocionalmente distante e seu primo bruto. Deprimido e sem esperança o garoto vive uma jornada de resiliência. É uma história forte e com uma incrível mensagem sobre mudar as coisas, fazer algo incomum e se afastar da linha reta quando tudo não está legal. Segundo Jérémy Clapin, seu objetivo é que os espectadores esqueçam que estão assistindo a um filme de animação, tornando o filme estruturado como um quebra-cabeça. A idéia não é contar a história de um homem que perde uma mão, mas de uma mão que perde um corpo. Dessa forma se segue um modelo de filme muito clássico - a história de dois personagens criados um para o outro, mas separados pelo destino. Eles começam juntos, se separam pelo destino e precisam se encontrar novamente. A jornada é emocionante principalmente pela boa sacada da mão expressar emoções sem o benefício de um rosto em suas aventuras extremas e perigosas. O recurso da animação e os traços não são fenomenais porém o conjunto da obra é algo agridoce, sentimental e aterrorizante. Embora Naoufel tenha as duas mãos quando o encontramos pela primeira vez, não é muito difícil adivinhar o rumo dos acontecimentos, já que a primeira imagem do filme é do seu rosto manchado de sangue. As histórias gêmeas não se entrelaçam, a jornada da mão é uma aventura a partir do seu início silencioso, quase de um filme de terror, em que a mão sai de uma geladeira cheia de pedaços de corpos humanos incluindo vários globos oculares. A história de Naoufel tem sua doçura, beleza e tristeza, porém sem frescor. Quando o filme é focado na mão, é incrível. Todas as mesmas coisas que fazem a animação humana parecer um pouco desanimadora são muito melhores para a mão, um "personagem" inerentemente grotesco, mesmo nos momentos em que não estão deliberadamente cortejando imagens de filmes de terror. Ainda que possam sugerir a personagem clássica de A Família Addams, mãozinha, são abordagens e caminhos bem diferentes. A "atuação" inteligente que a mão faz ao observar o mundo à sua volta traz uma abordagem visual que também significa que o filme pode apresentar alguns ângulos surpreendentes e astutos que fazem qualquer local parecer incrivelmente grande e detalhado, ou terrivelmente esmagador. É um ótimo uso da animação, dando-nos uma perspectiva arrojada que cobre praticamente todas as emoções disponíveis. Dessa forma ocorre o equilíbrio, na jornada da mão temos uma aventura empolgante e na jornada de Naoufel uma emoção a flor da pele. Talvez até mais do que qualquer aspecto de sua técnica visual, o filme se beneficia da trilha sonora do compositor Dan Levy focada em sintetizadores. Perdi Meu Corpo tem o ajuste perfeito de suas qualidades, criando um clima sonhador e com toques de horror em um belo espetáculo animado. FORA DA CAIXINHA!


O Longa Animado está disponível na Netflix!

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

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