quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

INDÚSTRIA AMERICANA (2019) - "American Factory" de "Steven Bognar" e "Julia Reichert"


Documentário vencedor do prêmio de direção em Sundance e indicado ao Oscar, é  um intenso exercício de percepção do capitalismo e das diferenças culturais. 

O filme já estava pronto quando a Netflix e a Higher Ground (produtora do ex-presidente americano Barack Obama e da ex-primeira-dama Michelle Obama) adquiriram a produção no Festival de Sundance de 2019 para sua distribuição mundial. O documentário tenta ir além dos noticiários sobre economia e globalização, mostrando o dia a dia de uma empresa chinesa que se estabelece nos Estados Unidos ocupando o lugar de uma fábrica americana da GM e põe operários chineses e americanos para trabalharem juntos. O olhar racional das câmeras transita em uma edição nervosa e interessante transmitindo uma sensação de tensão nesse fluxo por ambos os lados. A ilustração muitas vezes caracteriza que as questões econômicas e políticas também são questões culturais. Entra em choque o modelo Ocidental contra o modelo Oriental e o desafio de unificar padrões diferentes de produção. Em um primeiro momento, a comunidade americana acolhe de braços abertos a presença da Fuyao e a promessa de oportunidades econômicas para a região. Os executivos da empresa projetam uma imagem de unidade, procurando integrar os empregados em suas práticas metódicas. O processo desanda rapidamente quando a empresa tenta descumprir muitos procedimentos de segurança e proteção dos trabalhadores. A expectativa é que a fábrica de Dayton atinja os mesmos níveis de produção de vidro que as fábricas da Fuyao na China. As dificuldades surgem, principalmente, quando os ideais sobre o trabalho e a linha de produção da empresa oriental não funcionam com os funcionários americanos, ainda em maioria na fábrica. O filme busca entender essas diferenças sem julgamentos ao realizar uma análise sobre os metódos de trabalho. Os operários chineses são motivados por um senso coletivo de missão, algo que é intensificado pelos executivos chineses, vistos no filme usando apelos nacionalistas para mobiliza-los e semear o antagonismo entre eles e os americanos. Já os operários americanos são tratados como preguiçosos por buscar direitos e bater de frente com os executivos da empresa. Uma das principais queixas é uma série de acidentes sofridos no trabalho devido a falhas nos procedimentos de segurança. Eles começam a se organizar para participar do sindicato United Auto Workers em busca de qualidade de vida no trabalho e melhores benefícios. Boa parte do filme é uma saga tensa e às vezes frustrante de tentar um equilibrio nesse conflito e também a bussca por humanizar todos os envolvidos, desde um simples operário imigrante como o alto escalão da empresa. No meio do caminho ainda surgem outras questões interessantes como as máquinas substituindo a mão de obra humana. Com uma direção precisa e uma reflexão sobre as diferenças de pensamentos, o filme é um documentário que pode também servir de alerta sobre o abuso dos grandes empresários na busca cega por lucro.. "CAPITALISMO SELVAGEM".


O filme está disponível no catálogo da Netflix.

Hype: BOM  - Nota: 7,5

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