segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

HONEYLAND (2019) de "Tamara Kotevska" e "Ljubomir Stefanov."


Filme-documentário macedônio indicado ao Oscar 2020 mostra o poder de uma história, é uma bonita lição de vida de uma das personalidades mais fascinantes do cinema em 2019.

O documentário acontece na vila rural de Bekirlijia, cerca de 55 km a sudeste da capital do norte da Macedônia, Skopje. Os dois co-diretores descobriram enquanto pesquisavam em um documentário ambiental uma apicultora quase solitária e decidiram registrar sua vida ao se apaixonarem por seu modo de vida. A equipe passou três anos no local para os registros. O filme ganhou o prêmio Sundance World Cinema Grand Jury de 2019 para documentário e dois prêmios especiais do júri por fotografia e impacto por mudança. É o primeiro filme indicado ao Oscar de Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro simultaneamente. Tudo acontece graças a Hatidze, uma personagem real e dona de uma doçura fenomenal ao tratar cuidadosamente das abelhas, respeitando religiosamente o meio natural e o ecossistema em que vive. Além de tratar da abelhas ela também cuida da sua mãe, já bastante idosa e cheia de limitações, sem conseguir sair da cama. Elas vivem em uma pequena casa sem água corrente ou eletricidade, em uma aldeia abandonada. Em visitas episódicas a Skopje, a maior cidade da região, constituem os raros momentos em que ela vê mais gente e pode vender o mel cultivado, comprando algo para a sobrevivência e consumo. A calmaria de Hatidze termina com a chegada de novos vizinhos. Desacostumada com o barulho externo e vivendo para cuidar de sua mãe, ela acompanha com um olhar desavisado uma família turca entrando em seu mundo particular. Eles também se tornam apicultores em sua região e não seguem as mesmas regras naturais que a sua, o equilíbrio do ecossistema das abelhas é ameaçado e Hatidze precisa se esforçar para persuadí-los a seguir os pilares elementares para a sobrevivência das mesmas. Mas o inepto Hussein, instigado por um comerciante, favorece o lucro sobre a sustentabilidade e retribui a bondade com destruição impensada. E é justamente por sentirmos tão facilmente a bondade e simplicidade da personagem que o constraste de Honeyland é tão duro. Apesar de se tratar de um documentário, os diretores delineiam o filme a ponto de fazer com que os fatos que rodeiam Hatidze transformem essa história em algo poético que muitas vezes nos esquecemos que se trata de um documentário. A presença dos diretores é discreta e não percebida. Com uma fotografia impressionante, Honeyland nada mais é que uma história sobre como o ser humano é capaz de viver de forma honesta e feliz com o que tem em mãos, enquanto também fala sobre como somos capazes de desmoronar nossos valores em prol do capitalismo. Este é um estudo sobre a ganância e uma reflexão sobre valores mas também uma poesia silenciosa sobre retribuição. Há vários momentos de sensibilidade ilustrando como a humanidade se perdeu na modernidade e a esperança de um mundo melhor surge ao conhecer Hatidze. Um registro inesquecível. "UMA METADE PARA MIM, OUTRA PARA VOCÊS".


O filme não tem previsão de estréia no Brasil!

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário