sexta-feira, 1 de maio de 2020

CORPUS CHRISTI (2019) - "Boze Cialo" de "Jan Komasa"


Filme polonês é uma intensa surpresa seja pela atuação vibrante do ator Bartosz Bielenia ou pelo interessante relato de um jovem perdido em seus caminhos que busca conforto na religião em uma história que foge da linha reta.

O filme já havia chamado a atenção quando foi escalado para concorrer na Categoria Filme Internacional no Oscar 2020, tirando escolhas certeiras e favoritos a categoria, dirigido pelo quase desconhecido Jan Komasa, o filme foi um sucesso no país de origem e chamou bastante atenção no tradicional Festival de Veneza participando também de outros festivais como o TIFF em Toronto com forte comentário da crítica, principalmente por ser um filme agradável de assistir mesmo com um tema bastante forte. Inspirado em fatos reais, a trama segue Daniel (Bartosz Bielenia), um rapaz problemático de 20 anos que usa a religião como meio de sobrevivência enquanto cumpre pena em uma prisão para adultos e jovens delinquentes. Mesmo trancafiado por razões semelhantes que os demais presos, ele não é como a maioria deles, seu passatempo entre as atividades na prisão e ser hostilizado pelos colegas de confinamento é orar em seu quarto e cantar hinos religiosos enquanto ajuda o pregador da prisão durante seus sermões. Sem uma rigorosa disciplina de ser um “homem de Deus”, logo após sua libertação ele recebe um chamado para seguir sua vida no norte do país em uma cidade tranquila. Ele aposta na sorte e em vez de treinar para ser um humilde carpinteiro como Jesus, ele espalhará sua palavra como um apóstolo 2.0 se vestindo de padre e acidentalmente assumindo uma paróquia local. A chegada do jovem e carismático pregador é uma oportunidade para a comunidade local iniciar um processo de cura após uma tragédia que aconteceu na região. O que poderia ser um drama carregado ou preocupado em agradar aos conservadores, se torna surpreendente ao se desprender de fórmulas e desafiar lógicas, principalmente em confronto ao tradicional, chega a ser difícil de acreditar que Corpus Christi é baseado em histórias reais de pessoas que fingem ser clérigos, no entanto, ele não é um filme religioso mesmo tratando a religião. A compreensão da natureza humana muda conforme o tempo e exige o desprendimento de dogmas mesmo que sua essência ainda seja importante. O filme pode parecer perturbador, com cenas de grande intensidade, presentes na vida real mas ironicamente julgadas, mas seu mérito é conseguir ser cativante na construção de uma história simples e complexa em sua total reflexão de como usamos as ferramentas que possuímos para sermos melhores. No final, possivelmente sirva como um alerta que a pureza está no coração de cada um, longe da necessidade de uma graduação em um seminário ou aprofundamento na teologia, certas regras já se mostraram falhas dentro da igreja e precisam de mudança. A história alerta o quão é importante reavaliarem o significado de noções religiosas, como salvação, julgamento, culpa, reparações, tentações ou arrependimento pelos pecados, tudo apresentado no filme de sua maneira intensa e sem máscara. O filme explora temas universais, não apenas específicos para a Igreja Católica mas para quem acredita na humanidade e na capacidade das pessoas de fazer o bem.  Um filme imperdível. A FÉ NÃO TEM FÓRMULA.


Filme exibido na Mostra Competitiva do  7° Festival Internacional de Cinema de Brasília - BIFF. Vencedor como Melhor Filme pelo Júri oficial.

O filme não tem previsão de estréia no Brasil!

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

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