terça-feira, 26 de maio de 2020

HOLLYWOOD (2020) de "Ryan Murphy" e "Ian Brennan"



Série tem olhar peculiar sobre a indústria do cinema americano com produção caprichada focada em egos, preconceitos e exageros.


     O escritor e produtor Ryan Murphy, vencedor de 5 prêmios Globo de Ouro e 7 Emmy Awards, é mundialmente conhecido por suas produções de sucesso na TV, dentre elas, Nip/Tuck, Glee, American Horror Story e American Crime Story. Desta vez, ele apresenta sua visão do que poderia ser uma Hollywood inclusiva, com mulheres, orientais, negros e gays na década de 60, próximo a uma grande mudança de paradigmas no cinema americano. Seu novo trabalho fora da tv, em um milionário contrato com a plataforma de streaming Netflix, Murphy não poupa esforços em mostrar uma fechada indústria americana de entretenimento que manteve durante décadas um padrão que excluía quem não fazia parte de seu modelo de sucesso, onde em poucos anos, o glamour chegou ao declínio demonstrando a fragilidade de um círculo social de pouca diversidade e uma fachada tradicional. 


     Em um ano onde finalmente um filme internacional, Parasita (2019), conquistou o Oscar, prêmio máximo da indústria americana, demonstra como a série acerta como argumento irônico ao atraso de Hollywood. Ainda assim é um tema complexo, o roteiro se perde em uma problemática superficial que se resume a personagens com pouco a oferecer além da vontade própria de obter a tal ascensão e aprovação do meio artístico americano. Um dos méritos de Murphy é conseguir envolver o espectador nesse paradoxo pouco usual e muitas vezes omitido desse universo, a ponto de fisgar o espectador a acompanhar os próximos episódios em um viés quase sensacionalista, com pouca discrição, exalando sexualidade e restrito a um objetivo frágil de alcance do sucesso. Tudo isso não chega a ser um problema, mas foge do requinte utilizado ao falar de polêmicas no cinema, como a dinâmica utilizada na sua série antológica Feud (2017), onde o produtor aborda a rivalidade histórica entres as estrelas de cinema Joan Crawford e Bette Davis. 


     A ousada produção mistura ficção com fatos reais para demonstrar como esse atraso de pensamento resultou em diversas injustiças históricas por diversos anos, isso já faz da produção, obrigatória por quem acompanha esse modelo de fazer cinema, mesmo que falte um brilho memorável. Hollywood se rende aos esteriótipos, algo que o próprio criador tenta ao máximo se desprender em suas produções. Em um campo aberto e cheio de possibilidades, tudo se concentra nos bastidores de um fictício estúdio da era de ouro do cinema, o investimento financeiro requer a aprovação de um magnata e dono do estúdio, os produtores usam de influências, troca de favores, sexo e poder para ditar o que pode ou não ser sucesso. A banalidade dessa representação não deixa de ser uma verdade, mas apaga o árduo trabalho de milhares de profissionais que entregam suas vidas, a história se rende ao modelo dos tabloides de entretenimento se esquecendo de fortalecer sua essência como arte. 


     O drama tem elenco cheio de altos e baixos, algo já tradicional das produções de Ryan Murphy, David Corenswet vive Jack Castello que se perde como michê na ausência de oportunidade na indústria, o personagem encanta muito pouco e muitas vezes se revela a trama mais fraca do núcleo principal, as soluções fáceis para justificar seus atos e conclusões demonstram a fragilidade de sua história. Darren Criss, que vive Raymond Ainsley, um roteirista que tenta emplacar um trabalho, não demostra fibra e nem destaque, se perde na rapidez de como tudo acontece em sua jornada acompanhado de sua namorada, Laura Harrier, interpretada por Camille Washington, uma negra já incorporada ao estúdio que não consegue um papel principal devido a sua cor, sua atuação soa estranha e sem nuances, falta sentimento e muitas vezes com pouca oportunidade de expor seus pesares como uma negra sem papel principal em Hollywood, no final consegue convencer discretamente. Jeremy Pope vive Archie e emplaca um romance com Jake Picking, Rock Hudson, esses dois personagens são interessantes na trama. O núcleo jovem ainda tem a apagada participação da bela atriz SamaraWeaving. O principal destaque é o núcleo de personagens mais experientes, Jim Parsons entrega um produtor interesseiro cheio de camadas seguido de Joe Mantello que vive o interessante Dick Samuels, assim como Holland Taylor, Rob Reiner e Roz Witt. Ainda há participações de Dylan McDermott, Patti LuPone, Mira Sorvino e Queen Latifah. Difícil entender como um elenco tão forte  não consegue manter um equilíbrio. 


     A produção é um espetáculo visual, a representação da cerimônia do Oscar no episódio final é deliciosa e o episódio 3, Outlaws é um respiro importante para a história ao mostrar uma ousada festa de um executivo com um direcionamento interessante aos personagens. Por fim, vale a pena embarcar nesse universo mesmo que no fim das contas seja uma utopia do atraso, ainda não muito resolvido na indústria do cinema mais adorada do mundo. Se torna uma importante ferramenta para estimular uma massa eufórica por novidade a buscar também produções clássicas para o um referencial cinematográfico. Falta primor nos personagens e no roteiro, ainda assim é uma experiência agradável de assistir. BASTIDORES.


A série possui 07 episódios, disponível na Netflix.

Hype: BOM - Nota: 7,5

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