A tortura e o brilhantismo de uma
produção elegante, serena e feminista de natureza!
Essa é a história de duas vidas
específicas, duas irmãs que vivem a atmosfera de ser mulher no Rio de Janeiro
da década de 50. O retrato de uma violência doméstica que permanece de uma
forma sútil e ainda tornam muitas mulheres invisíveis, até hoje. Essa pegada
social do filme é perceptível e espontânea, a visibilidade que buscam as
mulheres está ligada simplesmente no desprendimento, de deixar de ser sombra do
instinto masculino tóxico. O filme é um bom exemplo de como desde sempre elas
são sugadas por uma sociedade que cultua o machismo. Estamos no país aonde o
feminicídio cresce junto com o fascismo, difícil não se sensibilizar com a
estrutura até um pouco cruel da vida dessas personagens. Uma boa característica
do longa é que mesmo inspirado por um livro, ele toma a liberdade de ter vida
própria, de ser um melodrama repleto de belos quadros, com fotografia impecável
e uma musicalidade contagiante. O cinema feito no Brasil se choca com o cinema
Hollywoodiano e com charme de filme europeu graças a ótima produção, fotografia
e ambientação. Independente de qualquer definição, seu estilo é cinematográfico
em todos aspectos, desde seu texto apurado, a personagens muito bem situados
que transitam na diversidade de uma cidade paradisíaca e perdida do
subdesenvolvimento intelectual das raízes do tradicionalismo patriarcal. O
tropicalismo representado nesta obra se choca com a realidade bucólica de suas
encantadoras personagens, tentando lutar contra as forças sociais que insistem
em frustrá-las. Invisíveis em uma sociedade paternalista e conservadora, se
desdobrando para seguir em frente. Um filme que pulsa junto com a emoção de uma
elipse de 50 anos na vida dessa de duas irmãs. Na trama, no Rio de Janeiro, da
década de 1950, Eurídice (Carol Duarte) é uma jovem talentosa, mas bastante
introvertida. Guida (Julia Stockler) é sua irmã mais velha e o oposto de seu
temperamento em relação ao convívio social. Ambas vivem em um rígido regime
patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos: Guida decide fugir de
casa com o namorado, enquanto Eurídice se esforça para se tornar uma musicista,
ao mesmo tempo em que precisa lidar com as responsabilidades da vida adulta e
um casamento sem amor com Antenor (Gregório Duvivier). Guida e Eurídice são
cruelmente separadas, impedidas de viverem os sonhos que alimentaram juntas
ainda adolescentes. O diretor Karim Aïnouz (Praia do Futuro e
Céu de Suely) consegue ser imaginativo e criativo no retrato do Rio de Janeiro
e seu grande foco está nos espaços privados onde ocorrem momentos bonitos de
contemplação. Ele cria uma surpresa natural ao criar vínculo do espectador com
os personagens, o filme no fim das contas nem trata da resistência da mulheres
e sim de suas vidas interrompidas, a produção de Rodrigo Texeira (RT features)
é primorosa assim como toda equipe de produção pelo belo cuidado técnico. Destaque
também para a bela participação de Fernanda Montenegro, em um filme completo em
sua plenitude, com um final triste e arrebatador. UM NOVO CLÁSSICO.
.
Longa foi o escolhido do Brasil para
concorrer a uma vaga na disputar pelo Oscar na categoria Filme
Internacional, antiga categoria Filme Estrangeiro.
O filme estréia em 21 de novembro nos
cinemas pela Vitrine Filmes e Sony Pictures.
O Meu Hype assistiu ao filme em sua
pré-estreia realizada no icônico Cine Brasília.
Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário