domingo, 21 de junho de 2020

O LAGO DO GANSO SELVAGEM (2019) - "The Wild Goose Lake" de "Diao Yinan"



Noir chinês é o cinema do espetáculo visual e arrebatador sem ser brilhante. 

   Grandes clássicos do cinema contemporâneo são lembrados não só pelas belas imagens eternizadas que os remetem, mas também pelo seu valor como argumento e construção. Esta produção chinesa foi selecionada para competir pela Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2019 rodeada de fortes expectativas, dirigida por Diao Yinan, mundialmente conhecido por despontar em 2014 no Festival de Berlim ao ganhar o prêmio de melhor diretor por "Carvão preto, Gelo fino". O Lago do Ganso Selvagem é um complemento de sua obra de 2014 e demorou quase 5 anos para ficar pronto devido ao seu primor técnico. O resultado é deslumbrante e muitas vezes hipnotizante, a melancolia dos personagens aliado a composição das cenas agrada mesmo sem uma trama dramática atraente, sua transcendência se move no substancial. A produção tem um valor considerável pela estética moderna e pela presença do cinema marginal, onde a violência se confunde com a poesia do estilo de vida complicado dos personagens.


    Na trama, Zhou Zenong (estrela de televisão Hu Ge), é o chefe de um grupo da máfia chinesa que decide fugir da guerra sangrenta entre gangues em que se envolve, em meio a uma disputa de território ele acaba em auto-defesa matando um policial e se torna um homem procurado pela polícia. Nesse meio tempo ele encontra uma mulher, Liu Aiai (Gwei Lun-mei), que foi contratada para levar Zhou aonde ele precisa ir para escapar dessas ameaças. O filme apresenta-se como mais um exemplar do novíssimo cinema chinês, integra violência em um ambiente potencializado por cores neon e realista em atmosfera urbana, condensado a um silêncio existencialista. 


A história aparentemente simples se torna complicada fugindo de um equilíbrio narrativo necessário para a obra. O enredo busca um valor poético e se esquece de personagens importantes da trama, todo o elenco de apoio, exceto o casal principal, são reduzidos a um suporte quase vazio. Diao é capaz de dizer mais com os corpos em movimento e com cenas de ação intensas, como a cena de perseguição hiper-elíptica que corta em uma série de close-ups extremos em um tiroteio e até mesmo em perseguições com motos em plano aberto. A produção traça um caminho interessante com valor estético acima do conjunto da obra, raso em valor existencial e ainda assim com êxito em estrutura e cheio de requinte. O diretor Diao Yinan segue como uma revelação interessante do cinema oriental com estilo próprio ainda que sem uma eficiência acima da média. FRIO E CALCULISTA.


O filme está disponível no catálogo do streaming MUBI.

Hype: BOM - Nota: 7,5

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