sábado, 9 de novembro de 2024

"AINDA ESTOU AQUI" (I'm Still Here, 2024) de Walter Salles.

 


    A história da família Paiva ganha vida no comovente drama político de Walter Salles, que foca na dor emocional e no trauma que a Ditadura Militar Brasileira infligiu a esta família, e a milhares de outras. O que você faz quando sua vida inteira muda em um dia? Quando o lar seguro e amoroso que você construiu desmorona porque uma ditadura militar decide tirar tudo? Eunice paiva, esposa do ex-deputado do Partido Trabalhista Brasileiro Rubens Paiva, fez do trabalho de sua vida fazer justiça para sua família e seu marido, que foi preso e nunca mais visto ou ouvido em 1971.
  
   A história desta família e do devastador crime sancionado pelo estado que foi infligido a eles, é a história de uma adorável casa. É um lugar aberto ao mundo, aos convidados, amigos, pebolim e conversas sobre política, música e arte, que gradualmente fica em silêncio, escura e com medo, esvaziada de companhia e, finalmente, da própria família. Ainda Estou Aqui é uma história sobre força e resiliência – adaptada do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva – ancorada por uma atuação arrebatadora de Fernanda Torres, que ajuda a revigorar o filme quando ele é mais necessário. 

   O filme é um drama comovente que lança luz sobre um capítulo horrível da história do Brasil. Quer alguém tenha ou não conexões com esse período terrível, os espectadores gravitarão em torno da história dessa família corajosa e, em particular, sentirão os pontos fortes de Eunice, tudo graças ao trabalho de Torres. Esta é apenas uma história de inúmeras existentem por todo o Brasil e outros países da América do Sul. 

  O epílogo de 2014 nos permite um vislumbre da estrela de Central do Brasil e mãe de Torres, Fernanda Montenegro, em um breve papel como a Eunice mais velha. O final otimista transforma o filme em um conto de advertência, dirigido àquelas forças de repressão e ao governo ditado pelo medo. Eles serão rejeitados pela história, enquanto aqueles que resistirem terão belas histórias escritas sobre eles, feitos em sua homenagem. 

 ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ Absolute cinema! 👏👏



👀 Em cartaz nos cinemas brasileiros! 🇧🇷


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

LONGLEGS - VINCULO MORTAL (2024) de "Osgood Perkins"



O satânico e assustador Longlegs - Vínculo Mortal tem estética grunge dos anos 90 e alguns dos momentos cinematográficos mais tenebrosos do ano!

      Escrito e dirigido por Osgood PerkinsLonglegs conta a história de uma jovem agente do FBI chamada Lee Harker, que parece ter um talento psíquico especial para sentir assassinos e forças das trevas. Ela é designada para um caso envolvendo uma série de assassinatos no Oregon. Cada caso envolve um pai matando sua família e a si mesmo, deixando para trás uma carta com codificação satânica assinada "Longlegs". A partir daí, os espectadores são levados em uma jornada de Lee tentando descobrir quem é o misterioso Longlegs e sua conexão com os assassinatos.

     O filme se assemelha a clássicos como  O Silêncio dos Inocentes (1991) e Se7en - Os Sete Crimes Capitais (1995) ainda que sejam obras incomparáveis ao gênero. O elenco tem como destaque Nicolas Cage que faz uma performance memorável e assustadora de Longlegs. Blair Underwood, como o Agente William J. Carter e Maika Monroe como Lee têm uma química fácil que faz com que os momentos em que discutem os casos pareçam fundamentados. O que sobra é uma cinematografia quase impecável.

    Na verdade, o cuidado visual e sensorial que faz de 'Longlegs' uma obra inusitada, pois desde o primeiro momento se cria uma atmosfera rarefeita que continua a crescer à medida que os minutos passam, desde o primeiro momento há um ar de desconforto, de que algo não está indo bem e vai piorar ainda mais. Os pequenos detalhes com os quais Perkins perfura o subconsciente do espectador sem que o mesmo necessariamente saiba como ele está fazendo.

    Todos os anos surgem vários títulos que são vendidos como o novo fenômeno do cinema de terror. Alguns acabam correspondendo às expectativas que geram antes de chegar aos cinemas, enquanto outros acabam perdendo o fôlego e são deixados de lado pelo restante do público. 'Longlegs' pertence ao primeiro grupo, sua tensão inicial enfatiza mais uma vez a importância da atmosfera sobre a história e a recompensa é diabolicamente imperdível!

Hype: ⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO 






quinta-feira, 4 de julho de 2024

ENTREVISTA COM O DEMÔNIO (2024) de "Colin Cairnes" e "Cameron Cairnes"


Uma combinação interessante de documentário e filme, o gênero do terror "found footage" ganha um exemplar que desafia as convenções com uma boa camada de originalidade e elementos de reflexão sobre a comunicação social e o sensacionalismo, uma experiência assustadora.


Dirigido e escrito pelos irmãos Colin e Cameron Cairnes, a premissa até pode não ser inovadora mas a atmosfera criada pelos diretores se torna bastante instigante analisando o cenário da época retratada, os personagens bem elaborados e o clima caótico de um programa televisivo.


O flerte com o psicológico do espectador é aguçado quando o espetáculo apresentado diante das câmeras é misterioso e tenso, as dúvidas acabam sendo o triunfo apresentado, quem já acompanhou esse tipo de programa na tv sabe dos imprevistos e também que existem bastidores recheados de interesses sórdidos que podem surgir em busca do sucesso e da audiência.


O filme me conquistou principalmente pela a atmosfera, o terror apresentado se torna bastante intimista e em alguns momentos gráficos, toda concepção do fime me deixou bastante próximo da história, como se realmente eu estivesse assistindo ao programa de Jack Delroy (David Dastmalchian) e chocado com os acontecimentos.  


⭐️⭐️⭐️ Gostei


Em cartaz nos cinemas! 👀🎥

quarta-feira, 3 de julho de 2024

MAXXXINE (2024) de Ti West


Mia Goth entrega talento e estilo como a personagem-título em MaXXXine, terceira parte da trilogia de terror de sucesso da A24. O slasher é uma boa homenagem ao terror dos anos 80 e debocha livremente de Hollywood com momentos icônicos.


Seguindo os passos de X (2022) e do intenso Pearl (2023), terror e sangue não faltam, o filme faz interessantes referências para clássicos do gênero, de Alfred Hitchcock ao cinema Giallo. É possível notar também uma certa referência ao gênero de terror SNUFF, que durante um período foi uma lenda urbana nas video-locadoras de fitas VHS onde nesses possíveis filmes se mostravam cenas reais de mortes ou assassinatos de uma ou mais pessoas, sem o auxilio ou o uso de quaisquer efeitos especiais, para o propósito de distribuição e entretenimento.


O filme se passa em 1985, mas West se inspira em todo o século XX, seja seu personagem detetive particular no estilo Chinatown, o enquadramento ao estilo do clássico Goodfellas no primeiro ato, ou mesmo a protagonista homônima usando maquiagem tirada diretamente de Blade Runner durante uma cena de clube. Há uma paixão expressa pelo meio onde cada sequência combina maravilhosamente com o design de produção de época, figurinos, maquiagem e muito mais que transportam o público de volta a um tempo anterior à revolução digital da indústria. É uma experiência que encanta e empolga quem ama cinema.


MaXXXine é um filme feito com um amor tremendo e palpável ao gênero e isso ajuda a compensar parte da falta na narrativa e uma edição que pode ser lenta em alguns momentos. A personagem Maxine Minx tem sua grande chance quando a diretora Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki, perfeita!) a escala como a protagonista do terror, The Puritan II. Ela se vê assombrada por seus demônios e também por um Serial killer. Toda essa jornada lembra muito outras obras, como o terceiro filme da franquia Pânico, nada que atrapalhe. 


MaXXXine é coerente com a trilogia que pertence, ainda que abaixo dos anteriores, mas certamente é o meu favorito pelo amor que entrega ao cinema de terror.



⭐️⭐️⭐️ Gostei 

👀 Assista nos CINEMAS 🎥🎞

terça-feira, 18 de junho de 2024

DIVERTIDA MENTE 2 (2024) - "Inside Out" de Kelsey Mann


Uma continuação tão preciosa quanto seu antecessor, onde sua representação emocional da mente humana encanta e diverte com reflexão. 

    A tão esperada sequência de Divertida-Mente começa na vida de Riley quando ela completa 13 anos. Nós nos familiarizamos novamente com as emoções dentro de sua cabeça, Tristeza (Katiusca), Medo (Otaviano Costa), Raiva (Léo Jaime), Nojo (Dani Calabresa) e liderados por ninguém menos que Alegria (Miá Mello). As coisas parecem bastante normais no controle central, já que Alegria coloca quaisquer coisas desagradáveis, também conhecidas como lembranças ruins, bem longe da mente de Riley, onde ela não precisa se preocupar com elas.

   Riley está aprimorando suas habilidades no hóquei com a ajuda das melhores amigas Grace e Bree enquanto elas têm a oportunidade de ir a um acampamento de hóquei com as meninas do ensino médio capitaneadas por Val, uma possibilidadede de conexão com esse novo mundo. Na noite anterior à grande viagem para o acampamento de fim de semana, um alarme toca no controle central de Riley avisando sobre a chegada da PUBERDADE!

   Chega a equipe de demolição enquanto um novo grupo de emoções assume o painel de controle: Inveja (Gaby Milani), Tédio (Eli Ferreira), Vergonha (Fernando Mendonça), e no comando está Ansiedade (Tatá Werneck) que disputa a posição de liderança com Alegria. A Ansiedade toma conta do controle na tentativa de criar uma Riley muito diferente e mais complexa, o desafio agora é contornar a mente de uma adolescente; um lugar assustador. 

    Com imagens e representações vívidas, Riley passa por momentos estranhos e embaraçosos enquanto questiona sua identidade na tentativa de ser aceita neste novo grupo. Compreendemos suas memórias passadas e como elas impactaram seu senso de identidade, bem como essas emoções novas ainda a serem controladas e que às vezes a dominam. 

    Sobre o filme, a animação que demorou quase 5 anos para ficar pronta é visualmente atrativa, a história complementa perfeitamente o crescimento da personagem Riley e seu trabalho de dublagem está impecável com destaque a bela interpretação de Tatá Werneck como a Ansiedade. Tal como acontece com muitos filmes da Pixar/DisneyDivertida-Mente 2 é destinado a todos os públicos. Enquanto observava as mudanças em Riley, lembrei-me de meus próprios anos desconfortáveis. E, para ser honesto, muito do que acontece neste filme também nos atinge como adultos. Todos nós nos preocupamos com a forma como somos vistos e permitimos que os sentimentos nos afetem ou até mesmo assumam o controle.


ÓTIMO ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

👀 CINEMA (estreia 20/06)


 

terça-feira, 11 de junho de 2024

13 SENTIMENTOS (2024) - "Perfect Endings" de "Daniel Ribeiro"



     Aproveitando o "Dia dos Namorados" e o "Mês do Orgulho" chega aos cinemas este filme que pode ser visto como uma oportunidade do público LGBTQIAPN+ de acompanhar uma comédia com ares de "sitcom" sobre os encontros e desencontros de um personagem após um rompimento amoroso.

 Há dez anos, o roteirista e diretor brasileiro Daniel Ribeiro trouxe o inesquecível "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" (The Way He Looks) . Esse filme capturou lindamente os sentimentos sutis dos adolescentes retratados no filme e se tornou sucesso mundial.  Como se fosse uma espécie de continuação, o personagem central de 13 sentimentos, o cineasta João (Artur Volpi) está na casa dos 30 anos, com um rompimento recente e sem saber como lidar com os tempos atuais. Sua carreira cinematográfica está estagnada e seus encontros o decepcionam, principalmente quando ele não consegue parar de compará-los com o ex- namorado Hugo, até ele se conectar com as novas formas de relacionamentos.

  Embora tenha esse título, João parece demonstrar pouco sentimento e essa frieza conversa bastante com a modernidade onde novas atitudes sentimentais e outras maneiras de relacionamentos são praticados e foram adicionadas no filme quase como um relato do que acontece atualmente. O nome internacional do filme "Perfect Endings" combina muito mais com a história do personagem em buscar o final perfeito do roteiro de sua vida.

  Como se estivesse constantemente reescrevendo seus roteiros, João conhece vários rapazes e explora diferentes cenários de sua vida amorosa. No final, ele consegue sair do mundo ficcional do roteiro de seu filme e conviver, feliz, com a realidade. 13 Sentimentos tem o objetivo de agradar o público mais do que qualquer outra coisa.

  Todos os personagens do filme são gentis, agradáveis, compreensivos, atenciosos e com a terapia em dias.  Rodeado de pessoas assim, como é possível que João não consiga encontrar um final perfeito? Em nenhum momento o filme trata assuntos delicados da comunidade ou mesmo a vivência de outras pessoas da sigla LGBTQIAPN+. Isso torna o filme bastante plástico e focado na masculinidade padrão gay. Em tempos atuais de obras-primas como Close (2022) e Monster (2023) pode ser difícil a conexão com o inofensivo filme brasileiro mas a experiência é no mínimo um passatempo agridoce, quase como a sensação de ver um "biscoito" nas redes sociais, um típico filme "sessão da tarde".


  
 ⭐️⭐️ REGULAR

O filme estreia nesta Quinta-feira (13) nos Cinemas. 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

RIVAIS (2024) - “Challengers” de "Luca Guadagnino"


 Um jogo de sedução e articulação.


Rivais “Challengers” é uma partida de tênis elegante e sexy na mesma medida que envolve o espectador com subtextos carregados por performances fortes de seu trio central. Os personagens sofrem oscilações de suas jornadas emocionais enquanto os observamos crescer juntos e separados. Há uma sensação palpável de desejo, luxúria, inveja, raiva e pena em cada um deles, criando uma interação fascinante e uma tensão digna de final de campeonato.

Tashi (Zendaya) é uma tenista que virou treinadora e transformou seu marido de um jogador medíocre em um campeão mundialmente famoso. Para tirá-lo de sua recente série de derrotas, ela o faz jogar um evento desafiador com nível inferior ao torneio profissional. A tensão logo aumenta quando entre seus concorrentes do outro lado da rede está Patrick, seu ex-melhor amigo e ex-namorado de Tashi. A história se desenrola em uma série de flashbacks emoldurados por uma luta pelo campeonato entre Patrick Zweig (Josh O'Connor) e Art Donaldson (Mike Faist).

O diretor Luca Guadagnino (Me Chame pelo Seu Nome e Suspiria) entrega novamente um cinema vibrante e de qualidade envolto a uma atmosfera clichê de hollywood, o romance esportivo. O tema já teve milhares de filmes e ainda assim Rivais se destaca e apresenta certa profundidade na entrega. Guadagnino enfatiza seu "bromance" homoerótico com um psicológico triângulo amoroso central com sinais de defeito.

Os espectadores não precisam saber muito sobre tênis para apreciar as cenas esportivas muito bem filmadas e divertidas, grande parte do filme é ambientada na batida techno de Trent Reznor e Atticus Ross, o que aumenta a energia em acompanhar a partida decisiva. Ainda que os acontecimentos dramáticos tragam poucas surpresas, Rivais é bastante convincente, mas tal como os seus dois atraentes protagonistas masculinos, não consegue atingir o seu potencial por completo. 

O cinema pop americano demonstra interesse em contar histórias com mais diversidade ainda rodeado de caretice, talvez até do seu próprio público alvo. Ainda bem que temos Luca Guadagnino para incomodar essa parcela do público que só queria uma comédia romântica para satisfazer sua zona de conforto e se depara com um thriller romântico fora da caixinha.



⭐️⭐️⭐️⭐️ Muito Bom 🙃

O filme estreia nos cinemas nesta Quinta-feira 25 de Abril. 

terça-feira, 16 de abril de 2024

GUERRA CIVIL (2024) "Civil War" de "Alex Garland"

 


♨️  Um grito de desilusão ao desequilíbrio do mundo. ♨️

Guerra Civil é uma bela e intensa visão distópica, não só da guerra que devasta cidades mas também da nossa  ignorância em compreender o que é a guerra, quando é necessária ou se é realmente necessária. Tudo é registrado pela lente de uma jornalista, em um filme que provoca a reflexão em pequenos atos de grandes proporções.

Lee (Kirsten Dunst) se encontra na cidade de Nova York. Ela é uma das melhores fotógrafas de guerra do ramo e desenvolveu essa reputação por meio de astúcia, talento e um nível de bravura. Ela se junta ao colega Joel (Wagner Moura) muito motivado pela adrenalina, Jessie (Cailee Spaeny) uma jornalista novata resgatada por ela da explosão de um homem-bomba e Sammy (Stephen McKinley Henderson) um jornalista veterano do que sobrou do New York Times. Os quatro querem viajar para o Sul com o objetivo de entrar em Washington DC, entrevistar o presidente e responsabilizá-lo.

O cenário é caótico. As Forças Ocidentais estão perto de tomar o Capitólio, muito perto. Há também o fato de estarem numa nação com mais armas do que pessoas, em um país onde os cidadãos satisfazem os seus caprichos mais sombrios e se autodenominam patriotas. A decadência americana surge dentro de sua própria soberba e perdida em estereótipos.

Muito se fala sobre sair correndo para defender a liberdade, seja lá o que isso signifique, ou ignorar as atrocidades porque “não é da nossa conta”. É por isso que o jornalismo é importante. A imagem certa no momento certo pode colocar um conflito em foco. Alguns argumentos também podem ser  ignorados com uma eficiência brutal. Qualquer um pode ter uma opinião sobre a Guerra na Ucrânia ou na Palestina mas a opinião não substitui a realidade das famílias mortas.

Infelizmente, muitos de nós somos hostis ao jornalismo, especialmente quando este nos mostra algo de que não gostamos. Isso leva à polarização, que leva ao conflito. Quem sobrou para documentar a verdade das coisas? Ainda são os jornalistas. Embora você possa pensar que o novo filme de Alex GarlandGuerra Civil, trata de certas coisas, o que realmente trata é o poder e a responsabilidade que cercam o jornalismo de combate. Um filme tenso, atual, necessário e poético.


⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO

👀 QUINTA-FEIRA (18/04) nos Cinemas! 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

UMA FAMÍLIA FELIZ (2023) de José Eduardo Belmonte

 


         👨👩👧👦 Os dramas da maternidade e das pressões sociais 👩👧👦

   Uma família feliz é um thriller psicológico ou um suspense dramático com doses homeopáticas de tensão, o filme do experiente diretor José Eduardo Belmonte foi gravado em Curitiba e tem como protagonistas duas estrelas do audiovisual brasileiro, Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini. Eles desbravam as tensões das relações familiares e do mundo de aparências de um condomínio perfeito, em uma trama sobre infância e maternidade.

   Eva (Grazi) acabou de dar à luz o seu terceiro filho e se depara com a angústia de uma depressão pós-parto em meio a uma vida burguesa supostamente perfeita. O ar tranquilo de sua família feliz é invadido por acontecimentos estranhos quando suas filhas gêmeas aparecem machucadas. Eva é acusada e retaliada pela comunidade. Isolada e questionada por seu próprio marido, ela precisa superar sua fragilidade para provar sua inocência e reestruturar sua família.

   A história original e o roteiro do longa são do escritor Raphael Montes (“Bom Dia, Verônica”), que também estreia como diretor-assistente. O argumento também deu origem ao livro homônimo, já disponível nas livrarias. O filme é 15º longa-metragem dirigido por José Eduardo Belmonte, diretor que tem uma história construída em Brasília no início dos anos 2000, inclusive, era comum seus filmes serem exibidos no Festival de Brasília, sempre com produções muito ousadas, como “A Concepção” (2005) que continua como um dos mais interessantes de sua filmografia.

   O que tinha de diferencial no diretor em suas produções se tornou seu principal pecado ao lidar com o comum, a limpeza da sociedade era questionada e destruída por uma cena underground vibrante e corajosa, Uma família feliz é o oposto disso, muito polido e sem qualquer frescor social, os temas são tratados de forma superficial e se salva pelo suspense bem construído e uma Grazi Massafera em boa atuação, mas é pouco brilho e muito potencial. 

   O filme é uma boa produção que se perde durante sua condução que transita no lugar comum e não se sustenta de forma efetiva no seu mistério, perde potencial em se concentrar nos clichês do drama de sua protagonista, entregando algo próximo de um folhetim da TV e se afastando do cinema.


⭐️⭐️ REGULAR

👀 O filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 4 de abril.


quarta-feira, 27 de março de 2024

O HOMEM DOS SONHOS (2023) - "Dream Scenario" de "Kristoffer Borgli"

 


O delírio tragicômico do cancelamento.

  O cineasta norueguês Kristoffer Borgli juntamente com a produção do visionário Ari Aster (Hereditário,  Midsommar) apresentam uma obra sobre o caos existencial com toques de crítica social recheado de camadas interessantes. O Homem dos Sonhos pode ser monótono em alguns momentos mas presenteia o expectador com mais uma atuação brilhante de Nicolas Cage, uma fantasia cinematográfica sobre a paranóia da exposição e do cancelamento.

    O infeliz homem de família Paul Matthews (Nicolas Cage) descobre um dia que várias pessoas não relacionadas - algumas das quais ele nem conhece - estão sonhando com ele. Ele aparece nesses sonhos despreocupado com o que quer que esteja acontecendo, ignorando todas as perguntas e apelos. Aos poucos Paul se torna uma pequena celebridade. Mas então, por razões que fogem ao controle, o Paul dos sonhos começa a se tornar um ator ativo nos sonhos: primeiro amoroso, depois malévolo; o que começou como um fenômeno social inofensivo transforma-se num problema que exige vergonha coletiva e reações violentas. 

  O Homem dos Sonhos é uma comédia obscura que segue com muitos elementos atrativos mas carece de coragem para seguir as suas implicações até sua conclusão. Enquanto o potencial de terror vai se esgotando, o delírio surge como um espetáculo crescente, a metáfora sobre uma geração de pessoas que nasceram conectadas e inevitavelmente vivem o sucesso e o fracasso em questão de segundos, vira um gatilho perigoso que por pouco não se esvazia na escolha poética do diretor.

   Por fim, se torna uma experiência cinematográfica com cenas memoráveis, que recupera a tração perdida à medida que tudo se consolida, é aquele tipo de filme que ganha força tempos depois e seu personagem principal poderia facilmente ter outras vivências exploradas.



⭐️⭐️⭐️ BOM

O Filme estreia nos cinemas nesta Quinta-feira 28/03 pela Califórnia Filmes.






terça-feira, 19 de março de 2024

KUNG FU PANDA 4 - (2024)


 Somente para os fãs.


  Kung Fu Panda 4 mesmo divertido e atraente, perde a força em trama automática e sem brilho. Repete fórmulas utilizadas nos filmes anteriores sem nada de novo a acrescentar, é aquele "arroz com feijão" para sustentar os jovens fãs da franquia. 

    Depois de três aventuras arriscando a vida para derrotar os mais poderosos vilões com sua coragem incomparável e incríveis habilidades em artes marciais, o urso panda Po, o Dragão Guerreiro (Lucio Mauro Filho) embarca em nova jornada. Ele foi escolhido para se tornar o Líder Espiritual do Vale da Paz e precisa encontrar e treinar o mais rápido possível um novo Dragão Guerreiro antes de assumir sua nova e imponente posição. 

  Essa missão tem um obstáculo com a chegada da vilã Camaleoa (Taís Araujo), um pequeno lagarto-fêmea que pode se transformar em qualquer criatura, grande ou pequena. Camaleoa ameaça todo equilíbrio conquistado anteriormente por Po. Em sua cruzada para proteger o Vale da Paz da inimiga, Po encontra a astuta ladra Zhen (Danni Suzuki), uma raposa-das-estepes e juntos os dois vão formar uma inusitada dupla e aprender a trabalhar em parceria. O resto é o enredo de sempre desse tipo de história.

      Existem alguns problemas que prejudicam o filme desde o início. Para começar, os conflitos básicos (Po lutando com suas mudanças de responsabilidades e um bandido fazendo coisas ruins) já foram melhor resolvidos antes nesta franquia. O enredo também sofre de uma suavidade geral que surge quando se joga pelo lugar seguro o tempo todo. 

     Algumas boas ideias em Kung Fu Panda 4 como Po experimentando uma cidade grande pela primeira vez e uma vilã que aprendeu feitiçaria para superar sua pequena estatura não são suficientes, a história nunca é desenvolvida para que os pontos da trama pareçam significativos. É tudo muito obrigatório de uma sequência. A trilogia inicial consegue sobreviver sem esse capítulo. Vale somente pela comédia.


⭐️⭐️ REGULAR

👀 Nos cinemas



quarta-feira, 13 de março de 2024

A FLORESTA DOS SUSSURROS (2023) de "Thiago Cazado"

🏳️‍🌈 A liberdade sexual e o universo dos desejos ocultos 🏳️‍🌈

  A Floresta dos Sussurros é pautado em vivências (ou desejos) comuns à cultura LGBTQIAPN+. O filme, assim como outros exemplares do gênero como "Vento Seco (2020)" e "Um Estranho no Lago (2013)" mostra questões sexuais latentes da comunidade, como o livre encontro de pessoas com anseios sexuais reprimidos, ambientação campestre em um universo habitado por homens e o sentimento de culpa de quem pode "cair de paraquedas" nesse universo. A verdade é que toda a cidade grande tem lugares como esse. 

  Na história, Paulo (Léo Carius) vive uma relação conturbada com a esposa Jessica (Maria Garcia). Após uma séria discussão ele sai para pedalar e acaba se perdendo em uma região conhecida como "A Floresta dos Sussurros", um local secreto onde homens se encontram para fins sexuais. Infeliz no casamento, Paulo nem imagina o quanto sua vida está prestes a mudar, principalmente quando conhece Luigi (Thiago Cazado), um jovem rapaz que exala sexo e liberdade. 

   É a partir desse universo povoado pelo desejo e pelo encontro com o desconhecido que se desenrola o romance "proibido" de “A Floresta dos Sussurros”, o realizador brasiliense Thiago Cazado, reconhecido pelo trabalho no cinema e no teatro com a temática LGBTQIAPN+, aborda com bastante naturalidade temas atuais e constantes na vida da comunidade, filmes do diretor como “Sobre Nós” (2017) e “Primos” (2019) são exemplos dessa abordagem moderna e sensível. Outro aspecto comum entre este e outros trabalhos de Thiago Cazado é o fato de ele assumir diferentes papéis no projeto, atuando na produção, roteiro e direção. 

  Ainda sem previsão de estreia em circuito nacional, A Floresta dos Sussurros está sendo exibido em sessões especiais em algumas cidades e apresenta uma história com tons de comédia, romance e muita coragem de apresentar uma leitura contemporânea que se comunica muito bem com seu público alvo. 

⭐️⭐️⭐️ BOM 🏳️‍🌈 



👀 Sem previsão de estreia nos cinemas, o Meu Hype conferiu o filme na Sessão Especial realizada no Cine Brasília no DF

quarta-feira, 6 de março de 2024

TODOS NÓS DESCONHECIDOS (2023) - "All of us Strangers" de "Andrew Haigh"

 


🤯 Uma reflexão contra os preconceitos impostos🤯

    A premissa enigmática da trama de "Todos Nós Desconhecidos" (All of us Strangers) e a atuação emocionante de Andrew Scott reforçam essa jóia como uma variante elegante das obras de David Lynch. Uma fantasia que mergulha na indefinição da fronteira entre o mundo dos vivos e dos mortos e a pendência de sentimentos consigo mesmo. 

     Andrew Scott interpreta um escritor chamado Adam, que acaba de alugar um apartamento em um prédio vazio e solitário em Londres. Um dia, ele faz uma viagem de trem para visitar a casa de sua infância supostamente vazia e fica surpreso ao encontrar seus pais (Jamie Bell e Claire Foy) apesar de terem morrido em um acidente de carro quando ele era criança. Adam faz algo que não foi capaz de fazer quando seus pais estavam vivos tendo consequências em seu presente. 

  Esta parte do filme é bastante comovente, seus pais começam a conhecer Adam profundamente e entender sua vivência. Adam finalmente percebe que, por mais que ame seus pais, suas repetidas visitas a eles ameaçam prendê-lo no passado. Isso é como se fosse um trauma que volta a sua lembrança repetidamente. Sua conversa final com eles é dilacerante, até porque se passa em uma visão da vida após a morte. 

     Há toda uma outra metade do filme com Adam se apaixonando por Harry (Paul Mescal), uma nuance importante de sua vivência oferecendo uma exploração comovente da solidão, do trauma, da dor, do amor e dos caprichos do tempo. Embora o filme possa não fornecer resoluções fáceis, o cinema contemporâneo agradece o frescor delirante dessa obra moderna e impactante. 


⭐️⭐️⭐️⭐️ Muito Bom 

Em cartaz nos cinemas!






sexta-feira, 1 de março de 2024

DUNA: PARTE DOIS (2024) de "Denis Villeneuve"

 


Um novo clássico do cinema!

     Duna: Parte Dois do diretor Denis Villeneuve, não apenas chega tão perto quanto se poderia esperar de um blockbuster, mas também supera a conquista já significativa do primeiro filme. Esta sequência, praticamente impecável, enche os olhos com uma mitologia provocante e atual, com uma fotografia arrebatadora e um elenco de primeira. Uma experiência refinada como em grandes obras-primas do cinema fantástico de Hollywood.

  A jornada mítica de Paul Atreides (Timothée Chalamet) é iniciada algumas horas depois dos acontecimentos do primeiro filme e mostra a integração de Paul e sua mãe, Jessica (Rebecca Ferguson), na cultura e nas tribos Fremen. Nesse tempo, Paul e Chani (Zendaya) se apaixonam, e juntos iniciam uma campanha contra os seus inimigos opressores. Paul se aproxima de um de seus piores pesadelos - o cumprimento de uma profecia que ele previu, uma guerra santa travada em seu nome.

  A adaptação cinematográfica de Duna consegue ser tão relevante quanto a importante obra da literatura de ficção científica. São poucos manuscritos do gênero que manipulam com tanta maestria uma vasta diversidade de temas que permeiam atualmente a sociedade.

Na obra literária original (1965), Frank Herbert se aprofunda nas questões acerca do planeta Arrakis, um deserto de grande importância: o único lugar capaz de extrair o mélange – a especiaria. Tendo a criação de mundo como o principal alicerce de sua obra, o autor aborda temas fundamentais como a religião e as guerras santas em nome do protagonista, Paul Atreides, além da ecologia do planeta e todas as tramas políticas que envolvem o Imperium, uma espécie de feudalismo intergaláctico. Denis Villeneuve se consagra e não se perde na riqueza de Duna, tudo está no seu devido lugar.

   Em linhas gerais, os elementos fantásticos de Duna provocam o espectador a uma das indagações filosóficas mais interessantes desde Star Wars, a tendência natural da humanidade de se render, de tempos em tempos, à uma figura messiânica e de abriram mão de seu próprio livre-arbítrio. Além da representação clara da figura messiânica em Paul Atreides, a história abrange também as consequências de uma filosofia de governo pautadas na religiosidade. Os exércitos fremen partem para um jihad – uma guerra santa e cometem genocídios em nome de seu profeta. 

  A jornada de Duna é bastante rica de questionamentos confrontando o futuro com o que se vive agora. O cinema entregue por Denis Villeneuve é vivido, lindo e atemporal, uma obra prima!


⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ Novo Clássico!

👀 Em cartaz nos cinemas! 

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

DIAS PERFEITOS - Perfect Days (2023) de "Wim Wenders"

 


🚺🚹 A beleza simples do mundo cotidiano! 🚹🚺


       O longa Dias Perfeitos (PerfectDays) é uma reflexão profunda, comovente e poética sobre como encontrar a beleza no mundo que nos rodeia sem a constante busca por padrões de felicidade, status e modernidade.

       Hirayama (Koji Yakusho) parece totalmente satisfeito com sua vida simples como limpador de banheiros em Tóquio. Fora de sua rotina diária muito estruturada, ele gosta de sua paixão pela música, fotografia e livros. À medida que nos juntamos a ele na sua rotina metódica, uma série de encontros inesperados começa gradualmente a revelar um passado oculto em sua vida feliz e harmoniosa.

       O aguardado retorno ao cinema de ficção de Wim Wenders (Paris, Texas, Asas do Desejo), leva o roteirista e diretor a Tóquio para contar uma história que celebra as alegrias ocultas e as minúcias da cultura japonesa. O realizador combina uma representação revigorante e não estereotipada da capital japonesa com uma trilha sonora de sucessos icônicos dos anos 60 e 80, que transita entre The Rolling Stones, Patti Smith, The Kinks, Van Morrison e outros. Essa reflexão sutil, e de certa forma brilhante, reforça o belo no mundo nem tão banal e comum que nos rodeia, como árvores, paisagens e o silêncio.

       Os momentos de contemplação são encantadores e trazem uma reflexão comovente e poética sobre a busca da beleza nas pequenas coisas, ser feliz consigo mesmo, em um filme que te joga pra cima e mostra que os dias perfeitos são todos em que vivemos sem muitas distinções de bom e ruim mas sempre belo. Um presente de Wim Wenders a quem sabe viver mais com menos.

⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO

🏅O filme concorre ao Oscar 2024 na categoria Filme Internacional. O ator Koji Yakusho foi premiado em Cannes como "Melhor Ator" pela sua brilhante atuação.

👀 O filme estreia nesta Quinta-feira 29/02 nos cinemas e em breve estará disponível no Mubi.

 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O MENINO E A GARÇA (2023) de "Hayao Miyazaki "


 🧍‍♂️🦤 Um filme anti-guerra para um mundo em constante guerra. 🦤🧍‍♂️

    O Menino e a Garça começa com uma sirene de alerta de um ataque aéreo e ressalta a importância das crianças e das novas gerações em superar os erros do passado, buscando um futuro melhor, de mais compreensão e reciprocidade. 

    Depois de perder a mãe durante a guerra, o jovem Mahito muda-se para a propriedade de sua família no campo. Lá, uma série de eventos misteriosos o levam a uma torre antiga e isolada, lar de uma travessa garça cinzenta. Quando a nova madrasta de Mahito desaparece, ele segue a garça até a torre e entra num mundo fantástico partilhado pelos vivos e pelos mortos, embarcando em uma jornada épica. Mahito deve descobrir os segredos deste mundo e a verdade sobre si mesmo. 

    O roteiro é assumidamente baseado na experiência de infância do próprio realizador e idealizador do Studio Ghibli, Hayao Miyazaki, ganhador do Oscar por A Viagem de Chihiro, em 2003, ele é considerado uma lenda viva da animação e do cinema japonês. Entre seus filmes estão, também, Meu Amigo Totoro, O Castelo Animado, Vidas ao Vento e Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar

     O Menino e a Garça coleciona indicações e prêmios como Melhor Longa em Animação de 2023, além de concorrer a uma estatueta no Oscar 2024, o filme já foi prestigiado como Melhor Filme de Animação no Globo de Ouro, no BAFTA e no New York Film Critics Circle Award

     O longa animado é relevante e encantandor com uma mensagem firme para um mundo ainda contaminado com sentimentos ruins de guerra. Entre as mensagens do longa está a possibilidade da paz entre as nações num mundo marcado pelo conflito. O mundo lúdico de uma criança frágil e traumatizada entrega a reflexão da constante luta pela paz em um mundo nada confortável.


⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO 

👀 Em cartaz nos cinemas! 🎬

🧍‍♂️🦤


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

MEU AMIGO ROBÔ (2023) - "Robot Dreams" de "Pablo Bearger"

 


🤖 Um dos filmes mais humanos do ano e não há nem um único humano no filme. 🤖 

    A animação Meu Amigo Robô, (Robot Dreams) mostra a beleza agridoce de uma amizade pura e cheia de sentimentos sem nenhuma fala dita pelos personagens. 

   O cachorro DOG mora em Manhattan e está cansado de ficar sozinho. Um dia ele decide comprar um robô para ser seu companheiro. A amizade deles floresce, até que se tornem inseparáveis, ao ritmo de Nova York nos anos 80. Em uma noite de verão, DOG, com muita tristeza, é obrigado a abandonar ROBÔ na praia sem a certeza se irão se encontrar novamente. 

   No cenário atual da animação, é raro ver um recurso 2D desenhado à mão que não seja oriental ou até mesmo de grandes estúdios americanos, esta co-produção hispano-francesa de estúdio independente é total mérito de seu criador Pablo Bearger, que apenas com uma imagem estática em mente criou movimentos semelhantes a seus quadros de storyboard com um mínimo de animação, enquanto os cenários e personagens têm cores imperfeitas e semblantes divertidos.
 
   O filme é um trabalho excêntrico e ao mesmo tempo doce, cada faceta técnica, incluindo sombras, iluminação expressiva e fundos multicoloridos captura uma antiga e clássica Nova York, o longa animado possui diversas referências a cultura pop e toda magia de outros desenhos de épocas passadas. Os sentimentos capturam a magia das expressões de seus personagens com técnica parecida com o sucesso Shaun, O Carneiro. Sentimentos expressos sem nenhuma única palavra. 

   Mesmo com seus momentos mais sentimentais, a integração de uma comédia oportuna se une a muitas sequências com humor melancólico e irônico. É um filme poético, lírico e nostálgico tanto no cenário quanto na narrativa, Meu Amigo Robô é uma experiência cinematográfica incrível, madura e bastante sincera. Uma grata surpresa que não por acaso, concorre a Melhor Animação no Oscar 2024. Imperdível. 


⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO 🤖🤖🤖

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

ZONA DE INTERESSE (2023)

 

🏛 A "vida normal" dos homens e mulheres envolvidos na terrível história do Holocausto. 🏛 

Chega aos cinemas brasileiros o novo filme do diretor Jonathan Glazer (Sob A Pele, 2013), após uma passagem aclamada pelo Festival de Cannes 2023 e depois de receber cinco indicações ao Oscar 2024 - incluindo o de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional, Zona De Interesse é uma produção impressionante e um filme perturbador sobre um tema delicado e bastante dolorido. 

A produção retrata a vida de um oficial da SS, a polícia nazista, Rudolf Höss (interpretado por Christian Friedel), sua mulher Hedwig (Sandra Hüller), eles lutam para construir uma vida ideal para sua família em uma confortável casa vizinha ao campo de concentração de Auschwitz. 

O filme é um espetáculo, a começar por essa abordagem provocativa. (Mostra todo o horror do nazismo sem mostrar, de fato, quase nada). Tudo é sugerido. A cada cena qualquer do filme é possível  escutar ao fundo da cena barulhos de tiros, sirenes, gritos de pessoas em agonia, e visualizar por de trás da fotografia do filme a fumaça do fogo da câmara de gás e toda poluição causada pelo campo de concentração. A experiência sensorial praticamente joga o expectador para dentro da história. 

Diferente de outros filmes que tratam sobre o holocausto, este dispensa o drama. As atuações cruas, nada dramáticas servem para representar com fidelidade a energia que pairava por ali. Ainda que os nazistas não considerassem o extermínio algo ruim, a atmosfera ao redor daquele contexto nunca poderia ter uma energia boa. A colorida e confortável residência da família nazista esconde a violência contra os judeus. 

O filme não foge da sua sinopse e talvez seja seu trunfo e também seu maior problema, não aprofundar narrativas. O totalitarismo nazista produziu seres incapazes de pensar, apenas destinados a cumprir ordens e perderem o senso moral ou a disposição de julgar suas próprias ações.  (Qualquer semelhança com o movimento atual dos conservadores não é mera coincidência). 

Como cinema o filme vale muito ser apreciado mas não espere algo novo de tudo que já sabemos sobre o holocausto. 

⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO 


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

POBRES CRIATURAS (2023)

 


🧠👁 O potente cinema de Yorgos Lanthimos provoca não só a sociedade polida, como o cinema "careta" e o público conservador. 👁🧠


         🧠 Pobres Criaturas é um filme de romance e ficção científica baseada no livro homônimo de Alas Dairgrey e referenciando o clássico frankenstein, a história se passa na Era Vitoriana e acompanha Bella Baxter (interpretada por Emma Stone), trazida de volta à vida após seu cérebro ser substituído pelo do filho que ainda não nasceu. O experimento é realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo. 

      👁 Essa brilhante fábula cômica evidencia Emma Stone, um monstro rude, punk e moderno de Frankenstein que envergonha até mesmo a Barbie. O diretor celebra o sexo como forma de libertação feminina. A extravagância extremamente imaginativa e estimulamente exagerada, transforma Pobres Criaturas em uma tour bizarro por lugares e ocasiões onde Bella entrega momentos estranhos e divertidos. Só esteja preparado para temas adultos que podem perturbar ou ofender alguns. 

        🧠 Em um filme onde a performer principal não só aparece nua como praticando um grande número de cenas de sexo, seu uso virtuoso do que faz do seu corpo - a forma como se movimenta entre as cenas, a comédia (e naturalidade) que exala e o jogo de emoções que transmite - sem dúvida, é um dos elementos mais importantes para o espectador quebrar a caretice. O elenco também conta com Mark Ruffalo, Jerrod Carmichael e Ramy Youssef.

   👁 Para aqueles familiarizados com a filmografia de Yorgos Lanthimos, desde o assustador Dente Canino, até aos horrores mais simples do século XVIII do seu filme anterior (A Favorita), Pobres Criaturas pode ser visto como o culminar do seu trabalho. Nos seus filmes anteriores vimos versões não naturais e selvagens da nossa realidade, mas neste o mundo é como o cineasta quer: como se fosse uma tela, uma pintura, além de ser filmado com um design de produção com cenários deslumbrantes, repletos de detalhes barrocos, figurinos, cabelos e maquiagem, tudo impecável. Estamos, sem dúvida, diante do trabalho mais louco, divertido e obsceno do ano. 



👀🎬 Em Cartaz no Cinemas!

⭐️⭐️⭐️⭐️ ÓTIMO 


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