sábado, 18 de janeiro de 2020

OF MONTREAL - UR FUN (2020)


Com letras espertas e melodias viciantes, em grande parte evocando os anos 70 e 80, Kevin Barnes mostra vitalidade com um Of Montreal divertido e menos inovador.

Nos últimos anos, Kevin Barnes e seus parceiros de banda tem se revezado na produção de uma série de obras inéditas. São trabalhos como Paralytic Stalks (2012) e Innocence Reaches (2016) em que o músico norte-americano transita por entre gêneros sempre distintos com proposta que vai do glam rock ao pop futurístico, da psicodelia à música eletrônica. Nessa sequência de álbuns autobiográficos de Kevin Barnes, líder da banda, ganha vida em um novo capítulo, UR FUN, o novo e instável amor que ouvimos falar no último disco, "White is Relic / Irrealis Mood" (2018). O diário público que começou com o clássico álbum, "Hissing Fauna, Are You The Destroyer?" (2007) continuou em uma série crescente de trabalhos cada vez mais pessoais. Em UR FUN, Barnes é mais sincero do que nunca apresentando dez músicas electro-pop concisas que expõem as profundezas de sua vida atual, seus pensamentos particulares - otimistas e meditativos - e seu relacionamento apaixonado com a compositora Christina Schnieder. Essa vulnerabilidade aumentada inspirou Barnes a tirar sua personalidade extravagante de cena apenas aparecendo como ele mesmo em turnês recentes da banda pela primeira vez em muitos anos. Depois de vários álbuns gravados com colaboradores e vários membros da banda, Barnes optou por gravar este completamente sozinho em seu estúdio em casa, em Atenas, na Geórgia. Ele se isolou em hibernação criativa, trabalhando obsessivamente por mais de 12 horas por dia, organizando mapas de sintetizadores e baterias eletrônicas em uma tela de computador com linhas de baixo melódicas e saltitantes, guitarras glam e harmonias vocais em camadas. Sua inspiração vem de álbuns clássicos da música pop como "She's So Unusual", de Cyndi Lauper, e "Control", de Janet Jackson, decidindo fazer de UR FUN o tipo de álbum em que cada música poderia ser um single, com grandes refrões e grooves de dança nostálgicos. O resultado é um trabalho incontrolável e divertido que também pode passar por uma coleção de sucessos cuidadosamente sequenciados caso retirado do contexto. UR FUN contém uma contradição fundamental que será familiar para os fãs de Of Montreal com músicas de alma jovem e contemporânea de dance-pop, mas contêm letras densas, multidimensionais e adultas. As letras de Barnes direciom os ouvintes para diversas referências, como ao obsceno romance francês "The Story of the Eye", aos obscuros filmes do cineasta Italiano de terror Mario Bava, a estrela pop panamenha "El General", o filme de ficção científica dos anos 80 "Liquid Sky" dentre outros.

Faixa a Faixa do Álbum:


"Peace To All Freaks" abre o trabalho de maneira brilhante, o primeiro e único single do álbum é uma "canção de protesto contra o totalitarismo, o terrorismo familiar e o desperdício em todas as suas formas" (diz Barnes), que expressa amor aos marginalizados e às pessoas gentis deste mundo, deixando-nos com este lembrete: “Quieto, quieto / não sejamos cínicos / não sejamos amargos / Se você sente que não pode fazer por si mesmo, faça por nós”. A música é otimista e direta ao ponto, com teclados que brilham em batidas rápidas e toques de sintetizadores leves enquanto Barnes suspira e grita por apoio mútuo em uma canção que invoca os anos 80 em uma nova e criativa vertente. "Polyaneurism" é uma música pop brilhante e saltitante que se recusa se tornar coadjuvante, feita para grudar na cabeça do ouvinte, a canção de três minutos ganha forma em meio a nostálgicos sintetizadores e versos cantaroláveis, como um regresso ao pop ensolarado de obras como Skeletal Lamping (2008) e False Priest (2010). Barnes medita de brincadeira sobre os altos e baixos dos relacionamentos poliamboriais e não convencionais: “Tocar amantes de música está começando a parecer meio kitsch / se você quer monogamia, é como uma vadia básica?”."Get God"s Attencion by Being an Atheist" é uma canção que compila o melhor que o indie rock pode proporcionar, barulhenta porém doce e bem simples em sua construção, segundo Barnes, é sobre “os prazeres da destruição infantil e da busca imprudente por alegria” é a prova que as referências literárias e culturais sobre o UR FUN são espessas e muito bem construídas. "Gypsy That Remains" é uma música que possui uma vibe setentista misturada com um gostoso eletrônico que tira qualquer lugar comum da canção que tem incrivelmente uma citação a bela canção de amor brasileira “Cucurucucu Paloma” de Caetano Veloso. Uma música no melhor estilo da banda, uma salada musical muito atrativa. "You"ve Had me Everywhere" é o início da sequência romântica do trabalho conversando com versos de estrutura similar a clássicos dos anos 1980, principalmente de She’s So Unusual (1983), de Cyndi Lauper, referência declarada do artista em uma deliciosa e inocente canção. "Carmillas of Love" é uma leve canção que cresce a cada audição mesmo sendo uma das mais tranquilas do álbum possuindo um ar melancólico que quase zomba do lugar comum das canções de amor. "Don"t Let Me Die in América" traz de volta o humor sarcástico de Barnes sendo apresentado em um tom semi-sério e atemporal para a América conservadora de agora, confrontada por uma canção semi-psicodélica de tom setentista com refrão esperto. "St. Sebastian" é uma canção de natureza gentil sem muita complexidade mas não menos interessante. "Deliberate Self-Harm Ha Ha" tem mensagem poderosa e melodia que confronta seu estado de espírito. Outra música que cresce a cada audição provando o excelente trabalho de produção de Kevin, já se preparando para o fim do álbum."20th Century Schizofriendic Revengoid-man" é um ótimo e apoteótico final, talvez até otimista para o álbum que, ironicamente, traz mais clareza ao seu conceito, apesar de retratar a esquizofrenia, seria o amor uma doença?. Uma canção que fecha bem o que seria uma reflexão de que a vida e até mesmo o amor precisa de leveza.


No geral, o que seria uma coleção de músicas sobre um amor que está se estabelecendo, se transforma em uma terapia, sendo uma parte interessante e desafiadora dentro de um ser, longe do lugar comum e repleto de nuances que ultrapassam o sentindo do que é sentir. Um álbum aparentemente leve e sem os exageros que geralmente sufocam os trabalhos progressivos do Of Montreal e que muitas vezes os tornam incompreendidos. DELICIOSO.



O álbum possui 10 músicas lançadas pela Polyvinyl Record.

Hype: EXCELENTE - Nota: 9,0







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