quinta-feira, 6 de junho de 2019

BLACK MIRROR - "Quinta Temporada" (2019)



Quinta Temporada de "Black Mirror" dá uma leve deslizada no aspecto principal da série. 

Desde seu início, em 2011, a série soube captar as nossas ansiedades com a tecnologia e o futuro e transformá-las em histórias complexas que fazem provocações perturbadoras a respeito da condição humana em meio a esses acontecimentos. O leve salto no patamar da série ocorreu quando o canal britânico Channel 4 cedeu  a Netflix os direitos da série e resolveu dar andamento a partir da terceira temporada, mesmo seguindo a qualidade apresentada e também com o desafio de inovar sem a pressão por índices de audiência, a série caiu no gosto popular com o ápice ocorrido em dezembro com um episódio interativo (Bandersnatch) em que o público pôde decidir os rumos do enredo e a sorte do protagonista, uma sacada sensacional que deu um gás após uma Quarta Temporada apagada. Esse aspecto inovador e atormentador que traz a Black Mirror uma certa relevância em seu material está quase ausente na quinta temporada da série. Seus três episódios entretêm com qualidade e conseguem  envolver o espectador mas soam até ingênuos frente a tudo o que nos foi apresentado anteriormente pelos criadores Charlie Brooker e Annabel Jones. A temporada começa com "Striking Vipers", episódio gravado em São Paulo e talvez um dos menos sombrios da série. As questões abordadas no episódios são interessantes, principalmente retratando dúvidas sobre gênero de forma orgânica, também por não ter medo de trazer as consequências da vida digital na vida real. Mas, justamente, por Black Mirror ter abordado essa questão tantas vezes (e de formas mais criativas), falta a sensação de algo inédito. Alguns dos melhores episódios da série abordam a presença da tecnologia em relacionamentos amorosos. 'Be Right Back' (Temporada 02 - Episódio 01), 'Hang the DJ' (Temporada 04 Episódio 04) e, obviamente, o sensacional e premiado 'San Junipero' (Temporada 03 Episódio 04). Logo, não é surpresa ver Brooker investindo novamente nesse estilo. Não que o episódio não agrade, mas a busca por satisfação digital já foi abordada antes, a trama não parece ser inspirada e sua resolução é simplista. Destaque para a atuação do ator "Anthony Mackie". No fim das contas pode ser classificado como BOM. O Segundo Episódio "Smithereens" alerta sobre armadilhas das redes sociais, soa clichê porém é o mais próximo do ambiente da série. Destaque para o irlandês "Andrew Scott" (Sherlock e Fleabag) que carrega o episódio nas costas no  papel do taxista que acredita ser refém das redes sociais em um thriller impactante e sem dúvidas o melhor episódio dessa temporada. Se você é daqueles que tem ansiedade ao andar no carro dos outros ao usar um aplicativo de transporte, a situação se torna ainda mais sufocante ao perceber que o roteiro de Brooker poderia ser facilmente ambientado nos dias atuais. O "thread" de 'Smithereens' lembra bastante o Twitter. E não é difícil imaginar o controle que os poderosos das redes sociais possuem sobre nossas informações, ainda mais quando não lemos o termo de compromisso. Acompanhar os  absurdos que o efeito dominó tecnológico traz ao longo dos acontecimentos é uma pura representação da realidade. As redes sociais são apenas o pontapé de uma tragédia emocional que culminam no intenso final. Episódio classificado como ÓTIMO.  Por fim, o episódio "Rachel, Jack and Ashley Too",  Miley Cyrus brilha em um episódio "light" para os padrões Black Mirror. De um lado, Ashley é uma cantora de sucesso isolada pela fama e pelos ambiciosos empresários. Do outro, a jovem Rachel encontra sua única amiga numa boneca tecnológica da grande ídola pop. O episódio será certamente o mais comentado da atual temporada, não somente por ter Miley Cyrus no elenco. O motivo surge na inusitada conexão entre os dois mundos de sua premissa porém é o mais decepcionante dos três. Se a história de Rachel caminha por um lado meio clichê desde o início, existe um grande potencial no retrato do universo artístico, onde uma ícone esbanjando mensagens positivas e empoderadas é presa diante do controle de contratos e negócios sem conseguir expor suas vontades próprias. Com situações forçadas, superficiais e exageradas toda tensão do episódio vai para o ralo devido a uma condução mal executada. Infelizmente. Classificado como REGULAR. Charlie Brooker, criador da série percorre o lado mais sombrio da era digital e nossa dependência de uma multiplicidade de dispositivos dos quais nos tornamos reféns. Seu incansável trânsito por gêneros e formatos nos falam de alienação humana aliado a perda da humanidade. A série sem continuidade do enredo entre os capítulos e, portanto, sem desfechos em suspenso que levem o público a voltar a se envolver com o próximo episódio continua sendo a capacidade que a série tem de provocar debate sobre as incertezas da sociedade tecnológica e criar uma certa expectativa do que vem adiante. BREVE DESESPERO.




A temporada possui apenas 3 episódios disponíveis na NETFLIX.

Hype: BOM

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