segunda-feira, 19 de agosto de 2019

BACURAU (2019) de "Kleber Mendonça Filho" e "Juliano Dornelles".



Fascinante, atual e brutal. Cinema de resistência!


Realizar cinema no Brasil é sim resistência, em um país aonde é necessário várias parcerias e patrocinadores para se gerar um filme, aonde o atual governo é contra a liberdade de expressão artística e ainda temos uma população desinformada que acha o cinema feito aqui  ruim pelo simples preconceito da produção local. Bacurau vem de uma parceria franco-brasileira e dentro desse cenário bastante tenso, aonde produções independentes serão praticamente extintas sem nenhuma lei de incentivo, a produção mostra que existe um cinema atrativo que vem na mistura de estilos e de gêneros, passa pelo Drama, Faroeste, Terror Gore, Fantasia e Ficção Científica. Com uma trajetória relativamente brilhante fora do Brasil, incluindo a premiação do Júri (Jury Prize) no renomado Festival de Cannes na França esse ano, também venceu recentemente o Festival de Lima no Peru além de participações em outros festivais, isso com uma história corajosa e estranha que celebra a criação, a família, a casa, a terra seja em diversidade ou comunidade. Esses princípios estão cada vez mais ameaçados, seja no Brasil ou no mundo, aliado a sede do imperialismo, da política do ódio e da violência disfarçada de diversão, seus realizadores protestaram contra o governo brasileiro em Cannes. Um dos motivos de Bacurau sofrer duras críticas de movimentos de direita no país mesmo sem as pessoas terem visto o filme, promovendo ameaças até de boicote. Mesmo assim, o filme chega ao Brasil, com uma explosão de sentimentos e sensações em um cinema cheio de camadas e de caminhos para uma reflexão. Na trama, pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles fazem do filme um western "moderno" e ácido representado pelos moradores da cidade pernambucana e sua diversidade de estilos em um grupo que luta contra os forasteiros que desejam prejudicá-los. As referências são refrescantes, o filme independente de suas inspirações tem originalidade própria, Kleber tem uma firme consistência adquirida em seus filmes anteriores com a presente celebração dos laços, vista em Aquarius (2016) ou comunais como em O Som ao Redor (2012). O filme grita e se comunica com o público, seja pelo retrato do nordeste quente, pobre e simples ou do estudo da civilização social seja ela regional, contaminada por políticas públicas defasadas e o desdém das metrópoles pelas comunidades rurais ou até mundial, com o desprezo que os estrangeiros tem pelos "latinos", que incluem obviamente o Brasil. (Os estrangeiros são retratados de maneira caricata e repleta de esteriótipos quase que rebatendo como os brasileiros são retratados pelo cinema americano na maioria das vezes!). O mundo muitas vezes engole princípios básicos de sociedade e o mais desafiador é visto nos tipos esquecidos que lutam para sobreviver em um país que se move rapidamente para longe deles, vistos como uma inconveniência, moeda de troca e só lembrados na época das eleições por políticos interesseiros. Os personagens possuem linhas onde não há definição de bom ou mal, a sexualidade explode em várias cenas de nudez além de tudo acontecer sem nenhum tipo de hipocrisia, a realidade é exposta e entregue em sua mistura, em tela temos crianças, idosos, transexuais, prostitutas, gays, negros, brancos em uma explosão de diversidade difícil de se ver em qualquer produção. A história se passa no futuro e ele não é deslumbrante como imaginamos e inspira a selvageria, o ritmo lento inicial da produção prepara o terreno desde o começo, conhecendo o ambiente em que se pisa, sendo essencial em qualquer história de vínculo, entender o perigo mesmo quando eles zoam o espectador com brincadeiras envolvendo Bruxaria, OVNIs e a praticidade da comunicação via internet. O embate final traz surpresas sanguinolentas. Este pode não ser o filme que você espera do diretor de dramas de arte voltados para a vida moderna e urbana do Brasil, mas se encaixa como uma variação dos temas controversos que precisamos debater, tem pegada independente em toda sua proposta, lembra produções de suspense dos anos 90. Um filme necessário e conflitante com a zona de conforto do espectador, vá preparado para uma experiência pertubadora e com a mente aberta para viver momentos de frenesi cinematográfico. TENSO E CAPRICHOSO



O Filme estréia nos Cinemas na Quinta-Feira 29/08 pela Vitrine Filmes.

Filme visto na Pré-estréia nacional exclusiva realizada esse final de semana.

Hype: ÓTIMO - Nota: 8,5

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